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Artigos

Local X nacional
na imprensa regional:
Um estudo sobre a cobertura política
do Diário do Grande ABC em 2002 e 2003

Por Verónica P. Aravena Cortes e Vanessa Ramalho*

Reprodução

Introdução

Nas últimas décadas, a imprensa regional tem ganhado destaque por tornar visíveis as demandas da comunidade na qual está inserida, constituindo-se um espaço de discussões locais. Acredita-se que a imprensa regional constituiu um dos pilares possíveis para a criação de um espaço público, na medida que sua atuação está próxima da decisão política e da vida cotidiana das pessoas. No entanto, existem veículos regionais que estão inseridos em espaços estratégicos e em certas conjunturas sua cobertura do acontecer nacional adquire conotações particulares.

Neste trabalho procuramos discutir a participação da imprensa regional na formação de um espaço público local e suas vinculações com as discussões nacionais. Tomamos como objeto de estudo O Diário do Grande ABC, um veículo que há mais de quatro décadas participa da vida social e política da região.

Neste trabalho apresentaremos algumas análises da cobertura do Diário durante as eleições de 2002 e no primeiro ano do governo Lula.

O Diário do Grande ABC está inserido numa localidade que detém um dos maiores PIBs do Brasil, sendo vizinho à maior metrópole do país. O ABC é uma região conhecida mundialmente pela sua cultura política e atualmente se destaca pelo seu potencial mercado consumidor, o terceiro do país. Por outro lado trata-se de um veículo fincado numa região na qual Luis Inácio Lula da Silva fez carreira sindical e política, sendo o berço do Partido dos Trabalhadores, agremiação que atualmente conduz os destinos do país.

1. Global e local

Nas últimas décadas criou-se o consenso de que vivemos em tempos de globalização, uma vez que presenciamos uma profusão frenética de intercâmbios globais. Nesta interconexão do mundo o desenvolvimento da tecnologia e, mais especificamente, dos meios de comunicação teve um papel crucial, estes passaram a monopolizar ou a influenciar decisivamente grande parte das informações e interpretações sobre o que ocorre pelo mundo. Por se constituir na época da eletrônica, Ianni define a sociedade global como "invisível e incógnita, presente e presumível, indiscutível e fugaz, real e imaginária". (1999, 26)

Rubim também ressalta que o espaço eletrônico, engendrado pela revolução das comunicações em rede, emerge como registro quase desmaterializado, como espaço sem território. (2000) Por isso, Ianni considera que a mídia parece priorizar o espetáculo do videoclip, da fragmentação, já que ela "pasteuriza" a economia e a sociedade, a política e a cultura, a geografia e a história, o indivíduo e o mundo. (1999, 146)

É neste contexto contraditório de globalização que se torna importante trabalhar outras formas de informação e de comunicação que corresponderiam à necessidade de preencher as lacunas deixadas pela mídia globalizada na questão da revalorização do espaço local.

A era do globalismo se caracteriza como uma realidade problemática e contraditória atravessada por movimentos de integração e fragmentação. Octavio Ianni acredita que, ao mesmo tempo que essa era possibilita uma pluralidade de identidade, propicia também uma "avassaladora homogeneização", em que "se desenvolve uma cultura transnacional, na qual tudo o que é local ou nacional se recria como mundial, desterritorializado, virtual". (1999, 15)

"O globalismo pode recobrir, impregnar, mutilar ou recriar as mais diversas formas de nacionalismos, assim como de localismos, provincianismos, regionalismos e internacionalismos. Nem sempre anula o que preexiste, mas em geral modifica o lugar e o significado do que preexiste". (Ianni, 1999, 188)

O autor defende que a sociedade global é o "novo palco da história" e a esfera predominante e decisiva em termos históricos, ao argumentar que o globalismo prevalece em relação a localismo, nacionalismo e regionalismo.

"O globalismo tende a subsumir as outras configurações sociais e muito do que ocorre em âmbito local, nacional e regional tende a estar mais ou menos decisivamente determinado pelas configurações e pelos movimentos do globalismo. Nesse sentido, é que o globalismo pode ser importante, ou até mesmo decisivo". (Ianni, 1999, 193)

Por outro lado, há autores que valorizam o espaço local. Ladislau Dowbor (1996) defende esse espaço como uma esfera de plena revalorização e de transformação que estimula a participação da população e, conseqüentemente, possibilita a democratização da sociedade.

"É no nível da administração local que a participação popular e a tão necessária democratização nos nossos países é efetivamente possível, ou pode progredir com maior rapidez, (...) na medida em que o cidadão pode intervir com muito mais facilidade em assuntos da sua própria vizinhança - e dos quais tem conhecimento direto - sem a mediação de estruturas políticas distantes." (1996, 53-54)

Além desses dois posicionamentos, também é possível identificar autores que trabalham com a idéia de "glocalidade". Segundo Antônio Rubim, o termo "glocalidade" foi usado por G. Benko, em 1990, para identificar a contração entre global e local. Essas duas categorias adquirem uma modalidade específica de conexão, uma vez que a globalização não pode mais ser assimilada como mera internacionalização, mas simultaneamente como acesso e presença cotidianos de fluxos e estoques culturais. (Rubim, 2000)

2. Jornalismo regional

Em tempo de globalização, os grandes veículos de comunicação optam pela uniformização de seu conteúdo (Ferrara, 1993). É fácil perceber que nos principais jornais do país, as manchetes (e as fotos) quase que se repetem.

Porém, Wilson Souza (1999) ressalta que, como todo indivíduo deseja ser reconhecido e retratado, acaba buscando um espaço com o qual se identifique.

Katy Nassar (1996) explica que o jornalismo regional assume um papel importante, pois adquire uma atuação marcante nas localidades em que se origina, possui voz que é ouvida pelas autoridades e tem penetração e credibilidade na comunidade. Além disso, trará as notícias que a grande imprensa diária não tem interesse em publicar e acaba por promover o desenvolvimento da região na medida em que mantém a população comprando, vendendo e trabalhando no local.

Além disso, o jornalismo regional se mostra fundamental, pois um povo melhorará suas condições de existência quando superar suas contradições. Para tanto, é necessário o acesso a informações diversificadas, apoiadas nas particularidades locais de uma diferente cultura global, em que todos serão capazes de avançar do que de acompanhar, tornando-se necessário reconhecer a realidade local na era da informação global. (Ferrara, 1993)

Um dos desafios do jornalismo regional é possibilitar a participação da sociedade, suas reivindicações e denúncias.

Outra questão que permeia as discussões sobre jornalismo regional é a utilização de matérias provenientes de agências de notícias. Marcelo Pimentel destaca a dependência que os jornais regionais em relação às agências de notícias: "jornais se transformam em grandes 'copiões' da grande imprensa do sudeste" (2000,70).

