Artigos
Jornalismo
Online, Informação e Memória:
Apontamentos
para debate
Por
Marcos Palacios*
Abstract
This
paper presents some preliminary ideas concerning specific characteristics
of Online Journalism, with special reference to one of them,
namely Memory. It is suggested that online databases coupled
with the virtually unlimited storage capacity brought about
by telematic resources may affect both the process of Production
and Reception of journalistic information. Suggestions are advanced
concerning possible lines of analysis for further research.
Keywords:
Online Journalism, Internet, Web Newspapers, New Technologies
of Communication.
Nosso
objectivo nesta comunicação é contribuir
para a discussão em torno das especificidades do Jornalismo
na Web através da apresentação de algumas
ideias preliminares relacionadas a uma das características
do Jornalismo Online [1], qual seja a Memória [2]. Partiremos
de uma breve descrição do que entendemos serem
as características gerais do Jornalismo Online para,
em seguida, assinalar possíveis consequências da
introdução de recursos de Memória praticamente
ilimitados propiciados pelo novo suporte [3] jornalístico
representado pelas redes telemáticas.
Ao
estudar as características do jornalismo desenvolvido
para a Web, Bardoel e Deuze (2000) apontam quatro elementos:
Interactividade, Customização de conteúdo,
Hipertextualidade e Multimidialidade. Palacios (1999), com a
mesma preocupação, estabelece cinco características:
Multimidialidade/Convergência, Interactividade,
Hipertextualidade, Personalização
e Memória. Cabe ainda acrescentar a Instantaneidade
do Acesso, possibilitando a Actualização Contínua
do material informativo como mais uma característica
do Webjornalismo.
Essas
seis características, que serão agora brevemente
apresentadas, reflectem as potencialidades oferecidas pela Internet
ao jornalismo desenvolvido para a Web. Deixe-se claro, preliminarmente,
que tais possibilidades abertas pelas Novas Tecnologias de Comunicação
(NTC) não se traduzem, necessariamente, em aspectos efectivamente
explorados pelos sites jornalísticos, quer por razões
técnicas, de conveniência, adequação
à natureza do produto oferecido ou ainda por questões
de aceitação do mercado consumidor. Estamos a
falar, fundamentalmente, de potenciais que são utilizados,
em maior ou menor escala, e de forma diferente, nos sites jornalísticos
da Web.
É
igualmente importante que se ressalte que não acreditamos
existir um formato canónico, nem tampouco mais
avançado ou mais apropriado no jornalismo
que hoje se pratica na Web. Diferentes experimentos encontram-se
em curso, sugerindo uma multiplicidade de formatos possíveis
e complementares, que exploram de modo variado as características
das NTC. Se alguma generalização é possível,
neste momento, ela possivelmente diria respeito ao facto de
que todos esses formatos são ainda altamente incipientes
e experimentais, em função do pouco tempo de existência
do novo suporte mediático representado pelas redes telemáticas.
Alguns
sites jornalísticos apostam na maximização
da Actualização Contínua de seu material
informativo (como os jornais de portais, a exemplo de Último
Segundo do portal IG, em http://www.ig.com.br,
ou o Terra Notícias do portal Terra, em http://www.terra.com.br/noticias/);
outros exploram mais a Multimidialidade e a possibilidade de
aprofundamento de assuntos, com a disponibilização
de extensos bancos de dados visuais e sonoros (a exemplo do
MSNBC, em http://www.msnbc.com,
ou a edição online do semanário brasileiro
Veja, em http://www.veja.com.br);
outros ainda ensaiam modelos de tipo P2P, peer to peer,
(como por exemplo o Correspondente, em http://www.correspondente.net
enfatizam a dimensão da Interactividade e participação
direta. O Crayon (iniciais de Create Your Own Newspaper) é
um exemplo de site jornalístico baseado na possibilidade
de Personalização, que funciona na Web desde seus
primórdios e continua fazendo sucesso (http://www.crayon.net).
Multimidialidade/Convergência
- No contexto do jornalismo online, multimidialidade, refere-se
à convergência dos formatos das mídias tradicionais
(imagem, texto e som) na narração do fato jornalístico.
