Campanha eleitoral pode ser benéfica?

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Claudio Niwcles Sanches Arantes é professor de Ciência Política na Faculdade Cásper Líbero. Cursou graduação, pós-graduação e mestrado na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas na USP. Além disso, já foi bolsista na Universidade de Harvard, nos EUA. Claudio desenvolve atualmente uma pesquisa sobre o horário eleitoral gratuito de rádio nas eleições para Prefeito de São Paulo.

 

 

 

1. O senhor considera que a propaganda eleitoral desfavorece o debate político?

Não. Eu acredito que o grande benefício da propaganda política é o largo alcance que ela obtém. É dessa maneira que a população comum toma conhecimento da eleição, conhece os candidatos, tem acesso às suas propostas. É bom também porque os candidatos procuram fazer estudos sobre o que a população quer, na hora de elaborar suas campanhas. O  aspecto negativo é que não existe um código de ética, muitos fazem propostas absurdas ou que não estão relacionadas às suas atribuições.

2. Como são pensadas as propagandas políticas?

Os políticos contratam assessores de marketing que pesquisam os desejos da população e também o passado do candidato. A intenção deles é sempre destacar as qualidades e esconder os defeitos do candidato. Atualmente, as propagandas mais longas tentam simular programas de TV, contando histórias para aproximar o eleitor do candidato e dos problemas apresentados.

 3. A influência da propaganda política varia de acordo com o cargo? Uma propaganda de candidato a prefeito influencia mais que a de um candidato a vereador?

Sim. A grande discussão é sempre acerca do cargo público de maior importância. A eleição para presidente sempre ofusca as eleições para deputados, assim como a eleição de prefeito ofusca a candidatura a vereador. Isso se deve também ao maior espaço que esses candidatos têm na mídia e nas propagandas.

4. Como o eleitor pode avaliar as promessas dos candidatos? Podemos acreditar em todas elas?

Não. Muitos candidatos fazem promessas que fogem às competências de seu cargo. Vereadores, por exemplo, tem como função regular o Executivo e criar projetos de leis, mas não são capazes de promover obras públicas. Já um candidato a prefeito não tem como prometer medidas sobre segurança pública e metrô, que são de responsabilidade do governo estadual. É importante pesquisar as funções de cada cargo para avaliar o discurso dos políticos.

5. Como se preparar melhor para escolher um candidato?

Pesquisando mais sobre a vida dele. A internet pode ajudar muito, é possível consultar a declaração de bens dos candidatos na rede, assim como os planos de governo – no caso de candidatos à prefeito, governador ou presidente. Para vereador, é melhor focar naquele que tem propostas para o seu bairro, assim você pode acompanhar melhor sua atividade. O cargo de vereador é bastante urbano, espacial, e muitas vezes ligado a um grupo específico da população. Há candidatos a vereador que são financiados por construtoras, supermercados ou outras empresas. Por isso, sempre votam a favor de projetos de lei que favoreçam os interesses desses grupos. É necessário que o eleitor fique atento à isso e, se possível, pesquise como esse vereador votou anteriormente para saber suas posições.

6. Qual a influência das pesquisas de intenção de voto na população?

As pesquisas influenciam aqueles cidadãos que se informam bastante e acompanham informações na TV e nos jornais, que não se restringem à propaganda. O brasileiro não quer fazer parte da minoria, do grupo perdedor, e devido a isso acaba muitas vezes preferindo o candidato que está à frente. Mas isso só ocorre no eleitor que tem acesso às pesquisas e que não tem vínculo pessoal com nenhum candidato, ou seja, ainda está indeciso.

7. Quais cuidados os meios de comunicação devem tomar para não favorecer um ou outro candidato?

Normalmente os veículos de comunicação não tomam muito cuidado com isso porque querem, sim, expor sua posição política. Em revistas e jornais, isso se mostra principalmente em reportagens e editoriais. No entanto, na TV e no rádio, o posicionamento político deve ser bastante discreto, já que os canais não são propriedade das empresas, são concessões governamentais. O governo pode, portanto, punir emissoras de TV ou de rádio que claramente favoreçam  um candidato. Essas punições podem ser multas ou até mesmo impedimento de continuar a exibir a programação, como ocorreu certa vez com a Record, que ficou 24h fora do ar após enaltecer determinado candidato.

8. E o eleitorado? Como se preparar para não se deixar levar pelos meios de comunicação?

Comparar as informações de diferentes veículos é uma saída. Além disso, é importante que o eleitor tenha um olhar crítico sobre as informações que recebe e que ele cheque as informações exibidas tanto nas propagandas, como nos próprios jornais.

9. O senhor acha que o estudo político deveria ser implantado nas escolas públicas? Isso contribuiria para a conscientização da população?

Não. Eu acredito que uma reforma política só pode ser feita pelos próprios  políticos. A população pode pressionar mas são os nosso representantes que aprovam ou não as mudanças, afinal. Eu não acredito que exista voto certo ou errado, o eleitor tem todo direito de votar em quem quiser. O problema é o político dar as costas à população depois de eleito, não prestar contas do que faz.

 

Por Patricia Batista Figueiredo

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