Segundo o autor, essa prática resulta em um "efeito "Frankenstein" justamente pelo descompasso da linguagem dos textos de agências e da imprensa regional.O autor ressalta que na atualidade os desafios não são apenas tecnológicos, mas editoriais:

"Cada vez mais os leitores estarão cobrando jornais com visão mais localizada, mas nem por isso significa o abandono da cobertura nacional e internacional, que deverá ser fortalecida, até para que se tenha um diferencial de mercado, concorrendo assim, nas suas áreas de abrangência, com os ditos nacionais (Pimentel, 2000, 44)"

Entretanto, Marques de Melo (1997) afirma que a disseminação dos jornais regionais esbarra muitas vezes nos veículos da grande imprensa. Na mesma linha, Wilson Souza (1999) acredita que a proximidade a grandes cidades intimida o desenvolvimento regional de municípios vizinhos, como é o caso do ABC paulista, região metropolitana da Grande São Paulo. O autor enfatiza que a escassez de veículos de comunicação de massa entra em contradição com a realidade do Grande ABC, (1) uma região conhecida mundialmente e com forte presença política, econômica e social no cenário brasileiro. Souza sugere que a existência de jornais de abrangência nacional, como a Folha de S.Paulo e O Estado de S.Paulo, na cidade de São Paulo, talvez explique a circulação de um único jornal regional na região do ABC, o Diário do Grande ABC.

Atualmente, o jornalismo regional constitui uma importante tendência dos meios de comunicação e representa um mercado promissor. O desafio dessa mídia é constituir um espaço público democrático, que desperte cidadania e participação da sociedade.

3. O Diário do Grande ABC

O Diário do Grande ABC surge a partir de um empreendimento em certa medida aventureiro. O News Seller, antecessor do Diário foi distribuído gratuitamente desde o seu lançamento, em 11 de maio de 1958, seus fundadores (Edson Danillo Dotto, Maury de Campos Dotto, Fausto Polesi e Ângelo Puga) tomaram como base o Shopping News, veículo bem sucedido comercialmente, mas o jornal já implantava um sistema de assinatura em 1961.

O News Sellers foi introduzido na região do ABC como uma proposta comercial, servindo como suporte para anunciantes. Seus idealizadores apostaram na potencialidade industrial e comercial local, que começava a despontar na produção de automóveis e logo ia se consolidar como berço da indústria automobilística no Brasil.

Apesar do formato simples e de conter apenas oito páginas, Araújo (1997) afirma que o jornal News Seller soube aproveitar o ambiente favorável da região, que contemplava crescimento econômico, mas apresentava carência de um veículo de comunicação para criar uma possibilidade de negócios. Por essa razão, o jornal passa a assimilar características regionais da cidade de Santo André e do Grande ABC.

O ex-diretor do Diário, Alexandre Polesi explica que as mudanças mais significativas do jornal tiveram início em 1968, quando o News Seller trocou de nome para Diário do Grande ABC. O autor acredita que, nesse momento, os seus fundadores começaram a perceber que o projeto não era mais uma aventura. Além disso, Araújo destaca que já havia uma certa "pressão" (ou expectativa) para que o veículo assumisse essa identidade regional.

William de Araújo (1997) coloca que a característica regional só foi assimilada a partir do momento em que seus idealizadores perceberam que a região e seus moradores viam o jornal como um referencial. Nesse sentido, o autor afirma que foi a prática diária e a observação do público que estabeleceram este parâmetro de adequação do jornal à comunidade. Enfatiza também que, na medida em que a empresa se estrutura e se alicerça, seus valores e mesmo as relações implícitas no trabalho jornalístico, assumem novos compromissos, que aos poucos distanciam-se da esfera individual rumo à esfera pública.

José Marques de Melo e Adolpho Queiroz (1998) destacam que atualmente o Diário do Grande ABC se firma como o veículo local e Diário mais importante da região e um dos jornais mais expressivos do Estado.

Afirmam que o Diário é o jornal que, proporcionalmente ao total de páginas, tem hoje o maior espaço publicitário na imprensa brasileira. Com mais de 350 mil leitores, conquistou a posição de um dos maiores jornais regionais do Brasil, juntamente com os veículos regionais A Tribuna (Santos) e Correio Popular (Campinas).

Hoje, o Diário do Grande ABC não possui concorrentes diretos, a não ser os de grande porte, como a Folha de S. Paulo e o Estado de S. Paulo.

Araújo (1997) sugere que uma explicação razoável está no fato da cidade ter sido praticamente incorporada ao perímetro urbano da capital paulistana. Como conseqüência, os parâmetros referenciais de qualidade e de concorrência naturalmente passam a ser a grande imprensa.

Mesmo assim, as matérias produzidas pelo Diário ainda apresentam um grande diferencial. O jornal oferece a seus leitores uma discussão sobre questões regionais, o bairro, a rua, a praça, o hospital, a creche, entre outros, algo que não é encontrado em veículos da grande imprensa.

Segundo Wilson Moço, o Diário assume uma função de interlocutor da população. "As pessoas ligam, cobram, reclamam", afirma o jornalista.

Moço destaca que este canal do veículo com a população ficou mais fortificado após a implantação do Conselho do Leitor em 2002. A iniciativa, que tomou como base o exemplo do jornal Zero Hora, consiste na realização de reuniões quinzenais entre leitores e membros da redação do Diário para discutir as matérias publicadas no jornal. O Diário do Grande ABC é o terceiro veículo de comunicação do país a adotar esse programa.

O Diário depende quase que exclusivamente das matérias de agências de notícias, como a Agência Estado e a Agência do Jornal do Brasil, na cobertura dos fatos nacionais. Quando ocorre algum evento da política nacional na região do Grande ABC, o jornal desloca sua equipe para a cobertura do assunto.

Em 2003, a comemoração dos 45 anos do Diário não foi motivo para muitos festejos. A situação econômica da empresa continuava precária. Para se ter uma idéia, alguns distribuidores do Diário atrasaram ou suspenderam, no mês de julho, a entrega do jornal em algumas bancas por atraso de pagamento.

4. O estudo

Para este estudo sobre o Diário do Grande ABC, selecionou-se uma amostra entre os meses de junho e novembro dos anos de 2002 e 2003.

Deste universo, estabeleceu-se a segunda semana (de domingo a domingo) de cada mês para a coleta do material. Assim, catalogaram-se oito exemplares por mês, totalizando 48 edições para cada ano da amostra.

Foram analisados a capa e os cadernos de Política, Economia e Cidades.

Ressalta-se que para o estudo de 2002 foram selecionadas apenas matérias produzidas pela própria redação, excluindo o material proveniente de agências de notícias, já em 2003, incluímos o material das Agências de notícias, pois o veículo pouco produziu acerca da política nacional. No presente artigo analisaremos apenas as manchetes da capa e o material apresentado no caderno de Política.

Abordaremos apenas em linhas gerais a cobertura política do jornal nas eleições de 2002 para a seguir aprofundarmos a cobertura do veículo do primeiro ano do governo Lula.

