Uma reação feminina diante do assédio

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Pesquisa feita pelo blog Olga estimula o diálogo entre vítimas dessa violência cotidiana

A jornalista Juliana de Faria causou rebuliço ao publicar em seu blog, o Olga, uma pesquisa a respeito das cantadas de rua no Brasil. Aqui, ela fala sobre o blog, a campanha Chega de Fiu-Fiu contra o assédio nas ruas, e as repercussões de seu trabalho.
Como começou o blog Olga?
Não senti que eu tinha muito espaço para falar das coisas que queria, nas revistas femininas. Muitas vezes, mesmo como leitora, eu me sentia frustrada por sempre me deparar com assuntos que não estavam falando comigo. Quando eu saí das revistas vi que a maneira de eu conseguir falar sobre o que eu queria era fazer um blog.
Você considera o Olga um blog feminista?
Completamente. Qualquer pessoa que tenha entrado nesse debate, sobre a mulher ter um pouco mais de dignidade de andar na rua, não está fazendo nada a não ser defender ideias feministas. Mas como o feminismo ganhou uma imagem feia, as pessoas querem cada vez mais distância dessa palavra. Nós temos que primeiro tentar mudar isso, para depois explicar que feminismo não quer dizer que a mulher é melhor que o homem. Quer dizer a igualdade entre gêneros.
O meu feminismo é simples: ele quer lutar para que as mulheres tenham mais opções de escolha.
17% das entrevistadas, na Chega de Fiu-Fiu, e 50% delas, na pesquisa do NJSR, afirmaram gostar de cantadas. Na sua opinião, qual é o motivo disso?
Talvez seja muito simplista dizer que as mulheres precisem disso para o “ego”. Mas eu acho que, se a gente puder explicar de maneira mais profunda, são mulheres que cresceram e se acostumaram a enxergar o valor delas não como mulheres, não como pessoas, mas apenas como um objeto visto por homens. Então, por isso, elas encontram seu valor nessa cantada, apesar de ela às vezes ser grosseira.
Depois desse tempo de experiência e convivência com o assunto, qual você diria que é a diferença entre a mera cantada e o assédio?
Acho que a diferença entre uma coisa e outra está no respeito: é você entender se pode entrar no espaço de alguém ou não. Eu gosto de fazer esse paralelo: você falaria “oi, bom dia, gostosa” para sua chefe? Você não falaria, não é? Ela provavelmente ficaria irritada, e talvez te mandaria embora. Então por que fazer isso com uma mulher desconhecida na rua?
Você pretende organizar debates com o público?
Fiz uma pesquisa, mostrei os dados brutos, mas vou continuar. Tenho algumas ações também no “mundo real”, porque eu acho que isso é muito importante. Não dá para ficar só discutindo no Facebook. Mas acho que o começo já foi efetivo.
Quando a gente entende que isso é um problema, começa a descobrir esse poder que não tinha, porque achava que era uma coisa que acontecia só com a gente; tinha vergonha de falar; tinha medo. Quando a gente começa a falar sobre isso e as mulheres começam a dar seus depoimentos, a gente estimula as pessoas a pensar em uma possível mudança.

Juliana de Faria, responsável por pesquisa a respeito de cantadas no Brasil.

Juliana de Faria, responsável por pesquisa sobre a recepção de cantadas no Brasil

Giovana Feix

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