A convergência torna-se possível em função
do processo de digitalização da informação
e sua posterior circulação e/ou disponibilização
em múltiplas plataformas e suportes, numa situação
de agregação e complementaridade.
Interactividade
- Bardoel e Deuze (2000) consideram que a notícia online
possui a capacidade de fazer com que o leitor/utente sinta-se
mais directamente parte do processo jornalístico. Isto
pode acontecer de diversas maneiras: pela troca de e-mails entre
leitores e jornalistas, através da disponibilização
da opinião dos leitores, como é feito em sites
que abrigam fóruns de discussões, através
de chats com jornalistas, etc. Machado (1997) ressalta que a
interactividade ocorre também no âmbito da própria
notícia, ou seja, a navegação pelo hipertexto
também pode ser classificada como uma situação
interactiva.
Adopta-se
o termo multi-interactivo para designar o conjunto de processos
que envolvem a situação do leitor de um jornal
na Web. Diante de um computador conectado à Internet
e a acessar um produto jornalístico, o Utente estabelece
relações: a) com a máquina; b) com a própria
publicação, através do hipertexto; e c)
com outras pessoas autor(es) ou outro(s) leitor(es) -
através da máquina (Lemos, 1997; Mielniczuk, 1998).
Hipertextualidade
- Possibilita a interconexão de textos [4] através
de links [5] (hiperligações). Canavilhas (1999)
e Bardoel & Deuze (2000) chamam a atenção
para a possibilidade de, a partir do texto noticioso, apontar-se
(fazer links) para várias pirâmides invertidas
da notícia, bem como para outros textos complementares
(fotos, sons, vídeos, animações, etc),
outros sites relacionados ao assunto, material de arquivo dos
jornais, textos jornalísticos ou não que possam
gerar polémica em torno do assunto noticiado, publicidade,
etc.
Customização
do Conteúdo/Personalização
- Também denominada individualização, a
personalização ou costumização [6]
consiste na opção oferecida ao Utente para configurar
os produtos jornalísticos de acordo com os seus interesses
individuais. Há sites noticiosos que permitem a pré-selecção
dos assuntos, bem como a sua hierarquização e
escolha de formato de apresentação visual (diagramação)
[7]. Assim, quando o site é acessado, a página
de abertura é carregada na máquina do Utente atendendo
a padrões previamente estabelecidos, de sua preferência.
Memória
- Palacios (1999) argumenta que a acumulação de
informações é mais viável técnica
e economicamente na Web do que em outras mídias. Desta
maneira, o volume de informação anteriormente
produzida e directamente disponível ao Utente e ao Produtor
da notícia é potencialmente muito maior no jornalismo
online, o que produz efeitos quanto à produção
e recepção da informação jornalística,
como veremos adiante.
Instantaneidade/Actualização
Contínua
A rapidez do acesso, combinada com a facilidade de produção
e de disponibilização, propiciadas pela digitalização
da informação e pelas tecnologias telemáticas,
permitem uma extrema agilidade de actualização
do material nos jornais da Web. Isso possibilita o acompanhamento
contínuo em torno do desenvolvimento dos assuntos jornalísticos
de maior interesse [8].
Estabelecida
esta breve descrição de características
do Jornalismo Online, podemos agora prosseguir propondo algumas
idéias mais diretamente relacionadas com a Memória,
enquanto elemento distintivo da produção e consumo
da informação jornalística nas redes telemáticas.
Antes
porém, cabem algumas considerações gerais
sobre esse elenco de características atribuídas
ao Jornalismo Online.
Rupturas,
Continuidades e Potencialização
Preliminarmente,
é importante que se estabeleça uma premissa básica
que afaste qualquer tentação de se considerar
que a Internet, ou outros suportes telemáticos, estejam
a se constituir em oposição e em um movimento
de superação dos formatos mediáticos anteriores.
