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MTV
no Ar: o McJornalismo no Brasil
Por
Luiza Lusvarghi
Quando
se fala em MTV, a comparação ao McDonald's, outro
símbolo norte-americano que ultrapassou fronteiras, sempre
se adaptando ao gosto local para impor o seu produto, não
é fortuita. O ensaísta norte-americano Raymond
Barber cunhou o termo cultura McWorld para definir a expansão
em escala global de produtos que têm por objetivo conquistar
o mundo e monopolizar mercados.
Independentemente
de sua condição de produto cultural que se transmite
pelo ar, a MTV pode ser comparada ao McDonald's pela sua rápida
capacidade de expansão no mundo, dentro de uma política
de economia global, e pela sua identificação com
o símbolo máximo da globalização
- a sua origem norte-americana. E ainda que a sua reprodução
e a sua programação não possam ser comparadas
ao cardápio fast food do velho Mac, a associação
é imediata.
A
relação entre um Big Mac e um videoclipe já
era alvo de comentários, em uma reportagem da Newsweek,
It´s an MTV, de 25 de abril de 1995, feita pelo jornalista
Marc Levinson, sobre a MTV Latino, no sentido de trabalhar com
a regionalização - é o thinks globaly,
acts locally, adotado oficialmente pela rede apenas em 1999,
em substituição ao Discurso Único. Enquanto
o McDonald's serve o mesmo hambúrguer em qualquer lugar
do mundo, e a Procter & Gamble vende sua sopa sob os mais
variados nomes, a MTV combina uma presença global e uma
singular marca internacional a um produto específico
para diferentes mercados regionais.
Na
mesma matéria, mais adiante, o chairman da MTV, Tom Freston,
garantia que a "embalagem é a mesma, o que pode
variar são os ingredientes". O artigo questionava
a pertinência da palavra coolissimo, uma invenção
do MTV Latino para adaptar-se à expressão cool
(legal) norte-americana, numa espécie de spanglish (dialeto
que mescla termos espanhóis e ingleses usados pela comunidade
hispânica que vive nos Estados Unidos), criado pelo marketing
ousado da emissora.
No
Brasil não foi diferente. O que ocorreu no início
da MTV nacional é que a escassez de videoclipes brasileiros
no mercado - os únicos eram produzidos pela Rede Globo,
em videoteipe, e ela detinha os direitos de distribuição
-, e a pouca disposição de gravadoras e da rede
em investir neste segmento, deixou o jornalismo com a missão
de dar uma "cara brasileira" para a emissora, o que
levou à falsa impressão de que iriam investir
no mercado nacional.
A
MTV Brasil chegou ao país pelas mãos do Grupo
Abril, [1] por intermédio de um contrato de licensing,
estratégia de marketing que permite a um licenciado utilizar
uma marca mediante o pagamento de royalties, semelhante ao sistema
de franchising. [2]
A
estratégia sempre foi largamente utilizada para introduzir
marcas estrangeiras, notadamente produtos ligados à área
de entretenimento, roupa e alimentação, que se
estabeleceram no País enquanto imagem e formato sem estar
presente enquanto estrutura física. O diferencial no
sistema de franquias é a noção de um controle
de qualidade e a importância de obediência ao formato,
ou seja, uma preocupação com o branding.
O
grande atrativo que a rede oferecia, era, sem dúvida,
o de representar uma mercadoria pronta e fácil de ser
instalada com rapidez. O motivo que levou o Grupo Abril a lançar
a MTV antes mesmo de colocar a TVA, sua distribuidora de sistema
a cabo, no ar, foi a necessidade de adquirir um canal rapidamente.
O Grupo possuía uma concessão em sistema aberto
de transmissão desde 1985 [3] e tinha de montar uma programação
rapidamente, pois findo o prazo de cinco anos, perderia a concessão.
A
idéia era vender canal por assinatura e reproduzir no
Brasil o canal Plus, da França. Mas a concessão
era de transmissão aberta, o canal 32 UHF, o que não
dava direito a cobrar pelo sinal. Os preparativos para o lançamento
da TVA já estavam em andamento. Victor Civita Neto, o
Titte, atualmente diretor de criação do grupo,
foi o primeiro diretor do Grupo Abril a integrar a direção
da MTV Brasil - em 1996 foi sucedido pelo seu irmão,
Giancarlo Civita.
A
MTV Brasil, inaugurada em 20 de outubro de 90 com transmissão
inicial em sinal aberto nas cidades de São Paulo (canal
32 UHF) e Rio de Janeiro (canal 24 UHF), alcançava então
53 cidades e 5 milhões de domicílios com TV. Somente
a partir de 1º de abril de 1995 é que ela tornou-se
de fato a primeira emissora de televisão brasileira a
transmitir sua programação durante 24 horas ininterruptas
todos os dias, em todas as suas retransmissoras e afiliadas.
Segundo o IBOPE, a MTV atinge mensalmente cerca de 3,5 milhões
de jovens de 15 a 29 anos, das classes AB [4] em todo o País.
Hoje, atinge mais de 200 municípios do País, cerca
de 16 milhões de casas, a maioria pelo sistema de transmissão
a cabo.
Os
primeiros VJ´s foram a apresentadora Astrid Fontenelle
e Zeca Camargo. No início, Zeca foi chamado apenas para
ser diretor de jornalismo no sentido de dar uma credibilidade
a esse segmento, - ele trabalhava à época no caderno
Ilustrada, na Folha de S.Paulo - mas por causa de sua atuação
como crítico de música acabou sendo indicado pela
direção para apresentar o MTV no Ar, versão
do MTV News, que existe na sede até hoje, e que era apresentado
por Kurt Lowder, antigo e conceituado jornalista da revista
americana Rolling Stone.
Ambos,
Astrid e Zeca, cumpriram estágios de treinamento no Exterior.
Astrid foi para a sede da MTV, em Los Angeles, nos Estados Unidos,
e Zeca Camargo para Londres, sede da MTV Europe. A escolha foi
estratégica: a MTV européia era parecida com o
formato que viria a ser desenvolvido no Brasil. Zeca ficou por
lá cerca de três semanas. A MTV americana, ele
só veio a conhecer um ano depois, "minha primeira
referência foi a inglesa, na época não existiam
as outras, a alemã, era tudo em inglês.
A
forma como praticavam jornalismo tinha muito a ver conosco,
nos EUA o mercado musical é mais homogêneo, na
Europa, na época, eles eram baseados em Londres, mas
trabalhavam com vários mercados diferentes de música,
o espanhol, o francês, o inglês. No Brasil essa
realidade não é tão drástica, mas
você tem de lidar com culturas diferentes, você
tem vários gostos musicais". [5]
Outro
dado importante, naturalmente, era o tamanho do empreendimento,
modesto, se comparado à MTV americana. O objetivo do
estágio de Zeca era aprender a fazer uma cobertura jornalística
com uma estrutura enxuta. Enquanto isso, na unidade da TVA,
em Pinheiros, bairro de São Paulo, foram realizados cursos
de treinamento para quem queria trabalhar na MTV, técnicos,
jornalistas e produtores. Os cursos davam um histórico
da empresa, sua função no mundo, e preparavam
as pessoas para lidar com os equipamentos.
A
preocupação em adaptar a programação
aos valores nacionais fez com que o Grupo Abril anunciasse,
no início da implantação da MTV, a contratação
de nomes como o cantor Leo Jaime, a roqueira Rita Lee a apresentadora
Astrid Fontenelle e até mesmo o irreverente Marcelo Tas,
da produtora Olhar Eletrônico, que trouxe para a emissora
o seu personagem Ernesto Varela.
O
programa TVLeesão, de Ritta Lee, feito pela produtora
Frame, foi sucessivamente adiado, e acabou indo ao ar apenas
em junho de 1991, por um breve período, até que
um incêndio da emissora consumiu seus cenários,
em 1o de julho de 1991. O programa era uma versão televisiva
do Rádio Amador, programa musical-humorístico
que ela apresentou na 89 FM. Além dos personagens que
ela mesma criou, havia entrevistas como a que fez com o veterano
roqueiro Serguei, os dois em um telhado. Sob a direção
de Adriano Goldman, e roteiro do dramaturgo Antonio Bivar, ela
desfilava pela tela personagens como a Adelaide Adams (colunista
social carioca), a Gininha, uma senhora moralista, e Aníbal,
corintiano fanático, rapper, e louco pela Alcione.
Netos
do Amaral, com Marcelo Tas, também ficou pouco tempo
no ar - foi lançado no dia 4 de dezembro de 1990 e teve
apenas três episódios. O motivo alegado por Tas
para o encerramento do programa foi seu acidente durante a filmagem
na Amazônia, ocasião em que quebrou o pé.
Segundo Titte, diretor à época, o problema de
programas como TVLeesão e Netos era, na verdade, uma
questão de custos, os programas eram verdadeiras "ilhas
da Fantasia". A fórmula de sucesso da MTV é
baseada em equipe mínima, visual computadorizado, equipamento
de ponta, agilidade na informação e linguagem
característica, voltada para o seu público-alvo,
o jovem brasileiro de 18 a 29 anos. Não interessava a
eles atingir 40 pontos no Ibope.
O
fracasso desses dois projetos autorais durante a gestão
de Alexandre Machado na programação, aparentemente,
acabou modificando a idéia inicial de criar projetos
"brasileiros" e falar a "linguagem tupiniquim"
da subsidiária nacional a partir de produções
terceirizadas. A política de programação
da emissora passou a privilegiar os produtos criados na casa.
Na
pesquisa Dossiê Universo Jovem, efetuada pela emissora
em agosto de 99, onde ela se autodefine como mais do que uma
emissora, mas um estilo de vida (branding), os jovens pesquisados
- das camadas ABC de São Paulo, Interior de SP, Recife,
Salvador, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre, deixaram
claro que percebiam seu país de forma integrada e globalizada
em relação ao mundo. Nos grupos e entrevistas,
ficou evidente a referência americana como padrão
de desenvolvimento e modo de vida real. A referência ao
modelo europeu era menos freqüente e dispersa.
Surgia
também, segundo a pesquisa, um certo orgulho em ser brasileiro,
apesar do descontentamento com o País, o que levou a
direção à época garantir que a programação
passaria a incluir mais política, o que efetivamente
acabou ocorrendo a partir da série Contato MTV, e ainda
a existência de uma democratização dos estilos
de música, incluindo ritmos até então polêmicos
e populares como axé e pagode. Apoiada por essa pesquisa,
a rede passou a incluir outros ritmos além de rock com
mais freqüência na grade, incorrendo numa popularização
muito criticada pela imprensa, mas que na verdade ocorreu em
todas as afiliadas.
Na
MTV Latino, surgiu a era Ricky Martin, o que levou alguns vejotas
a anunciarem que iriam deixar a casa. O termo rock foi substituído
por pop.
Quando a Viacom anunciou em meados de setembro de 1999 a compra
da rede de TV CBS por US$ 37,7 bilhões, tornou-se a segunda
maior empresa mundial em seu segmento - a Time Warner permanecia
na liderança. [5] A notícia repercutiu no Brasil,
pois o SBT tinha um acordo com a CBS, que produzia o CBS Telenotícias,
primeiro noticiário em português feito no Exterior,
comandado pelo casal de apresentadores Leila Cordeiro e Eliakim
Araújo.
Formato
- A identidade visual, e a preocupação com a padronização,
ter uma linguagem única, constituem o grande diferencial
da MTV. Tanto na imagem dos VJS quanto nos clipes. Em todas
elas a identidade prevalece. A importância que ela atribuiu
ao design sempre foi fundamental, o que se explicitava no seu
slogan inicial, o Discurso Único.
No
Brasil, podemos dividir a MTV praticamente em duas fases: a
primeira, enquanto licenciada da MTV Networks no Brasil, quando
ela faz uma tentativa de adaptar-se ao mercado brasileiro a
partir de fórmulas da MTV americana e algumas produções
terceirizadas, como Netos do Amaral e TVLeesão; e a segunda,
que se inicia em 1996, com a reformulação do acordo
empresarial entre o Grupo Abril e a MTV International que culminou
com a criação da MTV Brasil Ltda, anunciada pela
rede como a "aquisição de 50% da MTV Brasil
em uma joint-venture com o Grupo Abril", e como parte integrante
do projeto de expansão global da rede.
Em
20 anos, o "estilo MTV" tornou-se sinônimo de
ousadia, de juventude no mundo inteiro e de uma nova estética
visual na TV e na internet. Mas de que forma poderíamos
conceituar esse padrão MTV? A forma de produção
certamente faz diferença. Um autêntico repórter
MTV participa de todo o processo de edição da
matéria, exceto pelo uso da câmera, daí
ser chamado de producer, pois no Brasil o produtor não
corresponde a essa função. O conceito hoje é
utilizado por outras emissoras. O producer, que nunca aparece
na tela, nem mesmo em off, atua como um diretor de cena. Esse
padrão foi transgredido entre 1999 e 2000, que corresponde
à segunda fase da emissora no País, principalmente
nos programas jornalísticos como Contato, com a inclusão
da figura do entrevistador e do microfone em cena, como ocorre
nas emissoras abertas.
A
técnica de edição de videoclipe também
é um diferencial - a imagem é colocada em função
do som e da música, tanto nas reportagens quanto nas
vinhetas. Os personagens são sempre jovens e anônimos,
com rostos comuns. O argumento publicitário das vinhetas
e mesmo das reportagens trabalha sempre com a mensagem de forma
conceitual, e com a persuasão do telespectador. O estilo
narrativo adotado é documental, mas a edição
e a câmera, chamada pela casa de "hidráulica",
lembra os videoclipes, com imagens perpendiculares, fragmentação.
No
começo, a MTV Brasil baseou-se praticamente no estilo
americano da rede para compor seu padrão de captação
de imagens. Houve adaptações negociadas - como
a fala dos VJ´s, que no Brasil aumentou de 30 segundos
para 1 minuto e meio, mesmo porque a estrutura fonológica
da língua portuguesa, e o estilo de comunicação
do brasileiro não se adaptaram à fala corrida,
quase monocórdica e sem acentuação do modelo
americano. Hoje, com o progressivo aumento da programação
não-musical, a rigidez de cronometragem da fala se foi,
e no vídeo o que se vê é uma linguagem mais
adaptada à personalidade de cada apresentador. Os próprios
VJ´s, por sua vez, passaram a ser menos estereotipados,
atendendo inclusive a uma reivindicação da audiência.