5. As eleições de 2002

As eleições de 2002 configuraram um momento singular para a história brasileira: um candidato da oposição com um projeto alternativo liderou as intenções de voto em um contexto marcado por uma instabilidade econômica. Apesar de estar à frente em toda corrida eleitoral, a candidatura petista foi associada a medo, terrorismo e revolução.

Alardeava-se que o país poderia se transformar em uma nova Argentina, Colômbia ou Cuba. O preconceito também era estimulado por organismos internacionais. Investidores estrangeiros, como o americano George Soros, decretavam o caos no Brasil se Lula fosse eleito. Temendo um calote no pagamento da dívida externa, os especuladores ameaçavam que a eleição de Lula ocasionaria o aumento do risco-Brasil e a desvalorização do Real, diminuindo os investimentos no país.

O candidato situacionista era José Serra, Ministro da Saúde de durante o governo do PSDB. Ao longo de 2002, a disputa se concentrou em torno à segunda vaga para o segundo turno. Serra superou os adversários, no entanto, Lula venceu com ampla maioria no segundo turno.

Um dos grandes desafios dos jornais regionais é fazer uma ampla cobertura no período de eleições, principalmente se o pleito for presidencial. Isso porque, como a mídia regional não tem estrutura para manter correspondentes nas diversas partes do Brasil, acaba reproduzindo em suas páginas matérias provenientes de agências de notícias. Entretanto, no caso das últimas eleições, o Diário optou por realizar uma cobertura que contivesse matérias de agências e também da própria redação do jornal. Dessa forma, produziu aproximadamente 40% dos textos referentes ao pleito eleitoral.

Na primeira página do Diário, as eleições dividiram espaço com outros temas, como Copa do Mundo, discurso econômico, denúncias e questões regionais, nacionais e internacionais. Em linhas gerais, pode-se dizer que, no Diário, fica evidente a primazia das questões relativas ao pleito eleitoral, tomadas conjuntamente as categorias presidenciáveis, candidatos ao governo de São Paulo, partidos, pesquisas de intenção de voto e denúncias. Não muito distante aparecem os assuntos regionais, referentes às sete cidades do Grande ABC. Já o discurso econômico merece menos destaque.

Cabe ressaltar que as declarações ou ações do então presidente Fernando Henrique Cardoso recebem escassa divulgação. (vide Tabela 1) A seguir apresentaremos as representações veiculadas pelo jornal dos dois candidatos que passaram para o segundo turno e as questões econômicas que ocuparam grande parte da agenda política em 2002.

Tabela 1:
Freqüência dos temas presentes nas 1ª páginas do Diário em 2002

Temas
Ocorrências
Questões regionais
125
Presidenciáveis
96
Discurso econômico
82
Assuntos internacionais
28
Copa do Mundo
28
Candidatos ao Gov. do Estado de SP
20
Partidos
15
Pesquisas de intenção de voto
14
Denúncias - ABC
11
FHC
8
Total
427

O primeiro turno das eleições presidenciais foi marcado pela liderança de Lula nas pesquisas, pelo sobe-e-desce dos candidatos que disputavam a segunda vaga na corrida eleitoral e pelas turbulências da economia brasileira, refletidas na alta do dólar e do risco-Brasil.

No Diário do Grande ABC, a cobertura do pleito presidencial foi extensa, mas não democrática. Somente os quatro presidenciáveis mais bem cotados nas pesquisas, Luís Inácio Lula da Silva (PT), José Serra (PSDB), Anthony Garotinho (PSB) e Ciro Gomes (PPS), foram mencionados durante o período estudado. Os outros candidatos, José Maria de Almeida (PSTU) e Rui Pimenta (PCO), sequer foram citados pelo jornal.

O candidato mais destacado no Diário do Grande ABC é Lula, seguido por Ciro e Serra, que tiveram freqüências praticamente empatadas no jornal. Já Garotinho esteve bem distante dos demais adversários no Diário. (vide Tabela 2)

Tabela 2:
Freqüência dos presidenciáveis no primeiro turno

Mês
Lula
Ciro
Serra
Garotinho
Junho
1
2
-
1
Julho
7
4
5
2
Agosto
9
10
8
3
Setembro
9
4
5
3
Outubro
7
5
6
6
Total
33
25
24
15

Um item central na pauta do Diário, durante o primeiro turno, é a campanha dos presidenciáveis. As agendas dos candidatos, as propostas de governo, suas alianças, bem como suas críticas, ou frases de efeito renderam muitas matérias:

"Lula encontra pecuaristas; Ciro se reúne com ACM" (09.09)

"Serra classificou de 'inerte' a política de segurança do PT no Rio" (14.09)

"Garotinho promete elevar salário mínimo a R$ 280" (10.07)

Em linhas gerais, pode-se dizer que o veículo mostra Lula como um presidenciável cauteloso, negociador, amadurecido, simpático e preocupado em manter a política econômica estabelecida por FHC. Já Serra é representado como um candidato mentiroso, agressivo, irônico, contraditório, com experiência administrativa duvidosa e com fraca base de sustentação partidária. Garotinho é representado como um candidato que está sempre reclamando, inclusive da imprensa. Ciro é mostrado como crítico, desconfiado, experiente e preocupado em honrar os compromissos do mercado, mas, no final da disputa, é apresentado como um candidato derrotado.

O Diário também destaca a atuação dos candidatos na região. Lula é veiculado como um presidenciável presente no Grande ABC. Já os demais são criticados pelo jornal por não demonstraram muito "interesse" pela região. "Presidenciáveis esquecem a região - Com exceção de Lula, candidatos sequer visitaram o Grande ABC" (08.09).

5.1. Lula

O Diário destaca ações de um presidenciável honesto e ético, que não tolerará a corrupção. ("Lula defende punição para os responsáveis por corrupção" - 12.07). Mostra-se que o candidato está procurando ampliar sua base de representação ("Lula promete ajudar usineiros do NE e reativar Proálcool" - 12.09). Neste caso, o veículo mostra um presidenciável interessado em representar e defender todos os setores da sociedade, inclusive a elite que sempre resistiu em apoiá-lo.

O Diário destaca as propostas de governo de Lula ligadas à área econômica. Este assunto influenciou muito a cobertura da imprensa, principalmente por Lula ser considerado, em princípio, um candidato 'não apropriado' e 'pouco confiável' em relação à conjuntura do mercado. Contudo, o Diário mostra um presidenciável preocupado em discutir a questão econômica:

"Só 'Mandrake' baixa juros, diz Lula - Presidenciável defende, no entanto, medida para impulsionar economia" (13.08)

O jornal também apresenta o vice-candidato do PT à presidência, José Alencar, como um interlocutor legítimo diante de empresário desconfiados.

"Em almoço com empresários, vice de Lula descarta calote - Vice diz que empresários não precisam temer Lula" (15.08).

