Ouço ao Longe, Sons sem Sino

Luzilei Aliel e Rogério Costa

É uma instalação/performance desenvolvida para o evento de inauguração do sino da reitoria da USP. O sino foi doado pela Universidade de Coimbra em Portugal para a Universidade de São Paulo com o intuito de fortalecer a união entre as duas entidades. Basicamente a estrutura da instalação/performance é constituída de três algoritmos desenvolvidos no software Pure Data, que gerenciam os processamentos de áudio, espacialização sonora e também a parte visual.
Utilizamos três processamentos principais: síntese granular, reverberação e delay. A síntese granular e o delay são controlados por um algoritmo aleatório com o intuito de criar modificações no processamento de forma autônoma, ou ao menos com a menor influência humana possível durante a performance. A síntese granular foi concebida com o propósito de “amplificar” os harmônicos do sino. Utilizamos filtros de passa-alta para colher grande parte do material a partir do terceiro harmônico do que seria a fundamental do sino. Esse material é então direcionado para o processamento de síntese granular onde é subdividido em grãos e amplificado. A ideia é fazer com que os ouvintes de deem conta da complexidade e da riqueza do som do sino.
Decidimos também utilizar um mecanismo para estabelecer um vínculo perceptivo entre os âmbitos auditivo e visual. Foi programado um algoritmo com um recurso visual capaz de captar as variações sonoras do som do sino e, a partir delas, se modificar (forma, tamanho, cor). Foram desenvolvidas duas figuras, um cubo e uma esfera. O cubo surgia quando os sons harmônicos (overtones) sofriam pouca granulação, e a esfera, ao contrário, aparecia quando os sons harmônicos sofriam um processo granular mais intenso.
Certas características da instalação condicionaram o título da obra. Durante o evento, o sino - que se localizava em um ambiente externo - teria o seu som processado e projetado pelas caixas acústicas em um ambiente interno, sendo que as propriedades acústicas deste ambiente minimizavam o som original do sino. Desta forma, quem estivesse na parte externa percebia de forma direta e com grande intensidade o som original do sino (e quase nada do som processado), enquanto que, quem estivesse na
parte interna teria a impressão inversa. Ou seja, o som processado ouvido com grande intensidade e pouca percepção do som original. Cria-se assim a imagem de um ambiente habitado por sons captados de um sino real, entretanto sem a referencia da fonte sonora: “...Ouço ao Longe, Sons Sem Sinos...”
O último algoritmo proporciona uma espacialização simples do som em quatro canais. Através de um sistema de panning, o algoritmo aleatório projeta o som, não havendo regulação da ordem ou da quantidade mínima ou máxima de caixas a reproduzir os sons. Nosso objetivo ao utilizar este recurso foi não estabelecer um padrão de como (quantas, quais) as caixas iriam reproduzir os sons. No programa do evento foi lido o seguinte texto de apresentação:
"...ouço ao longe, sons sem sino..."
O som de um sino é tratado como matéria prima, transformado e deslocado de seu espaço natural.
A tecnologia, a serviço da preparação deste ambiente, funciona como uma espécie de máquina de performance: os microfones captam, os computadores moldam e
os alto-falantes espacializam o som, multiplicando-o.
Este mesmo som de sino interage com imagens abstratas que se somam para criar um ambiente imersivo.

youtube//14/08/2016