Artigos
A
TV Senado e as Transformações
na Atividade Político-Parlamentar
no Senado Brasileiro
Por
Luiz Carlos Santana*
Resumos:
Português
- Este artigo revela os resultados de uma pesquisa sobre
o papel de uma importante emissora legislativa brasileira, neste
caso a TV Senado, nas transformações na atividade
dos parlamentares. Os dados demonstraram um grande incremento
na produção legislativa e os senadores confirmaram
em entrevistas que o canal ajudou a melhorar a imagem do Senado
perante a opinião pública.
Inglês
- This article discloses the results of a research
about the paper of an important Brazilian legislative television
channel, in this case the TV Senate, on the transformations
of the parliamentarian activities. The data had demonstrated
a great increment in the legislative production and the senators
had confirmed in interviews that the legislative channel helped
to improve the image of the Senate before the public opinion.
Palavras-chave
Comunicação e Política; Midiatização
do Parlamento; Televisão Legislativa; TV Senado (Brasil).
Introdução
A
novidade da televisão legislativa no Brasil ainda é
pouco estudada, configurando uma lacuna a ser suprida no campo
de conhecimento que relaciona a Mídia e a Política.
O objetivo principal da pesquisa realizada em 2003 foi demonstrar
que o advento da TV Senado, considerada uma referência
entre os canais legislativos brasileiros, determinou uma série
de mudanças na atividade político-parlamentar
no Senado brasileiro, tendo, inclusive, incrementado a dinâmica
do trabalho de elaboração de leis e fiscalização
do Poder Executivo.
Conforme
as hipóteses desenvolvidas, após a implantação
da TV Senado, teriam aumentado a presença física
dos senadores nas reuniões em plenário e nas comissões
temáticas, o número de audiências públicas
nas comissões temáticas, o número de projetos
e requerimentos apresentados no Plenário e nas comissões,
a quantidade e a duração dos pronunciamentos.
Além disso, teria diminuído a freqüência
dos discursos "dados como lidos" apresentados à
Mesa Diretora.
No
decorrer da investigação, privilegiei o levantamento
de dados sobre as atividades no Plenário, local onde
se concentra a parte mais relevante do trabalho parlamentar:
a discussão e a votação finais das matérias.
Sobre o possível aumento da atividade nas comissões,
comparo o número de comissões e subcomissões
permanentes e temporárias, inclusive as comissões
de inquérito.
Em
suma, esta pesquisa procurou avaliar como o funcionamento do
canal de televisão encarregado de divulgar a atividade
legislativa diretamente ao cidadão, sem o corte editorial
da mídia tradicional, alterou rotinas estabelecidas ao
longo de quase dois séculos na atividade político-parlamentar
no Senado brasileiro.
O
trabalho não tratou de mudanças estéticas
ou do comportamento individual dos senadores. Claro que os aspectos
visuais têm grande peso em se tratando de televisão.
Entretanto, no que tange ao objeto desta pesquisa, procurei
identificar as transformações objetivas determinadas
pelo advento da TV Senado, que, como afirma o experiente senador
Pedro Simon, representa "um fato novo que está fazendo
uma revolução, permitindo que a sociedade acompanhe,
olhe e fiscalize as ações dos senadores".(1)
Os dados que serão apresentados a seguir demonstram que
essa "revolução" diz respeito a uma
nova postura da maioria dos parlamentares, notadamente preocupados
em se mostrarem mais eficientes no cumprimento do mandato eletivo.
Uma
das críticas mais recorrentes da sociedade em relação
à atividade político-parlamentar está relacionada
à presença e à participação
efetiva dos políticos eleitos no trabalho legislativo.
Neste aspecto, esta pesquisa levantou números que revelam
objetivamente que, depois da implantação do canal
próprio de televisão, a atividade político-parlamentar
teve um expressivo incremento quantitativo que trouxe conseqüências
qualitativas.
Primeiramente,
são apresentados os dados apurados em duas frentes específicas:
informações colhidas nos registros oficiais do
Senado, mais precisamente nos anos de 1995 (anterior ao início
das atividades da TV Senado) e 2003 (com exceção
do número de oradores inscritos, para o qual não
havia registros antes de 1998); e dados apurados junto aos senadores
por meio de questionários escritos, entrevistas exclusivas
ao autor e depoimentos publicados.