Faz-se necessário um aprofundamento da compreensão
teórica das Novas Tecnologias de Comunicação
(NTC), visando a eliminação da falsa oposição
algumas vezes criada entre as chamadas Mídias Tradicionais
ou de Massa e as NTC, que tem levado, em alguns casos, a uma
visão evolucionista bastante simplista e à afirmação
de um certo triunfalismo tecnológico (Palacios, 2001).
Perceber
as especificidades dos vários suportes mediáticos
não implica colocá-los em contraposição.
Parece-nos oportuna, como ponto de partida, a distinção
estabelecida por Dominique Wolton (1999:85) entre uma lógica
da oferta, que caracteriza as mídias tradicionais (rádio,
TV, imprensa), que funcionam por emissão de mensagens
(o chamado modelo Um - Todos)[9] e uma lógica de demanda,
que caracteriza as NTC, que funcionam por disponibilização
e acesso (o chamado modelo Todos - Todos).
As
diferentes modalidades midiáticas são vistas por
Wolton não como pontos ascendentes numa escala progressiva
e evolucionária, mas como complementares. Ele chama a
atenção para a espectacular capacidade das NTC
no que se refere à oferta de Informação,
de disponibilização de Bancos de Dados, mas deixa
claro que o crescimento exponencial da massa de Informação
não nos leva a prescindir de mediadores, mas antes pelo
contrário:
Comunicação
direta, sem mediações, como uma mera performance
técnica. Isso apela para sonhos de liberdade individual,
mas é ilusório. A Rede pode dar acesso a uma
massa de informações, mas ninguém é
um cidadão do mundo, querendo saber tudo, sobre tudo,
no mundo inteiro. Quanto mais informação há,
maior é a necessidade de intermediários- jornalistas,
arquivistas, editores, etc- que filtrem, organizem, priorizem.
Ninguém quer assumir o papel de editor chefe a cada
manhã. A igualdade de acesso à informação
não cria igualdade de uso da informação.
Confundir uma coisa com a outra é tecno-ideologia
(Wolton,1999b).
A
ideia sugerida por Pierre Lévy (1999:188) de um possível
desaparecimento do Jornalismo (ou pelo menos dos Jornalistas
enquanto intermediários), em função do
desenvolvimento da Internet, parece-nos, cada vez mais, uma
simplificação descabida. Sugerimos, ao contrário,
que com o crescimento da massa de informação disponível
aos cidadãos, torna-se ainda mais crucial o papel desempenhado
por profissionais que exercem funções de filtragem
e ordenamento desse material, seja a nível jornalístico,
académico, lúdico, etc.
Uma
biblioteca digital como a BOCC- Biblioteca Online de Ciências
da Comunicação- (http://www.bocc.ubi.pt)
ou o site do Prossiga (http://www.prossiga.br)
constituem exemplos de filtragem e ordenamento de informação
de carácter académico. Um site de informação
e distribuição de software de jogos electrónicos
(http://www.jumbo.com)
é um exemplo de filtragem e ordenamento de
caracter lúdico.
Entendido
o movimento de constituição de novos formatos
mediáticos não como um processo evolucionário
linear de superação de suportes anteriores por
suportes novos, mas como uma articulação complexa
e dinâmica de diversos formatos jornalísticos,
em diversos suportes, em convivência e complementação
no espaço mediático [10], as características
do Jornalismo na Web aparecem majoritariamente como Continuidades
e Potencializações e não, necessariamente,
como Rupturas com relação ao jornalismo
praticado em suportes anteriores. Com efeito, é possível
argumentar-se que as características elencadas anteriormente
como constituintes do Jornalismo na Web podem, de uma forma
ou de outra, ser encontradas em suportes jornalísticos
anteriores, como o impresso, o rádio, a TV, o CD-Rom.
Vamos
exemplificar. A Multimidialidade do Jornalismo na Web é
certamente uma Continuidade, se considerarmos que na TV já
ocorre uma conjugação de formatos mediáticos
(imagem, som e texto). No entanto, é igualmente evidente
que a Web, pela facilidade de conjugação dos diferentes
formatos, potencializa essa característica. O mesmo pode
ser dito da Hipertextualidade, que pode ser encontrada não
apenas em suportes digitais anteriores, como o CD-ROM, mas igualmente,
e avant-la-léttre, num objecto impresso tão antigo
quanto uma enciclopédia.
