Nº 11 - Fev. 2009
Publicação Acadêmica de Estudos sobre Jornalismo e Comunicação ANO VI
 

 

Expediente
Ombudsman: opine sobre a revista Ombudsman: opine sobre a revista

Vinculada
à Universidade
de São Paulo

 
 

 

 


 

 

 

 

 

 



ARTIGOS
 

Hezbollah, Israel e terrorismo
A “fórmula mágica” da mídia

Por Renatho Costa*

RESUMO

Seria estranho, se não fosse pelo emprego de uma nova tática de ação, que uma organização islâmica fundamentalista como o Hezbollah tivesse se tornado tão famosa no âmbito regional do Oriente Médio quanto no Ocidente.

Reprodução


Apesar de sua grafia adventícia para os padrões ocidentais e de contemplar um significado complexo, haja vista sua tradução literal ser “Partido de Deus” e esse ser um dos versos do sagrado Corão [1] – que conclama a população islâmica para fazer parte do “Partido de Deus” –, o Hezbollah é conhecido, admirado e odiado por muitos.

Que tática teria sido essa para uma organização nascida no princípio da década de 1980, com um país – Líbano – atolado numa guerra civil e que dizimou parte de sua população [2] alcançar esse status?

PALAVRAS-CHAVE: Internacional / Discurso Jornalístico / Análise de Conteúdo

1. O meio ideal para a propagação do terrorismo

Uma resposta possível para essa questão poderia estar ligada diretamente ao que se convencionou chamar de terrorismo. Tática essa escolhida pelo Hezbollah para colocar em prática na luta por seus objetivos. Independentemente da legitimidade de sua causa, o que caberia até uma análise mais profunda, a partir do momento que o Hezbollah passou a colocar em prática ações terroristas contra o Estado de Israel, os inimigos maronitas etc., conseguiu obter um ganho substancial de status múltiplo, ou seja, perante os movimentos políticos árabes e islâmicos e, concomitantemente, no seu relacionamento com os atores políticos internacionais, de modo geral.

Por outro lado, o reconhecimento do Hezbollah como organização detentora de grande potencial “de fogo” só foi alavancado porque existe um terceiro ator nessa história conhecido por mídia. E, sem sombra de dúvidas, ela necessita de novidades para sobreviver e o Hezbollah conseguiu alimentá-lo por muito tempo. Assim, talvez possamos concluir que, grande parte do status adquirido pelo Hezbollah se deveu às inúmeras manchetes que ganhou nos principais jornais e revistas do mundo, quando colocou em prática as suas ações terroristas.

Quando chegamos a esse ponto do desenvolvimento desse raciocínio somos obrigados a parar e analisar mais profundamente o que vem a ser terrorismo e se a mídia tem, de fato, alguma responsabilidade quando se torna a maior divulgadora dos fatos. Por outro lado, quando atribuímos a uma determinada organização a classificação de terrorista, estamos determinando exatamente o que vem a ser, ou a utilização desse termo atende a interesses outros?


Fig. 1. "Equação" terrorista.

Assim, quando analisamos a tática que as organizações terroristas utilizam para disseminar o terror e, conseqüentemente, fazer com que suas causas alcancem os objetivos propostos, logo nos deparamos com o paradigma do terror. Esse modelo consiste, basicamente, em atacar o seu adversário – ou um de seus aliados que exerça algum tipo de influência sobre o primeiro – no intuito de abalá-lo psicologicamente e, ao mesmo tempo, fazer com que outras pessoas saibam que existe alguém (ou alguma organização) que luta por uma causa específica.

E, para que tenhamos especificamente uma ação terrorista, essa causa deve ter uma finalidade política. Caso contrário, apesar de estarmos diante do emprego da violência, não poderíamos classificá-la como terrorismo, mas sim outro tipo de crime qualificado.

Nesse sentido, a divulgação das ações terroristas acaba sendo imprescindível para o fortalecimento das organizações, uma vez que reverte em mais adeptos para a causa. Por outro lado, quando se opta por utilizar a tática terrorista, automaticamente subentende-se que o objetivo da ação não está ligado diretamente à destruição do alvo atingido. Não se explode um ônibus repleto de crianças porque pretendia, simplesmente, eliminá-las.

Ao explodir um ônibus e matar dezenas de passageiros, pretende-se, com isso, desestabilizar toda a população local e fazer com que ela se sinta vulnerável. Assim, pretende-se que as reivindicações políticas da organização sejam mais facilmente aceitas, ou negociáveis. No entanto, nem sempre essa ação terrorista intimida e leva à negociação, existe uma terceira possibilidade que, muitas vezes, gera o recrudescimento do ator afetado pela ação.

Fig. 2. A repercussão dos atentados.

Exemplo dessa postura podemos encontrar no caso dos atentados palestinos contra o Estado de Israel, ali, o resultado acaba sendo o endurecimento das ações do governo através da eleição da Direita, que, por sua vez, avessa a qualquer tipo de negociação com organizações terroristas, acaba combatendo-as com mais dureza e, como efeito colateral, atingindo a população. Whittaker, ao citar Martha Crenshaw, enfatiza outros aspectos do terrorismo que acabam por repercutir nas sociedades assim que os atentados são praticados:

Uma razão para o poder do terrorismo como rótulo político, e daí para a controvérsia que suscita, não é só sua utilidade, mas também o seu apelo simbólico. O terrorismo adquiriu um valor político que pode sobreviver aos fracassos estratégicos de curto prazo. Ele persiste malgrado os resultados negativos. Projeta imagem, comunica mensagens e cria mitos que transcendem as circunstâncias históricas e motivam gerações futuras. Tais mitos podem ser, é óbvio, enganadores ou contraditórios. (...) É verdade que muito terrorismo (em especial nas suas formas mais discriminadoras) pode gerar admiração pela ousadia e repúdio pela crueldade. É fácil para o terrorismo se transformar no gume de um movimento e definir uma ideologia. Inegavelmente, ele detém uma aura de glamour perversamente trágico (Cf. 2005, p. 34).

Utilizado a terminologia de Crenshaw, é na “aura de glamour perversamente trágico” que reside a atuação da mídia. Ela tem o poder de propagar o efeito das ações e dos fatos, fazendo com que eles alcancem objetivos diversos. A mídia, devido ao seu poder, pode fortalecer uma causa ou esvaziá-la.

No entanto, como a mídia necessita de novidades a cada dia, e as organizações terroristas oferecem manchetes chamativas para os jornais impressos e televisivos, acabamos sendo obrigados a nos reportar à observação de Crenshaw (citada acima) para explicar esse fascínio, “(...) é verdade que muito terrorismo pode gerar admiração pela ousadia e repúdio pela crueldade”, mas é essa polêmica que eleva os índices de audiência e aumenta a tiragem dos jornais.

Excluindo dessa análise os factóides, é através dessa exposição na mídia que se torna possível trazer à tona as questões pelas quais as organizações se empenham e possibilitar que a opinião pública nacional, assim como internacional, tomem partido. Conseqüentemente, acaba-se por perceber que a divulgação das ações executadas pelas organizações, e mesmo por Estados que utilizaram táticas terroristas para conter ou disseminar o “terror”, alcança um espaço cada vez maior na mídia internacional.

