De sexo fragil à referência na família

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Mais independentes, mulheres de hoje conquistam autonomia, respeito e espaço na liderança do lar

O crescimento do número de brasileiras à frente das famílias é, nos dias atuais, um resultado bastante significativo para o gênero. A última pesquisa do governo federal mostra que cerca de 37% dos lares de hoje são chefiados por mulheres. Ainda assim, o machismo permanece forte mesmo em casas onde há mulheres com autonomia financeira, com diversas discriminações sendo aceitas por parecerem naturais ou biológicas.

 

Durante muito tempo, o papel da mulher foi delegado somente a afazeres domésticos como cuidar da casa e da família. As mulheres se limitavam a trabalhar para que todos comessem bem e dormissem sob lençóis limpos. Contudo, essa situação vem mudando. Fatores como renda, escolaridade e estabilidade no trabalho têm sido fundamentais para que cada vez mais a ala feminina intensifique sua participação na sociedade.

Para Renata Belmonte, advogada doutouranda em Direitos Humanos pela Universidade de São Paulo, muitas são as pessoas que ainda assumem o espaço doméstico como habitat natural feminino. Isto faz com que mesmo mulheres independentes financeiramente tenham suas decisões restritas aos assuntos de rotina da casa, cabendo ao homem as demais escolhas e definições de regras. “Isso me parece bastante problemático, pois, indiretamente, fortalece idéias conservadoras sobre o que é ser mulher e as implicações disso”, comenta ela. “Sim, ganhar o próprio dinheiro é um passo, mas não o único”.

A tendência, no entanto, é que as mulheres-referência tenham, sim, seu próprio dinheiro, talvez até superior ao do cônjuge. Em famílias geralmente compostas por mulher, homem e filhos, a renda feminina não é mais só um complemento. Passa a ser uma necessidade às contas da casa. E elas valorizam bastante o fato de poderem bancar suas próprias despesas, sem ter de dar satisfações a ninguém. Dona Vandette da Silva, comerciante, acredita que cada um deve ter o seu dinheiro, e acrescenta que o marido somente aprova ou não as decisões tomadas por ela. Brinca dizendo: “enquanto o leão descansa, a leoa vai à caça”. Ludja Martins, dona de salão de beleza, casada e com uma filha, considera que o quesito financeiro pode sim influir no poder de decisão, pelo menos no que diz respeito à liberdade de escolha feminina. “É muito bom ser independente”, diz.

Porém, Renata Belmonte reforça que isto não é tudo. “Muitas vezes, ainda que tenham independência financeira, elas aceitam rígidas regras de comportamento pregadas pelo patriarcalismo”.

A mulher já é reconhecida como agente de fundamental liderança em espaços domésticos por programas assistenciais como o Bolsa Família, bem como por programas habitacionais populares. Somente isto, no entanto, não coloca as mulheres em geral em posição favorável. Renata não nega o poder do dinheiro, “mas não somente ele permitirá a igualdade dos sexos”. Comenta que “é preciso uma revisão geral de valores e um investimento forte em educação formal”. Para ela, o fato de mulheres serem prejudicadas em suas carreiras por quererem ser mães é um dos pontos mais importantes para qualquer reflexão sobre uma sociedade ideal.

Por Giovanna Gheller

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