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Calendário


Itinerário do rádio paulista

O ciclo de estudos “História da Comunicação: itinerário da mídia em São Paulo” promovido pelo Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo - IHGSP, em parceria com o Núcleo Paulista da Rede Alfredo de Carvalho e a Cátedra Unesco/Umesp de Comunicação, prossegue no próximo dia 26 de abril, com a análise do tema “Itinerário do Rádio”.

O ciclo foi iniciado no dia 8 de março, sob a coordenação do jornalista e historiador José Marques de Melo, professor emérito da Universidade de São Paulo e membro do IHGSP, onde ocupa a cadeira cujo patrono é Alfredo de Carvalho. A primeira sessão focalizou aspectos da Historiografia Midiática e a segunda foi dedicada aos meios de comunicação das classes populares nos primórdios da imprensa paulista. A terceira e quarta trataram respectivamente do itinerário da imprensa e da televisão.

O próximo encontro vai reconstituir a trajetória do rádio na terra dos bandeirantes, privilegiando três aspectos: o rádio com sotaque paulista, os gêneros e formatos radiofônicos e o rádio paulistano na era da internet.

Os interessados em participar do debate poderão inscrever-se na Secretaria do IHGSP – Rua Benjamin Constant, 158 – 7o. andar – próximo à Praça da Sé, no centro da capital paulista. Informações adicionais podem ser obtidas através do telefone – 11 – 3242-3582 ou emeio:
ihgsp2003@yahoo.com.br

O rádio com sotaque paulista

A primeira palestra vai tratar da Rádio Record de São Paulo, comprada em 1931 pelo Dr. Paulo Machado de Carvalho. Sua trajetória se confunde com a própria história da cidade de São Paulo, se tornando em 1932 a rádio da revolução constitucionalista e a voz de César Ladeira, a voz da revolução, pois lia ao microfone discursos de personalidades brasileiras contra Getúlio Vargas.

Também será analisado pelo professor Antonio Adami um momento importante na história do rádio: a formação das emissoras Associadas de São Paulo. Quando da compra por Assis Chateaubriand das ações da Rádio Difusora.

Antonio Adami é Doutor pela FFLCH da USP; Coordenador do Programa de Mestrado em Comunicação da Universidade Paulista-UNIP; professor de radiojornalismo da UNITAU e pesquisador do Grupo "Comunicação, Cultura e Memória" cadastrado junto ao CNPq. Ele escreveu o capítulo "Paulo Machado de Carvalho e a Rádio Record" no recém-lançado livro, em comemoração aos 450 anos da Cidade de São Paulo "Mãos que Fizeram São Paulo", da Editora Celebris;

Gêneros e formatos radiofônicos

A história do rádio paulistano é marcada por momentos que exemplificam a pujança e coragem deste povo dinâmico, formado por indivíduos de todas as partes do Brasil e do mundo. Por que esta é a vocação desta cidade, ser um ponto de referência na bandeira nacional onde se cruzem os idiomas, as culturas e as idéias. Pois tal se dá com o rádio. Desde de fevereiro de 1924, quando a Rádio Educadora Paulista foi ao ar, menos de um anos depois da emissora pioneira nacional, Rádio Sociedade do Rio de Janeiro ter iniciado suas transmissões regulares, a vida radiofônica paulistana se revelou intensa, criativa e participativa.

A programação do rádio paulistano, ao longo dos anos de 1920, se desenvolveu a passos largos. Já em 1925, a Educadora premiava seus distintos ouvintes com os resultados das partidas de futebol realizadas em Montevidéu, reunindo equipes brasileiras, sul-americanas e européias. Outras emissoras vem se somar a Educadora. A Cruzeiro do Sul, a Radio Sociedade Record.

A programação voltada para a cultura e a educação já consegue proezas tais como a transmissão de concertos, comédias líricas, programas infantis como "As histórias de tia Brasília" ou mesmo o concerto do Maestro Villa-Lobos.