[6]
Dentro
do formato, a questão do conteúdo também
sempre foi importante. Apostar em nichos de comportamento surgidos
a partir da década de 90, como a estética clubber,
assuntos ligados ao universo jovem, como sexualidade, a prevenção
da AIDS e a pílula do dia seguinte, também sempre
fez parte da atitude MTV. Os palavrões e a linguagem
cotidiana também sempre foram colocados no ar sem edições,
uma versatilidade que só o rádio parecia ter.
Em seus 10 anos de Brasil, aparentemente, a MTV nunca enfrentou
problemas de censura. O fato de trabalhar com um público
segmentado, pequeno, e de estar disponível na maior parte
do Brasil apenas por transmissão a cabo, talvez expliquem
essa imunidade e a aceitação do público.
A
função da informação e do jornalismo
na MTV tem outro aspecto a ser ressaltado: ela é uma
legítima representante da tendência crescente da
programação de televisão no mundo, de associar
informação a entretenimento - o infoteinment,
traduzido para o português como infotenimento. Uma forma
que sempre foi a marca registrada da emissora. O pastiche, a
paródia e a despreocupação absoluta com
a contextualização do telespectador levaram muitos
pesquisadores como Kaplan a classificá-la como símbolo
do pós-modernismo.
O
pastiche, [7] termo adotado para nomear uma obra literária
ou artística imitada servilmente de outra, origina-se
da música. Pastiche, paródia, são características
presentes na estética da emissora, que é auto-referida
e freqüentemente parodia a si mesma, o que a transforma
num emblema de pós-modernidade para muitos ensaístas.
O
caráter descontextualizado da programação
da emissora, entretanto, pode ser confundido com a própria
programação da televisão como um todo.
As tendências para a nova década apontam para um
estreitamento do vínculo com o telespectador, visto,
porém mais como consumidor e não como cidadão.
Concorrem para tanto a segmentação cada vez maior
de público e o desenvolvimento da tecnologia.
O
controle remoto modificou a forma de assistir televisão,
na hora do intervalo o público "zapeia" e acaba
assistindo a dois ou mais programas ao mesmo tempo. O público
passa a receber um conteúdo fragmentado, mas é
induzido a sentir-se como sendo capaz de fazer a sua própria
edição, tendo a sensação de um controle
pessoal do meio de recepção. Essa tendência
promete ser levada ao paroxismo com o advento da televisão
digital, que irá promover a interação entre
computador e televisão num futuro próximo.
Dentro
dessa nova perspectiva de entretenimento e abordagem da realidade,
não é raro que repórteres e apresentadores
transformem-se em personagens e vice-versa - caso de BBC Guide
to the World, um programa de turismo com um casal de apresentadores-personagens,
e Muvuca, com Regina Casé e de talk shows como Jô
Onze e Meia. Outra característica da linguagem da tevê
é o discurso coloquial, que está mais próximo
do cotidiano do receptor, o que permite uma maior identificação.
Essa singularidade e essa necessidade de capturar o telespectador
faz com que muitas vezes ela concorra para a banalização
do discurso científico, ao assumir o que é senso
comum em detrimento da pesquisa e da informação
de qualidade, e ao mesmo tempo interfira no idioma, ajudando
a criar novas linguagens.
A
qualidade de informação, entretanto, merece uma
análise cuidadosa. A linha entre realidade e entretenimento
vai se tornando a cada dia mais tênue. A novidade invadiu
completamente não só os jornalísticos propriamente
ditos como os programas de auditório como Gugu e Faustão,
que acabam produzindo reportagens, e chegando ao paroxismo em
programas como No Limite, uma gincana eletrônica baseada
no homônimo Survivor, que foi exibido pela Fox no Brasil,
onde pessoas comuns, previamente selecionadas, são colocadas
para conviver em situações artificialmente delimitadas,
e que é produzido pela Central Globo de Jornalismo.
Existiria
um decálogo MTV? Um formato predeterminado pela matriz?
Porque sem dúvida, existe uma estética MTV, embora
a palavra liberdade de expressão quase sempre surja associada
a improviso e falta de condições de trabalho nos
depoimentos de quem passou pela emissora. Zeca Camargo, o primeiro
diretor de jornalismo da casa, chamado para a emissora ainda
em agosto de 90, um mês antes de sua estréia, e
também VJ, concorre para reforçar essa impressão,
de que o abrasileiramento do canal não era imposto, nasce
da resistência pessoal de cada um à padronização
e a nossa infinita impossibilidade de copiar.
O
caso de Zeca pode ser considerado exemplar dentro da linha de
busca de novos talentos da MTV. Ao lado de Rogério Gallo,
que foi o diretor musical, aos 23 anos, ele foi provavelmente
o mais jovem diretor de jornalismo da história da TV.
Ex-repórter da Folha, onde exerceu dentre outras funções
a de crítico de música, Zeca contava apenas 28
anos quando foi chamado para ocupar o cargo. Acabou cumulando
a função de VJ com a de repórter, apresentando
o MTV no Ar, o único programa essencialmente jornalístico
da casa.
Segundo
sua própria definição, ele teria sido escalado
para o MTV no Ar, do qual saiu em 1994 para trabalhar na Globo,
sendo substituído por Chris Couto, inspirado no similar
norte-americano, que era apresentado pelo velho crítico
da revista Rolling Stone, Kurt Lowder. Sua atuação
como crítico musical na imprensa o credenciava para a
função, pois o público de música
é muito mais exigente do que pode parecer, e não
perdoa uma informação equivocada - os fã-clubes
estão sempre atentos.
Para Titte, o modelo existe, mas não como uma imposição
contratual da MTV, apesar de reconhecer que o diálogo
com a Viacom sempre foi permanente mesmo quando eram apenas
licenciados, pois o produto final tinha de ter uma "cara
MTV".
A
cara da MTV era definida pelo visual computadorizado, e também
pelos marketings points, bombardeados na cabeça do telespectador,
na verdade chamadas apresentadas como vinhetas, e que todo mundo
faz nas rádios. Um é o "você ouviu
aqui primeiro, é inédito", outro é
"a primeira emissora digital, estéreo, 24 horas!".
E tinha a câmera hidráulica, que é como
é chamada dentro da rede a câmera com o horizonte
fora de cena, sempre perpendicular. "aquela coisa de virar
a câmera, fazer ela andar, isso não existia aqui".
Outra
inovação foi a criação dos VJ´s,
os video-jóqueis, criados para cumprir no vídeo
o papel dos disc-jóqueis nos bailes e rádios.
O padrão visual da casa era o fundo eletrônico
para os VJ´s, e os gráficos, com milhões
de camadas, montadas frame a frame no computador. Há
ainda a questão da atitude, irreverente, auto-referida,
"por que tem todas essas técnicas, essa linguagem,
essa atitude de ser uma autoridade musical, ao mesmo tempo essa
linguagem de captação, o recurso dos gráficos,
essa atitude dos VJ's de tirar sarro deles mesmos". A emissora
depende dos clipes, mas ao mesmo tempo faz questão de
ironizá-los, numa atitude irreverente e iconoclasta.
A
opção de nunca mostrar o repórter é
uma atitude que foi adotada também como identidade visual,
deixando o entrevistado falar. Por fim, a política de
sempre apostar em jovens comuns e desconhecidos em sua maioria,
faz parte do decálogo - o apresentador sai, mas a emissora
continua. Sua personalidade é construída de forma
a funcionar apenas dentro do sistema da casa.
Ao
investir sempre em novos talentos, jovens, em busca de um diálogo
com o seu segmento, e fugindo de rostos famosos, a MTV não
apenas inovou em linguagem na tevê como também
provou que seus apresentadores não funcionam fora do
padrão MTV. Os primeiros VJ´s da casa podem comprovar
essa afirmação. No auge da fama, o VJ Thunderbird,
ex-vocalista da banda Nossa Senhora Aparecida, e um dos primeiros
a ingressar na casa, saiu para trabalhar na Rede Globo.
Malsucedido,
tentou uma carreira no SBT em um malogrado programa de auditório
e voltou para a MTV.
A
VJ Maria Paula, que deixou a emissora na mesma época
de Thunder, está ainda hoje na Rede Globo, servindo de
escada para os bem-sucedidos comediantes do humorístico
Casseta e Planeta. Cuca Lazzarotto, após viver seus muitos
minutos de fama e ser paquerada pelo terrível Axl Rose,
do Guns, em sua primeira e conturbada visita ao Brasil, por
ocasião do Rock in Rio II, e de uma breve passagem pela
Rede Globo no dominical Programa do Faustão, tornou-se
uma obscura apresentadora da Direct TV. Fazem companhia a eles
Gastão, Sabrina Parlattore, Soninha, o apresentador Cazé
e Babi, cuja estrela, depois do malogrado Programa Livre, no
SBT, nunca mais brilhou como antes.
Sem
falar em Astrid Fontenelle, hoje na Bandeirantes disputando
espaço com Leão Lobo e Márcia Goldschmidt,
em o Melhor da Tarde, e Marcos Mion, que saiu no final de 2001
da emissora, onde comandava o Piores Clipes do Mundo, e foi
para a Bandeirantes, comandar o programa Descontrole baseado
no apresentador-personagem que desenvolveu na emissora e que
se tornou um símbolo da casa na fase "popular".
As expressões "Mion continua mais MTV do que nunca"
confirmavam o acerto do formato. [8]
De
qualquer forma, todas essas pessoas, de algum modo, representam
uma contribuição para o processo de renovação
de jovens apresentadores e talentos para a tevê aberta
que não necessariamente saíram de uma agência
de modelos ou do casting de telenovelas. A própria Babi
foi chamada por Sílvio Santos para substituir Serginho
Groisman por representar uma espécie de musa da juventude
graças ao seu trabalho no programa Erótica. O
apresentador MTV não funciona fora da MTV. A constatação
apenas confirma a existência de um método, uma
espécie de decálogo, e que incluía o tempo
de fala dos VJ's no vídeo quando o formato chega ao País.
Pela fórmula MTV EUA, ele não deveria ultrapassar
30 segundos, mas no Brasil acabou sendo fixada em um minuto
e meio, um tempo mais adequado à nossa latinidade.
O
primeiro time de VJ's era composto por Cuca Lazarotto, Zeca,
Astrid Fontenelle - a mais experiente em televisão da
equipe, vinha de outro projeto semelhante, na TV Gazeta -, Rodrigo
Leão, Daniela Barbieri, Maria Paula, Gastão e
Thunderbird. Mais tarde surgem outros VJ's e apresentadores
que até hoje, com mais ou menos brilho, se mantêm
em atividade na mídia: Sabrina Parlattore, Soninha, Chris
Couto, Cazé - que saiu para ir para a Globo apresentar
um programa e agora está de volta -, João Gordo
(vocalista do Ratos do Porão que já mereceu elogios
até mesmo de pelo seu programa Gordo a Go Go), Babi e
Marcos Mion.
Exceções
ao time de desconhecidos, Márcio Garcia (apresentava
um programa de esportes, o MTV Sports), Adriane Galisteu e Luana
Piovani, exceções no time de desconhecidos, também
já fizeram parte da história da MTV, mas nunca
como VJ´s.
O
programa de Marcelo Tas [9] foi lançado na feira que
inaugurou a MTV para o mercado, outra inovação
em termos de estratégia de marketing que a MTV Brasil
trouxe para o País. A idéia já existia,
o projeto foi levado para a Videofilmes, Walter Salles se interessou,
- a Videofilmes, produtora de Walter e João Moreira Salles
abrigou a afiliada carioca da MTV no início da emissora
por dois anos. O projeto foi pensado para a MTV e para o público
do canal. Por conta disso, houve uma preocupação
extrema com o tratamento visual, nem sempre presente nas produções
do Olhar, e foi convocado o videomaker Eder Santos para fazer
o programa. Afinal teriam de competir com Madonna, e Michael
Jackson. Netos do Amaral tinha a idéia de ser uma releitura
crítica do Amaral Neto, o repórter da ditadura,
que nunca mostrava nada que não fosse para engrandecer
a nossa cultura.
Os
programas tinham 30 minutos e eram apresentados pelo repórter
Ernesto Varela, alter ego de Tas. A idéia era realizar
uma série de 10 programas, mas apenas três edições
foram produzidas. Foi lançado no dia 4 de dezembro, no
Natal de 1990. Os motivos de suspensão do programa foram
muitos. Um deles é que Tas fraturou o calcanhar durante
as filmagens do terceiro programa, na Amazônia. A recuperação
foi longa.
Mas
os custos e a sofisticação do programa, incompatíveis
com a estrutura enxuta da emissora foram os maiores responsáveis
pela sua curta duração.
Naquele
tempo a preocupação era dar à MTV uma cara
brasileira, havia a idéia de apoiar projetos autorais,
e o Netos foi um investimento da MTV, ainda uma licenciada do
Grupo Abril, nesse sentido. A produção era da
Videofilmes, mas o programa era editado nos estúdios
da emissora. Os equipamentos da MTV eram de ponta, sofisticados
para a realidade do País. O corte off-line do programa
era na Videofilmes, mas o on-line era na MTV. "O primeiro
equipamento digital que eu vi na vida, o D-2, foi lá.
O equipamento deles era muito atualizado. É um outro
diferencial deles que continua presente até hoje, eles
investem nisso, nos softwares. Eles são sempre mais ousados,
eles lançam novos equipamentos, procuram descobrir antes".
O
repórter do programa era o repórter Varela, criado
por Tas na época da produtora "Olhar Eletrônico",
que revolucionou a linguagem do vídeo no País.
"Nós éramos um grupo com objetivos definidos,
que desde o começo estudou muito para produzir as coisas,
inclusive Filosofia. O José Américo Pessanha foi
contratado pra dar aulas pra gente durante dois meses, nós
fazíamos seminários, discutíamos muito.
Éramos ambiciosos, queríamos ser famosos, revolucionar
a televisão, ser reconhecidos no mundo. Nós nos
revezávamos na direção, na edição,
todo mundo fazia tudo, havia esse espírito, mas na hora
de apresentar ninguém queria". E assim acabou surgindo
o Ernesto Varela, elaborado por Tas durante as oficinas de teatro
da atriz Regina Casé, que pertencia à época
ao grupo Asdrúbal Trouxe o Trombone. Tas teve ainda aulas
com o diretor de teatro Antunes Filho.