"Alencar traduz lema do PT: crescimento econômico do país" (18.08).

O jornal veicula um presidenciável cauteloso, que prefere não fazer polarização, e com base de apoio político. Nesse sentido, veicula-se um Lula equilibrado, ao contrário de seus adversários, que preferiram trocar acusações e acabaram se enfraquecendo. "Lula evita polarização" (11.08), "Lula aposta na força da militância" (06.10).

Apesar de Lula ter recebido ataques dos adversários, pelo fato de sua inexperiência administrativa, sua escassa formação intelectual, sua mudança de visual e discurso e seus acordos com partidos conservadores, não há espaço para críticas ao presidenciável no Diário.

Ao menos nas semanas da amostra, o jornal parece ignorar esses fatos e debates.

Ao contrário, o veículo mostra um candidato que recebe elogio até de militares ("Militares elogiam Lula em encontro" - 14.09). Dessa maneira, é possível fazer uma leitura de um candidato simpático até para os setores mais conservadores da sociedade. Além disso, o jornal aponta para um candidato que já conquistou a confiança do eleitor: "Eleitor considera Lula o mais sincero" (06.10).

Em relação ao Grande ABC, o veículo mostra Lula muito presente na região e o PT atuante na localidade:

"Paço de Santo André vira palco de primeiro showmício petista" (13.07).

"Lula inaugura comitê em S. Bernardo" (14.07).

O Diário busca mostrar para o leitor qual é o candidato mais presente e preocupado com a região. Como o vínculo entre o candidato Lula e a região é evidente, já que o Grande ABC, sede de várias indústrias automobilísticas e berço do sindicalismo e do PT, projetou a carreira política de Lula, parece "natural" o jornal destacar o candidato petista em sua cobertura.

5.2. Serra

O Diário do Grande ABC não teve nenhuma empatia com Serra, suas representações no veículo são, via de regra, negativas. Mostra-se um candidato, cuja atuação como Ministro da Saúde é questionada: "Serra vai ao 'JN' (Jornal Nacional) e admite erros no combate à dengue" (11.07). Dessa forma, evidencia-se a ineficiência do candidato na administração da pasta de Saúde durante o governo de FHC e também uma contradição, já que Serra alardeava em suas campanhas o fato de ter recebido reconhecimento internacional como Ministro da Saúde.

O contra-ataque de Serra à crítica feita no noticiário da Rede Globo e veiculado pelo Diário mostra um presidenciável com posicionamento indefinido e dúbio, pois se apresenta como um candidato governista, mas destaca que fará um governo diferente: "Em entrevista, candidato diz que seu governo será diferente" (11.07).

O Diário mostra que nem os eleitores confiam em Serra. Numa pesquisa durante o primeiro turno da votação, o jornal revela que Serra é considerado o presidenciável mais mentiroso: "Serra é considerado o mais mentiroso" (06.10).

Um dado instigante é que o Diário não apresenta nenhuma proposta de governo de Serra no primeiro turno. Ressalta-se que esta pauta foi pouco recorrente no jornal, entretanto os demais presidenciáveis tiveram suas propostas divulgadas durante o período analisado.

5.3. Discurso econômico nas eleições 2002

As eleições de 2002 tornam evidente a vulnerabilidade econômica do Brasil. A incerteza política do momento eleitoral foi suficiente para desestabilizar a economia brasileira. Com investidores desconfiados e temerosos a mudanças, o país enfrentava dificuldades para obter crédito internacional. Sem investimentos, o Brasil ficou suscetível a crises econômicas que ocasionavam a disparada do dólar, a alta da taxa que mede o risco de investimento no Brasil e a volta da inflação.

As incertezas do mercado simbolizavam uma reação à liderança de Lula nas pesquisas de intenção de voto. Os especuladores temiam a vitória de uma candidatura da oposição baseada em um projeto alternativo. Na ótica do mercado, Lula representava uma ameaça à economia brasileira.

Assim, por resistirem a mudanças, os investidores apostavam na candidatura de José Serra, que representava a estabilidade e a continuidade das políticas governamentais.

A empatia dos especuladores com a campanha tucana foi uma arma constante do presidenciável José Serra nas eleições. O Diário mostra que a subida de Serra nas pesquisas de intenção de voto agrada o mercado, a ponto de conter a moeda americana: "Rumor sobre a subida de tucano faz dólar cair a R$ 3,12". (17/08)

Durante a campanha eleitoral, percebeu-se que nem candidaturas alternativas poderiam modificar as políticas econômicas estabelecidas pelo Governo FHC. O presidente chegou até a se reunir com os presidenciáveis ("Encontro de presidenciáveis com FHC no 2º turno" - 14/08) para pressioná-los a dar continuidade à política econômica. Em vários momentos, Lula comprometeu-se com FHC e com os eleitores a honrar os compromissos com o mercado.

Os indicadores econômicos veiculados pelo Diário do Grande ABC mostram a instabilidade do setor, a elevação do dólar e da inflação: "Dólar dispara e fecha em R$ 2,712, Bovespa cai" (12/06), "Inflação sobe e compromete meta de governo para o ano" (11/07).

O jornal reproduz o discurso da oficialidade, concedendo espaço às falas do Ministro da Fazenda Pedro Malan, do presidente do Banco Central Armínio Fraga e do presidente Fernando Henrique Cardoso. Os atores são representados como atuantes na "missão" de controlar a crise, confiantes em relação às medidas adotadas e eficientes, já que conseguem acalmar o mercado e viabilizar investimentos no país: "Crédito ao Brasil pode ser retomado - Em reunião com os dez maiores bancos centrais do mundo, Fraga tenta acalmar mercados" (10/09).

Entretanto, o Diário do Grande ABC não poupa críticas à equipe econômica.

Apresenta que, apesar do esforço do governo, algumas iniciativas econômicas foram mal-sucedidas para conter a subida do dólar ("Medidas governo não seguram alta do dólar" - 16/08). O jornal também revela a difícil realidade cotidiana vivenciada pelos brasileiros, como a diminuição da renda e a sua dificuldade para pagar suas contas: "Trabalhador perdeu 10% da renda em cinco anos - IBGE aponta que 13,1% das famílias ganham até 1 salário mínimo" (13/09), "Aposentados fazem mágica para comprar medicamentos" (16/11).

A vitória de Lula nas eleições presidenciais mostrou que o tom conciliatório da campanha seria seguido no próximo governo. A afinidade entre FHC e Lula na área econômica é destacada no Diário do Grande ABC: "FHC e Lula afinam discurso sobre o FMI - Missão desembarca hoje para encontro com futuro governo" (11/11)

Os desafios do Governo Lula apontam para a retomada do crescimento econômico, a diminuição das injustiças sociais e a continuidade das conquistas do Governo FHC. Neste momento, o jornal apresenta alguns entraves que serão enfrentados por Lula, como a negociação com o FMI, a contenção da inflação e os problemas sociais: "FMI vem ao país, mas ajuste fiscal não muda - Tema de flexibilização das contas ficará para o governo de Lula" (12/11), "Taxa de inflação é a maior do ano" (12/11).