Em 1926, dá-se a primeira transmissão em cadeia. Educadora Paulista e Radio Club do Rio de Janeiro transmitem o concerto vocal e instrumental, diretamente do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, em homenagem ao presidente recém-eleito, Sr.Washington Luis. Em 1927, a primeira transmissão em externa, com um microfone sendo instalado no Mosteiro de São Bento para transmissão de um concerto de órgão. Em 1928, a transmissão do prélio entre paulistas e cariocas com comentários realizados por um 'speaker' diretamente do estádio de São Januário. 1929, ano do teatro. A grupo de Raul Roulien encena a primeira pela completa do rádio paulista. Ainda em 1929, Cornélio Pires populariza o éter com as transmissões de Hora Regional.

A década de 1930 conheceu a consolidação da linguagem radiofônica. Nasce o rádio-teatro com Joaquim Lima neto, Nazareth Ortiz entre tantos. Beneficiado pela política de inclusão de comerciais na programação, a partir do decreto de Getulio Vargas em 1932, o rádio profissionaliza-se de vez. Está rompida essa conexão com o rádio educativo.

Nomes como César Ladeira, Nicolau Tuma, Renato Macedo forma a linha de frente da Record ao tempo da Revolução constitucionalista de 1932. Os textos de Antonio de Alcântara Machado são o estopim emocional e cívico para o engajamento do povo a luta contra a ditadura. Já em 1934, novas emissoras: Piratininga, América, Cultura, Difusora, Excelsior, Kosmos. Em 1937, passam a transmitir a Tupi e a Bandeirantes. A programação é muito rica a este tempo: cultura, esportes, noticias, variedades. Um pouco de tudo com muita qualidade. É tempo de Otávio Gabus Mendes, patriarca de uma família de grandes produtores e artistas. Mas é tempo momento de Ariovaldo Pires, o capitão Furtado, Vital Fernandes da Silveira, o Nhô Totico, Celso Guimarães e o primeiro programa de calouros, João Ferreira Fontes e sua reportagem volante, Egas Muniz, Adoniram Barbosa, Aluisio Silva Araújo, Jerônimo Monteiro.

A década de 1940 começa coma 2ª Grande Guerra. E com ela o jornalismo: o Reporter Esso e Kalil Filho, O Grande Jornal Falado Tupi com Corifeu de Azevedo Marques e Ribeiro Filho Mas também é o tempo das novelas como a criada por Oduvaldo Viana. Fatalidade, dos rádio-atores Waldemar Ciglioni, Cecide de Alencar, Nelio Pinheiro, Ênio Rocha. Liderança da Rádio São Paulo, especializada neste formato, que se serve do talento de Julio Atlas, Joracy Camargo, Raymundo Magalhães Jr., Oswaldo Molles, Walter George Durst, Tulio de Lemos,Giuseppe Chiaroni, entre tantos outros. Tempo de esportes com a Panamericana seus locutores e comentaristas como Geraldo Joséde Almeida, Alvaro Paes Leme, Hélio Ansaldo, Pedro Luis, Raul Tabajara, Flavio Iazetti e Paulo Planet Buarque.

Anos de 1950. Fase em que o mundo conhece a maravilha da televisão. Duro golpe para o rádio que vê, pouco a pouco, suas receitas minguarem. Mas ainda mantém a hegemonia em termos de audiência. Neste cenário brilham nomes como Mauricio Loureiro Gama, Cesar Montesclaros, Moares Sarmento, Joel de Almeida, todos o cast da Tupi. é tempo de musica jovem. Sucesso garantido para Antonio Aguilar, Enzo de Almeida Passos, Helio de Araujo e Miguel Vaccaro Neto, esses últimos pela Bandeirantes. Na Record, Vicente Leporace, Walter Silva, Fernando Vieira de Melo, Murilo Antunes Alves.

Os anos de 1960 foram muito difíceis para o rádio. Mudanças políticas repercutiram na programação e principalmente a concorrência com a TV forçou uma guinada para o popularesco. O sucesso fica por conta de nomes como Silvio Santos, Eli Correa, Barros de Alencar, Zé Betio, Gil Gomes. Tempo também da faixa jovem, da Excelsior e Difusora. Do jornalismo moderno implantado por Alexandre Kadunk na Bandeirantes e seu Titulares da Notícia. De Hecio Ribeiro e o seu poder da comunicação tendo como escudeiro o incrível e genial sonoplasta Johnny Black.