No
primeiro programa da série, Regina foi inclusive homenageada.
E o extinto programa Muvuca que ela levou para a Globo, lembra
o Netos. Regina era uma referência pra a geração
de Tas. Após a experiência com Varela, Tas participou
como ator de programas da própria Cultura - foi o professor
Tibúrcio no Castelo Ratimbum.
A
introdução do conceito de personagem dentro da
reportagem foi importante nos anos 90 e parte do mérito
deve-se ao trabalho da Olhar Eletrônico. O repórter-personagem
[10] colocava por terra a idéia da neutralidade da informação,
de um jornalismo neutro que retratava a realidade objetiva.
A edição, tanto na mídia impressa quanto
na eletrônica, é um recorte da realidade. Essa
visão é abominada por Tas e sem dúvida
pela MTV, que não hesita em colocar apresentadores absolutamente
informais e parciais na tela, como João Gordo.
A
programação, que inicialmente era muito parecida
como a americana, foi se descolando desse modelo, não
por uma diretriz imposta pela direção, mas por
iniciativa de quem trabalhava na emissora naquela época.
"Enquanto vinha uma orientação oficial para
a gente colar no modelo dos EUA, a gente simplesmente ignorava
e fazia do nosso jeito. O texto americano dizia coisas do tipo
'Michael Jackson, o rei do pop está de volta'. E eu me
recusava a escrever esse tipo de coisa. Eu preferia escrever
que o Michael Jackson, que já foi preto, que teve mil
problemas com a família e ficou dois anos sumido, tá
de volta com novo clipe", conta ex-VJ Soninha. [11]
As
pautas de comportamento foram a saída encontrada para
estabelecer a programação brasileira da MTV. O
mercado pop rock brasileiro não era tão rico quanto
o americano e o europeu, e não havia videoclipes suficientes
para preencher a grade musical da emissora. Os únicos
que havia, além de não satisfazerem o padrão
estético - eram feitos em videoteipe - eram produzidos
pela Rede Globo, que detinha os direitos. As gravadoras, em
sua maioria multinacionais, alegava não ter os mesmos
recursos financeiros que suas matrizes para investir nesse mercado.
Dessa forma, sobrava para o jornalismo da casa dar a cara brasileira
da MTV. Mas as bandas, as mesmas de hoje, não davam conta
da demanda. "Na quinta vez que você vê uma
entrevista dos Paralamas, é complicado, não há
mais o que explorar...", lembra Camargo, para quem a grande
"sacada" foi investir nas pautas de comportamento.
"Era o único jeito de colocar gente falando português
na tela", explica.
A
produção era paupérrima, e mesmo programas
como MTV a Go Go, cópia do programa de moda da MTV EUA
que era apresentado pela modelo Cindy Crawford e aqui ganhou
versão com Rita Lobo, acabou saindo do ar. "Não
havia dinheiro para produzir programas tão sofisticados",
diz referindo-se inclusive a programas autorais e elaborados
como o Netos do Amaral, de Marcelo Tas.
Apesar
da forte referência da MTV européia, no que tange
ao modo de produção, uma das coisas mais importantes
que aconteceram para ajudar a MTV Brasil a afinar seu estilo
foi o Rock in Rio II, em janeiro de 1991, na cidade do Rio de
Janeiro. A MTV americana veio para o Brasil cobrir o evento,
com uma equipe de cerca de 50 pessoas. Aproveitaram para fazer
um grande especial da MTV, gravaram vários programas,
e a equipe brasileira, anfitriã, praticamente "colou
neles". "Era uma relação bem simbiótica
porque a gente estava empenhado em ajudá-los a circular
por aqui e eu queria ver ao máximo como eles trabalhavam",
conta Camargo, para quem a experiência londrina foi alicerçada
pelo grande "workshop" proporcionado pelos colegas
americanos de rede.
Para
quem participou do comecinho da emissora, o que era melhor é
que ninguém sabia como fazer, não havia nenhum
modelo, apesar da escassez de recursos. Zeca acha que a audiência
muito baixa, e a não obrigatoriedade de fazer 40 pontos
no Ibope representam um trunfo da MTV porque permitem experimentar
mais enquanto formato, e errar.
A liberdade de experimentar, entretanto, perderia terreno rapidamente
para a necessidade de se sustentar no mercado. Conquistar a
fidelidade de um segmento difícil como o jovem é
mais complicado do que parece. E havia a responsabilidade de
passar a cara da MTV Brasil.
Em
que pese a tão decantada aculturação, representada
pelo modelo de jornalismo, e por alguns programas que se propunham
a estimular o incipiente mercado nacional, como Demo MTV, as
principais características da emissora em seus primórdios
de existência no País sempre foram as mesmas das
franqueadas ao redor do mundo. Com uma programação
dirigida ao público jovem, exibia 24 horas de música
pop de predominância norte-americana, programas e entrevistas
enfocando cinema, esportes, moda e comportamento sob um tratamento
jornalístico diferenciado, mas sempre moldado a partir
de sua sede.
Os
cortes, rápidos, randômicos, dos programas made
in MTV, exibem uma freqüência que busca traduzir
no vídeo a batida musical, aplicando efeitos de cor e
tratamento de imagem quase experimentais, originados do cinema,
e apresentadores jovens, predominantemente brancos.
O
objetivo maior era produzir um jornalismo calcado na figura
do produtor, o producer, eliminando a presença do repórter.
A câmera-olho, ou câmera subjetiva desempenha o
papel do repórter, e a edição dá
ao entrevistado uma fala-reportagem em tom confessional, naturalista
e coloquial, resultando num jornalístico de ritmo interessante
e diferente e diminuindo consideravelmente os custos com equipe.
"O
equipamento de externa era composto por uma câmera com
microfone de lapela, um kit de luz bem modesto, um produtor.
A figura do producer era a sustentação deste esquema,
e o perfil ideal do profissional que a empresa buscava era a
do produtor que é ao mesmo tempo pauteiro e repórter",
conta S., produtora da MTV Rio. O método de produção
é muito importante para o resultado final da identidade
visual da MTV. E embora o conceito de producer não fosse
tão radical quanto o conceito de vídeo-reportagem
explorado na TV Gazeta com o repórter-abelha, na década
de 80, onde o repórter saía com a câmera
na mão, não resta dúvida de que ele contribui
para um resultado extremamente natural e descontraído.
O
conceito de producer, que veio dos EUA, junto com o formato
MTV, e se diferencia substancialmente do produtor e pauteiro
da televisão no Brasil. Na verdade, essa forma de produção
de matéria coloca o repórter como o diretor geral
de um programa, embora do ponto de vista da estrutura interna
ele seja considerado como um produto. Dentro do núcleo
de jornalismo da emissora, o producer participa da reunião
de pauta, define o que vai fazer, mas tem de ser o repórter
e sair pra filmar, voltar para a emissora, entrar na ilha e
editar, sozinho, colocando a matéria no ar. Trata-se
de percorrer toda a estrutura de produção até
a elaboração do produto final. Na MTV aprende-se
a trabalhar todas as etapas do processo, da pré-produção
à pós.
Durante
o Hollywood Rock de 1994, a produção da MTV Brasil
carioca teve de arrumar um grupo de pagode branco no Rio de
Janeiro para contracenar em uma reportagem com o pessoal do
Live, um grupo de rock norte-americano surgido a partir das
rádios universitárias norte-americanas, lançado
pela MTV.
O
problema não era fácil de ser solucionado, pois
não existia ainda o estouro do pagode e do axé,
com grupos de meninos brancos de classe média cantando,
como ocorreu com o Karametade, É o tchan e o Só
no Sapatinho, mas uma produtora conseguiu identificar a custo
um grupo de garotos que preenchia o requisito, "um grupo
de lourinhos que fazia roda na Casa da Espanha (bairro de classe
média de Humaitá, Rio de Janeiro), uma casa de
cultura, foi o máximo", conta S., produtora da afiliada
carioca, "pautas como baile funk, Terreirão do Samba,
botar preto pobre na telinha nem pensar".
Os
adolescentes a serem entrevistados tinham de representar estereótipos
étnicos, para dar a impressão de democracia racial,
alternando pretos, nipônicos, louros, garotos tatuados
com piercing, metaleiros, todos jovens e exóticos, quanto
mais alternativo melhor, mas sempre dentro do target de consumo
da emissora, que queria jovens das classes A e B. Os temas:
música, cinema, moda e comportamento. Política
jamais.
A
participação dos artistas nacionais, entretanto,
permanecia baixa. A emissora continuava creditando, entretanto,
a fraca participação do produto nacional na programação
à má qualidade dos clipes e a sua pequena produção.
A
qualidade, ao que parece, não era um problema somente
dos clipes nacionais. O compositor norte-americano Frank Zappa
comentou em entrevista à revista norte-americana Spin,
em 1991, que a fotogenia havia passado a ser pré-requisito
para entrar na programação da MTV: naquele ano,
a emissora rejeitou um vídeo onde aparecia o vocalista
Tad, da banda Woodgoblins, por considerá-lo muito feio
e agressivo, e ajudou a criar o Milli Vanili, a maior farsa
do pop, uma dupla bonitinha que, descobriu-se um dia, era pura
técnica de dublagem, um choque na época.
A
MTV inovou o padrão do clipe nacional, impondo uma nova
estética. Mas não ficou nisso. A emissora não
exibia mais de 8 minutos por hora de comerciais, praticamente
metade das outras emissoras, nem aceitava merchandising, mas
os preços eram considerados razoáveis: US$ 530,00
a inserção de 30 segundos. A inovação
também atingia o conteúdo, muitas vezes de cunho
institucional e educacional que estes anúncios assumiam,
falando de drogas, AIDS, sexo e camisinha numa linguagem jovem,
assunto tabu em outras emissoras. Criou ainda a figura do VJ,
o video jockey, tradução para a telinha do Disc
Jockey, o DJ, popularizado pelo rádio e pelos bailes,
que seleciona as músicas.
A
estética MTV inclui uma certa preocupação
com etnias, mas sem chegar aos extremos da Benetton. Vale sim,
ser diferente, representar tribos diferentes, desde que essa
representação não destoe do target da emissora,
que visa o jovem que possa consumir e que não tem na
verdade, apesar de palavrões e roupas espalhafatosas,
a intenção de chocar. De qualquer forma, o conceito
de etnia está mais presente do que o de classes sociais,
talvez até mesmo por ter um target voltado para a classe
AB, o segmento que interessa à emissora.
O
texto institucional da empresa fala em "linguagem arrojada"
e "um público qualificado, de vanguarda e formador
de opinião" para descrever as características
da programação da emissora no mundo. Ou seja,
o objetivo é atingir o público de classe média
e de alto poder aquisitivo, que possa consumir. Outro objetivo
que consta da apresentação da casa, cuja equipe
de produção é totalmente brasileira, fala
em estimular a música popular local.
Na
prática, a programação da emissora brasileira
sempre privilegiou o rock e o pop norte-americanos, mais "evoluídos"
do que seu similar tupiniquim, cujos videoclipes - cedidos gratuitamente
pelas gravadoras para veiculação e formatados
de acordo com o padrão MTV -, ocupavam 90% da programação.
Outro
fator que deve ser ressaltado e que compõe uma estética
MTV é sem dúvida, a ousadia de colocar jovens
apreciadores de música, com alguma ou nenhuma experiência
em televisão em programas feitos muitas vezes ao vivo.
E, como enfatizou Marcelo Tas em seu depoimento sobre a MTV,
ela investe em novos talentos. Seu trunfo é a identidade
visual, é ter uma linguagem única. Tanto na imagem
dos VJ's quanto nos clipes. Em todas elas, a identidade prevalece.
A importância que a MTV atribui ao design foi fundamental
para seu êxito.
O
público jovem é considerado dos mais difíceis,
só perde para o público infantil, o mais difícil
de ser conquistado. Uma pesquisa do Ibope (Instituto Brasileiro
de Opinião Pública) abordou no início do
ano a relação do público infantil com os
programas de televisão, O telespectador infantil vai
direto a um tipo de programa, ela não zapeia, é
fiel, mas exigente.
A liberdade de investir em novos talentos sempre notabilizou
a emissora. "A idade média quando a gente lançou
a MTV era 21 anos.
A
MTV serve pra você entrar nesse mundo, ninguém
vai ficar ali, raramente, alguém fica mais que três,
quatro anos, você entra, aprende, e sai. Ela precisa se
renovar, se a equipe que estava em 90 estivesse lá hoje,
estaria velha. A gente só investe em talento novo. Molecada
de 18, 20 anos. Por que? Porque a MTV é feita pelo jovem
para o jovem. Não adianta botar coroa pra fazer nada...a
gente tá sempre procurando o novo, porque é pra
jovem, é feito pra você, esse é o recado.
Você entra lá pra trabalhar com 18 ou 20 anos e
faz a TV que você quer assistir. Claro que não
é assim tão livre, existem regras, mas basicamente
é isso", confirma.
Aparentemente,
a interferência da Viacom na política editorial
da emissora brasileira deu-se mais com relação
à popularização e ao formato MTV do que
à decisão de não discutir política
na programação, uma decisão do próprio
Grupo Abril. Em 1992 a MTV americana foi considerada fator decisivo
nas eleições norte- americanas, que deram a Clinton
uma significativa votação entre a juventude. Exceto
por alguns especiais, alguns discutindo inclusive o fenômeno
dos cara-pintadas, a MTV Brasil não seguiu os passos
da matriz americana nessa seara, ao menos até o 11 de
Setembro, quando a CBS entrou em rede para transmitir ao vivo
a tragédia para os jovens.
As
mudanças que se iniciam em 1996, e se refletem num acordo
para criar a MTV Brasil Ltda, e o primeiro VMB, são as
primeiras medidas para popularização da programação,
que culminaria numa maior intervenção da MTV Networks
na afiliada brasileira, que passou a estar mais integrada, e
num abrasileiramento que para muitos resultou em queda de qualidade.