Em
seguida, os dados apurados no levantamento são confrontados
com opiniões de senadores sobre o papel determinante
da TV Senado nas mudanças da atividade político-parlamentar
e com as hipóteses apresentadas no projeto que norteia
esta pesquisa.
Comparação
das atividades parlamentares em dois períodos
Para
efeito de comparação, foram escolhidos os números
apurados nos anos de 1995 e 2003, a respeito das atividades
legislativas. Estes anos oferecem características semelhantes:
renovação de dois terços dos senadores
e primeiro ano de uma legislatura.(2) Em 1995, a TV
Senado ainda não estava funcionando, tendo em entrado
no ar em fevereiro do ano seguinte. Em 2003, o canal já
tinha sete anos de funcionamento e apresentava resultados e
provas de consolidação perante a opinião
pública e dentro da estrutura do Senado.
Todos
os dados foram obtidos nos registros oficiais do Senado, na
página do órgão na Internet e por meio
de pesquisa na sua Secretaria de Arquivo.
Número
de proposições apresentadas
A
primeira questão analisada diz respeito ao número
de iniciativas parlamentares no sentido da produção
legislativa. Neste grupo, estão incluídos os projetos
de lei, de resolução, emenda à Constituição,
decreto legislativo, lei complementar, entre outras iniciativas
legais. Tais matérias compõem a essência
do trabalho legislativo, ou seja, a elaboração
das leis. Verifica-se um crescimento expressivo no número
de matérias apresentadas em 2003 em relação
a 1995, o que reflete um aumento proporcional na carga de produção
legislativa do Senado.
Em
1995, foram apresentadas 652 proposições. Em 2003,
foram 1.464, configurando um crescimento de 124,5%.
É
preciso destacar que cada proposição precisa passar
por várias etapas, análises e defesa de parecer,
até que seja definitivamente votada. Todas as fases -
entre elas, leitura no Plenário, indicação
do relator, apresentação, discussão, votação
do parecer e deliberação final - contam com a
cobertura dos veículos de comunicação da
casa.
A
maioria das etapas (exceção para as essencialmente
administrativas) é transmitida pela TV Senado, conforme
escalas de prioridade definidas pela direção da
emissora, que define quais serão transmitidas ao vivo
e quais serão gravadas para exibição posterior,
no decorrer da programação.
A relação do aumento do número de proposições
com o funcionamento do canal legislativo é relevante.
Um senador que não quis ser identificado afirmou que
quanto mais matérias um parlamentar apresentar, mais
chances ele tem de conseguir visibilidade em relação
aos telespectadores-eleitores.
"Uso
da palavra" pelos senadores
Em
1995, foram contabilizados 2.515 pronunciamentos. Em 2003, foram
4.214, ou seja: houve um crescimento de 67,5% no número
de discursos durante as reuniões no Plenário do
Senado.
Segundo
Raimundo Carreiro, (3) secretário geral da Mesa
do Senado, o aumento do uso da palavra, depois do início
das transmissões ao vivo das sessões, só
não foi maior por causa das limitações
constantes do Regimento Interno, que regula o tempo para a manifestação
dos senadores.
Carreiro
informou, também, que, quando não havia transmissão
ao vivo das sessões pela TV Senado, prevalecia o chamado
voto simbólico ou voto de lideranças e, ainda,
o instrumento pelo qual as líderes dos partidos ou blocos
partidários encaminham a votação, orientando
as respectivas bancadas. Neste último caso, cada senador
apenas confirmava ou não a orientação na
hora de registrar o seu voto, sem usar a palavra.
Número
de oradores inscritos
Regimentalmente,
o senador se inscreve para "usar a palavra" e tratar
assuntos de sua escolha, antes e durante as sessões.
Assim que chega a sua vez, o parlamentar é chamado pelo
presidente da sessão e pode se pronunciar oralmente durante
até vinte minutos no período que antecede a Ordem
do Dia (votações) e cinqüenta minutos, depois
da Ordem do Dia.