A
personalização é altamente potencializada
na Web, mas já está presente em suportes anteriores,
através da segmentação de audiência
(públicos-alvos). No jornalismo impresso isso ocorre,
por exemplo, através da produção de cadernos
e suplementos especiais (cultural, infantil, feminino, rural,
automobilístico, turístico, etc); no rádio
e na TV a personalização tem lugar através
da diversificação e especialização
das grades de programação e até mesmo das
emissoras, como no caso da RTP Internacional, totalmente voltada
para a Comunidade Lusitana na Diáspora.
Ora,
em sendo assim, onde estariam as Rupturas no jornalismo praticado
nos suportes telemáticos e em especial na Web?
Sugerimos
que, para além das Continuidades e Potencializações,
algumas Rupturas efectivamente ocorrem. Em primeiro lugar, e
como facto mediático mais importante, na Web, dissolvem-se
(pelo menos para efeitos práticos) os limites de espaço
e/ou tempo que o jornalista tem a seu dispor para a disponibilização
do material noticioso.
Trabalhando
com bancos de dados alojados em máquinas de crescente
capacidade de armazenamento e contando com a possibilidade do
acesso assíncrono por parte do Utente, bem como de alimentação
e Actualização Contínua de tais bancos
de dados por parte não só do Produtor, mas também
do Utente (Interactividade), o Jornalismo Online, para efeitos
práticos, dispõe de espaço virtualmente
ilimitado, no que diz respeito à quantidade de informação
que pode ser colocada à disposição do seu
público alvo.
Trata-se
da primeira vez que isso ocorre, uma vez que em todos os suportes
anteriores (impresso, rádio, TV) o jornalista convivia
com rígidas limitações de espaço
(que se traduz em tempo, no caso do rádio e TV). A possibilidade
de dispor de espaço ilimitado para a disponibilização
do material noticioso é, a nosso ver, a maior Ruptura
a ter lugar com o advento da Web como suporte mediático
para o jornalismo.
Para
além dessa quebra dos limites físicos
da disponibilização do material noticioso, acreditamos
que o jornalismo na Web encontra sua especificidade não
apenas pela Potencialização das características
já descritas, mas principalmente pela combinação
dessas características potencializadas, gerando novos
efeitos. É justamente esse aspecto que nos propomos a
explorar um pouco mais nesta comunicação, para
o caso da Memória.
O
Lugar da Memória
Da
mesma forma que a quebra dos limites físicos
na Web possibilita a utilização de um espaço
praticamente ilimitado para disponibilização de
material noticioso (sob os mais variados formatos mediáticos),
abre-se a possibilidade de disponibilizar online toda informação
anteriormente produzida e armazenada, através da criação
de arquivos digitais, com sistemas sofisticados de indexação
e recuperação da informação.
A
Memória no Jornalismo na Web pode ser recuperada tanto
pelo Produtor da informação, quanto pelo Utente,
através de arquivos online providos com motores de busca
(search engines) que permitem múltiplos cruzamentos de
palavras-chaves e datas (indexação). Sem limitações
de espaço, numa situação de extrema rapidez
de acesso e alimentação (Instantaneidade e Interactividade)
e de grande flexibilidade combinatória (Hipertextualidade),
o Jornalismo tem na Web a sua primeira forma de Memória
Múltipla, Instantânea e Cumulativa.
Numa
situação de Interactividade, conquanto não
compartilhemos a ideia de que os papeis de Produtor e Consumidor
da Informação Jornalística possam a vir
a confundir-se de maneira generalizada, como sugere Lévy
(1997), deve-se levar em conta que, em determinadas circunstâncias,
a alimentação de bancos de dados (arquivos) possa
vir a fazer-se tanto por Produtores quanto por Consumidores
da Informação Jornalística.
