Insatisfação popular explode em Londres

Por

Setembro de 2011
Por Fabio Mangia e Otávio Lino

Milhares de jovens revoltados nas ruas. Um país inteiro perplexo com a violência que explodiu da noite para o dia. Tiros, saques a lojas, incêndios, tumultos. Esse parece ser o cenário de um país pobre desestruturado que sofre com a guerra civil, mas ocorreu na Inglaterra, a sexta maior economia mundial. Tudo começou com a morte de um morador da periferia da capital inglesa.

Mark Duggan, negro habitante do bairro de Tottenham, foi assassinado pela polícia com um tiro no peito no dia 4 de agosto. Indignados com essa morte mal explicada, diversos londrinos marcharam para a delegacia de Tottenham para exigir mais informações. Embora o protesto tenha sido inicialmente planejado para ser pacífico, isso mudou quando alguns manifestantes atearam fogo em dois carros da polícia.

Este foi o estopim para a onda de violência, saques e caos que tomou conta de Londres dos dias 6 a 10 de agosto e que se expandiu para outras cidades. Fica claro que para os tumultos adquirirem as dimensões que conseguiram foi necessária a participação de pessoas que não se envolveram com a causa inicial. Ou seja, muitos dos que saquearam lojas não moravam necessariamente em bairros pobres e tampouco sabiam ou se importavam com o que tinha acontecido com Mark Duggan – apenas se aproveitaram do momento.

Revolta ou baderna?
Mas por que, afinal, tantos britânicos aderiram às revoltas? A grande mídia na sua maior parte tratou os tumultos como crimes cometidos por baderneiros e vândalos, ignorando outra face do problema. Atual ministro da educação inglês, Michael Gove, disparou contra “uma cultura de cobiça e gratificação instantânea, do hedonismo e da violência moral”.

Em outras palavras, ele acredita que a cultura de hoje é extremamente egoísta e por isso motivou os levantes em Londres. Esse pensamento pode ser aplicado talvez à parte dos integrantes das revoltas – aqueles que invadiram lojas para roubar videogames e roupas de marca e pouco sabiam da morte de Duggan. No entanto, é ainda uma visão limitada porque a questão vai além disso.

Numa entrevista ao Jornal da Globo no dia 10 de agosto o sociólogo Silvio Caccia Bava destacou que pouco antes das revoltas em Tottenham “75% do dinheiro destinado a projetos sociais com jovens foi cortado”. Além disso, oito dos 13 centros culturais na região haviam sido fechados. Obviamente essas decisões foram tomadas pelo governo para economizar dinheiro, já que a Inglaterra enfrenta uma complicada crise, mas mesmo assim foram insensatas.

A população desses bairros periféricos é composta principalmente por jovens de minorias étnicas e vítimas de preconceito que precisam ser estimulados a estudar. Sem nenhuma ajuda, eles podem recorrer ao crime, como aconteceu durante as revoltas. É preciso lembrar que durante crises econômicas todos sofrem, mas sofrem em especial os mais pobres.

Estudante de mecânica na escola de Yale em Wrexham no País de Galês, James Wright, acredita que as revoltas foram uma maneira das pessoas manifestarem suas frustrações contra a crescente concentração de renda, embora não considere as ações justificáveis. Similarmente, Jéferson Candido da Silva, morador da São Remo, considera que “é importante fazer o protesto, mas a revolta nunca é válida”. A violência dificilmente é a resposta certa, mas é o que se espera quando as necessidades de jovens desfavorecidos são ignoradas por muito tempo.

Entenda a evolução das manifestações que abalaram a Inglaterra em agosto

Quinta, 04
Em Tottenham, o jovem Mark Duggam é morto por policiais.

Sábado, 06
Ainda em Totteham, protestos pacíficos desdobram-se em tumultos.

Domingo, 07
Destruição e saques caracterizam a revolta, que cresce para outros bairros.

Segunda, 08
Confrontos com a polícia se espalham por diversas regiões da capital inglesa.

Terça, 09
Manifestações se alastram por mais outras oito cidades da Inglaterra.

Quarta, 10
Polícia reforçada contém os manifestantes e protesto se acalma.

Comentários encerrados. Comente reportagens recentes.