O número de oradores inscritos passou de 289 em novembro
e dezembro de 1998 (média de 9,6 por sessão),
para 485, nos mesmos meses de 2003 (média de 18,6 por
sessão). Houve um crescimento da média de pronunciamentos
por sessão da ordem de 93,6%.
Discursos
enviados à publicação e "dados como
lidos"
Além
dos discursos efetivamente proferidos pessoalmente no Plenário,
o senador pode, regimentalmente, requerer à Mesa Diretora
que envie pronunciamentos para serem publicados na ata da respectiva
sessão. Trata-se do discurso "dado como lido".
Como
os dados relativos a este não estão discriminados
nas atas publicadas em 1995, não foi possível
compará-los com os números de 2003. Entretanto,
o secretário geral da Mesa Diretora do Senado, Raimundo
Carreiro, (4) que trabalha na área há
mais de vinte anos, garante que a quantidade de discursos enviados
à publicação praticamente triplicou nos
últimos oito anos.
Este
dado é o único que não correspondeu às
expectativas das hipóteses apresentadas no projeto da
pesquisa. O procedimento de enviar discursos à publicação,
sem a efetiva leitura na tribuna, não diminuiu, depois
da implantação da TV Senado.
Ainda
segundo José Carreiro, o número de discursos dados
como lidos aumentou porque muitos senadores se inscrevem para
usar a tribuna do Plenário, mas a concorrência
com os demais, principalmente com os líderes partidários
que têm preferência regimental cresceu muito, depois
que as sessões passaram a ser transmitidas ao vivo. Muitos
deles desistem de esperar a vez e decidem pedir a publicação.
Portanto,
apesar de contrariar a expectativa inicial, estes resultados
estão em consonância com a hipótese principal.
Conforme já demonstramos, o número de oradores
inscritos para discursarem no Plenário praticamente dobrou
entre 1998 e 2003. Somando este fato às limitações
quanto ao uso da palavra previstas no Regimento Interno do Senado,
sobra pouco tempo para que cada senador consiga fazer seus discursos
pessoalmente. Isso estimula os mesmos a solicitarem à
Mesa Diretora que os discursos sejam dados como lidos e publicados
na ata da respectiva reunião.
Número
de sessões plenárias
Este
item sofreu uma pequena redução no período.
Foram 227 sessões plenárias em 1995 e 220, em
2003. Mas, de maneira tangencial, os dados sugerem que a maior
visibilidade do processo legislativo, proporcionada pela TV
Senado, mudou antigos costumes no parlamento brasileiro.
O
senador Pedro Simon (5) confirmou que era comum a Mesa
Diretora convocar várias reuniões deliberativas
no Plenário do Senado para um mesmo dia, para efeito
de contagem de prazos regimentais, quando de interesse das lideranças.
Hoje em dia, essa prática não é mais recomendada
pelos parlamentares, preocupados com a repercussão negativa
na opinião pública, considerando que isso poderia
ser visto como um artifício para burlar o trâmite
exigido para as matérias.
Podemos
verificar que os congressistas, mais fiscalizados pela sociedade
graças aos holofotes da televisão legislativa,
evitam atitudes que possam ser consideradas casuísticas.
Prova disto é que, em dezembro de 2003, foram realizadas
sessões nos fins de semana - dois sábados e um
domingo - para que fossem contabilizadas para contagem de prazo
previsto no regimento, para análise de matérias
que precisavam ser votadas ainda naquele ano: as reformas da
previdência social e do sistema tributário, de
interesse da maioria governista.
Número
de comissões permanentes
O
Senado divide o trabalho de análise preliminar das propostas
em comissões permanentes. A distribuição
das matérias é feita pela Mesa Diretora e definida
por temas específicos. São os membros das comissões
que elaboram os pareceres que vão à votação
final no Plenário da casa.
Em
1995, havia 7 comissões temáticas permanentes:
Assuntos Econômicos; Assuntos Sociais; Educação;
Fiscalização e Controle; Serviços de Infra-estrutura;
Relações Exteriores e Defesa Nacional; e Constituição
Justiça e Cidadania. A estas foi somada a de Legislação
Participativa, CLP, em 2003. A criação desta comissão
também tem relação com a busca de maior
transparência no relacionamento do parlamentar com o cidadão,
cujo maior elo de ligação é o aparelho
de comunicação social, especialmente o canal de
televisão.