2. Quem aterroriza quem?

No caso específico da questão Líbano/Israel/Hezbollah, é possível afirmar que a mídia desempenhou um papel de extrema importância ao divulgar as ações que pontuaram a trajetória dos conflitos. Apesar dessa reconhecida importância, também deve ser considerado que nem sempre os fatos foram expostos em todas as suas nuances.

Muitas vezes optou-se por reforçar um acontecimento em detrimento de outro. Isso porque os veículos de comunicação estão envolvidos de tal maneira com causas e ideologias que se torna difícil encontrar uma análise isenta.

O próprio Hezbollah, desde cedo, percebeu que deveria utilizar a mídia para fazer com que os libaneses pudessem conhecer ainda mais a causa pela qual lutava, ou seja, a criação de um Estado islâmico, aos moldes do Irã; no entanto, essa causa acabou sendo flexibilizada e o mote principal de sua luta tornou-se a restauração da soberania do país e, consequentemente, a luta contra o Estado de Israel.

Se, por um lado, a criação de um Estado Islâmico abrangia apenas um segmento restrito da população, mais particularmente os seguidores do Hezbollah, por outro lado, com a luta focando a restauração soberania do país, a causa tornou-se libanesa. Apesar de entendermos que o Hezbollah parte de uma proposta fundamentalista, que visaria expurgar todos os elementos intrinsecamente ligados ao Ocidente, a questão relativa à mídia foi deixada de lado. [3]

Essa exceção ao tratar das questões ligadas à tecnologia gera certa desestabilidade na proposta fundamentalista da organização. O questionamento que se faz é simples: atribui-se ao Ocidente a falência da cultura islâmica e parte-se de uma proposta fundamentalista em que tudo o que é relacionado a ele deve ser condenado, como utilizar-se logo da mídia, que tem forte apego com o Ocidente? Por que, então, deve-se utilizar um elemento do Ocidente e outro não, qual seria o critério?

Não é só na questão relativa à mídia que se vê a abertura de precedentes dentro das organizações islâmicas fundamentalistas – prontamente poderíamos elencar outras, tais como a utilização do sistema financeiro internacional, equipamentos militares, informática etc. –, entretanto, esse “instrumento” fez com que se alargasse o front de batalha e potencializasse a luta.

Por outro lado, o fundamentalista mantém uma autocrítica sobre o seu procedimento com relação ao Islã e, segundo Bernard Lewis,
 
Os fundamentalistas muçulmanos [...] não diferem da corrente dominante em questões de teologia e interpretação dos textos sagrados. Sua crítica, em sentido mais amplo, é relativa a toda a sociedade. O mundo islâmico, na opinião desses fundamentalistas, tomou um caminho errado. Seus governantes chamam a si mesmos de muçulmanos e fingem ser o Islã, mas são, de fato, apóstatas que aboliram a Lei Sagrada e adotaram leis e costumes estrangeiros, infiéis. A única solução, segundo eles, é um retorno ao autêntico modo de vida muçulmano, e, para isso, a remoção dos governos apóstatas é um primeiro passo essencial. Os fundamentalistas são antiocidentais no sentido de que vêem o Ocidente como a fonte do mal que está corroendo a sociedade muçulmana, mas seu primeiro ataque está dirigido contra seus próprios líderes e governantes (ex. Xá do Irã em 1979 e Sadat, no Egito, em 1981) (Cf. 2004, p. 40). (Grifos do autor).

Para propagar essa luta contra o Ocidente e os apóstatas do Islã, hoje, o Hezbollah mantém um Departamento de Relações Midiáticas (também conhecido por “Unidade de Informação”) que está ligado, diretamente, ao Conselho Executivo do Partido. Ele é o:

[...] responsável pela divulgação da propaganda política do Hizbullah. Possuindo uma rede de televisão (al-Manar), quatro estações de rádio (al-Nour, al-Iman, al-Islam e Sawt al-Mustad’afin) e cinco jornais (al-Ahd, a-Bilad, al-Muntalaq, al-Sabil e Baqiatou Allah), algumas sem autorização oficial do governo para funcionar [além de uma revista com publicação mensal chamada Qubth Ut Alla  e um website próprio], [esse departamento] caracteriza-se por ter a maior estrutura de comunicação dentre os demais partidos políticos. Durante a ocupação israelense [1982-2000] a rede de televisão al-Manar teve papel de grande relevância para os membros da Resistência ao divulgar mensagens em favor da luta e tentar desmoralizar o Estado de Israel exibindo fotos de seus soldados capturados ou mortos pela Resistência. Mantida por fundos iranianos, donativos de muçulmanos expatriados e por grande quantidade de anúncios comerciais, a ­al-Manar opera com milhões de dólares e possui mais de dez milhões de espectadores. Seu sinal é retransmitido para a África, Europa, América do Norte e América latina, com boletins em inglês e francês. Com o fim da invasão israelense ao Líbano (2000), a rede de televisão passou a dedicar-se a outra causa: apoiar a intifada palestina (Cf. Costa, 2006, p. 189).

O carro-chefe dessa estrutura de comunicação é a TV Al-Manar (que opera por satélite), e, apesar de ela não poder ter a sua estrutura comparada às grandes redes de televisão ocidentais, para o fim a que foi criada, conseguiu desempenhar perfeitamente a função.

3. A estreita e conflituosa legitimidade

Outro aspecto que demanda parcimônia ao discutirmos as ações terroristas e a maneira com que a mídia aborda o tema, diz respeito à legitimidade da luta na qual o Hezbollah se envolveu. Talvez o grande mérito da organização tenha sido encontrar respaldo justamente na dificuldade de conceituação do que é legítimo, ou não, perante a comunidade internacional. Isso porque a legitimidade pressupõe uma uniformidade cultural e de procedimentos, fato esse que não ocorre entre o Islã e o Ocidente – pelo menos não se pode fazer tal afirmativa de maneira generalizadora.

Nesse conflito conceitual, o Hezbollah percebeu que alcançar a legitimidade política para uma causa nem sempre é algo simples, ou seja, por mais que existam determinados procedimentos que sejam aceitos mundialmente por organismos internacionais, nem sempre são consensuais.

E, perante a ausência de definição entre legítimo e ilegítimo para o Ocidente, além da divergência cultural (Ocidente versus Islã), o Hezbollah conseguiu aproximar a sua causa de outras semelhantes respaldadas pelos ocidentais. Ainda, pôde contar com a legitimidade de sua causa já reconhecida pela população xiita libanesa, a qual se manteve fiel a ela e à maneira pela qual a organização optou por pautar sua lutar.

Assim, com a ausência de uma normatização que suplante a legislação interna do Estado, o próprio conceito de legitimidade não é tão facilmente empregado no sistema internacional como o é no âmbito nacional. Disso chegamos a outro questionamento: Entendendo-se que, muitas vezes, a legitimidade está intimamente ligada aos costumes em vigor num determinado período histórico e que quem acaba por ditá-los são os atores que exercem hegemonia sobre o sistema internacional, a análise de uma causa, a partir desse critério, não deve se ater, somente, ao fato em si, mas às questões subjacentes.

