Seu Luís, um contador de histórias na São Remo

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Em 38 anos de comunidade, o cearense já foi metalúrgico, vigia e trabalhador autônomo

O cearense Luís Martins, mais conhecido como Seu Luís, é um morador com opiniões fortes. Em seus 38 anos de São Remo, batalhou pela casa própria e viu a comunidade crescer e se estabelecer.
Saiu da cidade de Itapajé já casado, aos 18 anos. Passou por Guarulhos, onde trabalhou como metalúrgico, antes de se mudar para uma pensão na Rua Baltazar Rabelo. A pensão, no entanto, foi desapropriada para a construção do Hospital Universitário. “Aquele terreno não era da USP”, diz ele. “Eles não pagaram nem metade do que valia”.
Passou a trabalhar na Cidade Universitária, como vigia nas construções, no prédio da Veterinária e Zootecnia, e no HU.
Enquanto vigia, presenciou o consumo de drogas em festas, por alunos da Universidade. Porém, foi instruído por seus superiores a não denunciar. “É a repressão dos ‘filhos de papai’”, diz ele.
Luís, que era bastante descontente cowmo funcionário da USP, começou a trabalhar como autônomo. Foi ajudante de pedreiro e até carpinteiro. “Viam que eu era trabalhador e me ofereciam emprego”, conta.
Nessa trajetória, conseguiu comprar sua casa própria e abrir seu bar. Atualmente, o bar é como um hobby: “Quando estou estressado, abro o bar, sento em uma cadeira e estico as pernas em outra”.
Com quatro filhos e 64 anos, Seu Luís hoje senta na calçada, conversa com a vizinhança, e observa. De sua casa, vê hoje o que é o CEI Projeto Girassol, e lembra: “Isso aqui era tudo barro. Tinha que colocar bota de borracha para ir beber lá no fim da rua”. Lembra de estudantes na comunidade, e também de seus protestos: “Desde que eu cheguei aqui que eles querem tirar o reitor”, conta com bom humor.
E apesar de já estar consolidado com sua família, ainda teme: “Se deixarem, a USP toma tudo isso aqui até a Corifeu”.

Por Thiago Quadros

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