O combate pelo respeito às mulheres

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A ativista Nana Queiroz diz que a violência sexual deve ser combatida através da educação

Nana Queiroz ganhou grande repercussão na internet com a campanha “Não mereço ser estuprada”, em resposta à pesquisa do IPEA, que mostrou que 26% dos entrevistados acham que mulheres com roupas curtas merecem ser estupradas. A jornalista, formada pela Universidade de São Paulo, conversou com o NJSR por telefone e falou sobre os recentes casos de abuso nos transportes públicos e sobre sua campanha.

NJSR: O que te mobilizou a entrar na campanha “Não Mereço Ser Estuprada”? Você já tinha sofrido algum tipo de abuso? 

Nana Queiroz: Eu me lembro de uma vez que um cara me falou uma coisa horrorosa: eu tava indo pro trabalho e ele disse “Sua gostosa, te chupo inteirinha”. E eu respondi: “Camarada, me respeita, eu tô indo trabalhar, sou trabalhadora como você”. Depois disso ele me falou que se eu estava com aquela “calça justa” era porque estava “pedindo”. E, quando eu vi o resultado da pesquisa do IPEA, eu pensei: é isso mesmo, essa prática de culpar a mulher pelo que ela veste, sendo que a culpa é só do comportamento masculino, que é muito animalesco. E aí eu resolvi fazer essa campanha, que não era uma campanha, era pra ser um protesto, entre minhas amigas e eu. Eu comecei o protesto na quinta à noite e quando acordei no dia seguinte tinha 45 mil pessoas participando. Eu nunca esperei que fosse ser dessa forma.

Você pensa que o “SMS Denúncia” é um sistema de combate importante? Acredita que ele realmente funciona? 

Ele é superimportante e eu acho que o SMS encoraja as mulheres porque ele é fácil, rápido e ela não precisa dar a cara né?! No Brasil, as mulheres que são vítimas de abuso sexual ou estupro normalmente sofrem caladas. No caso dos estupros, só 10% das vítimas revelam que foram de fato violentadas, o que demonstra que a mulher tende a se calar diante do assunto porque ela também acha que parte da culpa é dela. O Disk Denúncia e o SMS Denúncia são importantes, mas eles têm que vir alinhados a campanhas de conscientização, para que a mulher entenda que a culpa não é dela e que denunciar é necessário e eficiente. É importante que haja a punição para que a mulher sinta que dá resultado.

Na sua opinião, existe alguma solução rápida para isso? 

Eu acredito que tem que ter várias coisas ao mesmo tempo. A gente não pode só configurar uma solução de longo prazo porque as vítimas estão acontecendo hoje e toda mulher que já foi encoxada no ônibus sabe o quanto que é agressivo, tanto psicologicamente, quanto física e emocionalmente. A solução de longo prazo mais eficiente, sem dúvida, é a educação, mas existem também soluções de curto prazo que podem servir como, por exemplo, ter agentes especializados em receber denúncias e fazer fiscalização nas próprias plataformas do metrô. Às vezes, ter também alguns agentes disfarçados dentro do metrô nos horários de pico para que as mulheres possam gritar, pedir socorro, enfim. Seria eficiente que tivesse gente assim. E com relação ao uso dos alfinetes distribuídos por algumas feministas nas estações, você concorda com isso? Não, eu acho que não é a solução. Eu entendo o que provocou e talvez eu até usasse o alfinete se fosse vítima constante disso, porque a nossa reação é, infelizmente, sempre retribuir uma violência com outra violência.Essa reação é natural, mas ela demonstra não ser a mais eficiente, porque ela gera um ciclo de violência.

Sobre o uso dos vagões exclusivos para mulheres, o que você pensa a respeito disso?

O uso dos vagões exclusivos é uma medida que eu entendo a razão e a intenção, mas colocar mulheres em gaiolas não é a solução. A gente tem que isolar nossas mulheres porque somos incapazes de controlar os nossos homens? O que a gente tem que fazer é controlar os nossos homens. E controlar com o poder público presente, controlar com a educação. Campanhas e educação nas escolas. No curto prazo é poder público presente, é segurança presente para evitar isso, é SMS, Disk Denúncia e etc. No longo prazo, a educação. É só a educação que vai levar as pessoas a pensarem e todos a se conscientizarem. A gente tem que parar de ensinar as mulheres a como não serem violentadas e ensinar aos homens a não violentar.

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Nana Queiroz em foto para campanha “Não Mereço Ser Estuprada”

Jessica Bernardo e Cesar Isoldi

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