Deve-se perguntar: é legítimo por que e para quem? A situação em análise possui similaridade com outras que obtiveram a mesma classificação? Desses questionamentos básicos pode-se partir para uma análise mais aprofundada e verificar se há isenção ao atribuir-se o caráter de legítimo ou ilegítimo a uma luta/causa.

A luta impetrada pelo Hezbollah, primeiramente calcada na retomada da soberania territorial libanesa e, depois, voltada contra a existência do Estado de Israel, apresenta-se como uma perfeita amostra de análise. Isso porque, muitos jornais e revistas noticiaram as inúmeras fases dos conflitos.

Assim, através de uma breve coletânea de reportagens sobre os principais fatos e personagens dos conflitos, procurar-se-á apresentar como a mídia percebeu os atores e como houve alteração de seus perfis ao longo do tempo.

Como não poderia deixar de ser, o Brasil também destinou várias páginas sobre o assunto em seus principais jornais e revistas, que também estarão contidas nesse panorama. Essa proposta de mostrar o que a imprensa noticiou e o que os atores principais dos conflitos disseram em suas inúmeras entrevistas nos meios de comunicação servirá de contraponto para entender como o Hezbollah alcançou notoriedade e como traçou sua trajetória para alcançar seus objetivos.

4. Sharon assume as manchetes, Hezbollah em concepção

Dentre as inúmeras barbáries que aconteceram no Líbano durante o período da Guerra Civil (1975-90), o ano de 1982 ficou marcado pela ação militar israelense “Operação Paz para a Galiléia” e pelo massacre ocorrido em dois campos de refugiados nas proximidades da cidade de Beirute. Sob a liderança de Ariel Sharon, Israel adentrou em território libanês, alcançou a capital do país e a manteve sitiada.

A motivação para tal ação foi expulsar a OLP de Beirute e cessar seus ataques ao norte de Israel. O objetivo foi alcançado; contudo, a passividade dos militares israelenses diante da ação da milícia cristã (Falange) dentro dos campos de refugiados de Sabra e Shatila trouxe à tona uma faceta de Israel que o mundo passaria a condenar e que levaria o líder da invasão a responder perante a comunidade internacional e também internamente (em Israel).


Fig. 3. Time, EUA, 27 set. 1982.

Manchetes de jornais e revistas por todo o mundo estamparam a palavra massacre e ressaltaram a importância da imprensa para impedir que a ação fosse ainda mais trágica. O massacre de mais de 2000 refugiados palestinos durou três dias e, somente foi interrompido porque alguns jornalistas conseguiram adentrar aos campos de Sabra e Shatila e passaram a enviar notícias para seus jornais sobre o que acontecera no Líbano entre 16, 17 e 18 de setembro.

Robert Fisk, jornalista britânico que cobriu a Guerra Civil libanesa para o jornal The Independent, posteriormente publicou o livro Pity the Nation, no qual fez aanálise de um dos períodos mais sangrentos da história contemporânea. No transcorrer de seus relatos, apresentou a impressão que teve sobre Sabra e Shatila.

Eles [palestinos] estavam em toda parte, na estrada, na pista, no quintal e nos cômodos destruídos, de baixo da alvenaria demolida e espalhados do lado de fora do lixo. Os assassinos – os milicianos cristãos que Israel tinha permitido entrar no campo para ‘por para fora os terroristas’ – tinham acabado de sair. Em alguns casos o sangue ainda estava molhado no chão. Quando vimos uma centena de corpos, paramos de contar. Havia corpos – mulheres, jovens, bebês e idosos – caídos em todas as vias; deitados juntos, numa preguiçosa e terrível profusão em que foram esfaqueados e metralhados até a morte. Cada corredor através do entulho produzia mais corpos. Os pacientes do hospital palestino tinham desaparecido depois que o atirador ordenou ao médico que deixasse o lugar. Em toda parte nós encontramos sinais de covas coletivas escavadas apressadamente. Talvez umas mil pessoas tenham sido chacinadas; provavelmente metade daquela quantidade, novamente (Cf. 2001, p. 359-60).

Um dos desdobramentos desse evento se deu na tentativa de responsabilizar Ariel Sharon pelo massacre de 1982 e, para tanto, moveu-se um processo internacional [4] que visa fazer com que o ex-primeiro-ministro seja penalizado por sua ação (ou ausência dela) em Sabra e Shatila.

De fato, com a “Operação Paz para a Galiléia”, Israel conseguiu alcançar seus objetivos, porém, a solução acabou sendo apenas temporária e não evitou a ação de “homens-bomba”, iniciada em 1983, contra alvos israelenses. A partir daí o terrorismo passaria a “enfeitar” as manchetes da história libanesa.

5. Hezbollah terrorista?

A partir da sua criação oficial, em 1985, o Hezbollah passou a ser considerado um grupo terrorista pelos países ocidentais. Com isso, atraiu, cada vez mais, a atenção da mídia. Seqüestros, explosões, atentados etc., tornaram-se freqüentes no Líbano.

Evidentemente que o Estado de Israel retaliava tais ações com o mesmo expediente, ou utilizando seu poderio militar superior para tentar conter o crescimento do Hezbollah.

Da diferença na classificação dos atores executores das ações (Hezbollah é uma Força Paramilitar e Israel, um Estado), também obtemos uma diferença conceitual em sua classificação, qual seja, Israel estaria colocando em prática o Terrorismo de Estado. E, a partir do princípio de que um Estado tem a obrigação de defender a sua população de ameaças internas e externas, teria respaldada a sua tática terrorista.

Evidentemente que o Estado de Israel não assume ser e/ou utilizar de tática terrorista em suas ações, porém, em muitos aspectos as retaliações programas pelo exército de Israel podem se consideradas desproporcionais ou mesmo terroristas.

O grande diferencial nessa luta do Hezbollah contra o Estado de Israel se dava na prática de ações com “homens-bomba”, e, na tentativa de justificar o seu uso e legitimar a causa da organização xiita. Na entrevista concedida pelo Aiatolá Mohamed Hussein Fadlallah à revista Time, em 1996, três meses antes da “Operação Vinhas da Ira”, o líder religioso mesclava conceitos ocidentais que legitimariam a luta pela defesa da soberania libanesa com a advocacia do uso do jihad como legítima dentro do Islã.

Uma flamejante defesa da jihad pelo clérigo xeque Mohammed Hussein Fadlallah

Lara Marlowe; Xeque Mohammed Hussein Fadlallah

Time: Como um Partido de Deus – ou um homem de Deus – sanciona o uso da violência para finalidade política?

Fadlallah: O Corão nos diz, Se você tem uma chance, use a não-violência para transformar os seus inimigos em amigos. Mas se seu destino e liberdade estão em jogo, se alguém ocupa o seu país e você não pode colocar fim à ocupação através de meios não-violentos, então a ocupação é uma violência praticada contra você… Nós não somos pregadores da violência. A Jihad, no Islã, é um movimento defensivo contra aqueles que impõem a violência.

Time: O Hezbollah é considerado um movimento terrorista pelo governo dos Estados Unidos. Ele é?