Isso
já ocorre, por exemplo, quando leitores participam de
fóruns ou enquetes (inquéritos ou pesquisas de
opinião) relacionados a notícias correntes, sendo
esse material incorporado ao universo de informação
construído em torno do facto jornalístico e, eventualmente,
armazenado nos arquivos online do jornal para posterior recuperação
e consulta. Os sites jornalísticos de tipo P2P (peer
to peer) são outro exemplo de dupla via de alimentação,
já que nesse formato Produtores e Utentes da informação
realmente se identificam.
Evidentemente,
com relação à Memória, é
possível caracterizar-se também uma situação
de Continuidade com relação a suportes anteriores.
Os jornais impressos, desde longa data, mantém arquivos
físicos das suas edições passadas, abertas
à consulta do público e utilizadas por seus editores
e jornalistas no processo de produção de informação
noticiosa.
No
jornalismo impresso moderno é comum a publicação
de pesquisas, baseadas em informação de arquivo,
que complementam, ampliam ou ilustram o material noticioso corrente.
O mesmo ocorre com relação às emissoras
de rádio e TV, que mantém arquivos sonoro e de
imagem, eventualmente utilizados na produção de
material noticioso de caracter jornalístico.
Na
Web, no entanto, a conjugação de Memória
com Instantaneidade, Hipertextualidade e Interactividade, bem
como a inexistência de limitações de armazenamento
de informação, potencializam de tal forma a Memória
que cremos ser legítimo afirmar-se que temos nessa combinação
de características e circunstâncias uma Ruptura
com relação aos suportes mediáticos anteriores.
Voltamos
a insistir que ao fazermos esse tipo de afirmação,
estamos a nos referir a possibilidades que se abrem tanto para
os Produtores quanto para os Utentes da Informação
Jornalística. A realidade da prática jornalística
na Web aproxima-se ou distancia-se de tais possibilidades abertas,
conforme os contextos e produtos concretos disponíveis
hoje na Internet.
Cabe
indagar-se também, ainda que preliminarmente, em que
estágio nos encontramos quanto ao efectivo uso de uma
tal possibilidade de Memória Múltipla, Instantânea
e Cumulativa.
O
Uso Efectivo da Memória
A
primeira constatação que se pode fazer diz respeito
à crescente utilização da Memória
como elemento constitutivo do Jornalismo Online. Em recente
estudo comparativo, envolvendo jornais online brasileiros e
portugueses, observou-se que a Memória, sob a forma de
arquivos online, está a se generalizar no Webjornalismo
dos dois países [11]. A pesquisa, que utilizou como universo
de estudo jornais na Web disponibilizados por empresas jornalísticas
que também publicam jornais impressos, organizou os Webjornais
pesquisados de acordo com a faixa de tiragem de seus congêneres
impressos.
Os
arquivos que disponibilizam material editorial publicado anteriormente
aparecem, em todas as faixas de tiragem, no caso dos jornais
brasileiros observados, com uma incidência superior a
50%. Nas duas primeiras faixas a ocorrência é de
100%. Constata-se também que os arquivos com uma abrangência
de seis meses são os mais utilizados, aparecendo em índices
superiores a 50% em todas as faixas de tiragem.Os arquivos funcionam
apenas como depósito de informação. Não
se constata a utilização de uma base de dados,
onde as informações possam ser correlacionadas.
TABELA
RESUMO Memória (Brasil)
Tiragem
|
Possui
arquivo?
|
Qual
o período?
|
Qual
sistema de busca?
|
Até
7 dias
|
+
de 7 dias
|
Palavra
|
Data
|
Acima
de 100.001
(4 jornais)
|
4
jornais (100%)
|
-
|
4
jornais (100%)
|
3
jornais (75%)
|
3
jornais
(75%)
|
50.001
a 100.000
(4 jornais)
|
4
jornais (100%)
|
1
jornal (25%)
|
3
jornais (75%)
|
3
jornais (75%)
|
4
jornais (100%)
|
25.001
a 50.000
(15 jornais)
|
10
jornais (67%)
|
2
jornais (13%)
|
8
jornais (53%)
|
4
jornais (27%)
|
10
jornais (67%)
|
001
a 25.000
(21 jornais)
|
12
jornais (57%)
|
1
jornal
(5%)
|
11
jornais (52%)
|
2
jornais (9%)
|
11
jornais (52%)
|
TOTAL
|
30
jornais (68%)
|
4
jornais (9%)
|
26 jornais (59%)
|
12
jornais (27%)
|
28
jornais (64%)
|
Os
arquivos aparecem em 100% dos jornais brasileiros com tiragem
superior a 50.000. Nas faixas de tiragem inferior a 50.000,
aparecem em mais de 50% dos jornais. Destes, a incidência
de arquivos que disponibilizam material superior a sete dias
é destacadamente maior do que os que oferecem apenas
material dos últimos sete dias. É preciso esclarecer
que não foi feita diferenciação se os serviços
eram pagos ou não.
