Mães de Maio defendem políticas sociais

Por

Investimentos em educação podem ser mais eficientes que aumento da punição aos jovens

André Calderolli
Flávio Ismerim

Edição 02/15

Débora Silva: “as pessoas pobres e faveladas já nascem punidas” (Foto: Mães de Maio)

Débora Silva é coordenadora e fundadora do movimento Mães de Maio, que luta contra a violência e a impunidade policial e pelos direitos fundamentais de todos, principalmente daqueles que vivem nas periferias. Diante disso, o Notícias do Jardim São Remo entrevistou essa mãe e militante para esclarecer os motivos de seu posicionamento.
NJSR – Qual a relação do movimento Mães de Maio com a Redução da Maioridade Penal?
Débora – Então, é um clamor das Mães de Maio investir em política social.  Na nossa visão de mães, é um desenho patrimonial do pedido de redução da maioridade penal: as pessoas defendem [a redução da maioridade] porque “aquele menino pegou um celular, uma carteira”. Elas não vêem uma lógica, que é a falta de igualdade social. No Brasil eles tiraram a oportunidade desses meninos de buscar um subsídio pra comprar um tênis caro, por exemplo; e a maior parte desses que estão sendo punidos são filhos de pais que abandonaram a mãe, muitas vezes com ele dentro do ventre. Não está tudo perdido, o que falta é oportunidade para esses jovens e eles não dão.
Se esse projeto for aprovado, vai haver um número maior de detentos nas cadeias. Como o Estado vai lidar com isso?
É juntar mais pessoas num local, dizer que não temos mais como fazer e privatizar. A privatização é que está em jogo, não a redução da maioridade penal. É negócio. O povo pobre e periférico é negociado, é a carne mais barata do mercado.
Essa PEC contribuiria para a diminuição da violência?
Eles já diminuíram a maioridade penal de 21 para 18, e olha o quadro que está aí. A redução da maioridade penal é balela, é fascismo. Nós precisamos de menos redução e mais educação de qualidade. Só vai ter a mesma cor e classe social dentro das prisões, como já acontece. O Estado punitivo vê a periferia, as favelas, como o inimigo. E a gente não pode aceitar, porque as pessoas pobres e faveladas já nascem punidas.
A senhora concorda com a ideia de que reduzir a maioridade penal é fazer com que pessoas cada vez mais jovens entrem na criminalidade?
Não, porque o verdadeiro criminoso não é o menor. A letalidade da polícia é o elemento que mais mata menor. E não um adolescente, que é responsável por menos de 2% dos crimes hediondos. Adolescente comete furto, que é onde o capitalismo leva para o consumismo. Vamos dar oportunidade para o jovem, e assim a gente constrói um país diferente.
Para encerrar, a senhora tem alguma consideração final?
Sim. Mais educação e menos redução. Queremos nosso país para fora do capitão, e esse capitão é capitão do mato, que está atrás de cada homem fardado. A gente precisa entender que o nosso maior patrimônio não é material, mas sim o próprio ser humano.

 

 

Comentários encerrados. Comente reportagens recentes.