O assédio no transporte é uma realidade

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Apesar de parecer uma situação improvável, o abuso à mulher é comum na condução pública
 
A superlotação facilita os agressores

A superlotação facilita os agressores

O assédio sexual às mulheres no transporte público é comum. Os casos acontecem principalmente em grandes cidades, nas quais o horário de pico torna a condução metropolitana muito cheia. Isso permite que as pessoas que cometem tais abusos fiquem anônimas no meio da multidão.

Em São Paulo, a maior parte das ocorrências acontece nos trens da CPTM, mas há casos registrados também nos ônibus e metrôs da cidade. Em geral, são associadas ao assédio sexual as “encoxadas” e as “mãos bobas”, porém existem situações mais extremas que podem acabar até em estupro. Algumas denúncias já reportaram casos em que sujeitos chegaram a ejacular em mulheres que estavam usando o transporte público.

Reação ao possível assédio

Ao serem perguntadas a respeito de como reagiriam a uma situação de abuso, muitas moradoras do Jardim São Remo responderam que se defenderiam agredindo aquele que tentasse se aproveitar delas. Vale lembrar que, mesmo se defendendo por conta própria na hora do assédio, a denúncia nesses casos é o passo mais importante para que se possam evitar situações desse tipo no futuro. Ao denunciar, as operadoras do transporte público podem fragilizar a ação dos agressores, que terão uma queixa formal contra eles. Assim, muitos daqueles que agem frequentemente dessa forma poderão se sentir ameaçados e constrangidos por conta dessa denúncia, que vai expor os responsáveis.

Além disso, mesmo que os agressores neguem, a maioria das linhas de trem e de metrô tem câmeras de vigilância, o que permite a comprovação do fato e a identificação dos envolvidos. As empresas responsáveis pelo transporte público em São Paulo possuem números de telefone para receber reclamações e denúncias e equipes de segurança prontas para lidar com situações que fujam à normalidade. Além dos números de telefone das próprias operadoras, há um número da Central de Atendimento à Mulher.

Medidas já tomadas

denuncieNo Rio de Janeiro, desde 2006, existem vagões nos trens e metrô exclusivamente femininos nos horários de pico, para que situações de abuso sejam evitadas. Em São Paulo, a CPTM testou vagões femininos em algumas linhas de 1995 a 1997, mas a medida foi suspensa depois que levantou a discussão a respeito da igualdade entre as mulheres e os homens.

Recentemente, foi criada na cidade de São Paulo a Secretaria de Política para as Mulheres, como resultado das reivindicações para a criação de uma pasta que tratasse desse assunto. Uma das ações da nova secretaria é a de divulgação da existência de casos de assédio nos transporte como forma de conscientização. Mas, apesar disso a maior parte das pessoas ainda desconhece essa realidade.

 

Depoimento de um caso real

” Saindo do vagão da linha vermelha do metrô República, ouço no meu ouvido direito uma série de obscenidades das mais escabrosas. Finjo não ouvir e sigo para a  baldeação na linha amarela.

Qual a minha infeliz surpresa quando minha bunda é beliscada pelo idiota-retardado que corre pela plataforma e entra no vagão?

Não tive dúvidas, saí correndo atrás dele e entrei no mesmo vagão gritando que sua ação era assédio sexual. Não bati no cara. Mas o fiz passar um bocado de vergonha, pois quando me dei conta, estava num vagão cheio de pessoas, numa bolha que foi aberta pelos meus movimentos bruscos em direção a ele. Alguns populares começaram a me defender, outros ainda dizendo que se ele não devia nada que chamasse a polícia. Assédio sexual é crime!

Chegando à estação Paulista, seguranças me esperavam na plataforma. Fui abordada por um guarda e apontei o retardado-imbecil-assustado-cínico-covarde que estava fugindo. O infeliz negava o feito. Foi quando o lembrei de que nas plataformas existiam câmeras e que a negação não valeria.

Foi feita uma ocorrência. Da próxima ele é reincidente… mas acho que o retardado-imbecil-assustado-cínico-covarde vai pensar dez vezes antes de mexer, e principalmente tocar numa mulher sem a permissão dela.”

V. P., vítima de assédio,
em depoimento sobre o caso.

Por Victoria Salemi

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Comentários

  1. Zé on 19/04/2013 at 19:24

    muito bem escrito, a repórter está de parabéns.