Na
verdade, o termo alternativo da MTV não necessariamente
implica conteúdo musical de vanguarda e nem popular -
o rock no Brasil sempre foi muito identificado com a classe
média, por ser cantado em inglês. De qualquer forma,
o caminho da popularização da grade no sentido
de massificação para agradar a audiência
foi um fenômeno que atingiu a rede mundialmente.
O
fenômeno da popularização da programação
televisiva, acrescida do sucesso da bisbilhotagem eletrônica
que pode ser traduzida pelos reality shows como Big Brother,
Survivor (todos distribuídos na televisão americana
pela Viacom) acabou por atingir também a MTV, estendendo-se
ao jornalismo e aos não-musicais, como Erótica,
Fica Comigo, Meninas Veneno.
E
tudo indica que não vai parar por aí. Depois de
anos com o The Real World, que assume a bisbilhotagem mas recusa
o caráter de gincana eliminatória e mostra a juventude
americana, ela produziu o Ozzy Osbourne Show, que teve uma versão
brasileira, a Família MTV.
Como
se pode ver, a superpopularização da grade está
longe de ser um fenômeno exclusivamente brasileiro causado
pelo crescimento do consumo nas faixas C e D. De qualquer forma,
pode-se dizer que ele é tributário da inserção
na audiência de novos públicos emergentes, com
menor poder aquisitivo e que passaram a ter aparelhos de tevê
em casa, o que inclui não apenas as camadas C e D no
Brasil, mas também o mercado russo e o asiático,
por exemplo.
Outra
característica fundamental da estética MTV é
a liberdade e autonomia com que ela aborda assuntos que para
outras emissoras permanecem tabu, como sexo. A série
de cinco vinhetas institucionais da campanha da MTV "Sexo
é bom. Use camisinha", de prevenção
à Aids, programada para o primeiro semestre de 2001,
é um emblema desse tipo de postura e um excelente ponto
de partida para discutir a política de programação
da MTV e a sua fórmula estética . A série
integrava a campanha preventiva contra AIDS com o objetivo de
estimular o uso de camisinha nas relações sexuais
entre adolescentes em idade de iniciação sexual
- o target da emissora no Brasil vai de 15 a 29 anos.
O
material tinha o objetivo prioritário de contribuir para
uma maior disseminação do uso de camisinha entre
os jovens como forma preventiva de doenças infecto-contagiosas,
e um objetivo secundário de estimular a prática
do sexo como saudável, como uma opção mais
prazerosa do que o consumo de drogas. O terceiro objetivo, subliminar,
seria o de reafirmar a afinidade da emissora com seu público-alvo,
o que é dado pela logomarca fechando o institucional.
O
principal conteúdo da vinheta é a noção
de que sexo é bom. Depois, segue-se o conceito de que
fazer sexo é saudável e altamente estimulante,
muito mais do que drogar-se. Todos os jovens deveriam fazer
mais sexo. Sentir tesão não tem nada a ver com
amor ou vontade de casar. Não existe nenhuma referência
explícita à AIDS nem ao uso de drogas, mas as
imagens e a fala do rapaz número quatro levam a isso.
Outro conteúdo secundário é o de que o
jovem deve proteger-se ao fazer sexo, usando a camisinha. A
MTV apóia o jovem com esse tipo de atitude.
As
vinhetas da MTV contra a Aids são uma marca registrada
da emissora, que está presente em cerca de 140 territórios
no planeta, e fazem parte de sua política global de relacionamento
com o universo jovem.
A
MTV Brasil sempre utilizou as vinhetas de forma politicamente
correta, mas foi somente a partir de agosto de 1999 que a emissora
passou a desenvolver programação apoiando ações
de cidadania contra a violência, a favor do voto e estimulando
trabalhos voluntários de assistência a ONGs que
cuidam de portadores de AIDS. A mudança fez-se acompanhar
de uma série de pesquisas sobre a juventude brasileira
denominada Dossiê Mundo Jovem. O programa Contato MTV,
apresentado pelo VJ Edgar, exibido de segunda a sexta-feira
às 19h30, de 2000 até final de 2001, reforçou
as listas de discussão do site, que conta com depoimentos
de jovens sobre a AIDS.
No
caso específico das vinhetas sobre AIDS, cada país
desenvolve o seu projeto, baseado no que julgar mais adequado
a seu público, desde que mantenha características
básicas da identidade visual da emissora: dialogar com
jovens, utilizando linguagem coloquial característica
desse público, com recursos sofisticados de edição,
calcados numa estética e argumentos inspirados pela lógica
publicitária, por meio de métodos persuasivos.
Uma
das séries, exibida em 2001, mostrava cinco jovens, três
mulheres e dois rapazes, tendo ao fundo um parque de diversões,
falando em tom de depoimento sobre o que é o sexo para
ele, qual a importância, quais as suas preferências
sexuais. A linguagem utilizada inclui gíria e palavrões
- o rapaz número 4 fala em trepar, a garota número
3 em tesão - num tom naturalista e documental. Todos
os depoimentos terminam com o letreiro "Sexo é bom.
Use camisinha" ao lado da logomarca MTV.
Nas
cinco vinhetas que totalizam cinco minutos, o sexo é
representado de forma lúdica pelo parque, onde os cinco
jovens personagens são colocados em estado de êxtase,
similar ao delírio provocado pela droga. Não há
nenhuma alusão direta, em forma de imagem, a corpos nus,
cama, uma relação sexual, seringas, baseados,
e nem mesmo à Aids. O texto, coloquial, onde cada um
deles coloca suas impressões sobre sexo de forma crua,
é dito em off, enquanto são mostradas suas imagens
divertindo-se num carrossel e numa montanha-russa.
O
recurso do off em tom espontâneo e debochado - "não
recomendo o tapete, já me ralei todo", diz o garoto
5 - dá uma sensação de intimidade, de exposição
dos protagonistas, e deixa o espectador como cúmplice
e voyeur, embora o sexo não seja explicitado. Os depoimentos
são diretos e utilizam uma linguagem do dia-a-dia, sem
rebuscamentos. A sensação é a de conversar
com alguém que a gente conhece há muito tempo.
Os protagonistas das vinhetas são adolescentes comuns,
não há nenhum rosto famoso, o que é também
faz parte da política de comunicação do
canal.
O
efeito de êxtase foi obtido por meio de enquadramentos
suscitados pela "câmera hidráulica" que
enfoca o entrevistado-personagem em perspectivas não-lineares,
editada de forma fragmentária e sem ações
consecutivas, como a linguagem dos clipes que a emissora ajudou
a popularizar, desfocando imagens, utilizando fusões.
Nestas
vinhetas, os cortes rápidos e o caráter descontínuo
da ação tendem a reproduzir o ritmo da música,
conferindo dinamismo à ação e disseminam
a sensação de que sexo dá barato, e pode
ter um efeito tão alucinógeno quanto o consumo
de drogas. A idéia de editar as imagens a partir do áudio,
adotada inclusive pelo jornalismo da emissora, prevalece nas
vinhetas, e aliada ao repórter oculto, conferem à
entrevista um caráter de narrativa documental.
O
roteiro segue o padrão de roteiros publicitários
de venda direta do produto - no caso reforçam a idéia
de que sexo é bom, mas que é melhor usar a camisinha,
apresentada como se fosse um eletroeletrônico de uso doméstico.
Para tornar a camisinha um artefato útil, a vinheta tem
de introduzir a noção de que fazer sexo é
agradável e estimular a sua prática.O tom de universalidade
étnica que a emissora gostava de propagar não
está mais presente nessas vinhetas. Não representam
tribos ou segmentos ou estilos muito diferentes como clubbers,
nerds - um dos rapazes exibe um piercing, o outro um corte de
cabelo diferenciado. A diferença entre os cinco, além
do sexo e da idade, parece estar mais em uma questão
de atitude frente ao sexo, de estilo, variando do tímido
ao mais comportado, do que em alguma característica ideológica,
de raça ou ainda de opção sexual.
Tampouco
se detém em variações de classe - todos
são iguais perante o universo de consumidores, há
uma certa homogeneização nesse sentido.
Em termos de diálogo, também não existe
alusão direta à AIDS ou a drogas. Exceto pela
fala do rapaz número quatro. A ousadia do passado, quando
as vinhetas exibiam um rapaz com uma seringa e explicavam como
utilizá-la, recomendando o uso de seringas descartáveis,
e dando no ar a receita da droga, deu lugar a uma linguagem
direta e a uma atitude sexualmente ativa, de uma irreverência
mais comportada.
Uma
curiosidade a esse respeito foi que a famosa vinheta da seringa
foi uma encomenda do Ministério da Saúde para
a MTV - a idéia era assumir uma campanha nacional conjunta
de esclarecimento à população jovem. A
vinheta, entretanto, considerada ousada demais, foi deixada
de lado. E o dito Ministério, ainda hoje, peleja na tentativa
de conciliar o esclarecimento à população
com as vicissitudes da moral cristã.
A
propaganda divulgando a camisinha, discreta, do Ministério,
exibida em rede nacional no Carnaval de 2001, por exemplo, mostrava
um rapaz olhando uma moça e sendo assediado por um diabo,
simbolizando a tentação, e um anjo, simbolizando
o politicamente correto. Foi execrada pela Igreja Católica
e quase retirada do ar. Para "consertar", a de 2002
não tem diabo - apenas a atriz Cláudia Jimenez,
presumivelmente a mãe de um jovem rapaz que mais parece
seu namorado. O tal do sexo resume-se a um personagem chamado
"juízo", um clown amordaçado jogado
na cadeira, representando a falta da consciência da juventude.
A
questão da pluralidade de atitudes foi pouco explorada
para os padrões da emissora nessas vinhetas mais recentes,
mas a questão social de padronizar o consumidor se mantém
coerente. Embora a programação MTV esteja voltada
prioritariamente para o jovem que tem potencial de consumidor,
o público A-B, a propaganda trata o jovem urbano a despeito
de suar origens sociais. Garotos de rua, jovens da alta burguesia,
pouco importa, basta comprar o tênis adequado, usar a
roupa certa e ouvir o som mainstream, todos têm direitos
iguais e passam a pertencer à mesma tribo, essa é
a mensagem principal dos comerciais, vinhetas e das teorias
de marketing voltadas para a globalização, que
capta atitudes regionais para poder incorporá-las a um
denominador comum e maior.
Um
efeito interessante dessa padronização a partir
de bens de consumo é que as definições
de camada A-B nos grandes centros urbanos passam cada vez mais
por redefinições, afetadas por problemas mundiais,
como o desemprego, e pelo barateamento e massificação
de alguns artigos. Exemplo disso é que uma pesquisa de
consumo realizada pela MTV Brasil, em 1999, parte integrante
do Dossiê Universo Jovem, incorporou jovens das camadas
C.
Uma
das mudanças de perfil identificadas na pesquisa foi
que a geração que hoje tem 20 anos no Brasil,
a maior população dessa idade na história
do País, quando possui uma célula familiar estruturada,
tende a aglutinar-se em torno dela, adiando cada vez mais a
hora de constituir sua própria família ou sair
de casa. O motivo é que a sofisticação
do consumo não acompanhou as perspectivas salariais e
de emprego. Os quartos desses jovens são a cada dia mais
completos, autênticos flats que incluem equipamentos sofisticados
de som e imagem - DVD´s, computadores. O que não
significa necessariamente que ele pertença à camada
A em termos de poder aquisitivo.
A
televisão a cabo contribui para universalizar desejos
e criar novas demandas. A informação é
comum mesmo àqueles que não possuem teto. O jovem
morador de rua dos centros urbanos usa o corte de cabelo da
garota estampada na capa da The Face, mesmo sem nunca ter lido
a revista.
Os
jovens que protagonizam o institucional da MTV na vinheta sobre
Aids aqui analisada, aparentemente, são personagens-padrão,
e a mensagem veiculada, elitizante e ingênua, pois não
levaria em conta, por exemplo, diferenças sociais e de
credo. Um jovem pertencente a uma seita religiosa que proíba
as relações sexuais antes do casamento não
seria atingido pela mensagem contida nas vinhetas e nas matérias,
autênticas propagandas sobre práticas sexuais.
A discriminação, entretanto, é oportuna
e ousada. O que o garoto 5 diz, na verdade, é "se
você não pensa como eu, você é um
idiota, não sabe o que está perdendo, sexo é
bom".
A
vinheta se dirige ao jovem com uma naturalidade ímpar,
como nenhum outro comercial nacional é capaz de fazer.
O censurado comercial do Ministério da Saúde mostrando
Deus e o Diabo no carnaval impulsionando o rapaz a pecar sem
camisinha passa longe da irreverência das vinhetas MTV.
As outras emissoras não conseguem dirigir-se ao jovem
com tamanha criatividade e audácia.
Em
2003, a MTV conquistou o Prêmio Esso Especial de Telejornalismo
como
trabalho Documento AIDS 2002, produzido pelas jornalistas Andréa
Cassola, Zico Góes, Lílian Amarante e Cris Lobo,
exibido no programa MTV BRASIL, da MTV, onde mostravam o impacto
da AIDS na vida dos jovens a partir de depoimentos dramáticos
que revelam de que maneira os personagens contraíram
o vírus. O documentário indica que há espaço
para o amor para quem é soropositivo; mostra como os
amigos e parentes lidam com o preconceito; o papel da família
de quem contraiu a doença; e o que significa, na prática,
administrar os medicamentos que compõem o coquetel anti-aids.
Em
abril de 2004, a MTV anunciou o lançamento de sua marca
de preservativo. Além de sua própria camisinha,
que será comercializada na Europa e EUA, a unidade da
Viacom anunciou expansão na TV européia via compra
da rival Viva Media A camisinha da MTV Networks International,
segundo a empresa, tem a preocupação de ser embalada
e comercializada de forma "a facilitar seu consumo por
garotos ou garotas inibidos". O preservativo, produzido
em parceria com a fabricante alemã Condomi, que também
publica a revista online EroticLifestyle, possui embalagem especial
e será vendido em locais de alta frequência jovem,
como as lojas de música Virgin Megastores e os balcões
da Mac Cosmetics em grandes magazines.