Observa-se
que nos jornais de tiragem superior a 50.000 exemplares, os
serviços de busca funcionam por palavras-chaves e, na
maioria dos casos, também concomitantemente por data
da edição. Já nos jornais, cuja tiragem
é inferior a 50.000, prevalece a busca por data da edição.
TABELA
RESUMO Memória (Portugal)
Tiragem
|
Possui
arquivo?
|
Qual
o período?
|
Qual
sistema de busca?
|
Até
7 dias
|
+
de 7 dias
|
Palavra
|
Data
|
50.001
a 100.000
(4 jornais)
|
4
jornais (100%)
|
1
jornal (25%)
|
3
jornal (75%)
|
4
jornais (100%)
|
3
jornais (75%)
|
001
a 25.000
(3 jornais)
|
3
jornais (100%)
|
1
jornal (33%)
|
2
jornais (66%)
|
1
jornal (33%)
|
2
jornais (66%)
|
TOTAL
|
7
jornais (100%)
|
2
jornais (29%)
|
5
jornais (71%)
|
5
jornais (71%)
|
5
jornais (71%)
|
No
caso português, os arquivos disponibilizam material editorial
publicado anteriormente em 100% dos jornais, sendo que, na primeira
faixa de tiragem (mais de 50.000 exemplares), 75% possuem arquivo
até seis meses retroativos e apenas 25%, oferecem arquivo
com matérias publicadas há seis meses ou mais.
A situação inverte-se na segunda faixa de tiragem.
Na
primeira faixa de tiragem, o sistema de busca é mais
completo pois conjuga, na maioria dos casos, os dois tipos de
busca (datas e palavras-chaves). Na segunda faixa de tiragem,
prevalece a busca por data de edição.
O
uso amplo e criativo dos recursos possibilitados pelas NTC,
incluindo o enorme potencial que se delineia com a incorporação
ao Jornalismo de uma Memória Múltipla, Instantânea
e Cumulativa, encontra-se ainda em fase experimental, incipiente
e tentativa. Mas é evidente, através dos dados
apresentados, que os mais importantes sites jornalísticos
brasileiros e portugueses já incorporam alguma forma
de Memória.
Similarmente
ao que ocorreu no radiojornalismo ou o telejornalismo, que passaram
por períodos de amadurecimento e busca de linguagens
próprias, durante os quais prevaleceram modelos claramente
transpositivos, importados de suportes mediáticos anteriores,
o Webjornalismo somente agora começa a distanciar-se,
paulatinamente, do modelo da metáfora (McAdams
1995) que o caracterizou e caracteriza ainda, em grande medida.
A
generalização dos arquivos em sites jornalísticos
na Web, livremente acessíveis a Produtores e Utentes,
e os efeitos desse fenómeno para os processos de Produção
e Recepção do material jornalístico é
uma temática que está merecer consideração
séria a nível de seus efeitos atuais e potenciais.
Esta comunicação é apenas um chamamento
para a reflexão e o debate.
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IG. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação
em Comunicação e Cultura Contemporâneas
da Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2002.
SCHULTZ,
Tanjev. Interactive Options in Online Journalism: A Content
Analysis of 100 U.S. Newspapers, in: http://www.ascusc.org/jcmc/vol5/issue1/schultz.html.
SOUSA,
Pedro Jorge. Os Novos Meios Electrónicos em Rede,
in:
http://bocc.ubi.pt/sousa-pedro-jorge-jornalismo-on-line.html.