Fadlallah: Eu acho que não, se ele é acusado de ser terrorista é por causa das ações da Resistência Islâmica no sul do Líbano. Todos aqueles que resistem estão lutando pela sua liberdade, sua terra e seu povo, exatamente como os americanos lutaram contra o colonialismo e como os franceses lutaram contra a ocupação nazista. A presença israelense no Líbano não é legítima, é uma ocupação. A Resolução 425, do Conselho de Segurança das Nações Unidas, demandou pela retirada incondicional de Israel. Os mujahedin do Hezbollah estão exercendo seu direito de lutar contra uma força de ocupação.

Time: Qual será o resultado do processo de paz no Oriente Médio?

Fadlallah: A América quer exercer total dominação sobre o Oriente Médio, e quer que Israel se torne parte integral dessa região. Mas isso não acontecerá, necessariamente. Há um verso no Corão que diz, “Um dia está a seu favor, Um dia está contra você”. [5]

Das palavras de Fadlallah podem ser tiradas algumas conclusões: primeiramente de que o Hezbollah tenta buscar legitimidade para sua luta contra Israel aproximando-se dos movimentos libertários históricos no que tange à analogia das situações vividas por eles (todos lutarem pela restauração da soberania) e nos métodos utilizados para alcançar os seus objetivos. Dessa forma, o Hezbollah obteria grande simpatia perante a opinião pública internacional.

Em segundo lugar, ao afirmar que Israel não se tornará parte da região abrangida pelo Oriente Médio estaria buscando a legitimidade para sua luta junto aos demais grupos/Estados árabes/islâmicos inimigos de Israel. Com isso chegamos è terceira constatação: de que a busca pela legitimidade ocidental possa ser apenas pragmática e, assim que houver uma convergência de fatores, a proposta fundamentalista prevalecerá.

Independentemente da fragilidade ou dubialidade do discurso do Hezbollah, sua causa acabou sendo transmitida através da cobertura da mídia. E, por mais que houvesse a vinculação entre Hezbollah e terrorismo, o Estado de Israel acabou sendo percebido por uma parte considerável da opinião pública como Estado Terrorista por não medir a intensidade de suas ações.

Depois de Sabra e Shatila, muitos veículos da imprensa mundial – as revistas Times e Newsweek, os jornais The Washington Post, The Independent, The Guardian, Le Monde etc. – voltaram a conferir a Israel o título de terrorista quando, em 1996, durante sua nova incursão ao Líbano (“Operação Vinhas da Ira”), bombardeou a cidade de Qana e provocou a morte de uma centena de refugiados.

O governo de Israel tentou apresentar seus argumentos para justificar o bombardeio que ocorreu na cidade libanesa por aproximadamente meia hora e que resultou no repúdio da imprensa internacional. Segundo as autoridades israelenses, o bombardeio teria sido um erro de cálculo, uma falha de alvo. Em tese, nada impediria que tal procedimento tivesse ocorrido, ou seja, um erro. Talvez, até, considerar a ação como um crime de guerra, no entanto, também abre a perspectiva para se classificar a ação como um ato terrorista que intencionava gerar terror na população libanesa e fazer com que cessasse o apoio ao Hezbollah.

A “Operação Vinhas da Ira” acabou ganhando ampla cobertura pela imprensa nacional também e, a revista Veja atribuiu uma manchete bastante peculiar ao evento de Qana. Relacionando a tragédia que o povo judeu viveu durante a Segunda Guerra Mundial com o bombardeio à Qana, estampou em suas páginas “Holocausto Libanês”.

Holocausto libanês
Massacre de civis em abrigo de refugiados da ONU expõe a barbárie da agressão israelense ao Líbano e coloca em risco o processo de paz no Oriente Médio

Muitos libaneses acreditam que Qana (pronuncia-se ‘Caná’), uma cidadezinha próxima à fronteira com Israel, é a bíblica Canaã, onde Jesus transformou água em vinho. A Canaã de verdade fica bem ao sul, na Galiléia. Na semana passada, o lugarejo, que desde 1978 abriga uma base das Nações Unidas destinada a acolher refugiados de guerra, ganhou finalmente seu lugar na História, mas o fato que tornou célebre nada tem a ver com água ou vinho, e sim com outro tipo de líquido – o sangue.
Às 13h55 da quinta-feira passada, oitavo dia da operação militar de Israel em território libanês intitulada Vinhas da Ira, o abrigo da ONU foi submetido a um implacável bombardeio. Sem aviso prévio, obuses israelenses começaram a cair sobre o conjunto de barracões onde 250 civis libaneses imaginavam estar seguros, sob a proteção da bandeira azul das Nações Unidas.
Estavam enganados. A aldeia de Qana entrou para a História ao lado de lugares como Guernica, cujo holocausto sob as bombas da aviação nazista na Guerra Civil Espanhola inspirou o quadro mais famoso de Picasso. Depois de meia hora de bombardeio, a base da ONU estava coberta de cadáveres – 101, pela contagem do governo libanês. Todos civis, com exceção de quatro capacetes-azuis que vieram das distantes ilhas Fiji, no Pacífico, para perder a vida no Líbano.
Os jornalistas que chegaram ao local minutos depois da tragédia descreveram um cenário de horror e desespero. Robert Fisk, premiado correspondente do The Independent, de Londres, viu pilhas de pessoas caídas no chão, com as mãos, braços ou cabeças decepados. “Desde Sabra e Chatila eu não havia visto uma matança tão grande de inocentes”, escreveu Fisk, numa alusão ao maior massacre do conflito libanês, o dos palestinos de dois campos de refugiados, trucidados, às centenas, em 1982, por milicianos cristãos com a conivência das tropas israelenses que ocupavam Beirute.
(...)
A opinião pública internacional, que tinha voltado a cultivar uma imagem positiva do Estado judaico graças aos acordos de paz com Yasser Arafat e, mais recentemente, à condição de vítima de atentados que mataram 58 pessoas, voltou a ver Israel no papel de agressor.
Nada disso dissuadiu o governo israelense. Os ataques têm como alvo declarado o Hezbollah, milícia xiita que, nas últimas semanas, disparou várias salvas de foguetes katiusha contra o norte de Israel. Ninguém questiona o direito de um país à segurança. Mas, daí a exercer esse direito chacinando, é inadmissível.
(...)
A retórica israelense de legítima defesa não resiste aos números. Do início dos bombardeios no Líbano, no dia 11, até a manhã do último sábado, já haviam morrido 154 libaneses, comparados aos doze israelenses mortos pelos antiquados rojões do Hezbollah em catorze anos. A título de erradicar a milícia xiita, que não possui mais do que 300 homens em armas, Israel despejou uma tempestade de bombas sobre o Líbano, provocando o êxodo de 400.000 pessoas.
(...)
A Operação Vinhas da Ira tem outro motivo, além do oportunismo eleitoral. O objetivo da pressão militar israelense é convencer a Síria, que manda no Líbano e lá mantém 35.000 soldados, a desarmar o Hezbollah. Só depois que a milícia xiita estiver neutralizada, explica Peres, é que Israel decidirá se deve iniciar negociações para uma retirada da faixa de 15 quilômetros que ocupa ilegalmente em território libanês, em despeito às Resoluções da ONU. A exigência é inaceitável para a Síria, e também para o Líbano.
Para romper o impasse, Peres está usando uma tática delirante, inaugurada pelo presidente americano Richard Nixon na Guerra do Vietnã – submeter seus inimigos a um bombardeio apocalíptico, até que eles se mostrem mais flexíveis à mesa de negociações. Essa tática, conhecida como “teoria do homem louco”, é que explica a opção preferencial dos israelenses pelos alvos civis. (...) Como tática pode até funcionar. Mas as sementes do ódio, lançadas no solo fértil do Oriente Médio, só podem gerar violência. As Vinhas da Ira prometem uma safra amarga. [6]

Novamente, Líbano, Israel, Hezbollah e terrorismo se mesclavam e a mídia conseguia atrair a atenção do mundo para aquele evento.
 