A década dos anos de 1970 é a década do FM. Vários projetos transmitidos nesta nova banda, caem no gosto popular. Bandeirantes FM, Excelsior FM, Jovem Pan II, Radio Cidade são exemplos da força da freqüência modulada paulista.

Nos anos de 1990, vem o satélites e as redes. E agora, neste novo século que se inicia, o rádio se renova. O que se espera é o radio digital, aguardando definição de sistema para iniciar suas operações e a novidade do radio on-line, transmitido pela rede mundial WEB.

E São Paulo continua tendo uma história de amor e de paixão com o rádio. História que ainda vai ter muitos episódios para reproduzir ao longos dos próximos anos.

O palestrista André Barbosa Filho, 52, nasceu em Guaratinguetá, SP, mas, logo aos dois anos e meio, mudou-se com a família para a São Paulo, Capital, onde passou a infância e juventude no bairro do Sumaré, próximo à TV TUPI, de onde pode receber poderosas influências para o seu futuro como músico e homem de comunicação.

O primeiro grupo musical surgiu com os amigos do colégio, em 1965, OS BRUXOS. Com este grupo venceram, em 1968, no Ibirapuera, São Paulo, o 1º FESTIVAL NACIONAL DE CONJUNTOS MUSICAIS, entre mais de 400 participantes, tendo por esta conquista recebido o Troféu Sérgio Mendes.

Ingressa na Faculdade de Direito da USP em 1971. Em 1972, surge a oportunidade de gravar suas próprias composições, entre elas TELL ME ONCE AGAIN, com o grupo LIGHT REFLECTIONS formado a partir da participação de alguns dos amigos dos Bruxos e outros músicos.

A canção chega aos primeiros lugares da parada de sucessos e vende mais de um milhão de cópias, tornando-se, àquela altura, recorde nacional de vendas em compactos simples no Brasil. Recebe 17 regravações internacionais, entre elas a da dupla italo-norteamericana WESS AND DORI GUESSI.

Chega também ao primeiro lugar das paradas em Buenos Aires, Argentina.

O LIGHT ainda faria outro grande sucesso nacional com THAT LOVE, em 1973. Depois de três anos de intenso êxito, o grupo se desfaz em 1974.

André termina seu curso de Direito em 1976 e investe na carreira de produtor cultural e artístico, indo para a TV CULTURA de São Paulo. Grava em 1979, pela Continental o LP solo TRADIÇÃO, em português, com canções influenciadas pela cultura de sua região, o vale do Paraíba Paulista.

Sua trajetória como criador de programas tem seqüência no Sistema Globo de Rádio, onde foi produtor da Rádio Excelsior AM e FM, e Chefe da Discoteca da Globo/Excelsior. Em seguida, 1983, torna-se Coordenador Artístico da Radio USP FM, produtor free-lancer da Jovem Pan 2 em 1985 e coordenador de programação da RECORD FM de 1986 a 1989.

Em 1985 começa a carreira como professor universitário, respondendo pela cadeira de Produção e Direção para Rádio no Instituto Metodista de Ensino Superior em S.Bernardo do Campo onde permaneceu até 2000, ocupando cargos como de Chefe de Departamento dos cursos de RTV e Jornalismo.

Em 1989, abre a CRIAR Assessoria de Comunicação, empresa de sua propriedade e que realiza projetos e produtos de comunicação eletrônica, que vão de programas de rádio, treinamentos em áudio para empresas, campanhas políticas (entre elas a de Lula Presidente 1994 e Marta Suplicy governadora –1998 para o PT) a implantação de redes radiofônicas além de projetos educacionais em áudio para PMSP.

Em 1991 retorna a TV CULTURA com diretor de programas, tendo criado a estrutura do musical Bem Brasil, atividade que dividiu com a de professor e de empresário, até 1994.

Em 1995, cria para Editora Scipione uma série de produtos sonoros tais como: A coleção de áudio-Livros (dez títulos incluindo: os Lusíadas, Dom Quixote, Sonho de uma noite de Verão, Odisséia, Cyrano de Bergerac, Otelo, Robin Hood, Os Cavaleiros da Távola Redonda e Robinson Crusoé) e os trabalhos de áudio-educação História,Memória viva e Língua e Literatura e Redação.