6. Lula e o PT na presidência

A vitória de Luiz Inácio Lula da Silva na eleição presidencial de 2002 representa um marco na história brasileira. Com uma votação recorde, mais de 52 milhões de votos (61,3% dos votos válidos), chega ao poder o primeiro presidente de origem popular. Após a derrota em três eleições presidenciais consecutivas, o ex-torneiro mecânico, muitas vezes humilhado por não portar um diploma acadêmico e não ter experiência administrativa, conquista o mais alto posto da hierarquia do país.

Para conseguir esta vitória, Lula mudou de visual e fez propostas menos radicais e o PT fez uma aliança com o Partido Liberal durante as eleições, colocando o empresário José Alencar como vice-presidente.

O presidente Lula inicia seu governo sob uma perspectiva histórica no Brasil. Nunca um governo foi aclamado com tanta expectativa positiva e esperança. Em uma verdadeira festa nacional, Lula foi empossado em clima de "lua-de-mel" com a opinião pública e com a imprensa.

No primeiro ano do governo Lula, o Diário do Grande ABC prioriza as questões políticas envolvendo a nova administração federal nas manchetes de capa. O contexto político brasileiro explica esta opção.

Não se sabia ao certo se as políticas do governo Lula seriam conservadoras ou se seriam radicais, rompendo compromissos assumidos com os agentes internacionais. Os assuntos econômicos também renderam muitas manchetes no jornal. Havia o interesse em saber quais seriam as ações econômicas implementadas.

Com a vitória de Lula no pleito, a discussão era: até que ponto o Partido dos Trabalhadores na presidência poderia implementar medidas que desestruturassem a economia brasileira. Questionava-se se o novo governo conseguiria controlar a economia, retomar o crescimento econômico e evitar a subida do dólar e da inflação.

Para o Grande ABC, a vitória do PT foi um momento importante, pois Lula construiu sua carreira política na localidade e residia na região. Após a vitória, a polêmica era saber se o novo governante defenderia os interesses da região no Planalto. São Bernardo seria a residência oficial do presidente nos finais de semana e cargos importantes seriam ocupados por políticos provenientes da região.

No primeiro ano do governo do PT, as críticas veiculadas pelo Diário referem-se aos projetos do governo. O andamento do Fome Zero e das reformas Tributária e da Previdência (analisadas mais adiante) são questionados pelo veículo.

O programa Fome Zero, anunciado como prioridade de governo no primeiro discurso do presidente Lula, teria como objetivo combater a fome e a pobreza.

Contudo, a região vivenciava um problema comum a todo o país: o desemprego e a queda de poder aquisitivo. A execução do programa passa a ser discutido pelo jornal. O Grande ABC necessita desses recursos, no entanto, sua implementação ficou aquém das necessidades.

O Diário mostra as contradições: "Caminhão doado ainda está parado" (08.06), "164 mil passam fome no Grande ABC". (09.06)

Na realidade, essa paralisação do Fome Zero não é restrita apenas ao Grande ABC, mas é reflexo de um problema nacional. O governo recebeu críticas de vários setores no país. No entanto, o Grande ABC é referência para Lula no Fome Zero. Dois dos principais executivos encarregados do Banco de Alimentos de Santo André foram convidados para coordenar as ações específicas da área em Brasília. "Apesar da falha, região inspira governo". (08.06)

6.1. Na defesa de mais verbas à região

Os municípios buscam trabalhar em conjunto para lutar pelas verbas federais. O jornal mostra os prefeitos protagonizando a defesa da região, ao cobrar recursos do Planalto: "Estados e prefeitos petistas do ABC se unem por mais verbas". (10.08)

Em ocasião da visita do ministro da Casa Civil, José Dirceu, ao Grande ABC, o Diário faz uma longa cobertura. As demandas dos prefeitos são veiculadas com destaque: "Em visita hoje à região, José Dirceu enfrentará cobranças dos prefeitos". (09.06)

Em relação às reivindicações regionais, o Diário ressalta verbas para habitação - "Secretários vão a Brasília pedir áreas para construção de casas" (08.10), educação - "Movimento vai cobrar universidade federal" (09.11), saúde - "Prefeitos da região cobram mais recursos do ministério da Saúde" (15.08) e participação nas decisões do governo, "Fórum quer integração com o Conselho do 'Fome Zero'". (08.10)

Em linhas gerais, pode-se considerar que o Diário aponta que os municípios estão cumprindo suas obrigações e chegam até a se responsabilizarem por ações que deveriam ser implementadas pelo governo: "Cidades investem mais que o governo em obras federais". (05.10)

O Diário chama a atenção para as conseqüências que a falta de repasse de verba provoca na região: "Ajuste congela obras no Grande ABC". (07.09), "Diadema espera liberação para habitacional". (07.09)

Quando o Grande ABC tem suas necessidades atendidas, o jornal não deixa de noticiar: "Convênios vão garantir 1,1 mil moradias a Mauá". (16.11)

Apesar de não atender a todas as reivindicações da região - "Lula atende duas de oito reivindicações" (07.07) e "José Dirceu traz apenas boa vontade", o governo Lula dá sinais de preocupação com a localidade. Diversas ações mostram que o governo está presente no Grande ABC, com o objetivo de manter um diálogo com os atores da região e também promover a participação da localidade em um plano nacional. Há a preocupação do governo federal em manter um canal aberto com a região:

"Relator da reforma estará na região". (11.07)

"Ministro da Cultura vem ao ABC debater propostas para jovens". (14.11)

Quando veicula críticas ao Planalto, a redação do Diário não ataca Lula, mas seu governo pela lentidão em concretizar alguns projetos. Em linhas gerais, pode se considerar que Lula é de certa forma preservado no jornal. Durante o período da amostra, as matérias produzidas pela equipe do Diário do Grande ABC não apontam contradições entre as propostas de campanha de Lula e suas ações como presidente. Também não houve tentativas de desqualificá-los por algumas de suas falas polêmicas ou gafes que tenha cometido.

6.2. Política nacional

Nesta parte do caderno o Diário do Grande ABC faz uso praticamente dos serviços de agências de notícias. 524 matérias (92,1%) são provenientes de agências de notícias, e apenas 46 (7,9%), da própria redação do jornal.

Observa-se que a grande maioria desses textos (98,47%) é proveniente da Agência Estado (AE).

Tabela 3:
Freqüência dos atores na cobertura nacional do Caderno de Política

Temas
Ocorrências
Lula
60
José Dirceu
22
Antonio Palocci
14
Outros ministros
31
PT
21
Outros partidos
16
PSDB
7
"Radicais" do PT
4
Total
175

Entre os atores presentes na cobertura nacional do Caderno de Política, Lula foi o ator mais mencionado. Suas ações, opiniões e agenda de trabalho foram constantemente divulgadas. As manchetes sobre os ministros são freqüentes.