Número de comissões temporárias e subcomissões
temporárias e permanentes
Em
1995, foram constituídas 11 comissões temporárias
internas e externas. Em 2003, funcionavam no Senado 18 subcomissões
temporárias e permanentes.
Os
membros de comissões temporárias e de subcomissões
permanentes e temporárias podem convocar audiências
públicas. Todas as reuniões de caráter
oficial realizadas no âmbito do Senado são registradas
pela TV Senado para transmissão ao vivo ou exibição
posterior, conforme as prioridades da programação.
Número
de comissões parlamentares de inquérito
A
CPI é um grupo de trabalho criado com base em dispositivos
constitucionais (6) que visam garantir aos parlamentares
a possibilidade de investigar denúncias e indícios
de crimes e possíveis ilegalidades que envolvam autoridades
constituídas.
Em
1995, havia 2 comissões parlamentares de inquérito
instaladas. Em 2003, funcionavam 6 delas, o que representa um
crescimento de 150%.
Este dado é bastante revelador, pois uma CPI costuma
atrair muito o interesse da opinião pública, por
apresentar, com transparência, um processo de investigação
ao qual o cidadão comum não tem acesso tão
fácil, quando é feito pela polícia judiciária
ou pelo Ministério Público.
O
senador Ramez Tébet (7) concorda que podemos
dizer que o aumento da visibilidade proporcionada pela TV Senado
vem estimulando os senadores a instalarem comissões parlamentares
de inquérito. Todo o processo que envolve a criação
e o funcionamento de uma CPI é alvo do foco da mídia
em geral, por causa dos desdobramentos quase sempre imprevisíveis
das investigações.
Tebet
afirmou que, especialmente nestes momentos, a opinião
pública volta seus olhos para o Parlamento, interessada
em acompanhar o trabalho dos congressistas, numa situação
que se exige deles um dos seus objetivos maiores que é
resguardar a transparência das atividades dos homens públicos.
Avaliações
dos senadores
Apuradas
as informações sobre as mudanças substanciais
na atividade político-parlamentar no Senado, num período
de oito anos, procurei verificar com os próprios senadores
se o advento da TV Senado teve papel determinante em tais transformações.
Foram
distribuídos 62 questionários (8) para
duas categorias de senadores: os 39 que acabavam de assumir
o primeiro mandato em 2003 pela primeira vez e os 23 que já
estavam no Senado com pelo menos dois mandatos ou foram reeleitos
em 2002.
Esta
distinção entre as duas categorias se justifica
porque, para os efeitos desta dissertação, era
importante verificar as expectativas e como os novos senadores
avaliam a TV Senado no seu primeiro ano de mandato, e saber
se e como os mais experientes buscaram adaptar sua atividade
às especificidades da nova ferramenta comunicacional
proporcionada pelo canal de televisão próprio.
Avaliações
dos novos senadores empossados após a consolidação
da TV Senado
Entre
os 39 parlamentares que estrearam no Senado em 2003, 22 responderam
ao questionário. Quase três quartos (72,7%) já
conheciam a TV Senado e suas expectativas com relação
ao veículo foram confirmadas.
Todos
concordaram que a TV Senado ajuda a ampliar o campo de atuação
do trabalho do parlamentar. Os senadores afirmaram que a emissora
possibilita aproximação e interatividade com a
comunidade, transparência, divulgação das
idéias e posições do parlamentar, rompimento
de barreiras para com a sociedade, informação,
participação e avaliação por parte
do eleitor.
A
senadora Fátima Cleide destacou que a programação
permite que os senadores participem de debates que dizem respeito
ao dia-a-dia do país. Dois lamentaram que o acesso ao
sinal ainda não esteja ao alcance da maioria da população,
sendo que todos avaliaram a atuação da TV Senado
como ótima ou boa.
Dezesseis
dos vinte e dois senadores (81,8%) afirmaram que o parlamentar
mais preparado para a linguagem e os padrões televisivos
tem mais sucesso na sua atuação no âmbito
do parlamento. Assim, pode-se dizer que os congressistas confirmam
o que já discutimos sobre o papel central da mídia
no que Bernard Manin chama de "democracia dos públicos"
e sobre a constatação de Joshua Meyrowitz de que
a presença da Câmera de televisão altera
a natureza dos eventos.
