Jairo Marques fala sobre acessibilidade

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Para o jornalista, a abordagem do assunto na novela aumentou o interesse do público

por Danila Moura

Na novela “Viver a Vida”, a personagem Luciana consegue mostrar às pessoas que é possível retomar seus projetos de vida após sofrer um acidente que a deixou tetraplégica. No entanto, ainda falta muito para que as pessoas que usam cadeira de rodas consigam ter um cotidiano “normal”. Faltam rampas e acessos adaptados em quase toda a cidade. Para saber mais sobre o assunto, o NJSR entrevistou o jornalista Jairo Marques, 35 anos, que usa cadeira de rodas desde os seis por conta de uma poliomelite. Autor do blog “Assim Como Você”, Marques já foi entrevistado até por Jô Soares e deu seu depoimento à novela.

NJSR: O que você enxerga de positivo na novela “Viver a Vida” em relação aos deficientes físicos?
Jairo Marques: O fato de mostrar o cotidiano de um cadeirante já é um avanço para a nossa sociedade, que costuma esconder pessoas nessa situação. Elas não são vistas transitando pela cidade, porque quase não há acessos ou ônibus adaptados circulando. Por esse lado, a iniciativa da Rede Globo foi positiva, gerou discussões, o público está mais interessado no tema, independente de ser ou ter parentes com deficiência. E isso é visto no tratamento com os cadeirantes, as pessoas estão os encarando com outros olhos, vendo que levam uma vida normal, como a de todo mundo, e são mais receptivas.

NJSR: E o lado negativo?
JM: Apesar das tentativas de mantermos um dia a dia como o de todo mundo, é muito difícil. Na novela, a personagem tem uma cama adaptada, bicicleta especial, enfermeiras e todo tipo de equipamento para auxiliá-la. Para ter uma ideia, a cama da personagem Luciana custa cerca de 50 mil reais. Muita gente não consegue pagar por uma enfermeira, não tem quem possa auxiliar nas tarefas diárias de casa ou mesmo uma cadeira de rodas, sendo que as mais simples não são vendidas por menos de três mil reais. A realidade de Luciana é totalmente fora do padrão econômico de grande parte da população e, portanto, não retrata as verdadeiras dificuldades de quem usa cadeira de rodas.

NJSR: Existe algum tipo de auxílio do governo para quem precisa comprar uma cadeira de rodas?
JM: Nenhum, é “cada um por si”. Algumas ONGs até fazem doações, como a Movimento Superação, mas apoio financeiro do governo não há. E um deficiente físico não precisa só da cadeira de rodas, também pode ser necessário sonda, remédios e outros elementos para mantê-lo com saúde, que custam caro e são essenciais.

NJSR: Qual é a sua recomendação para as pessoas com deficiência física?
JM: Vocês precisam sair de casa, não tem jeito. Falo isso sempre no meu blog. É difícil encontrar ônibus adaptados, rampas e elevadores, para alguns é quase impossível sair de casa sozinho. Porém, se não dermos as caras na rua e exigirmos dos comerciantes rampas e afins, não conseguiremos chamar a atenção da sociedade. Inclusão é isso.

INFORMAÇÕES:
Blog Jairo Marques
Movimento Superação
Vagas no mercado de trabalho para deficientes

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