Entretanto, os destaques ficam com o Chefe da Casa Civil, José Dirceu, e o ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Isso porque tanto Dirceu quanto Palocci detinham cargos estratégicos na Presidência.

O Partido dos Trabalhadores recebe muitas menções. Como o PT é a base partidária do presidente da República, acaba ocupando as manchetes do jornal. No entanto, o Diário também não deixa de destacar outros partidos como o PSDB.

Tabela 4:
Freqüência dos assuntos no Caderno de Política

Temas
Ocorrências
Reformas
64
Movimentos Sociais (MST e MTST)
22
Oposição interna
14
Fome Zero
12
Política internacional
11
Outras ações
7
Oposição
6
Denúncias
2
Críticas
2
Total
139

Em relação às freqüências dos assuntos na cobertura nacional do Caderno de Política, observa-se que as ações do governo são muito abordadas. O tema reformas é o mais citado. Em seguida, estão o Programa "Fome Zero" e as relações internacionais do Planalto.

A oposição ao governo -vinda de frações do próprio PT - é um assunto freqüente na cobertura da política nacional do Diário do Grande ABC.

Ressalta-se que a dissidência interna do PT, cujos membros foram apelidados de "radicais", ocupa muitas páginas no jornal. A oposição de outros partidos também é mencionada, mas suas críticas não ganham tanto espaço quanto as dos dissidentes do PT.

Os movimentos sociais, como o Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST) e o Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), têm visibilidade no veículo.

As notícias relacionadas ao MST são basicamente de agências de notícias, e as matérias sobre o MTST recebem cobertura do jornal, porque a região abrigou um conflito dos sem-teto com a polícia pela desapropriação de um terreno pertencente a empresa Volkswagen, sediada em São Bernardo do Campo.

6.2.1.Lula

Em junho de 2003, seis meses após a posse do novo governo, o Diário mostra que a popularidade de Lula continua alta (42%, segundo pesquisa Datafolha), a ponto de seus fãs driblarem a segurança presidencial para estarem perto dele.

"Vendedor invade Palácio da Alvorada para ver presidente". (12.06) (AE)

O jornal reproduz matérias de agências de notícias na linha do espetáculo, noticiando a pelada de domingo ou a reunião com um grupo musical. Para o jornal, isso é notícia. Na imprensa, o espetáculo vende e o leitor tem curiosidade de saber o que faz seu presidente popular.

"Lula atua como juiz em pelada dominical no Torto". (07.07) (AE)

"Construção tira Lula de jogo, mas seu time vence por 5 a 3". (10.08) (Das agências)

"Lula banca o guitarrista ao receber Capital Inicial". (11.09) (AE)

De maneira geral, as ações destacadas de Lula no jornal referem-se a atividades de esporte realizadas nos finais de semana, a popularidade alcançada depois de meses no governo, a curiosidade dos brasileiros pelo governante que veio do povão, aos discursos recheados de sabedoria popular, subjetividade e simbolismos, que acabam revelando muitas vezes idéias machistas e preconceituosas. O Diário reproduz os conceitos de Lula que utiliza metáforas e idéias provenientes do imaginário popular ou senso comum: "Bancos empurram pobres para agiotas, afirma Lula - Presidente acusa instituições de só darem atenção ao 'filé mignon'". (10.09) (AE)

Lula também é apresentado como um presidente que discursa de forma subjetiva, entre emoção e razão. Não deixa de ser uma crítica, por parte do jornal, estar reproduzindo as falas de Lula carregadas de sentimentalismo: "Lula diz que governar não é tão maravilhoso quanto ele pensava". (17.08) (AE), "'Reformas são ferramentas de solidariedade', diz Lula - Presidente faz discurso poético durante solenidade do 'Fome Zero'". (10.10)(AE)

Esses discursos improvisados do presidente causam problemas ao governo. O jornal chama a atenção para o fato de o presidente teimar em não aceitar que cometeu uma gafe durante visita à África: "Falei apenas o óbvio, justifica Lula - Presidente é criticado ao dizer que não esperava encontrar na África cidade tão 'limpa e bonita'". (09.11) (AE)

Em se tratando de política internacional, o Diário mostra uma agenda presidencial repleta de compromissos. As viagens de Lula ao exterior são amplamente divulgadas, bem como suas conquistas internacionais:

"Lula viajará para o Oriente Médio". (09.06)

"Lula faz acordo para legalizar todos os brasileiros em Portugal - Em discurso para 300 empresários em Lisboa, presidente rebate críticas de FHC". (AE)

"Londres aguarda com expectativa aula do presidente". (12.07) (AE)

6.2.2. Reformas

Em relação às reformas, o Diário também não poupa o governo. A polêmica das reformas da Previdência e Tributária, que beneficia alguns setores da sociedade, ocupa as manchetes de várias matérias do jornal.

No caso da reforma da Previdência, está em jogo a aposentadoria de funcionários e pensionistas do setor público. Para futuros servidores, acaba a aposentadoria integral, igual aos últimos salários. A reforma da Previdência gerou muita polêmica quando foi anunciada, uma vez que mudaria as regras de aposentadoria dos servidores públicos, aliados históricos do PT. O Diário do Grande ABC destaca o descontentamento dos servidores com os termos da reforma, "Funcionários públicos do país protestam para mudar reforma - Servidores prometem ocupar a Esplanada dos Ministérios para exigir negociações" (10.06) (AE), e anuncia a primeira greve que o governo enfrenta: "Começa hoje greve dos servidores - Governo Lula enfrenta primeira paralisação, mas dá sinal de que poderá ceder a pressões". (08.07) (AE)

O Diário do Grande ABC observa que as mudanças na proposta original se deram basicamente para angariar o apóio dos partidos, tal como o PMDB, não cedendo a pressões de seus históricos parceiros como os servidores públicos: "Governo muda Previdenciária apenas para agradar ao PMDB". (09.10) (AE)

Na reforma Tributária, a questão é adequar a arrecadação nacional, a partir das perdas originais suportadas pela União em favor dos Estados e municípios. O jornal dá voz às reivindicações das prefeituras e sindicatos em relação às reformas. Os prefeitos da região querem alterar proposta contida na reforma tributária, que provocaria perda nos repasses do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços). Os municípios teriam queda de 25% a 30% nas receitas. O veículo mostra uma região ativa no debate deste assunto. A localidade participa na discussão do projeto: "Prefeitos se mobilizam para alterar a reforma tributária". (08.07), "Sindicato tenta mobilizar vários servidores para greve de amanhã". (10.06)

6.2.3. Oposição no PT: os "radicais"

Quando o assunto é oposição, o Diário do Grande ABC destaca as dissidências internas do PT. Um setor da ala esquerda dentro do PT não mede esforço para denunciar as ações governistas que ferem princípios históricos do partido, serão vistos como "radicais".