STOCKINGER,
Gottfried. Para uma Sociologia da Comunicação,
2001, in:
http://
www.facom.ufba.br/ciberpesquisa.
WOLTON,
Dominique. Internet et après: une theorie critique
des noveaux médias, Paris: Flammarion, 1999.
__________________.
Entrevista a Catherine Mallaval, Liberation, 20/21March
1999b, in: http://amsterdam.nettime.org.
Notas
[1]
Há uma discussão academicamente estabelecida (e.g.
Canavilhas 1999, Gonçalves Machado 2000) em torno do
uso de termos como Jornalismo Online, Jornalismo Digital, Webjornalismo,
etc. Nesta comunicação utilizamos indistintamente
as expressões Jornalismo Online, Webjornalismo e Jornalismo
na Web para denominar a produção jornalística
que utiliza como suporte a WWW (World Wide Web) da Internet.
[2]
Uma versão preliminar desta comunicação
foi apresentada nas Jornadas de Jornalismo Online, organizadas
durante os dias 21 e 22 de junho de 2002, no Departamento de
Comunicação e Artes (http://www.bocc.ubi.pt)
da Universidade da Beira Interior (Portugal), sob a coordenação
do prof. Antonio Fidalgo).
[3]
Há igualmente uma discussão academicamente estabelecida
quanto à Internet ser ou não um meio de comunicação
de massa e sobre as especificidades da comunicação
na Internet (e.g. , Maldonado 1998, Wolton 1999). Nesta comunicação
consideramos que a dimensão de produção
e consumo de informação jornalística é
apenas uma das muitas actividades que têm lugar no sistema/ambiente
complexo representado pelas redes telemáticas.
[4]
Entende-se por texto um bloco de informação,
que se pode apresentar sob o formato de escrita, som, foto,
animação, vídeo, etc.
[5]
Sobre Hipertextualidade e o papel do link como elemento paratextual
no jornalismo online vide Mielniczuk & Palacios, 2001.
[6]
Apesar de haver alguma controvérsia quanto ao uso dos
termos Personalização e Customização
(e.g. Santos 2002), nesta comunicação os dois
termos são usados como sinónimos.
[7]
Um exemplo é o site da CNN (http://www.cnn.com).
[8]
As chamadas Últimas Notícias (Breaking
News ou Latest News) tornaram-se uma característica de
quase todos os jornais mais importantes na Web. Por outro lado,
alguns jornais, especialmente aqueles localizados em portais
, chegam a estabelecer como sua marca registrada
a rapidez da actualização, no estilo fast-food.
Para um estudo de caso, direccionado para o jornal Último
Segundo do Portal IG,, vide Santos (2000).
[9]
Preferimos usar o símbolo de bi-direcionalidade (-) também
para o Modelo Um - Todos, porque, contrariamente um certo tipo
de análise que prevaleceu há até poucas
décadas, compartilhamos a idéia de que os processos
de Recepção devem ser considerados no Modelo,
não havendo, portanto, uma uni-direcionalidade absoluta,
muitas vezes claramente associada à passividade, em seu
funcionamento.
[10]
Essa complementaridade de formatos mediáticos constitui
em si mesmo um vastíssimo campo de debates, não
cabendo aqui aprofundar o assunto. A título de ilustração
vide Palacios (2001b) in: http://www2.correioweb.com.br/cw/2001-09-16/mat_12769.htm.
[11]
Palacios, M. et al. (2002).
*Marcos
Palacios é Pesquisador do CNPq e Professor Titular
Faculdade de Comunicação (FACOM) da Universidade
Federal da Bahia (UFBA). Actualmente em estágio pós-doutoral
na Universidade de Aveiro (2002-2003) , através de bolsa
CAPES.
#
Trabalho apresentado no VII Congresso Latino-Americano de Ciências
da Comunicação, da Associação Latinoamericana
de Pesquisadores em Comunicação (ALAIC), realizado
na Faculdad de Periodismo y Comunicación da Universidad
Nacional de La Plata, Argentina, de 11 a 16 de outubro de 2004.
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