O ensino e a responsabilidade dos pais e professores

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Setembro de 2011
Por Marina Salles

Rosana Osso de Miranda é diretora da E.E. Clorinda Danti, que recebe alunos do ensino fundamental de 1ª a 4ª série. Formada em Pedagogia pela PUC São Paulo, ela discute nessa edição a participação dos pais na educação de seus filhos.

Os pais costumam ir às reuniões?

Nós estamos fazendo um trabalho de formiguinha com eles, buscando conscientizá-los da importância que a família tem no aprendizado.  Claro que nós gostaríamos de ter 100% dos pais nas reuniões, mas nós temos conseguido aumentar essa participação. Em cada classe há aproximadamente 35 alunos, e geralmente vêm às reuniões os pais de 20 deles.

Como se dá a comunicação dos pais com a escola?

Adotamos uma agenda, um caderno de capa dura, para nos comunicarmos. Nós somos maleáveis com os horários de atendimento, até porque muitos pais trabalham no mercado informal. Sempre pergunto: que dia você pode vir? Que horas você pode vir? Minha preocupação é a de que eles compareçam. Se for necessário ligamos até para o celular.

Quais as iniciativas da escola na tentativa de aproximar os pais?

Tivemos um mutirão de limpeza e convidamos os pais e as professoras para participar. Não era um dia letivo, todos vieram em prol do Clorinda Danti. Nós pedimos para os pais contribuírem com a limpeza da quadra e com a pintura e depois oferecemos um almoço. Eu acho importante fazer parte da escola.

Uma vez nós conseguimos um espaço para discutir melhorias e dividimos os pais em salas: infra-estrutura, relacionamentos, pedagógica…  E por meio de papéis vermelhos, amarelos e verdes, os pais tiveram a oportunidade de opinar sobre os serviços oferecidos. E a partir disso nós pudemos resolver problemas pontuais. Deixamos, por exemplo, de nos comunicar por bilhetes e passamos a fazer uso de agendas, para trocar informações com os pais.

É perceptível quando os pais de uma criança não se interessam por sua vida escolar?

Nós percebemos que quando a família está com a gente, o aluno faz a lição de casa, participa das aulas, traz o que o professor perde, eles são mais presentes. Os que são mais ausentes às vezes não trazem sequer caderno ou lápis, mas trazem um pacote de salgadinho para a escola. Temos que discutir o que é prioridade. Nas reuniões nós sempre lemos textos para os pais, para conscientizar da importância da qualidade no relacionamento com os filhos. Da necessidade de impor limites, mesmo para a vida.

A falta de conscientização e de conhecimentos gerais seriam os motivos da falta de participação?

Acredito que seja uma questão social, a educação no Brasil não é valorizada. Muita gente que não é da área quer interferir em algo que desconhece.  Às vezes as mães dizem: Eu aprendi o “beabá” e essa professora fica enrolando. Isso porque não sabem quais são os procedimentos e as metodologias da escola. Nesses casos, nós nos preocupamos em alertar os pais sobre os nossos objetivos.

Há vagas suficientes na escola?

Eu não posso negar o acesso à escola. Aqui tem espaço para quem quer aprender. Eu não excluo ninguém. Eu dava aulas em Ilha Bela e quando voltei para São Paulo escolhi essa escola porque já tinha morado no bairro. Fiquei assustada com a falta de limites que os alunos tinham, hoje, durante qualquer atividade os alunos se sentam e ficam quietos, ouvem. Ainda não conseguimos fazer com que todos eles tenham interesse no aprendizado, porque muitos vêm defasados e também com outros interesses.

Os que vêm de tarde, depois de saírem do Circo Escola, chegam com pique total. Mas cabe também às professoras se modernizarem, darem atividades diferenciadas, aproveitarem bem o espaço. Desenvolvemos xadrez, coral, fotografia e tênis de mesa. Por estarmos com bons índices perante o MEC, recebemos verba e aproveitamos. Investimos no aprendizado por meio de jogos porque, assim, os alunos aprendem a perder, a esperar e a respeitar regras.

Quando as crianças geram muitas dificuldades qual o procedimento da escola?

Não podemos excluir as crianças nesse momento, temos que trabalhar com as diferenças e com a agressividade. Tudo isso nós mostramos que pode ser diferente, quando se tem a opção de escolher. Eu não julgo, acredito que com exemplos podemos construir o respeito, para sermos respeitados.  O importante é que eles se tornem melhores seres humanos do que entraram aqui. Tudo tem um critério. Nós temos que parar de discriminar. Temos que pensar no por que do não e no por que do sim.

O que representaria o sucesso do seu trabalho?

Daqui a três anos eu me aposento e espero que ao reencontrar as crianças que passaram pela escola eu me orgulhe de falar: “Esse foi meu aluno”.  O meu desejo é que uma parcela deles plante uma sementinha. Uma vez um pai me contou que o filho deu a maior bronca nele ao perceber que ele tinha jogado lixo no chão, isso demonstra que as crianças já estão conseguindo transmitir os seus valores para os adultos. Na escola nós trabalhamos ideias como: Eu não jogo o papel no lixo porque tem alguém olhando? Ou porque eu não devo jogar?

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