A redescoberta da periferia no cinema

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Iniciativas buscam envolver moradores da favela na produção de filmes para a comunidade

As periferias sofrem com a privação do acesso à cultura. Não há investimentos públicos nem privados para construção de espaços de convivência e cultura, como teatros e cinemas. A população também sofre com os elevados preços cobrados pelas grandes redes de cinema.

Mas existem indivíduos que voltaram sua atenção para esse problema. O Cineb, projeto realizado pela Brazucah Produções em parceria com o Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e regiões é um circuito alternativo que já exibiu produções cinematográficas nacionais na comunidade, por exemplo.

O Circo-Escola também já produziu mostras sobre cinema na São Remo. Mas esses projetos, boa parte das vezes, exibem apenas conteúdos que não foram feitos pela periferia, nem para ela. Para Thiago Borges, jornalista e idealizador do projeto Periferia em Movimento, quem tem recursos para fazer cinema não nasceu nem foi criado na periferia.

Segundo a antropóloga e pesquisadora Rose Hikiji, a periferia é distorcida no cinema por ser um olhar “de fora”. Em sua pesquisa, moradores criticaram as representações centradas na violência, como em Cidade de Deus. Isso despertou neles o desejo de fazer os próprios filmes.

O Cinema da Quebrada

O cinema produzido pela comunidade é diferente. “De fato os filmes produzidos pelos moradores geralmente se situam nos bairros, ou trazem situações que só quem mora lá pode trazer. Eles conhecem o lugar, as formas de organização social, as vielas. Os moradores se reconhecem e por isso essa produção é tão importante”, comenta Hijiki. Essa é uma oportunidade de driblar a cobertura estereotipada das favelas, mostrando um olhar diversificado. O Festival Internacional de Curta-Metragens de São Paulo, por exemplo, realiza uma sessão que exibe filmes produzidos nas comunidades.

Alternativas

Para Sueli Carneiro, que, além de ser jornalista, é também idealizadora do Periferia em Movimento, existem muitos moradores da própria periferia que já entenderam há bastante tempo que ela não é aquilo que se mostra na televisão ou no cinema. Isso despertou nelas a vontade de reproduzir o que é real de verdade. Essas pessoas vêm produzindo graças ao apoio de oficinas oferecidas por ONG’s, como os Oficinas Kinoforum, por exemplo. Existe também uma alternativa oficial, o programa VAI, da prefeitura, que apoia financeiramente as diversas produções de culturas.

Por Gabriela Malta

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