6. E agora, sem o arquiinimigo?

Em 2000, após dezoito anos de ocupação, o Hezbollah conseguiu fazer com que a milícia apoiada por Israel (SLA, South Lebanon Army, “Exército do Sul do Líbano”) se desintegrasse e propiciasse a retirada do exército israelense da “Zona de Segurança”. [7]

No turbilhão de acontecimentos que catapultou o Hezbollah à classificação de único “exército” a impingir derrota ao Estado de Israel, Hassan Nasrallah (atual Secretário-Geral do Hezbollah), como grande líder, pronunciava-se com bastante veemência a respeito das táticas que deveriam ser utilizadas na luta contra os israelenses e que poderiam reverter em sucesso. Suas declarações foram estampadas na reportagem do jornal O Estado de S.Paulo, de 29 de outubro de 2000, cinco meses após a retirada israelense.

Hezbollah pede ataques suicidas contra Israel
Líder da guerrilha xiita libanesa diz que palestinos têm de enfrentar o ‘inimigo sionista' com ‘armas verdadeiras'

BEIRUTE - O líder da guerrilha xiita libanesa Hezbollah, xeque Hasan Nasralah, exortou ontem os palestinos a realizar atentados suicidas contra Israel "se quiserem derrotar o inimigo sionista". "É inaceitável que os palestinos continuem combatendo com pedras em vez de utilizar armas verdadeiras para derrotar o inimigo", discursou Nasralah num pronunciamento por meio da emissora de TV de seu grupo.
A declaração do xeque ocorre dois dias depois de um membro do grupo integrista palestino Jihad Islâmica ter realizado um ataque suicida contra uma posição do Exército israelense em Gaza.
"As operações conduzidas por mártires palestinos são o meio mais eficaz para enfrentar os sionistas, pois produzem um impacto moral e material sobre o inimigo e o submerge no terror", acrescentou Nasralah. "Se os combatentes da Jihad dispuserem de meios materiais mais importantes, o inimigo e o mundo serão testemunhas do aumento dos ataques, que repercutirão sobre a situação e determinarão o destino da batalha."
Ao mesmo tempo, em Gaza, a situação era tensa ontem por causa do enterro de Jabber al-Mishal, morto por soldados israelenses na véspera, durante os protestos do "Dia da Ira". Outros três palestinos morreram durante as mesmas manifestações.
"Vingança, vingança!" e "(Ehud) Barak prepare seus caixões!", gritavam os manifestantes que participavam do funeral.
O Dia da Ira é um protesto que se vem repetindo toda sexta-feira há um mês.
Nos confrontos abertos com a visita do direitista israelense Ariel Sharon e cerca de mil soldados a uma mesquita de Jerusalém Oriental, já morreram 137 pessoas - das quais, 129 eram árabes.
Segundo a Rádio Israel, três ônibus israelenses foram incendiados por palestinos na cidade de Erez, na Faixa de Gaza e um grupo de soldados israelenses foi atacado por militantes árabes armados na aldeia palestina de Bet Sahur, ao sul de Jerusalém.
Por outro lado, agentes da polícia palestina transferiram a seus colegas israelenses o cadáver de um jovem que estava no interior de um veículo incendiado perto da cidade de Ramallah, na Cisjordânia. Segundo a emissora de Israel, pode tratar-se do cadáver de um cidadão israelense desaparecido há mais de uma semana. (Reuters, Associated Press, France Presse, EFE, DPA e Ansa). [8]

A retirada de Israel de territórios libaneses não significou, contudo, a resolução para os problemas na região. Isso porque, os desentendimentos entre Israel e Síria, no que diz respeito às Colinas de Golã, ainda não foram resolvidos, e, como o Hezbollah também é simpatizante da Causa Síria, a deposição de armas perpassará por muita negociação.

Com o fim da presença israelense no Líbano, muitos poderiam imaginar que a imprensa internacional se afastaria e os problemas locais seriam tratados apenas no âmbito regional, porém, como o Hezbollah sempre utilizou a mídia para se sustentar e vice-versa, a organização xiita não quis enfraquecer a legitimidade de sua luta pela soberania territorial libanesa e recusou-se a depor as armas enquanto Israel não abandonasse completamente o Líbano, ou seja, deveria deixar uma pequena faixa de terras conhecida por Fazendas de Shebaa, na fronteira com a Síria.

A alegação do Hezbollah buscava fundamentação no fato de que as Fazendas de Shebaa nunca pertenceram à Síria e foram conquistadas, indevidamente, por Israel, em 1967, juntamente com as Colinas de Golã. A Síria, por sua vez, ratificara o argumento do Hezbollah e declara que a área não lhe pertencia, mas sim, ao Líbano.

Em foco: as fazendas de Shebaa

Um grupo das fazendas perto da fronteira – pobremente definida –, entre Líbano e Síria emergiu como um novo ponto de combustão potencial para o conflito entre Israel e as guerrilhas muçulmanas libanesas.
O grupo de guerrilha apoiado pela Síria, Hezbollah, diz que Israel deve se retirar da área das fazendas de Shebaa – que elas encontram-se no território libanês – ou continuará com os ataques em sua cara.
Israel diz que a maioria das áreas fica do lado sírio da fronteira entre Líbano e Síria, e que só se retirará da parte marcada como território libanês que constarem nos mapas das Nações Unidas. O ministro da defesa israelense disse: “o exército pretende retirar-se de um ou dois postos menores”.
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Negociações de fronteira

O Sr. Goksel disse que o assunto da fronteira seria um dos que o enviado da ONU, Terje Roed-Larsen, discutiria durante a sua visita à região, mas adicionou que a ONU não era "a autoridade para a marcação de fronteira".
A Síria concorda com o Líbano de que a área das fazendas de Shebaa é parte de Líbano. Entretanto, Israel indica que conquistou o território da Síria durante a Guerra dos Seis Dias, em 1967.
O Sr. Goksel disse: “A ONU está afirmando que em todos os mapas que pôde encontrar as fazendas são vistas no lado sírio”.
As forças israelenses dinamizaram e retiraram-se de um posto militar conhecido como Astra, próximo das fazendas de Shebaa, na quarta-feira.
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De acordo com a Rádio Israel, o primeiro-ministro israelense, Ehud Barak, disse que a retirada da região da área das fazendas de Shebaa foi designada “para eliminar do presidente sírio Hafez al-Assad qualquer desculpa que incentive ações terroristas do Hezbollah, a partir do Líbano, contra Israel”. [9]

A questão da real propriedade das terras em litígio não foi resolvida, porém, deve-se salientar o fato de que após a retirada de Israel do sul do Líbano, as Nações Unidas estiveram na região e ratificaram o cumprimento da resolução nº 425 – vinte e dois anos depois de ela ter sido decretada pela ONU, em 1978. Com esse impasse, o conflito continua vivo e a tensão apenas deixa de ser ininterrupta para tornar-se sazonal.