As críticas dos "radicais" ao governo ganham considerável espaço: "Heloísa diz que projeto é uma 'farsa'". (11.06) (AE), "Petistas moderados dizem que partido está esclerosado". (09.09) (AE) A senadora refere-se à reforma da Previdência proposta pelo governo do presidente Lula. Segundo Heloísa, a reforma é uma farsa que não tem compromisso "nem com os pobres nem com os oprimidos e nem com a concepção pragmática de aparelho de Estado do PT".

O jornal mostra que o novo governo está irredutível com a crítica interna, preferindo afastar as dissidências do partido: "Genoíno pede a radicais que se desliguem do PT". (13.08) (AE), "Gabeira sai do PT e Genoíno pedirá mudança ao governo". (08.10) (AE)

A saída do deputado Fernando Gabeira (PT-RJ) do partido, um personagem histórico na esquerda, gerou muita comoção. No entanto, o jornal não questiona o posicionamento pouco democrático do governo em afastar membros divergentes de seu quadro no partido.

O Diário do Grande ABC também abre espaço para algumas críticas de acadêmicos - "Intelectuais ligados ao partido lideram protestos na USP" (1106) (AE), economistas - "Economistas acusam PT de ser neoliberal" (15.06) (AE), servidores públicos "Servidores queimam foto de Lula" (15.08) (AE).

6.2.4 Movimentos sociais

A partir das manchetes do Diário do Grande ABC, uma leitura possível sobre os movimentos sociais é que estes não têm vez no governo Lula. O jornal veicula os conflitos constantes entre os integrantes do Movimento dos Sem -Terra (MST) e instituições do Estado, como a Polícia Federal.

"MST vai enfrentar a PM e a Justiça - Sem-Terra voltam a local de zona da mata de Pernambuco, de onde haviam sido despejados". (07.07)

"MST: PF não investiga milícias de fazendeiros - Integrantes do movimento se reúnem com Fontenelles e João Paulo". (11.07) (AE)

As manchetes sobre o tema se tornaram freqüentes com a intensificação do conflito, que culminou com a prisão do líder do movimento dos Sem -Terra, José Rainha:

"Prefeitos rejeitam assentamentos". (11.07) (AE)

"Sem -Terra invadem Incra de MG". (11.07) (AE)

"José Rainha, líder do MST, é preso". (12.07) (AE)

O Diário dá voz aos integrantes dos movimentos, que fazem uma severa crítica em relação ao novo governo: "'Governo força invasão', diz líder - Coordenador do MST no Pontal diz que despejos deixam famílias sem destino". (12.08) (AE)

O Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto também foi destaque no Diário do Grande ABC. A ocupação da área da Volkswagen na região do Grande ABC, em agosto de 2003, por membros do movimento recebeu ampla cobertura. Os Sem-Teto foram expulsos do terreno da Volkswagen, após pedido de reintegração de posse da montadora. Após esse episódio, os manifestantes foram acampar na Praça Matriz, localizada em São Bernardo, e posteriormente numa área da Gaviões da Fiel, sediada em São Paulo. "Acampados na praça Matriz, sem-teto procuram novo local - MTST diz ter ônibus para levar remanescentes da área da Volks mas falta lugar para onde ir". (10.08)

O jornal aponta que os movimentos sociais aumentam suas críticas ao governo. O coordenador nacional do MST, João Paulo Stédile, ganha espaço quando afirma que as elites brasileiras transformaram o presidente Lula, cuja origem vinculada à classe trabalhadora teria sido geneticamente modificada pelas forças conservadoras no governo federal. "Movimentos sociais fazem críticas ao governo petista". (11.09) (AE), "Líder do MST diz que elite fez de luta um transgênico". (08.10) (AE)

No entanto, nem as matérias da AE e nem as do Diário lembram as promessas de reforma agrária durante a campanha presidencial de Lula.

6.3. Discurso econômico

Os atores presentes no caderno de Economia do Diário do Grande ABC são os membros do governo (ministros e equipe econômica), empresários e economistas.

Estes atores têm voz no jornal e são destacados como protagonistas na cena econômica. Em linhas gerais, pouco aparecem especialistas ou acadêmicos questionando o andamento das políticas econômicas adotadas pelo novo governo que tocam a região, pela difícil situação no que tange à questão do emprego.

Segundo dados da Pesquisa de Emprego e Desemprego feita pela Fundação Seade e o Dieese, divulgados no Diário On Line, (2) a taxa de desemprego no Grande ABC foi de 21,5% no mês de novembro (2003). Já a taxa de desemprego na região metropolitana de São Paulo foi de 19,9%. A reportagem do Diário On Line ressalta que as taxas são as mais altas para um mês de novembro desde o início das séries históricas. No Grande ABC, o levantamento é feito desde 1999, e, na região metropolitana, desde 1985. No mesmo mês de 2002, no primeiro caso, a taxa estava em 19,2% e, no segundo, em 19%. 2003 apresentou a maior taxa de desemprego médio em 2003 na Grande São Paulo desde 1985, 20,1%.

As instituições mais mencionadas nos veículos são as indústrias, os bancos e os sindicatos. As indústrias automobilísticas são veiculadas como protagonistas de uma crise econômica. O Grande ABC passa por um período difícil: estão sendo fechados postos de trabalho na região. "Ford paralisa unidade por uma semana no fim deste mês". (10.06), "Sindicatos esperam para hoje decisão da Volks - Entidades de São Bernardo e de Tatuapé querem que empresa cancele transferência de 4 mil". (11.08)

A análise do Diário do Grande ABC revela, principalmente entre os meses de junho e agosto de 2003, as dificuldades econômicas enfrentadas pelo Brasil. Ressalta-se que naquele período Lula ainda era alvo da desconfiança dos organismos internacionais, o que gerava incerteza no mercado. O jornal veicula matérias que apontam as conseqüências sociais da política econômica adotada pelo novo governo. O estabelecimento dos juros altos provoca a estagnação da economia, a alta da inflação e a queda do poder de compra dos salários. O Diário mostra as conseqüências para a população: falta de dinheiro, diminuição do poder de compra e desemprego.

"Cheque sem fundo bate recorde". (13.06) (AE)

"Crise e facilidade de acesso elevam procura por penhor - Operações passaram de 6.073 em julho de 2002, para 8.054 no mês passado". (13.08)

"Para Fiesp, produção atual inviabiliza aumento de salário - Diretor da entidade diz que movimento vivido por indústria é extremamente grave". (16.08) (AE)

No entanto, o jornal não relaciona essa crise diretamente ao novo governo.

O jornal noticia a recuperação da economia no segundo semestre de 2003. O Diário mostra a diminuição da inflação, a valorização do Real e o aumento da confiabilidade do Brasil para os organismos internacionais. A contenção da inflação estimula a queda dos juros, restabelecendo o crescimento econômico e a diminuição do índice de desemprego.