A
totalidade dos entrevistados respondeu que, mesmo para um plenário
com a presença de poucos senadores, ou mesmo vazio, vale
a pena fazer pronunciamentos pessoalmente da tribuna. Para catorze
senadores, isto se justifica por causa a transmissão
pela TV Senado. O objetivo é atingir o público
externo e não somente os colegas no Plenário.
Dezesseis senadores reconheceram que já fizeram discursos
quando no Plenário havia menos de cinco congressistas.
Fica
claro na análise destes dados que os novos senadores
vêem a TV Senado como uma importante ferramenta para o
seu trabalho parlamentar. É interessante destacar, também,
que os parlamentares buscam ampliar o seu campo de atuação,
utilizando o veículo para manifestar suas opiniões
e posições e mostrar seu trabalho no âmbito
do Parlamento.
Assim,
entendem que podem atingir um público que está
além dos limites físicos do Senado, travando um
diálogo com a sociedade e, principalmente, o eleitorado.
Outro ponto a destacar é que alguns reconhecem que a
TV Senado possibilita a avaliação dos senadores
pelos eleitores sem que estes precisem sair de suas casas.
Outro
dado que ilustra o reconhecimento pelos senadores em primeiro
mandato da importância de se buscar um diálogo
com o eleitor através da transmissão pela TV Senado
é que vários deles, ao iniciar seus pronunciamentos,
saúdam os telespectadores, além dos presentes
no Plenário.
Baseado
numa observação não sistemática
no decorrer do ano de 2003, posso afirmar que, entre os que
usam com maior freqüência esse artifício,
estão os senadores Paulo Paim, Mão Santa, Ideli
Salvati, Ana Júlia Carepa, Fátima Cleide, Sibá
Machado, Almeida Lima, Demóstenes Torres, Flávio
Arns, João Capiberibe, Leonel Pavan, Paulo Octávio,
Serys Slhessarenko, Hélio Costa, Marcelo Crivella e Sérgio
Zambiasi.
Avaliações
dos senadores reeleitos ou com mais de um mandato
Entre
os 23 senadores nesta situação, 13 responderam
ao questionário. Todos notaram mudanças no modo
de se fazer política no ambiente parlamentar e enumeraram,
principalmente, as seguintes: maior participação
dos parlamentares no Plenário e nas comissões
e maior uso da tribuna e preocupação com a postura.
Por
outro lado, os mesmos senadores afirmaram que não passaram
a usar mais a tribuna para fazerem pronunciamentos pessoalmente,
não mudaram o estilo dos discursos para adequá-los
à linguagem televisiva e não passaram a participar
mais das reuniões no Plenário e nas comissões
temáticas.
Porém, todos concordaram que, mesmo para um Plenário
com poucos senadores, vale a pena fazer pronunciamentos pessoalmente.
Reconheceram,
ainda, que a TV Senado ajuda a ampliar o campo de atuação
do trabalho do parlamentar. Dois terços deles afirmaram
contar com a transmissão pela TV Senado para atingir
o público externo e não somente os colegas no
Plenário e reconheceram já terem feito discursos
quando no Plenário havia menos de cinco senadores.
A
avaliação da atuação da TV Senado
entre os senadores com mais de um mandato é ótima
ou boa.
Interessante
verificar que os senadores mais antigos reconheceram que, depois
da implantação da TV Senado, houve mudanças
de postura, aumento no uso da tribuna e maior presença
de parlamentares no Plenário e nas comissões.
Entretanto, os treze senadores afirmaram não terem mudado
o comportamento e o estilo dos discursos.
Avalio
que esta posição revela, entre os políticos
mais velhos, uma atitude de reação ao poder transformador
do veículo televisão nos mais diversos campos,
incluindo a política. Talvez por este motivo, senadores
que estão na cena política há mais tempo
resistam mais em reconhecer abertamente, como a grande maioria
dos novos senadores que responderam ao questionário (81,8%),
que o parlamentar mais preparado para a linguagem e os padrões
televisivos tem mais sucesso na sua atuação no
âmbito do parlamento.
