Marcha das Vadias

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Organizadora fala sobre criação do evento e machismo no Brasil

Na ilusão de viver em uma sociedade justa, as pessoas tendem a colocar a culpa de um crime na vítima, tirando a responsabilidade do criminoso.

Somado ao fato de a mídia constantemente veicular a imagem da mulher com a função de satisfazer o desejo masculino, ainda é comum que vítimas de abuso sexual sejam culpabilizadas por se vestirem de determinada maneira ou se comportarem de modo que indicaria estarem disponíveis para o ato sexual.

Contra esse pensamento, surgiu em abril de 2011, no Canadá, a Marcha das Vadias. O nome, que pode parecer um tanto ofensivo, foi escolhido como forma de protesto e reflexão em oposição às campanhas do departamento de polícia canadense que orientavam as mulheres a se vestirem de maneira que não se parecessem com “vadias”, evitando, assim, o estupro.

O movimento defende o fato de que toda mulher tem direito sobre seu próprio corpo, podendo escolher que roupa usar e o momento e parceiro com quem manter relacionamento. Xênia Mello, advogada que participa da organização do evento, falou ao NJSR:

NJSR – Como teve início a Marcha das Vadias aqui no Brasil?

XM – Tal movimento foi gerado em razão de que a vítima não pode ser culpabilizada pela violência, que não podemos reforçar uma ideia de mulher estuprável. Apesar do movimento ter origem no exterior, aqui acabou ganhando muita força já que existe um alto índice de violência contra a mulher. Somos o sétimo país que mais mata mulheres e a impunidade é muito alta. A Marcha das Vadias no Brasil começou em São Paulo, junho de 2011, mas hoje todas as capitais dos estados e inúmeras cidades do interior já realizam suas marchas. Esse ano haverá as terceiras edições.

Como são as repostas que você recebe em relação à Marcha?

Em geral, as visões são negativas por conta do nome dado: “Vadia”. Mas as pessoas acabam compreendendo o caráter de questionar, ressignificar a palavra. Com o tempo, cresce a importância dada ao combate da violência contra a mulher, e começa-se a assimilar a contribuição da Marcha das Vadias nesse confronto. No Brasil, doze mulheres são mortas todos os dias e nós precisamos mudar.

Na sua opinião, quais os motivos do machismo no Brasil?

A questão do machismo é muito complexa. Ela é reproduzida em todos os espaços que participamos. Na família quando o marido é violento com a mulher, ou quando as filhas não podem fazer várias coisas permitidas aos filhos. No trabalho quando as mulheres ganham menos para exercer o mesmo cargo. Na escola, quando aprendemos que todos os heróis e cientistas são homens, como se as mulheres não tivessem participado da História. Outra questão é que o machismo é intensificado quando presente outras opressões, as mulheres negras por exemplo são mais assassinadas que as mulheres brancas no Brasil. Mulheres pobres também têm seus direitos creceados.

Por Helena Rodrigues

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