Segundo
notícia do jornal Financial Times, que não revelou
detalhes sobre a marca, o lançamento será apoiado
pela Viacom Inc., a matriz da MTV Networks, e por seu braço
de compra de mídia Viacom Outdoor. Segundo o comunicado,
a idéia de um produto especificamente dirigido ao segmento
partiu da observação do aumento de número
de casos de doenças sexualmente transmissíveis
nos ultimos anos, entre elas a Aids, que apenas no Reino Unido
cresceu 20% em 2003, e pretende beneficiar-se mais ainda, naturalmente,
do sucesso de suas campanhas de prevenção à
AIDS entre o segmento jovem.
A
estética do videoclipe, presente nas vinhetas e no jornalismo,
para muita gente, está intrinsecamente relacionada à
MTV. De fato, a emissora que começou a ser veiculada
nos EUA exibindo gratuitamente videoclipes para tentar alternativas
à crise do mercado fonográfico e opções
de lançamento, mais baratas que as tradicionais turnês,
contribuiu para a sua popularização em escala
mundial. No início de sua mais forte investida dentro
do processo de expansão global, em 1 de agosto de 1996,
15 anos após a criação do canal, a rede
criou o MTV2, canal exclusivo de clipes, sem programas não-musicais,
que não está disponível no Brasil. [12]
A
pesquisadora E. Ann Kaplan, que em 1987 dedicou-se a estudar
o fenômeno MTV, classificou os videoclipes em cinco categorias:
o romântico, o socialmente consciente, o niilista, o clássico
e o pós-moderno. Para Kaplan, quando se fala em imaginário
pós-moderno, o que está em jogo é uma mescla
das noções de Lacan, quando fala na separação
do objeto no momento da inserção no simbólico
e da concepção de Althusser dos aparatos ideológicos
do estado: a visão do espelho que possibilita a fusão
da imagem ideal, combinando as duas entidades, a mãe
e a não-mãe. Nem Lacan nem Althusser, em verdade,
debruçaram-se sobre a televisão em seus estudos.
Jean Baudrillard é dos únicos a dar um passo adiante
nessas reflexões, questionando que a tela da TV simbolizava
uma nova era na qual "ö Fausto, o Prometeu, talvez
Édipo, acenavam com um período de produção
e de consumação, abrindo caminho para uma narcisística
era de conexões, contatos, contigüidade, feedback
e interface generalizada que se afinava com o universo da comunicação".
De
qualquer forma, o imaginário social que ela explora em
seu estudo teria sido cunhado nos anos 60, num momento em que
os vídeos de rock simbolizavam um momento da contracultura
americana e uma forma popular e jovem de cultura de massa americana.
Outro fator a ser explorado, sem dúvida, é a riqueza
da produção americana, em contraposição
com a brasileira, sempre problemática. Talvez por isso,
os vídeos socialmente engajados, representados especialmente
pelos rappers e pelo movimento hip hop, tenham encontrado formas
originais e contundentes de realização e produção.
Os
estudos que enfocam a videomúsica sob o aspecto da cultura
também analisam o vídeo musical e a MTV como uma
forma de pós-modernismo. Kaplan explica que uma característica
básica do pós-modernismo é a emergência
de uma consciência descentralizada que embota as categorias
tradicionais e questiona instituições estabelecidas.
Jean Baudrillard descreve este estado como uma "implosão'
de significados caracterizada pela "difusão de polaridades,
uma espécie de curto-circuito de pólos de cada
sistema diferencial de significados, a obliteração
de distinções e oposições entre
os termos".
Kaplan
afirma que as pessoas jovens das sociedades capitalistas maduras
vêm adotando cada vez mais esta percepção
descentralizada da realidade, atribuindo o desenvolvimento desta
consciência a forças disparatadas, tais como o
avanço da tecnologia, o capitalismo corporativo multinacional
e o aumento das estratégicas sofisticadas de marketing.
Baudrillard afirma que os meios de comunicação
de massa em expansão geram um aumento de informação,
contribuindo para o colapso do significado convencional.
Kaplan
diz que a MTV exemplifica o pós-modernismo porque sua
grade de programação mina as classificações
estabelecidas e os limites, incluindo diferenças musicais
de gêneros, formas de arte, e períodos históricos,
além de distinções entre cultura erudita
e popular. A MTV e os clipes incorporam materiais das mais diversas
fontes num pastiche caleidoscópico sem o reconhecimento
da origem deste material. O canal subverte qualquer sentido
estético de sua história ao mesclar indiscriminadamente
gêneros de filmes e formas de arte de vários períodos
históricos.
A
MTV também repudia concepções lineares
de história, rejeitando as distinções convencionais
de passado, presente e futuro, colocando a si mesma num presente
atemporal. Os anunciantes da MTV raramente mencionam o período
do dia durante as entrevistas exibidas entre os vídeos.
A representação roqueira que a MTV faz de si mesma,
colocando no ar a mais ampla diversidade de imagem sem ritmo
frenético, e a recusa do canal de se posicionar diante
de uma perspectiva determinada são solicitadas para contribuir
para a experiência descentralizadora do telespectador.
Entretanto,
o movimento que a MTV vem fazendo recentemente no sentido de
tornar-se uma programação mais convencional dentro
do meio televisivo, apresentando atrações de duração
determinada , limita a aceitação deste argumento,
uma observação que vale para o Brasil, que começa
a ter programação própria e não
mais gerada a partir da matriz.
Não existe concordância entre a maioria dos autores
sobre o fato da natureza pós-modernista da MTV ou mesmo
dos vídeos exercerem uma influência progressiva
ou opressiva sobre os telespectadores. Kaplan defende que o
processo de descentralização deve libertar o telespectador
dos códigos convencionais da cultura dominante.
Esta
experiência desorientaora liberaria o telespectador: Kaplan
acredita que os meios culturais pós-modernos como a MTV
cultivam pessoas mais criativas, menos limitadas pela tradição
e mais receptivas a mudanças.
O teórico marxista norte-americano Fredric Jameson, que
se esquiva de comentar a MTV especificamente, apenas a menciona,
e mesmo a televisão comercial, apontada por ele, assim
como os vídeos, como a mídia pro excelência
da globalização, vê na videoarte, fonte
de inspiração para a maioria da produção
de videoclipes identificada como pós-moderna, um arremedo
das posturas libertárias do surrealismo francês.
Nos vídeos, entretanto, a fragmentação
estaria destituída de seu conteúdo libertário.
Em
"Pós-modernismo: a lógica cultural do capitalismo
tardio", ele dedica um longo capítulo ao vídeo,
e suas manifestações correlatas, como a televisão
comercial, e o vídeo experimental ou videoarte. Em "Surrealismo
sem inconsciente", Jameson, considera que as produções
de vídeo experimental, que nos permitem estabelecer uma
analogia com algumas formas de videoclipe, representariam uma
prática cultural vazia de significado, na qual a figura
do autor estaria problematizada, e jamais poderia ser classificada
como ficcional, mesmo ao fazer uso de estruturas narrativas,
por não projetar um tempo ficcional. Já a televisão
comercial teria essa aspiração, bem como o cinema.
Assim,
até mesmo a percepção de um texto, diferente
e singular, teria de ser extraída a partir de um fluxo
aleatório, impedindo-se aquilo que foi fundamental para
o movimento conhecido como surrealismo - a vivência do
desejo, seja por parte dos receptores, ou mesmo sob o prisma
da produção coletiva, restando em seu lugar apenas
a memória. Assim, a prática delirante substituiria
os propósitos libertários. O movimento surrealista,
baseado nas teorias de Freud, tinha como opção
dar livre trânsito ao inconsciente como forma de transgressão
psicológica e cultural. O surrealismo era transgressor,
pois vivenciava a noção de um limite.
O
formato videoclipe, como assinala Arlindo Machado em A televisão
levada a sério, há muito deixou de ser apenas
uma peça promocional de venda de CDs (Machado, 2000:
174). No mundo inteiro, videoartistas realizaram trabalhos nesse
formato, como Roberto Longo para a banda New Order em Bizarre
Love Triangle, e para o R.E.M em The One I Love; Michelangelo
Antonioni para a cantora italiana Gianna Nannini em Fotoromanza,
Joan Logue, para Paul Simon em René and Georgette Magritte.
No Brasil, Tadeu Jungle fez O silêncio, para Arnaldo Antunes,
Éder Santos (ex-Olhar Eletrônico, atual O2) fez
clipes para Uakti, Câmbio Negro e Mílton Nascimento,
Sandra Kogut para Fausto Fawcett, Ed Motta e Fernanda Abreu.
Sem falar nos nossos cineastas, como se pode conferir pelos
trabalhos da produtora Conspiração, que abrange
clipes com praticamente todo o time de estrelas da MPB, da Dramafilmes,
de Beto Brant e Renato Ciasca, e da própria Videofilmes,
dos irmãos Salles.
Tome
conta do Brasil - após o anúncio de que finalmente
havia saído do vermelho, e das mudanças de política
de programação anunciadas com a publicação
do Dossiê Universo Jovem, em abril de 1999, uma série
de três pesquisas sobre o comportamento do jovem brasileiro,
a MTV rompe com seu padrão jornalístico de repórter
oculto, o producer, e começa a abordar política.
A tendência só viria a se acentuar após
o 11 de Setembro, quando a rede americana se coloca em função
da escalada anti-terrorista deflagrada pelo governo dos EUA.
Em
1999, o diário "MTV no ar" deixou de ser exibido.
Permaneceram apenas os "Drops" - programetes de um
minuto em média, apresentados a cada hora com as notícias
do dia, e o "Semana rock", noticiário comandado
por Chris Couto.
A
emissora assume um programa com apresentador, repórter
e entrevistas de rua chamado Contato MTV, uma série que
começou em fevereiro de 99. "Decidimos mudar o estilo
jornalístico da emissora e tirar o MTV no Ar. Em 98 já
tínhamos começado a fazer umas intervenções
ao vivo ao longo da programação e decidimos adotar
esse novo estilo', conta a diretora de programação
Cris Lobo. Foram abordados temas como Aids, Drogas, Violência,
Ecologia , Eleições e Trabalho.
Em
1999, a MTV decidiu incorporar à grade formatos que permitissem
discutir assuntos como participação política,
AIDS, emprego. O principal é que, ao fazer isso, a emissora
rompeu com o padrão MTV. O entrevistado deixou de ser
personagem e o VJ e repórter assumiu a postura da emissora,
como ocorre nas emissoras abertas.
O
fato do repórter entrar em cena, entretanto, não
se transformou num padrão absoluto, sendo reservado apenas
para a nova programação. O repórter não
ancora a matéria, interpretando o fato, como ocorre no
jornalismo da maioria das emissoras abertas, notadamente na
TV Globo, em que o repórter relata o fato e o entrevistado
aparece apenas para ilustrar o caso, como personagem.
Em
2001, estabelecido pela UNESCO como Ano do Voluntariado, o tema
foi introduzido nessa série de programas. O Contato,
que ficou no ar ao longo de 2001, tinha um desdobramento também
pela Internet, por meio das listas de discussão, e em
sua fase diária, exibido de segunda a sexta-feira, era
apresentado pelo VJ Edgar, um dos mais antigos da casa.
Uma característica interessante da MTV Brasil, possibilitada
pela sua estrutura enxuta, é que os assuntos jornalísticos
são debatidos não somente com os repórteres
e entrevistados, ou no núcleo de jornalismo. , uma característica
do jornalismo sob a globalização, o infotenimento,
nem sempre evidente nas redes abertas. Por exemplo, se o núcleo
de jornalismo pautar os riscos da pílula do dia seguinte,
em função do problema que o País tem com
jovens mães solteiras, o jornalismo se reúne com
a programação musical e não-musical.
Já
no início de 2001, ao divulgar sua nova grade de programação,
a emissora demonstrava estar disposta a participar da cobertura
política em 2002, ano de eleições para
presidente e governador no País.
Um passo que indicava essa nova política de programação
e revelou-se importante no sentido de introduzir novos temas,
foi a campanha institucional "Vamos tomar conta do Brasil",
lançada durante a campanha governamental para economizar
energia que ficou conhecida como Apagão. Era protagonizada
pelo apresentador-símbolo da nova era MTV, Marcos Mion,
que introduzia o assunto assumindo um mea culpa: "sei que
você não tem nada a ver com isso, e que agora estamos
tendo de pagar a conta". Em seguida, ele incitava o jovem
a economizar, mesmo admitindo a incompetência governamental
ao lidar com a questão. Totalmente MTV. Em 2002, a campanha
Tome Conta do Brasil foi oficializada.
Além
das equipes paulistana e carioca, Porto Alegre, Salvador e BH
serão os pólos de onde a emissora pretende emitir
matérias. A estratégia é uma tentativa
de tornar-se mais nacional, um dos principais problemas em termos
de cobertura política que a emissora enfrenta. Os repórteres
serão locais, mas serão treinados em São
Paulo.
No
dia 7 de Dezembro de 2001, um comunicado oficial da MTV Brasil
falava do projeto 'Tome Conta do Brasil', envolvendo vinhetas
e a exibição, na época das eleições,
de uma série de debates. A decisão pode ser considerada
politicamente importante. No Brasil, a MTV atinge 23,3 milhões
de telespectadores, sendo que 4 milhões têm entre
15 e 29 anos, e se concentra nas classes AB. Entre os jovens,
a emissora encontra-se em segundo lugar nas preferências,
conforme pesquisa encomendada ao IBOPE, perdendo apenas para
a Rede Globo.
A
MTV já vinha demonstrando a intenção de
dar essa guinada, anunciada em 99. Em março de 2002,
ao projeto "Tome conta do Brasil", para despertar
o interesse dos jovens a envolver-se mais com as questões
ligadas ao País - principalmente no que se refere à
conscientização política. A iniciativa
tem como objetivo, naturalmente, o ano eleitoral brasileiro.
Zico Goes, diretor de programação não-musical
e produção da MTV, explica que o projeto começa
com a inserção de promos (tipo de vinhetas), em
formatos de 30" a dois minutos de duração,
ao longo da programação. "São mensagens
de utilidade pública, chamando a atenção
dos jovens para questões políticas, ecológicas
e sociais", comenta.
Entre os meses de julho e setembro, a emissora intensificará
o projeto, produzindo programas para discutir as eleições.