Em 1996 defende na UMESP sua dissertação de mestrado com a dissertação "Gêneros radiofônicos- tipificação dos formatos em áudio". Em 1997, ingressa como professor assistente da Escola de Comunicações da USP-CTR para área de rádio em concurso público. Neste mesmo ano passa a ser consultor dos projetos em áudio CCA-SENAC–SP onde realiza a revisão dos cursos técnicos de locutor e sonoplasta e cria os cursos de programador musical e de técnico em produção em rádio.

Em 1999, lança o CD com a audiobiografia: “ ]Paulo freire, o andarilho da Utopia”, realizado em colaboração com a Radio Nederland;

Em 2000, deixa a UMESP (ex-IMS) e ingressa UNIBAN como coordenador do curso de Comunicação Social – campus ABC – e em seguida como diretor de Comunicação e Marketing até 2003 Em setembro de 2004, lança seu livro “Gêneros Radiofônicos – Os Formatos e os programas em áudio" pela editora Paulinas. Em fevereiro de 2004, defende sua tese doutorado no CTR/ECA/USP cujo título é: “Redes Radiofônicas – Conflitos e convivência entre as emissoras num cenário em transformação“.

Ingressa como professor da área de rádio na Universidade São Judas Tadeu-SP, em fevereiro de 2004.

O rádio paulistano na era da internet

Falar sobre o rádio paulistano na Internet é uma tarefa desafiadora por três características desse novo meio de comunicação: a universalidade sem totalização, a desterritorialização e o surgimento ainda muito recente da rede mundial.

A Universalidade sem totalização é o principal evento cultural da emergência do ciberespaço. A filosofia da rede das redes é baseada na ausência de um centro. Então, como contabilizar as informações? Se os sites se multiplicam e desaparecem com a velocidade dos tempos pós-modernos, como registrar todas as experiências realizadas? “Quanto mais o ciberespaço se amplia, mais ele se torna ‘universal’, e menos o mundo informacional se torna totalizável” afirma Pierre Lévy. Contrariamente à cultura da escrita (em que o universalismo caracteriza-se pelo fechamento semântico), a impossibilidade de totalização do universo da Internet é justamente o que lhe confere o caráter de universalismo.

A desterritorialização, por sua vez, permite a reunião de tribos ou públicos dispersos geograficamente e agora conectados pela Internet. Falamos da falta de uma vinculação com um lugar e sim com uma proposta.

Por último, temos menos de uma década de existência da Internet com fins comerciais. Assim, o olhar para as experiências realizadas até agora tem que ser o da busca por tendências mais fortes e a indicação dos caminhos que começam a ser desenhados. Afinal, tudo está para definir nesta nova mídia.

Assim, das primeiras experiências em Feiras de Tecnologia na capital paulista até os dias atuais, o rádio expandiu muito sua presença na Internet embora apresente pouco desenvolvimento de novas possibilidades.

A grande maioria ainda é de rádios que migraram do dial para a Internet sem grandes modificações nos produtos oferecidos. Essas emissoras contentam-se em reproduzir na Web as programações que veiculam no universo não virtual e agregam uns poucos serviços e recursos de Interatividade desvinculados da produção sonora.

Poucas emissoras somente virtuais sobrevivem na rede (no Brasil representam apenas 15% do total de emissoras). E mesmo entre elas, conceitos de hipermídia, comunicação de massa individualizada e interatividade são pouco explorados.

Lígia Maria Trigo-de-Souza é jornalista, formada pela Universidade de São Paulo, e Mestre em Ciências da Comunicação pela mesma Universidade. Sua dissertação conceituou o rádio na Internet e mapeou as emissoras brasileiras na rede.

Nascida em Ituverava, interior do estado de São Paulo, há oito anos dirige a Rádio USP, FM educativa, emissora na qual iniciou sua carreira ainda nos tempos de estudante universitária e cuja programação é especializada em Música Popular Brasileira. Em rádio, desenvolveu ainda o projeto A Voz da Contag, boletim de rádio produzido pela Oboré Projetos Especiais e veiculado por emissoras em todo o país.

Atualmente, é ainda professora de radiojornalismo e orientadora de projetos Experimentais no Uni-Fiam-Faam – Centro Universitário Fiam-Faam, e de Novas Tecnologias da Comunicação na FIC – Faculdades Integradas Cantareira.

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