7. Um fim que não chega

Sem conseguir resolver a questão com o Estado de Israel, a mídia continua tendo muito apetite pelos eventos ocorridos na região, ainda mais quando, após 29 anos de presença síria no Líbano, a opinião pública internacional (alavancada pelos meios de comunicação), conseguiu fazer com que a “Revolução do Cedro” se tornasse realidade e expulsasse as forças militares sírias do território libanês.

Novamente, a fórmula mágica que atrai a atenção de toda a mídia internacional foi utilizada no Líbano, porém, com apenas uma variável. Ao invés de termos Líbano/Terrorismo/Israel, alteramos para Líbano/Terrorismo/Síria.

Rafiq Hariri [10] foi assassinado em 2005, com a explosão de uma bomba e, na seqüência presenciamos os fatos que levaram à retirada das tropas sírias do Líbano.

Fim dos 29 anos de presença síria no Líbano
 
Por Donna Abu-Nasr
Associated Press Writer

Hayy El-Ramel, Líbano (AP) – Logo que os caminhões de carga com soldados sírios partiram para casa, Mariam Majzoub iniciou a distribuição de tinta para apagar os últimos vestígios dos 29 anos da presença deles.
Seus filhos, sobrinhos, sobrinhas e vizinhos fincaram as bandeiras libanesas nos topos dos postos de controle, abandonados, próximos a sua casa, nessa pequena vila no Vale do Bekaa; jogavam água com cal nas paredes e celebravam a data de partida pintando, em verde: “Independência 2005, Domingo, 17 de Abril”.
“Nós começamos dançar nas ruas mesmo antes de eles contornarem a esquina," disse Majzoub, com seu rosto rechonchudo incandescendo como jóia. “Nós podíamos, finalmente, nos expressar e não havia nada que eles pudessem fazer sobre isso.”
A Síria concluiu suas três décadas de presença no Líbano no domingo, deixando para trás um pequeno grupo de tropas que comparecerá à cerimônia de despedida na terça-feira. Agora o Líbano tem de começar estabelecendo um novo relacionamento com seus vizinhos mais poderosos.
A Síria deixa para trás leais aliados que se beneficiaram de sua presença. Pelo menos até as eleições parlamentares que são esperadas para acontecer em 31 de maio. Seu plantel militar está livre para se mover entre os dois países. Mês passado, apenas algumas horas depois de os sírios evacuarem o quartel da Inteligência em Beirute, seu chefe apresentou-se do lado de fora do prédio como um sinal de que poderiam voltar quando quisessem.
Mesmo se um governo anti-sírio chegar ao poder, seus líderes estão hesitantes em tomar qualquer atitude que antagonize à Damasco, tal como iniciar uma negociação de paz com Israel.
Um prenúncio de uma possível instabilidade veio com cinco bombardeiros – em março e abril – às principais áreas anti-Síria, na qual duas pessoas foram mortas e 25 ficaram feridas. Também houve vários ataques a alvos de trabalhadores sírios no país.
Mas a Síria tem de tratar cuidadosamente também, as questões especialmente onde os Estados Unidos, França e Arábia Saudita estão envolvidas. Esses três governos exerceram mais pressão sobre a Síria para sair do Líbano e gostariam de reagir furiosamente a qualquer sinal de que ela esteja tentando voltar para lá.
Damasco terá de manter seu “bom comportamento” no Líbano, bem como repensar sua política, considerando a presença dos Estados Unidos no Iraque e os esforços de paz para a questão árabe-israelense, disse Paulo Salem, um analista político libanês.
As tropas sírias entraram no Líbano no segundo ano da guerra civil no país (1975-90), e apresentou o número de aproximadamente 40.000 soldados nos momentos de pico, além de centenas de agentes de inteligência que exerceram amplo poder de controle.
A Síria começou retirar-se sob a pressão do assassinato do ex-Primeiro-minitro, Rafik Hariri, ocorrido em 14 em fevereiro. Os líderes da oposição ao governo libanês pró-Síria, e a Síria, foram acusados do envolvimento no assassinato – ambos negaram a acusação. Por volta da época do assassinato havia 14.000 sírios no Líbano.
Ambos os países permanecem ligados pelo acordo de 1991, que estabelecia uma forte cooperação nas áreas da segurança, política externa e economia. Eles [Síria e Líbano] nem mesmo têm relações diplomáticas – um sinal, diz a oposição, de que a Síria não reconhece a soberania do Líbano.
Mesmo os leais membros da oposição anti-Síria têm clamado por boas relações com Damasco, incluindo o ex-líder rebelde do exército cristão, General Michel Aoun. Ele travou uma quixotesca guerra com a Síria em 1989 que terminou com seu exílio na França. Ele agora espera retornar ao Líbano.
Do lado do Líbano “há um compromisso de manter relações estratégicas nos grandes temas com a Síria”, disse o analista Salem.
O leste libanês, Vale do Bekaa, foi uma região estrategicamente importante para a segurança da própria Síria, particularmente em face do arquiinimigo Israel. Mas para os moradores de Bekaa, estratégia e alta diplomacia podem esperar; o certo, agora, é que eles estão saboreando cada simples prazer, como pastorear suas ovelhas pelas instalações militares sírias que estavam fora dos limites deles.
“A liberdade é bela,” disse Salim Rabah, 58, um comerciante aposentado que mora a 450 metros de um posto de controle sírio abandonado.
Entre um grupo de jovens rapazes fumando waterpipes, o consenso era de que a economia melhoraria porque os empregos iriam, num momento não muito distante, para os sírios com contatos junto aos militares.
“Bons ventos os levem,” disse Zakariyya Ghazzawi, 23, um padeiro.
Mas Anwar Sharqiyyah, um fazendeiro de 25 anos, sentiu que faltou dignidade na retirada.
“Os sírios ajudaram a acabar com a Guerra civil libanesa. Eles foram importantes para a estabilidade do país,” disse ele, expressando-se conforme o discurso oficial sírio. “Nós queríamos que eles nos deixassem, mas eles deveriam ter nos deixado de uma maneira mais honrosa”. [11]

Mesmo derrotado na “Revolução do Cedro”, o Hezbollah – declarado aliado sírio – conseguiu obter um resultado de extrema importância nas eleições daquele ano. E, como tranqüilidade não é algo que se preserva por muito tempo no Líbano, além de a fórmula mágica da mídia tender a se repetir numa freqüência mais do que indesejada, em 2006, após um atrito na fronteira israelense, alguns soldados da IDF (Israel Defense Forces) foram assassinados e outros capturados pelo Hezbollah.


Fig. 4. Veja, SP, 30 mar. 2005.

O que seria uma situação relativamente comum e controlável, haja vista os atritos nunca terem cessado e a captura de reféns israelenses sempre se dar no intuito de provocar a troca de prisioneiros, dessa vez o governo de Israel não aceitou negociar e programou uma violenta ação armada contra o Líbano que durou 34 dias.