Conclusão
A
partir dos dados numéricos levantados e das avaliações
dos próprios senadores, conclui-se que foi confirmada
a hipótese central desta pesquisa: o advento da TV Senado
determinou mudanças substanciais na atividade político-parlamentar
no Senado.
Esta
afirmação se baseia principalmente no substancial
incremento da atividade parlamentar, tendo em vista a constatação
do grande aumento do número de iniciativas legislativas
e de fiscalização por parte dos senadores e a
maior participação destes em todo o processo de
elaboração de leis e de discussão das questões
nacionais no Plenário.
Mais
do que consolidar uma nova categoria de televisão, a
ascensão dos canais legislativos influenciou na dinâmica
dos trabalhos parlamentares. A investigação aqui
relatada revelou evidências sobre transformações
importantes relacionadas à quantidade e à qualidade
do trabalho dos senadores brasileiros, depois da implantação
da TV Senado.
Outra
conclusão da pesquisa é que o cidadão-telespectador
e a sociedade em geral foram os grandes beneficiados com a criação
da televisão legislativa, em especial a TV Senado. A
presença física e o trabalho dos parlamentares
nas reuniões aumentaram bastante nos anos seguintes à
implantação da emissora.
Os
senadores também reconheceram que se sentem mais fiscalizados
pelos seus eleitores. Paulo Paim (PT-RS) chega a parodiar a
atividade parlamentar atual, comparando-a a uma espécie
de Big Brother legislativo, segundo o qual quem não aparece
fazendo um bom trabalho é deixado fora da "casa"
nas eleições seguintes.
Os
resultados sugerem que, além de dar maior transparência
ao processo legislativo, como esperava o então presidente
do Senado, senador José Sarney, no discurso de inauguração
da TV Senado em 1996, a emissora ajudou a imprimir um ritmo
mais dinâmico à atividade político-parlamentar.
Com
o advento do canal próprio de televisão, o Senado
mudou, e para melhor, se levarmos em conta a acusação
contumaz, depreendida do senso comum e estimulada pela mídia
tradicional, de que o Poder Legislativo tem um custo de manutenção
muito alto e oferece poucos resultados práticos para
a sociedade contribuinte.
Apesar
da dificuldade de estabelecer uma relação causal
efetiva, os dados sugerem que a busca por maior visibilidade
nas transmissões televisivas de todas as etapas do processo
legislativo teve conseqüências importantes nas atividades
dos senadores e no funcionamento do Senado brasileiro. Os próprios
parlamentares reconheceram em entrevistas o papel determinante
da TV Senado nas mudanças.
O
perfil dos senadores também está mudando. Enquanto
os novos, eleitos pela primeira vez em 2002, acreditam que o
parlamentar mais preparado para a linguagem e os padrões
televisivos tem mais sucesso na sua atuação parlamentar,
os que já estão no Senado há mais de um
mandato dizem que preferem não mudar o estilo dos discursos
para adequá-los às especificidades do veículo.
O
advento da TV Senado foi um divisor de águas na história
do Senado brasileiro. O fato de poder levar ao cidadão
as informações sobre as atividades legislativas,
sem o corte editorial da mídia tradicional, vem ampliando
o campo de atuação do parlamentar.
Notas
(1)
Freire, Sílvia. "Para Pedro Simon, violação
do painel comporta cassação", Folha Online,
em 22/05/2001.
(2)
Cada período de quatro anos é chamado regimentalmente
de "legislatura", que compreende a metade do mandato
de um senador e começa no ano seguinte a cada eleição
para o Senado. 1995 - primeiro ano da 50ª Legislatura.
2003 - primeiro ano da 52ª Legislatura.
(3)
Entrevista ao autor em julho de 2003.
(4)
Entrevista ao autor em julho de 2003.
(5)
Entrevista ao autor em abril de 2004.
(6)
Artigo 58, parágrafo 3º, da Constituição
Federal de 1988.
(7)
Entrevista ao autor em 02/04/04.
(8)
Veja modelos nos Anexos 1 e 2.
*Luiz
Carlos Santana é jornalista profissional, professor e Mestre
em Comunicação pela Universidade de Brasília.
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