"Pretendemos fazer uma série total de 12 a 13 programas,
que serão exibidos semanalmente para abordar sobre o
futuro político do país", revela. "O
conteúdo terá denúncias jornalísticas
e debates entre os jovens", adianta. A emissora está
comercializando apenas uma cota de patrocínio para o
projeto, no valor de R$ 1,9 milhão.
As
emissoras preferidas dos jovens, segundo matéria divulgada
no jornal Valor, naquele período, foram Globo, 34%, MTV
Brasil, 19%, Sony, 9%, Discovery, 8%, SBT, 6%, Telecine Premium,
6%, Cultura, 6%, Cartoon, 6%, Sport TV, 5%, HBO, 5%, Multishow,
5%.
O índice das preferidas dos jovens que têm TV por
assinatura foi mais alto: Globo, 28%, MTV Brasil, 22%, Sony,18%,
Discovery, 17%, Telecine Premium, 12%, SportTV, 11%, Cartoon,
10%, Multishow, 9%, HBO, 8%, HBO2, 8%, Fox, 7%, SBT, 7%, Warner,
6%.
A
MTV americana sempre fez, em solo pátrio, cobertura política.
Em 1992, Bill Clinton participou do americano "Hi Teens",
fazendo campanha entre os jovens. O expressivo número
de votos do eleitorado jovem na vitória de Clinton serviu
como respaldo para evidenciar a força da marca em seu
segmento. O presidente admitiu publicamente a influência
da emissora na campanha americana.
No
dia 15 de fevereiro de 2002 foi ao ar uma experiência
inédita para os brasileiros: a Conexão Global
Colin Powell, um mega-programa gravado com o Secretário
de Estado dos EUA, e entre espectadores da MTV. Pela primeira
vez, o Brasil participou.
Os
espectadores da MTV e o secretário de Estado dos Estados
Unidos, Colin Powell, tiveram um encontro atípico no
Dia dos Namorados norte-americano, quando o canal de música
realizou um fórum mundial sobre o terrorismo. Canais
da MTV dos EUA, Brasil, Índia, Oriente Médio,
Reino Unido, Rússia e outros países exibirão
o especial de 60 minutos, chamado Be Heard: An MTV Global Discussion
With Colin Powell (Seja Ouvido: Uma Discussão Mundial
Da MTV Com Colin Powell).
O
programa foi gravado na manhã de 14 de fevereiro de 2002,
diante de uma platéia reunida em um estúdio de
Washington, e foi ao ar nos EUA às 20h (23h em Brasília)
do mesmo dia. No Brasil, foi exibido na sexta-feira, dia 15
de fevereiro, às 23h.
Os
âncoras do programa em Washington foram os apresentadores
da MTV News, John Norris e Gideon Yago. As perguntas foram feitas
por jovens de todo o mundo, com correspondentes e VJs comandando
e traduzindo via satélite. No Brasil, o papel foi desempenhado
por Cazé.
A
MTV não é considerada exatamente o veículo
natural para membros do governo Bush, mas a nova campanha de
Washington para ganhar corações e mentes mundo
afora diante da tragédia do atentado ao World Trade Center
em 11 de setembro de 2001, transformou a rede global numa vitrine
desejável.
Foi
a primeira vez que o Brasil foi incluído numa conexão
desse porte. "Já fizemos outras co-produções
,como em programas de Aids. Mas ao vivo, assim, nunca",
reconheceu o diretor de programação Zico Goes.
Após a exibição do programa, foram ao ar
imagens do estúdio da MTV em São Paulo, reunindo
jovens e comentaristas como o jornalista José Arbex,
que criticou a arrogância do secretário americano,
para demonstrar a independência da afiliada brasileira.
Outro fato que gerou polêmica foi a interpretação
dada à resposta de Powell a uma adolescente brasileira,
que lhe perguntou sobre a questão da ajuda aos países
em desenvolvimento e de uma mudança de política
de investimentos internacionais por parte do governo americano,
em função do atentado.
A
preocupação da jovem dizia respeito a um possível
desvio de verbas da questão social e de prevenção
à Aids para a questão política, capitaneada
por campanha mundial anti-terrorista que reativou a indústria
bélica. A resposta de Powell foi interpretada como uma
crítica a FHC: "seu governo não está
sabendo aplicar o dinheiro que recebe", teria dito o secretário.
Powell, via embaixada, se desculparia mais tarde dizendo que
se referia aos governos em geral, e não ao brasileiro.
Além
disso, no ano eleitoral de 2002, a MTV Brasil decidiu realmente
fazer a diferença. Dessa forma, a apresentação
da Conexão Global serviu como demonstração
de poder. O objetivo da emissora seria o de realizar uma experiência
idêntica com o presidente Fernando Henrique Cardoso, por
exemplo, ou com candidatos.
De
qualquer forma, em que pese a arrogância dos EUA enquanto
potência - o tom da fala de Powell era o de um administrador
conversando com os seus funcionários, ao falar dos governos
dos demais países do mundo -, não é provável
que um político brasileiro tradicional ostentasse a mesma
desenvoltura do secretário ao responder à pergunta:
"Como se sente sendo o secretário dos EUA, o Satã
da política mundial"
A
transmissão do programa, entretanto, serviu no geral
para consolidar a imagem do secretário, que se fez politicamente
durante a Guerra do Golfo, e que reafirmou sua versatilidade
diante das câmeras ao lidar com os jovens colocados pela
MTV em estúdios das franqueadas da rede ao redor do mundo.
A
campanha Tome Conta Do Brasil, como foi chamada a cobertura
política da casa, baseada em institucionais induzindo
o jovem a votar e a perceber de que forma a política
estaria ligada a questões de seu cotidiano, e a volta
do apresentador Casé no programa Neurônio, foram
idealizadas para contemplar aquele ano eleitoral brasileiro,
que elegeu Lula para presidente.
De
volta à MTV, após o sonho frustrado de fazer um
programa alternativo na Globo, Casé ganhou um quiz semanal,
Neurônio, um programa diário, lançado em
abril, com uma linha de atuação voltada para a
denúncia e o sarcasmo.
Os
dropes diários, que substituíram inicialmente
o MTV no Ar, durante anos o jornalístico da emissora,
e uma característica da emissora, voltaram a ser utilizados.
Apesar do resultado das pesquisas encomendadas pela casa, e
presentes no Dossiê divulgado em 1999, o diretor da MTV
Brasil, Zico Goes, por exemplo, não acredita que o jovem
brasileiro tenha incorporado totalmente a questão da
globalização. "Não acho que o brasileiro
se sinta parte de um mundo globalizado. Nem através da
MTV, que é cada vez mais brasileira embora seja, em parte,
veículo de parte da cultura globalizada (americana).
Mas
sem nunca perder o rebolado. Mas a MTV sim , aposta em ser mais
global para levar a consciência do seu jovem a um nível
menos "colonizado". Para Goes, "ser global na
MTV Brasil significa fazer frente à globalização
míope e exclusivista dos americanos e exigir que as perguntas
de brasileiros ao Colin Powel sejam feitas em português
e brigar para que uma discussão como essa não
releva a segundo plano questões sobre a pobreza crônica
da maior parte do mundo que mata mais que o terrorismo que os
americanos temem tanto e entendem muito pouco".
A
tragédia que se abateu sobre os Estados Unidos a partir
do World Trade Center, e a campanha quase histérica que
teve início no combate ao terrorismo, pelo governo norte-americano,
entretanto, levou a uma parceria inédita no mundo da
comunicação e do jornalismo. A CNN e a MTV, duas
emissoras a cabo lançadas no início da década
de 1980 com públicos-alvo totalmente distintos, e pertencentes
a grupos concorrentes, Aol Time Warner e Viacom, anunciaram
sua intenção de unir forças em uma série
de reportagens sobre a guerra no Afeganistão. O que evidencia
o compromisso das redes com o país-sede.
O
encarregado de consumar a façanha foi o jovem apresentador
Jason Bellini, de 26 anos, responsável pela série
que se concentrou no comportamento dos jovens - norte-americanos
e afegãos. Os temas das reportagens de Bellini variavam
do entretenimento à religião, mas sempre com a
mesma pauta: mostrar no vídeo como a vida dos afegãos
mudou desde os atentados de 11 de setembro contra os Estados
Unidos.
As
primeiras transmissões foram feitas de Cabul por Bellini
e uma equipe, e renderam de cara alguns episódios polêmicos
e uma saia-justa diplomática, a partir de uma das matérias,
abordando o que os afegãos pensam da música norte-americana.
Durante o regime dos talibãs, a população
era proibida de ouvir música e tocar instrumentos.
Irreverente,
bem ao estilo MTV, Bellini foi ao ar mostrando a vários
jovens afegãos uma revista para adolescentes, que trazia
fotos da atriz e cantora Jennifer López. Ele perguntava:
'o que vocês acham dela?'", E os jovens entrevistados
responderam dizendo que ela era muito bonita, mas nunca deveriam
deixar que se vestisse daquela forma, pois o modelo marcava
seu traseiro. O episódio despertou a ira de vários
segmentos da religião muçulmana, que resultaram
em um pedido formal de desculpas do governo americano encaminhado
via embaixadas.
Norte-americano,
Bellini começou a trabalhar na CNN em 1997. Em 2000,
trocou a emissora pela MTV, mas retornou à emissora sediada
em Atlanta no início de 2001. A colaboração
consistia na transmissão das reportagens de Bellini do
Afeganistão via CNN. A produção e a edição
ficaram à cargo da MTV. O material foi exibido ao longo
de dezembro de 2001, nos dois canais.
A
dose se repetiria em 14 de março de 2003, quando a MTV
brasileira e as MTVs do mundo, transmitiram a entrevista com
Tony Blair, defensor da guerra. No mesmo período, a rede
recusou nos Estados Unidos exibir um comercial contra a guerra,
realizado pela premiada documentarista Barbara Kopple.
Ainda
que Blair tenha sido questionado pelos jovens telespectadores
convocados para o fórum, sequer se cogitou fazer uma
matéria com algum dissidente. Enquanto isso, na MTV americana,
comerciais contra o ataque militar continuam vetados, mas os
de alistamento militar seguem liberados.
E
aí surge uma polêmica crucial para a democracia.
Uma das principais questões que a presença de
uma rede global no país desperta é que, não
importa de que forma a população brasileira apreenda
seus conteúdos e formatos, ou mesmo a autonomia que ela
adquira diante de sua matriz, ela nunca deixa de ser global
e suas franqueadas, dependentes, do ponto de vista cultural
e da própria transmissão ao redor do mundo. A
televisão, como de resto a questão de todos os
demais produtos da indústria cultural, é um sistema
de transmissão que depende de uma estrutura. A dependência
econômica do nosso mercado fonográfico ao internacional
se reflete na programação de uma emissora musical
como a MTV. Que emissora nacional teria condições
hoje de fazer um debate internacional em rede com a agilidade
da MTV? E, certamente, assunto para isso não nos falta.
A
cobertura jornalística brasileira é extremamente
pobre, se comparada ao modelo americano e europeu. A única
emissora que consegue realizar uma cobertura nacional efetivamente
é a Globo - o projeto jornalístico do SBT nunca
vingou e o da Cultura claudica em função de problemas
de sobrevivência e de estrutura. A cobertura internacional
veiculada no Brasil é quase sempre adquirida das agências
internacionais.
Outro
problema diz respeito à aferição de pesquisas
e à questão daclassificação
das camadas ABC, citadas com insistência em qualquer pesquisa
hoje.
O
método empregado para tais avaliações leva
em conta domicílio e capacidade de consumo, além
do número de commodities - quantos carros possui, quantas
geladeiras têm -, em detrimento de posses, conta bancária,
cargo e função Automaticamente, qualquer universitário
formado em Direito é considerado formador de opinião.
Ocorre
que o boom do ensino pago nessa faixa no Brasil levou muitos
jovens às universidades, aliado ao desemprego, de onde
saem muitas vezes para executar funções técnicas
e administrativas, ou ainda trabalhar com vendas de tele-marketing.
O
público AB é o público-alvo na verdade
da maioria das emissoras brasileiras, pois teria maior capacidade
de consumo. Mas a forma de aferição torna esses
limites entre as camadas muito variáveis e pouco confiáveis.
É
duvidoso ainda que a audiência seja a maior responsável
pela qualidade do que se vê na televisão aberta,
pois a grade é sustentada ainda pelos anunciantes - o
público não paga pelo que assiste, como acontece
em alguns países como a Grã-Bretanha, apenas pela
conta de luz e pelo aparelho. A tevê se torna, assim,
a grande vitrine do crediário.
Talvez
por esse motivo, emissoras que trabalham um público segmentado
consigam obter um alto índice de afinidade com seu público.
Ainda que seu público real esteja longe de representar
o tal segmento AB.
O Dossiê divulgado pela emissora em 99 também não
ajuda muito a esclarecer essa questão. De acordo com
o Dossiê, os jovens foram divididos em seis grupos, numa
classificação totalmente comportamental: As antenas
do tempo (15%), Novas Posturas 11%), Sonhando com as alturas
e lutando nas bases (20%), Vivendo intensamente (16%), Arranhados
pela vida (21%), Solitário (15%).
A
grade da emissora pode até estimular o consumismo e disseminar
novos comportamentos, idéias. Mas é improvável
que os jovens recebam as imagens da MTV e os apelo de consumo
da mesma forma, sem ruídos. A entrevista com Colin Powell,
apesar de monitorada, deu uma idéia clara das tensões
sociais advindas da globalização. No Brasil, essa
tensão atinge proporções bastante preocupantes,
na medida em que o aumento dos índices de exclusão
social concorre para elevar os índices de violência
nas ruas.
Hoje,
a classe média pode ser considerada a elite do País.
Para muitos jovens que vivem e trabalham na periferia, a MTV
é a emissora de adolescentes privilegiados. As famílias
cuja renda por pessoa está acima de R$ 2,1 mil fazem
parte do 1% mais rico da população. A última
tábua do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)
sobre a pobreza no País, divulgada em abril, coloca um
terço da população do Brasil na mais extrema
pobreza - 39,6% da população -, consolidando um
dos piores níveis de desigualdade econômica e social
da nossa história.