Para quem pretendia, apenas, destruir as bases do Hezbollah no sul do país, a meta original extrapolou as intenções, alcançou Beirute e destruiu praticamente toda a infra-estrutura libanesa.

Com isso, provocou uma reação internacional de emergência que visava retirar a população das áreas mais visadas pelo exército israelense.

No Brasil, dentre as várias críticas que os jornais de grande circulação expuseram, a revista Carta Capital, em sua edição 113, de agosto de 2006, apresentou a visão do jornalista José Abex Jr. sobre os fatos.

Ataque ao Líbano põe fogo no Oriente Médio

Se a questão é mesmo acabar com a ameaça representada pelo Hizbalá, por que o ataque é feito justamente agora? A resposta é simples: a operação, além de ter como objetivo instalar um governo fantoche em Beirute (coisa que Sharon não conseguiu fazer em 1982), obedece hoje aos interesses imediatos de Washington. O pano de fundo de toda a questão é a situação insustentável que o brilhante gênio George Bush armou para si próprio no Iraque. É isso, aliás, que explica o pronto e incondicional apoio de Condoleezza Rice à invasão, contra os clamores da ONU e da comunidade internacional; também explica a recente e extraordinária remessa, ao exército israelense, de um carregamento de bombas estadunidenses de alta precisão, guiadas por laser e capazes de destruir bunkers de concreto, segundo informa o jornal New York Times, edição de 22 de julho.
Mas o que tem a ver a invasão israelense do Líbano com o fiasco de Bush no Iraque? Resposta: o Hizbalá, por mero acaso, é apoiado pelos governos da Síria e do Irã, também acusados de fomentar a resistência dos combatentes iraquianos. Os dois regimes devem ser devidamente “disciplinados”, como condição para permitir aos Estados Unidos construir uma paxamericana minimamente estável no Oriente Médio.Se essa condição não for cumprida, as tropas estadunidenses terão que permanecer indefinidamente no Iraque, pois a Casa Branca jamais poderá correr o risco de entregar o país, ou pelo menos as suas regiões mais ricas em petróleo – razão última da invasão de 2003 –, aos xiitas ou a quaisquer outras forças alinhadas aos governos “terroristas” da Síria e do Irã. Só que os gringos não podem permanecer no Iraque: 3.000 soldados já foram mortos, e a contagem não pára de subir. Chegamos, portanto, na raiz do problema: Damasco e Teerã devem se curvar, ou cair.
A invasão israelense constitui, portanto, apenas um desdobramento de uma tática arquitetada na Casa Branca e executada por Tel Aviv, em nome da pax americana. Essa perspectiva permite compreender, por exemplo, por que os Estados Unidos, aproveitando o grande impacto causado pelo assassinato do ex-primeiro-ministro libanês Rafik Hariri, em fevereiro de 2005, impuseram a retirada de tropas do exército sírio do sul do Líbano, obviamente abrindo o flanco para uma eventual invasão israelense. Simultaneamente, Bush tentou criar, no cenário internacional, as condições políticas para isolar e, eventualmente, atacar o Irã, a pretexto de impedir o desenvolvimento de seu programa nuclear (como, em 2003, o alvo eram as tais “armas de destruição em massa” de Saddam Hussein).
Em síntese, é disso que se trata: patrocinado por Washington, o governo israelense pratica uma aventura bárbara e criminosa, ditada por interesses e conveniências estratégicas, obviamente contando, para isso, com a cumplicidade ativa ou o silêncio conivente e covarde das ditaduras e monarquias árabes. As demais potências – notadamente União Européia, Rússia e China –, mesmo tendo os seus interesses próprios contrariados pela política expansionista de Washington, não têm vontade política nem se sentem com força para impor qualquer limite real. [12]

Após os trinta e quatro dias da operação militar israelense sobre o Líbano, a única certeza era de que alguma coisa havia dado errado na estratégia de eliminar o poderio militar do Hezbollah. Mesmo com o sul libanês praticamente destruído, o Hezbollah conseguiu manter a resistência contra a invasão israelense. O final dos conflitos apresentou números aterradores: mais de 1000 libaneses mortos (apenas 10% eram militantes do Hezbollah), um milhão de desabrigados e, aproximadamente 160 israelenses mortos.

Tamanho foram o estranhamento e revolta contra a ação israelense que, após o conflito, jornais aventavam possibilidades para o acontecido, inclusive, fazendo alusão ao despreparo das tropas israelenses que foram envolvidas nele. Dentre os jornais que se dedicaram a fazer essa análise, o Le Monde Diplomatique, em setembro de 2006, declarava:

História de um fracasso militar

Instigado pelos planos norte-americanos de um “Novo Oriente Médio” e iludido por seus generais, o governo de Tel Aviv lançou contra o Hezbollah uma guerra desastrada. Não será hora de buscar uma paz duradoura, ao invés de apostar no poderio das armas?

Amnon Kapeliouk

O general Shlomi Cohen comanda a famosa brigada Alexandroni. No dia 15 de agosto de 2006, ao retornar da frente de batalha, ele quer visitar seus soldados. Surpresa: esses se queixam exaltados por não terem sido informados sobre o adversário, nem equipados para afrontá-lo. "Nós nos recusamos a participar da próxima guerra. Nós temos famílias", dizem alguns soldados. O general os acusa de "falta de motivação". O tom se eleva e após ter ameaçado "mandar um soldado para o xadrez", o general deixa o local e todos gritam: "Vergonha!". Uma semana depois, os oficiais da brigada se dirigem ao chefe do estado-maior, Dan Halouz: "tivemos a sensação de que tudo foi mal preparado. Isso nos impediu de ganhar a guerra".
Essa cena foi narrada pela segunda estação da rádio pública. Expressa a confusão, aflição e cólera que reinam em Israel desde a proclamação do cessar-fogo, depois de uma guerra em que o Tsahal, um dos mais poderosos exércitos do mundo, não pôs fim ao Hezbollah, guerrilha de alguns milhares de combatentes. Uma avalanche de revelações se abate sobre a imprensa, desvendando o despreparo e os erros que explicam o custo deste conflito para o país: 160 mortos (119 soldados e 41 civis), cerca de 1500 feridos e um bilhão de dólares de destruições prejudiciais à economia. Isso para não dizer da ambição abortada da criação de um "Novo Oriente Médio", plano do governo Bush, que encorajou Israel a "quebrar os ossos" do Hezbollah...
(...)
Até onde irá a comissão de investigação estabelecida no meio de agosto pelo ministro da Defesa? Ela conseguirá explicar ao país por que os serviços de informação não detectaram a operação do Hezbollah, e não mediram o perigo que seus foguetes representaram para um terço do norte de Israel? Ou poderão explicar, aos desabrigados e desprovidos, o motivo da falta de refúgios em outros locais do país? Dirão aos soldados por que o exército não os preparou decentemente para o combate? "Nos enviaram totalmente despreparados para a guerra. É como pedir a um médico que não pratica a profissão há muito tempo para efetuar uma complicada cirurgia, esperando que ela termine com sucesso", explicou um dos soldados. Mas, a comissão deverá responder, sobretudo, a esta questão: não está na hora de o Estado judeu buscar a garantia de seu futuro, não por meio da força militar (visivelmente enganadora), mas por intermédio de negociações sólidas de paz com os seus vizinhos palestinos, sírios e libaneses? O unilateralismo caro a Sharon e Olmert parece condenado. [13]

Com o final dos conflitos o Hezbollah potencializou o resultado e transformou-se no grande vencedor, nisso, Israel viu-se obrigado a reviver a derrota de 2000. O diferencial, em 2006, foi que naquela ocasião apenas a comunidade xiita reconheceu o Hezbollah como a autêntica Resistência e, em 2006, praticamente toda a população libanesa dedicou à organização xiita o real valor por ter lutado pelo Líbano.