"Inflação: sem risco de descontrole - Ministro diz que política econômica do governo venceu, mas mantém cautela quanto aos juros". (12.06)

"Governo sinaliza com queda de juros em acordo com o FMI". (09.09) (AE)

No fim do ano, o Diário parece saudar a retomada econômica. O jornal destaca as conseqüências do crescimento econômico. A retomada da atividade industrial e o aumento da taxa de empregos são alguns dos aspectos apontados pelo jornal. "Produção da indústria cresce 5,7% - Índice de setembro é o maior do ano para São Paulo; é também a segunda alta consecutiva". (15.11)

De maneira geral, observa-se que, durante o período analisado, o Diário não veicula muitas matérias direcionadas à economia regional. Quando o jornal destina espaço à situação econômica do Grande ABC, aponta as dificuldades enfrentadas na região, como o desaquecimento industrial e o desemprego.

A indústria automobilística, responsável pelo rápido crescimento econômico da região nos anos 50, viveram, em 2003, uma crise generalizada no Grande ABC. A guerra fiscal travada entre a região e outras localidades do país ameaça a transferência de indústrias sediadas na região para outros Estados. O Diário destaca esta realidade:

"Montadoras vivem pior crise, afirma presidente da Volks - Para executivo, empresa poderá ter de enxugar os custos e não descarta cortes". (11.07)

Observa-se que o Diário forma seu noticiário econômico regional centrado na indústria automobilística.

Considerações Finais

A eleição presidencial de 2002 é simbólica não apenas pelo fato de um ex-retirante nordestino ocupar o cargo de presidente da República, mas porque ocorreu a partir de um amadurecimento da consciência política do brasileiro. A opção pela mudança fez com que mais de 52 milhões de brasileiros depositassem sua esperança no candidato petista em busca de um país mais justo.

Os resultados desta pesquisa mostram que a agenda do Diário do Grande ABC durante o ano eleitoral foi determinada pelas questões referentes às eleições. A disputa eleitoral superou levemente a temática regional. Um pouco atrás aparece a temática econômica, esta apontava principalmente para a turbulência econômica causada pelo momento eleitoral. Este último tema está presente em menor grau do que em outros jornais Diários como o Estado de S.Paulo, por exemplo, mas de qualquer forma vemos uma forte presença do discurso econômico.

Visualizamos esta temática como uma determinação global num veículo local. Acreditamos que notícias baseadas na cotação do dólar ou no índice do risco país nos permitem esta interpretação.

Constata-se que o Diário do Grande ABC não foi imparcial em sua cobertura, já que seus posicionamentos e preferências eram evidentes durante o pleito. Apesar do jornal insistir em afirmar que não tem posições partidárias, assumiu uma posição política ao defender a eleição de candidatos mais representativos para o ABC, no caso, Lula e o PT.

Em 2003, Lula assumiu em meio a muitas expectativas positivas quanto ao seu governo. Num primeiro momento, isso facilitou seu trabalho, já que conseguiu propor reformas. Suas primeiras ações causaram perplexidade, como o aumento da taxa de juros e a manutenção do superávit primário, no momento atual, após algumas denúncias como o pagamento de deputados, vemos a frustração disseminar-se dentro e fora do PT.

O primeiro ano do governo Lula revela muitas contradições com a campanha eleitoral do então candidato petista e com os discursos do presidente durante a posse: inaugurar um novo governo preocupado com as questões sociais.

O que foi visto é a prioridade do novo governo para as ações econômicas. Lula manteve a estabilidade econômica, mas também a estagnação econômica, a dependência do país ao capital estrangeiro e o aumento do desemprego. A questão social ficou para segundo plano. O carro-chefe da campanha eleitoral de Lula, o Programa Fome Zero, mostrou que até as principais estratégias do governo não estavam tão definidas. O programa foi criticado pelo fato de ser assistencialista e pela lentidão em ser implementado. Em 2004, o Fome Zero sumiu da agenda.

As reformas da Previdência e Tributária causaram muita polêmica e acabaram sendo reformuladas. A reforma agrária, historicamente prometida pelo PT, não dá sinais de avanço no primeiro ano do governo petista. Esses projetos receberam críticas no interior do próprio PT.

Porém, o governo mostrou-se autoritário ao silenciar, aos poucos, as vozes dissonantes do PT. Os chamados "radicais" foram expulsos do partido. Essa situação abre o campo para um importante debate: até que ponto é legítimo, democrático e ético calar as vozes divergentes de um partido. Democracia não se faz com idéias homogêneas, mas divergentes.

Durante a cobertura das eleições presidenciais de 2002, o Diário veiculou certa simpatia em relação à candidatura de Lula. Este fato levantou algumas discussões sobre qual postura o Diário assumiria durante a cobertura do primeiro ano do governo Lula, de complacência ou de crítica. Apesar disso, observou-se de maneira geral que o posicionamento do Diário não foi de absoluta complacência. O jornal veicula reivindicações e críticas do Grande ABC em relação ao Planalto, mas também apresenta as ações que o novo governo está implementando na região.

Quando veicula críticas ao Planalto, o Diário não ataca Lula, mas seu governo pela lentidão em concretizar alguns projetos. Em linhas gerais, pode se considerar que Lula é de certa forma preservado no jornal.

Durante o período da amostra, as matérias produzidas pela equipe do Diário do Grande ABC não apontam contradições entre as propostas de campanha de Lula e suas ações como presidente. Também não houve tentativas de desqualificá-los por algumas de suas falas polêmicas ou gafes que tenha cometido.

Em linhas gerais, observa-se a ausência de especialistas e acadêmicos no Diário do Grande ABC questionando o andamento das políticas econômicas adotadas pelo novo governo que também tocam a região, pela difícil situação no que tange à questão do emprego. De maneira geral, não houve matérias que criticassem a política econômica de Lula diretamente, nem matérias que relacionassem a crise vivida pela região diretamente à política econômica adotada pelo Planalto. Pelo contrário, o Diário veicula constantemente que o governo federal tem interesse pelo Grande ABC.

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Sites

Diário do Grande ABC - Disponível em: <www.dgabc.com.br>. Acesso em: 03.12.2003.

Notas

(1) O Grande ABC é constituído por sete municípios limítrofes: Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra.

(2) In: "Desemprego no ABC recua, mas taxa é a maior desde 99". Disponível em <www.dgabc.com.br> Acesso em 3.12.2003.


*Verónica P. Aravena Cortes é doutora em Sociologia pela USP e professora da Universidade Metodista de São Paulo (Faculdade de Jornalismo e Relações Públicas e Faculdade de Filosofia). Vanessa Ramalho é formada em jornalismo pela UMESP.

**Este artigo apresenta resultados parciais da pesquisa "Mídia, espaço público e democracia", que conta com apoio da Fapesp.

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