A
estabilidade econômica promovida pelo Plano Real não
contribuiu para reduzir a pobreza. Em 1995, 33,9% viviam em
situação de indigência. Em 1999, esse percentual
subiu para 34,1%120. Todas essas pesquisas reforçam os
dados verificados pelo Dossiê da MTV em 1999 - a situação
econômica da geração que hoje tem 20 anos
e luta para se inserir no mercado de trabalho é pior
do que a de seus pais, e por esse motivo muitos hesitam em abandonar
a casa paterna. Para eles, o paraíso do consumo é
uma imagem longínqua.
A
mudança da legislação brasileira através
da aprovação da PEC 203-B/95, permitindo a participação
do capital estrangeiro em até 30% de uma emissora de
sinal aberto, e a concessão de sinais para grupos empresariais
- vem sendo colocada como a grande tábua de salvação
para o mercado nacional de comunicação, capitaneado
pelas cinco maiores redes de televisão. Alguns consultores
do segmento, como Antonio Athayde121 - foi diretor da Rede Globo,
por cerca de 20 anos, e trabalhou para o Grupo Abril, Rede Bandeirantes,
Telefonica Media - advogam a idéia de que a maior beneficiada
pela mudança da lei será a mesma Rede Globo, que
monopoliza o mercado nacional. A causa seria a falta de planejamento
estratégico de nossas empresas de mídia, que ainda
funcionam de forma familiar.
Para
Athayde, a MTV é o exemplo a ser seguido para quem quiser
atrair o investidor estrangeiro, o casamento perfeito entre
um formato de sucesso mundial e o talento da produção
brasileira, acostumada desde cedo a operar sob o improviso.
A MTV abrasileirou sua programação, mas sem perder
a veia pop, excluindo deliberadamente da grade toda e qualquer
referência enraizada na tradição brasileira
da música popular, internacionalizando-a, a exemplo do
que Paulo Coelho fez com sua prosa.
Nessa
corrida atrás do sócio estrangeiro, aparentemente
vale mais investir em produto e formato do que investir em estúdio.
O capital estrangeiro não tem o menor interesse em entrar
no Brasil para montar uma estrutura. As restrições
constitucionais nunca impediram parcerias entre empresas mundiais
detentoras de produtos e marcas, e um exemplo claro disso é
a parceria da Disney com o SBT, criando o Disney Club, e a própria
parceria da Viacom e da Abril, ainda que do ponto de vista legal
possam suscitar questionamentos. A concessão do Grupo
Abril, em UHF, portanto em sinal aberto, não permitiria
à época, anterior à alteração
do art. 2222, a inclusão de sócios estrangeiros
na MTV Brasil LTDA, mas tão-somente o licenciamento da
marca.
É
forçoso reconhecer, entretanto, que a globalização
sob a hegemonia americana exerce um impacto sobre o formato
nacional, de modo geral, e particularmente sobre a MTV, sem
contudo reconhecer a sua existência ou a sua influência
musical, ou seja, a incorporação dos valores é
unilateral. Nos Estados Unidos, a maior influência exercida
pela Música Popular Brasileira continua sendo a Bossa
Nova. No site da MTV, o Brasil é representado por uma
foto de um passista do Carnaval carioca. A franqueada brasileira,
entretanto, nem mesmo cobre o Carnaval, como as demais, limitando-se
a fornecer na grade uma programação musical para
quem quer fugir das folias de Momo.
Ser
nacional e popular não implica mais necessariamente criar
um modelo estético independente das correntes internacionais,
o que é impossível em tempos de economia global,
em que os cidadãos de todas as partes do mundo são
bombardeados continuamente com um fluxo fantástico de
informações. Skank, Paralamas, Cássia Eller,
são tão nacionais quanto Bezerra da Silva. A dificuldade
de se criar um mercado consumidor próprio, entretanto,
continua a ser um fator limitador de desenvolvimento cultural
e portanto de autonomia.
Algumas
conclusões - a MTV Networks já nasce nos Estados
Unidos, em 1980, com vocação global, destinada
a ser uma vitrine de consumo para as grandes marcas do segmento
jovem ao redor do mundo. Seu projeto de expansão, entretanto,
sofre uma guinada ao ser adquirido pelo holding Viacom, hoje
o terceiro maior conglomerado mundial de mídia, detentor
de marcas como Blockbuster, Paramount, UCI, todas presentes
no Brasil.
Introduzida
no país pelo Grupo Abril, por meio de um contrato delicenciamento,
a forma usual pela qual as empresas internacionais ingressam
no mercado local sem investir um centavo, ela passa inicialmente
por um processo de aculturação que inclui uma
revisão do formato, e até mesmo um pequeno estímulo
à nossa incipiente produção de videoclipes.
Naquela época, seus primeiros investimentos na produção
não-musical, como Netos do Amaral, são considerados
projetos excessivamente sofisticados e logo abandonados. O Video
Music Awards (VMA) só ganhou versão nacional em
função de pressão dos anunciantes internacionais
e de mudanças estratégicas da rede, visando conquistar
novos mercados, como o asiático.
O
Grupo Abril, não por acaso, introduz no país o
primeiro contrato de licenciamento de marca para o mercado editorial,
trazendo a revista Pato Donald. Chega com o aporte da forte
presença do capital estrangeiro no Brasil, conseqüência
do modelo econômico adotado por Juscelino Kubitscheck.
Sua presença é assinalada por João Calmon,
em O livro negro da invasão branca, citado por Daniel
Herz em A história secreta da Rede Globo (Herz, 1987:91),
como preocupante, por se tratar de um grupo que estava instalando
a maior empresa editorial da América Latina em diversos
países, o que contribuía para eliminar a concorrência
local. Seu proprietário, Victor Civita, nascido na Itália
e naturalizado norte-americano, foi funcionário do grupo
Time-Life [13] O Grupo Abril, àquela época, operava
em três países: Brasil, Argentina e Itália
e estava abrindo sua 19ª revista, a extinta Realidade.
A
partir de 1996, quando a MTV Brasil volta a ser parte da Viacom,
e é criada a empresa MTV Brasil Ltda, em sociedade como
Grupo Abril, tem início um processo de adequação
ao mercado e de popularização do canal que resulta
em novos formatos correspondentes à vulgarização
dos programas de televisão no mundo inteiro, num fenômeno
típico da globalização - padronização,
baixos custos, segmentação, expansão via
franquia e parcerias, qualidade duvidosa -, eliminando a concorrência
e eventuais diferenças locais, das quais muitas vezes
se apropriam, recriando-as a sua imagem e semelhança.
Neste
período, o mercado fonográfico brasileiro se destaca
cultuando a produção musical de um religioso,
Padre Marcelo, e ritmos de letras e gosto duvidosos, em detrimento
de nomes tradicionais da música popular. A Ditadura FM,
como é chamada a programação popularesca
imposta pelas gravadoras às rádios, entra na tela
da MTV através do pagode e do axé, ritmos considerados
de baixa qualidade e duvidoso valor artístico, retirando
a aura alternativa da emissora e angariando críticas
de seu público e da mídia.
A
afiliada brasileira acaba por recuar parcialmente dessa posição,
retomando sua antiga grade. Mas encerra o ano de 2003 com o
Acústico Zeca Pagodinho, reverenciando um ídolo
da música brasileira alinhado ao samba de raiz, que se
oporia aos pagodeiros, atualmente cantando em espanhol, caso
de Alexandre Pires e Karametade. A mudança na programação
musical roqueira, mais propensa a baladas, de resto, reflete
a popularização da grade no mundo, e naturalmente,
o próprio mercado fonográfico mundial. A nova
ordem mundial é privilegiar músicas e melodias
mais fáceis, que possam atravessar fronteiras, sem enfrentar
grandes oposições regionais.
Ao
longo do final da década de 90, o que se consolida é
a grade de programas não-musicais, a verdadeira responsável
pelo abrasileiramento e por uma maior aceitação
da MTV Brasil. Formatados a partir de modelos da matriz norte-americana,
os programas da emissora passam a discutir sexo, violência,
política, sempre com o molho irreverente da casa. Mas
acabam optando por formatos mais consagrados pelo grande público
em emissoras abertas do mundo inteiro. Assim, surgem programas
como Família MTV, um Vinte e poucos anos que pretende
ser uma resposta brasileira ao show da vida real dos Osbournes,
e Gororoba, onde o irreverente João Gordo assume seu
lado Ana Maria Braga.
O
atentado terrorista ao World Trade Center em 11 de setembro
de 2001 acrescenta um novo ingrediente à grade - a campanha
antiterrorismo deflagrada pelo governo americano visando angariar
votos a favor da guerra contra o Iraque. Enquanto a rede anunciava
especiais destinados a ganhar adeptos para a causa americana
entre os jovens no mundo, como a Conexão Global Colin
Powell e a entrevista com Tony Blair, CNN e MTV, pertencentes
a grupos supostamente rivais ( Time Warner e Viacom), se unem
numa aliança para criar uma série especial destinada
aos jovens afegãos que visa ridicularizar a cultura muçulmana.
No mesmo ano, a UNESCO formula um documento em prol da defesa
da biodiversidade cultural, temerosa diante da possibilidade
do aumento de discriminações de cunho étnico
e racial no mundo.
Em
2002, pela primeira vez, a franqueada brasileira anuncia que
pretende cobrir as eleições no Brasil, e lança
programas com formatos até então restritos aos
EUA, como o Choose or Loose (Escolha ou Perca), que ajudou a
eleger Clinton entre o eleitorado jovem, dispostos a fazer a
diferença e influenciar a opinião dos jovens brasileiros.
O problema é que até o momento a rede não
parece interessada em promover debates políticos que
estimulem o jogo democrático - até agora Lula
foi convidado a ser entrevistado pelo irreverente João
Gordo em seu célebre programa de entrevistas. Já
Powell e Blair tiveram tratamento completamente distinto em
seus "fóruns" mundiais. Não se conhece,
todavia, qualquer espaço em toda a programação
mundial da MTV, para qualquer estadista que não seja
norte-americano ou represente um aliado dos interesses dos EUA
- no momento totalmente focado para o conflito Iraque.
No
ano de 2003, é votada ainda a alteração
de legislação que permite a participação
de capital estrangeiro em até 30% (art. 222) nas empresas
de radiodifusão brasileiras, além da possibilidade
de a concessão ser liberada para grupos e não
mais para pessoas físicas. A esperança de que
essa alteração, uma antiga reivindicação
de grupos religiosos, influentes na mídia, e posteriormente
incorporada pelas empresas nacionais, venha a influir decisivamente
em nosso mercado, injetando dólares na estrutura das
redes tupiniquins, é remota. O acordo firmado entre Abril
e Viacom em 1996, fundando a MTV Brasil Ltda, permite constatar
que os grupos internacionais não têm a menor intenção
de investir em estrutura, e sim em parcerias e formatos, de
preferência mais baratos, que eles continuam vendendo
para o mercado brasileiro.
A
perspectiva alentada pelas mudanças na legislação
de concessão de canais de radiodifusão no Brasil,
de que conglomerados de mídia iriam investir em nosso
mercado não é corroborada por especialistas como
o consultor Antonio Athayde, ou ainda o economista da Unicamp
e membro do conselho superior do Instituto Metropolitano de
Altos Estudos - IMAE - da UniFMU, Luis Gonzaga Beluzzo. "O
ciclo de crescimento desses holdings acabou, e nossas empresas
de mídia estão em sua maioria quebradas",
analisa.
O
desafio que se apresenta para os grupos de mídia nacionais
é sobreviver em plena era global e garantir um papel
de destaque dentro da revolução tecnológica
promovida pelo advento da televisão digital, em curso
nos próximos 10 anos. Mas até agora, o único
saldo positivo da lei foi a renúncia fiscal, que tem
estimulado as emissoras a financiar documentários e programas.
Mas é improvável que isso se traduza em reaquecimento
do mercado.
Por
fim, o processo de desterritorialização da cultura
dentro da globalização dos mercados contribui
para a criação de uma aldeia global nos grandes
centros urbanos de todo o planeta, mas não minimiza as
crescentes desigualdades econômicas e o aumento da pobreza.
No caso brasileiro, a internacionalização da cultura
é um dado forte da identidade cultural nacional e remete
a um período anterior à chegada da televisão
no país, não constituindo fator de resistência
relevante diante da crescente americanização da
cultura no mundo, fenômeno já batizado de cultura
McWorld, como ocorre em países como a China ou Afeganistão.
Ou
seja, embora a americanização seja um dado constitutivo
da nossa cultura, o que significa que a agressão a nossos
valores culturais é bem menor do que ocorre em um país
como a China ou ainda o Iraque, não podemos descartar
a importância da esterilidade desse processo. Se tudo
que nos resta é copiar, e não mais necessariamente
com criatividade, como acreditava o crítico e ensaísta
Paulo Emílio Salles Gomes, que lugar está reservado
à produção televisiva genuinamente brasileira?
Em um mundo globalizado, a perspectiva de sobreviver contando
apenas com o mercado local é praticamente um suicídio
cultural. As formas de articulação, contudo, e
de inserção no mercado mundial, podem determinar
o massacre do mercado local.
Nos
Estados Unidos, The Osbournes, que mostra o dia-a-dia da família
do cantor Ozzy Osbourne, terá uma terceira temporada,
a ser exibida pelo canal MTV em 2005. A emissora americana teve
com a primeira temporada, em 2002, os maiores índices
de audiência de sua história. Tudo indica que esse
novo filão, que a MTV soube tão criativamente
explorar, não vá terminar por aí.
O
cineasta Walter Salles, em artigo para a Folha de S.Paulo [14
], em 2003, assinalou o perigo representado pelo filme O Verdadeiro
Cancun (The Real Cancun), que estreou em 2003 em mais de duas
mil salas de cinema nos Estados Unidos. O filme, sem atores
nem roteiro, se auto-intitula como documentário sobre
a vida de gente idiota e é um produto calcado no modelo
do reality show feito para o cinema. A espetacularização
do vida real chega às salas de cinema, segundo o cineasta,
"depois de ter invadido quase todas as outras áreas
do audiovisual, incluindo o jornalismo televisivo. Quem viu
a transmissão do conflito entre os EUA e o Iraque feita
pela TV norte-americana sabe o que isso significa". Sem
dúvida.