Se, internamente, houve uma conversão de fatores que elegeu o Hezbollah como o bastião da pátria, nos países árabes a repercussão não foi muito diferente. Tal foi a comoção da comunidade árabe que, em muitos países, as diferenças entre xiitas e sunitas foram deixadas de lado para celebrar o poder dos muçulmanos contra Israel.

Richard Norton salienta a repercussão da vitória do Hezbollah junto ao mundo árabe, e como o canal de televisão do Hezbollah, Al-Manar, capitalizou esse momento para difundir ainda mais a mensagem de sua organização.

O exemplo da força militar do Hezbollah contra Israel galvanizou os palestinos que vivem sob a ocupação israelense. Como no passado, quando o sucesso da resistência no sul do Líbano ajudou a inspirar militantes palestinos a empreender sua própria insurgência contra Israel, o sentimento pró-Hezbollah explodiu nos territórios palestinos da Cisjordânia e Faixa de Gaza. Pôsteres e grafites do Hezbollah foram propagados através dos territórios ocupados, e rede de televisão do Hezbollah, Al-Manar, gozou de um impulso de espectadores palestinos, embora a Al-Jazeera permaneça, de longe, a mais popular. A maioria dos palestinos estava apoiando a organização xiita, apesar da ambivalência dentro da Autoridade Palestina, na qual havia a preocupação de que a batalha libanesa deslocasse a atenção da mídia ocidental, afastando a do sofrimento dos palestinos que vivem sob as sanções orquestradas pelos Estados Unidos (Cf. 2007, p. 149-150).

Depois de um momento do total indignação pela ação militar israelense, a mídia foi se afastando dos acontecimentos locais. Ocorre que o Hezbollah capitalizou a vitória contra Israel para tentar reverter seu status político na estrutura político-eleitoral libanesa. Antes tendo sua participação na vida política limitada pelo sistema eleitoral – que estabelece quotas no parlamento para cada grupo religioso, além de atribuir à presidência aos maronitas e o cargo de primeiro-ministro aos sunitas –, com o final da guerra contra Israel o Hezbollah decidiu cobrar o preço pela vitória.

Infelizmente, como o Líbano ainda não encontrou uma fórmula eleitoral que represente com fidelidade a participação dos grupos religiosos na vida política do país, a pressão da organização xiita – insatisfeita com os rumos das negociações para a alteração do sistema político acabou abandonando o Gabinete e passou a fazer oposição ao governo – gerou mais instabilidade no país.

Em 2007, com o final do mandato do Presidente Lahoud, o Líbano não conseguiu abrir o pleito eleitoral para eleger seu sucessor e o país, conforme determina a Constituição, passou a ser governo por uma Comissão. Um triste momento para a história libanesa. Ainda mais quando se percebe que a qualquer momento a fórmula mágica pode ser colocada em prática e o resultado nem sempre é previsível.

NOTAS

[1] “Não encontrarás povo algum que creia em Deus e no Dia do Juízo final, que tenha relações com aqueles que contrariam Deus e o Seu Mensageiro, ainda que sejam seus pais ou seus filhos, seus irmãos ou parentes. Para aqueles, Deus lhes firmou a fé nos corações e os confortou com o Seu Espírito, e os introduzirá em jardins, abaixo dos quais correm os rios, onde morarão eternamente. Deus se comprazerá com eles e eles se comprazerão n'Ele. Estes formam o partido de Deus. Acaso, não é certo que os que formam o partido de Deus serão os bem-aventurados?” (Corão, 28: 22).

[2] Estima-se que no período em que a Guerra Civil transcorreu, aproximadamente 100.000 pessoas foram mortas e outra quantidade igual sofreu algum tipo de ferimento. Um quinto da população residente no país no pré-guerrra, algo em torno de 900.000 pessoas, perdeu suas residências e, desses, talvez a quantia de 250.000 deixou o país para sempre. (Dados fornecidos pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos). Disponível em: www.state.gov.

[3] Apesar de Khomeini ser um dos idealizadores da proposta islamista (fundamentalista) xiita, que repudia as inovações ocidentais, durante o período em que esteve exilado utilizou fitas K7 para gravar seus discursos contra o Xá iraniano e difundi-los para a população. Esse expediente foi um dos grandes motivadores da Revolução Islâmica de 1979.

[4] Para a obtenção de maiores informações acerca dos acontecimentos de Sabra e Shatila, assim como da campanha internacional que se faz para que sejam imputas as devidas penalidades aos responsáveis pelo massacre, consultar o site International Campaign for the Victims of Sabra & Shatila. Disponível em: www.indictsharon.net.

[5] Fonte: Disponível em: www.time.com.

[6] Fonte: Revista Veja, p. 48-53.

[7] A “Zona de Segurança” foi uma região ocupada pelo exército israelense no sul do Líbano a partir da invasão de 1982 (Operação Paz para a Galiléia) e tomava, aproximadamente, dez por cento do total do território. A justificativa israelense era de que, com essa ocupação, conseguiria impedir que o Hezbollah (também a OLP) atingisse o norte de seu país com o lançamento de foguetes.

[8] Fonte: Disponível em: http://www.estado.estadao.com.br/editorias/2000/10/29/int757.html.

[9] Fonte: Disponível em: http://news.bbc.co.uk/1/hi/world/middle_east/763504.stm.

[10] Rafik Hariri foi primeiro-ministro por três legislaturas e forte aliado sírio, porém, devido a desavenças com o então Presidente, Emile Lahoud, rompeu com Bashar Assad (presidente sírio) e passou a fazer forte campanha a favor da saída das tropas sírias no Líbano. Detentor de grande influência política na região e internacionalmente, conseguiu mobilizar a mídia internacional para a sua campanha.

[11] Fonte: Disponível em: www.nytimes.com.

[12] Fonte: Disponível em: www.carosamigos.com.br.

[13] Fonte: Disponível em: http//diplo.uol.com.br

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

COSTA, R. “O islamismo e suas implicações no processo democrático libanês”. Dissertação de Mestrado em História Social, FFLCH/USP, São Paulo, 2006.

FISK, R. Pity the Nation. Oxford: Oxford University Press, 2001.

LEWIS, B. A Crise do Islã – Guerra Santa e Terror Profano. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2004.

NORTON, A. R. Hezbollah. Princeton: Princeton University Press, 2007.

WHITTAKER, D. J. Terrorismo, um Retrato. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 2005.

*Renatho Costa é doutorando em História Social pela FFLCH/USP e professor do curso de pós-graduação em Relações Internacionais da FESP/SP.

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Revista PJ:Br - Jornalismo Brasileiro [ISSN 1806-2776]