O
conceito de The Real Cancun é derivado do programa que
inaugurou o gênero na televisão dos EUA, feito
pela MTV em 1992, o The Real World, exibido no Brasil como Na
Real, conforme vimos no quarto capítulo, e os produtores
e diretores do filme são os mesmos. O conceito foi adaptado
por sua vez de uma fórmula desenvolvida na Holanda no
final dos anos 80. Qualquer semelhança com Big Brother
não é mera coincidência.
No cinema, a idéia é ultrapassar os limites impostos
pela censura da televisão no que diz respeito aos diálogos
e às cenas de sexo e vender ainda mais. A embalagem é
a de um documentário. O estúdio é o mesmo
de O Senhor dos Anéis. A Universal, outro grande estúdio
norte-americano, está finalizando nesse momento outro
produto do gênero. Intitulado The Quest(A conquista) e
também gravado em uma praia do México, o filme
terá uma campanha de lançamento digna de Matrix
2.
O
custo médio de um filme de ficção hollywoodiano
está por volta de US$ 60 milhões, enquanto obras
como as noveletas de vida real consomem 15 vezes menos, não
somente pelos baixos custos de produção como também
pelo fato de empregarem atores desconhecidos dispostos a tudo
por seus cinco minutos de fama, que no cinema devem render ainda
mais.
Um
filme demora em média um ano para ser filmado e pós-produzido.
The Real Cancun foi gravado no final de março e chegou
ao cinema um mês depois. A probabilidade dos reality shows
invadirem as salas de cinema nos Estados Unidos e do mundo é
grande. Adaptados para o cinema, eles podem representar uma
"tentativa de reapropriação de uma forma
de narração que os estúdios norte-americanos
perderam e que tentam reconquistar a qualquer custo", segundo
o cineasta, e naturalmente a mais perfeita tradução
cinematográfica do McWorld preconizado por Barber.
Se
na televisão, a própria grade da MTV parece ter
se rendido a essa fórmula - The Osbournes Show, Dismissed,
Jackass, Rich Girls e Viva La Bam -, no cinema, a tendência
pode ser uma saída fácil para alimentar o público
com diversão barata. É a sociedade internacional
americana para o pobre voyeur brasileiro morrer de inveja da
superprodução americana que jamais terá
um sucedâneo nacional à altura. E deveria? Para
o filósofo marxista Fredric Jameson, o discurso cinematográfico,
bem como o poético, ainda que realistas, introduzem a
forma como nos relacionamos com a realidade, que no cotidiano
acaba sendo ocultada pela ideologia. A globalização
enterrou a noção de política e de cidadania,
e promete a igualdade e a expansão econômica para
todos, é só aderir.
Em
um dos episódios de Viva La Bam, reality show em cartaz
na grade atual da MTV brasileira, um jovem milionário
ocioso chamado Bam Margera, considerado o "guru do skate"
se diverte com seus amigos irreverentes aprontando brincadeiras
com seus pais, April e Phil, no Natal. A idéia é
largar os velhos numa ilha contaminada por 24 horas. Os pais
percebem a tempo e revidam, deixando Bam e seus amigos antes
que eles percebam, por tempo indeterminado, na ilha.
A
contrapartida de Bam, munido de celular, jatinho e amigos ricos,
é simular uma explosão da casa paterna, articulado
com a emissora de televisão local. April, a mãe,
ri quando percebe o engodo e lamenta: "Será que
todas as mães passam por isso?". É pouco
provável. Quanto poder. Mensagem: qualquer jovem endinheirado
americano pode implodir a qualquer hora sua própria casa,
sua família e, por que não, o mundo. Basta querer.
A próxima atração da emissora é
um programete de vida real mostrando como vivem as garotas milionárias
de Beverly Hills - Rich Girls. É a miséria afetiva
da civilização do microondas e do DVD, que tem
como única fonte de prazer a tecnologia e a capacidade
de destruição que ela pode disseminar pelo planeta.
Os
dois primeiros programas, The Osbournes Show, Dismissed, tiveram
versão nacional - o Família MTV e a Pé
na bunda. Aparentemente, as versões escancaradamente
mais leves das versões nacionais se devem mais às
dificuldades de produção - no programa dos Osbournes,
até o cachorro tem uma câmera somente para acompanhar
suas estripulias - do que a alguma tentativa de criar algo diferenciado.
Enquanto
isso, em novembro de 2003, os candidatos democratas às
eleições presidenciais norte-americanas foram
ao ar na MTV assumindo que já haviam fumado maconha,
[15] num debate que reforçou a posição
de Bush e dos republicanos. Howard Dean, ex-governador de Vermont
e líder nas pesquisas entre os democratas, e John Kerry,
senador por Massachusetts, disseram em debate ao vivo na MTV
já terem usado a droga. O terceiro pré-candidato
tido como um dos favoritos para a nomeação do
Partido Democrata, o general da reserva Wesley Clark, respondeu
que ''jamais'' fumou maconha.
Na
campanha de 1992, o ex-presidente Bill Clinton (1993-2001),
cunhou a famosa frase ''fumei, mas não traguei'' ao ser
questionado sobre o tema - um tabu na política americana
e na brasileira. Em 1996, o ex-presidente Fernando Henrique
Cardoso, então candidato, protagonizou episódio
semelhante. Divididos, os democratas perderam pontos para seu
principal adversário, o presidente George W. Bush (republicano).
Mesmo a situação americana no Iraque teve papel
secundário. A economia, em forte recuperação
e anteriormente considerada o ponto fraco de Bush, sequer foi
mencionada no debate. É a MTV em campanha.
É
provável, entretanto, que a franqueada brasileira, agora
autônoma, tenha novidades para 2005. Atenta às
novas perspectivas que se abrem, a holding Grupo Abril vai investir
em uma nova unidade de negócios, a de televisão.
O diretor-geral da MTV, André Mantovani, irá comandar
a unidade, que terá a tarefa de implantar uma produtora
de televisão.
Ainda
não há nada definido, mas o primeiro movimento
da produtora deverá ser a criação de formatos
de programas com as marcas das revistas da Abril. O programa
da Capricho, exibido há um mês pela MTV, deve passar
a ser realizado pela nova produtora - atualmente, é realizado
pela produtora Pródigo. Um projeto semelhante, com a
Superinteressante, está em estudos.
A
idéia do Grupo Abril não é só gerar
programas para a MTV ou TVA, mas também comprar espaços
e fazer parcerias com outras redes abertas. Jornalistas da Editora
Abril já estão passando por um processo de treinamento,
acompanhando e participando das transmissões da All TV,
canal de tevê na internet e na TVA de São Paulo.
Há
projeto também de criação de uma segunda
MTV, para a transmissão paga, só com videoclipes,
como já ocorre em alguns países. No futuro, a
Abril pretende produzir conteúdo para os dois canais
tipo "S" (usados inicialmente para TV paga e que podem
transmitir oito horas por dia de programação aberta),
que possui em São Paulo, o 24 e o 29 - locados para igrejas.
Com a nova unidade, produtos de tevê, como a MTV, deixam
de integrar a unidade jovem da Abril, que inclui revistas.
De
qualquer forma, nada leva a crer que o caminho a ser tomado
pelas novas programações ou ainda por um eventual
investimento na produção cinematográfica
inclua documentários com algum tipo de compromisso com
o público enquanto cidadão, o que poderia ser
sugerido pelo investimento da emissora no documentário
sobre AIDS que ganhou o prêmio Esso, ou ainda na divulgação
e promoção do videoclipe Minha alma, do Rappa,
feito por Paulo Lins, Breno Silveira e Kátia Lund em
2000. Em declaração aos jornais, o diretor-geral
Mantovani afirmou que os filmes a serem produzidos pela MTV
iriam passar longe das favelas, e, provavelmente, do experimentalismo
dos clipes.
O
próximo campo de batalha é a telefonia celular
digital. Ao que tudo indica, a chegada ao mercado brasileiro
dos primeiros aparelhos capazes de transmitir TV ao vivo deverá
trazer à tona uma disputa silenciosa entre emissoras
e operadoras de celulares. À frente das concorrentes
no estudo sobre a nova tecnologia, a Rede Globo teme que as
teles sejam liberadas a distribuir televisão sem seguir
leis da radiodifusão, uma preocupação inédita
em sua trajetória. No Brasil, emissoras de televisão
e rádios só podem ter 30% de capital estrangeiro.
Já no celular, uma empresa completamente estrangeira
teria a possibilidade de transmitir televisão.
Um
dos grandes interesses das emissoras no celular é a possibilidade
de transmissão móvel. Assim, as emissoras não
perderiam, por exemplo, a audiência de quem está
no ônibus a caminho de casa. Ainda sem definição
no Brasil (o governo anunciou que decidirá, em março
de 2005, qual sistema será usado no país), a nova
televisão acabou atropelada pelo celular. A Rede Globo
aposta na digitalização e acredita que os brasileiros
tenham acesso a ela a partir de 2007. A televisão no
celular foi desenvolvida para a conexão individualizada,
em que cada consumidor escolhe o que quer assistir e paga por
isso. Para ele, não seria economicamente viável
transmitir gratuitamente o mesmo conteúdo do televisor
convencional simultaneamente no telefone móvel. Já
com a emissão digital, o telespectador não teria
de pagar pela transmissão, como ocorre atualmente.
Notas
1
O contrato de licensing se deu com a Televisão Abril
S/A. A holding Grupo Abril só foi anunciada no dia 8
de julho de 2004, bem como a inclusão do parceiro internacional,
a Capital Inc.. Disponível em www.abril.com.br na seção
sala de imprensa.
2
Com relação ao franchising, a legislação
é mais rígida, com direitos e obrigações
entre franqueados e franqueadores, o que ocorre com empresas
de fast food, como McDonalds, em que o franqueado pode processar
o franqueador caso se sinta prejudicado. Apesar disso, a MTV
Networks se refere a seus licenciados como franqueados. Outra
forma comum de utilização de marcas e produtos
estrangeiros se dá mediante o pagamento de direitos autorais,
especialmente no caso de produtos artísticos.
3
Segundo o jornalista Marcelo Tas, em 1986 teria havido uma outra
tentativa da MTV Networks estabelecer-se no país, a partir
da Rede Manchete. Tas teria sido convidado a montar uma equipe,
que incluía seus parceiros da produtora Olhar Eletrônico,
além de Chris Couto e Kid Vinil, entre outros. Após
seis meses de trabalho e intensa produção nos
estúdios da Manchete, as negociações entre
Adolpho Bloch e a Viacom não avançaram e o negócio
foi desfeito.
4
As características sociais da população
brasileira são acompanhadas regularmente pelo Grupo IBOPE
por meio do Levantamente Socioeconômico, uma pesquisa
que traça operfil da população das principais
regiões metropolitanas do País. O objetivo do
Critério Brasil é medir o poder aquisitivo do
consumidor. Os critérios para classificação
social do País foram estabelecidos pela Associação
Brasileira de Anunciantes (ABA) e ANEP (Associação
Nacional das Empresas de Pesquisa de Mercado), com a participação
da Associação Brasileira dos Institutos de Pesquisa
de Mercado (Abipeme).
5
Zeca Camargo, entrevista efetuada em agosto de 1999 na sede
da Rede Globo em São Paulo.
5
A fusão foi a primeira desde que a Comissão Federal
de Comunicações norte-americano aprovou a nova
regulamentação que permite às empresas
de comunicações serem proprietárias de
até duas estações de televisão em
um mesmo mercado. Embora a comissão impeça que
uma rede de televisão atinja uma audiência superior
a 35% do total dos telespectadores, a nova Viacom passou a controlar
41% da audiência em rádio e TV, citado na tese
A Música Brasileira no Contexto das tendências
internacionais, Adonay Ariza, pg 28.
6
conforme pesquisa Dossiê Universo Jovem, agosto de 1999.
7
Por pastiche ou pasticho designava-se uma espécie de
representação lírica composta de árias,
duetos, tirados de várias óperas, muitas vezes
de autores diversos, com o fim de reunir num só espetáculo,
em rápida sucessão, os seus números de
maior êxito.
8
O programa acabou sendo retirado do ar pela Viacom e advogados
da Viasem, subsidiária da Viacom no Brasil, que entrou
com ação judicial para acusar o apresentador Marcos
Mion e a Band de plagiar os programas "Jackass" e
"The Tom Green Show", da MTV dos EUA. Para a Viacom,
Mion teria plagiado "Jackass" ao atear fogo no corpo,
na estréia do "Descontrole". E imitaria Tom
Green ao registrar a reação de telespectadores
a pseudo-obras de arte. Mion, hoje, ensaia voltar para a MTV
em "Um VJ, um Ator, umas Mentiras...', nome da série
que estreou na MTV no dia 17 de novembro. Irá contar,
com 'algumas invenções', segundo o canal, a história
de Marcos Mion. E será um teste para a MTV investir em
2005 em novela ou seriado.
9
entrevista concedida no dia 4 de maio de 2002, nos estúdios
da TV Cultura, em São Paulo.
10
o cineasta João Moreira Salles desenvolveu um projeto
de pesquisa que trabalha com essa idéia, que foi importante
nos anos 90 como contrapartida ao mito da neutralidade jornalística.
11
em depoimento prestado para a dissertação de TCC
"MTV do alternativo ao pop", de Renata Pucci et alli,
Faculdade Anhembi-Morumbi, 2001.
12
A MTV tem ainda o VH1, lançado em 1 de janeiro de 1985
e relançado em outubro de 1994, exibindo vídeos
clássicos e concertos de música em versão
original, destinado ao público mais velho, de 18 a 49
anos.
13
O grupo Time-Life era vinculado à área mais reacionária
e retrógrada do Partido Republicano, e mantinha predominantemente
em países como o nosso, bases anticomunistas. Em 1962,
a Globo assinou com Time-Life dois contratos e passou a ser
subvencionada por milhões de dólares, desbancando
a concorrência. Os milhões de dólares injetados
a partir do contrato, ilegal pela legislação da
época, foram justificados em na CPI que investigou o
acordo pelo Dr. Roberto Marinho como um empréstimo pessoal.
14
Folha de S.Paulo, Caderno Ilustrada, pág E14, Edição:
São Paulo Apr 26, 2003.
15
"Democratas admitem já terem fumado maconha",
Folha de S.Paulo, Editoria: Mundo, pág A12, Edição:
São Paulo Nov 6, 2003, de Fernando Canzian.
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lança marca de preservativo - 17/05/2004. Além
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