O silêncio para eles, o perigo para elas

O HPV contamina homens e mulheres, mas nelas as consequências podem ser mais graves

De acordo com o Ministério da Saúde, aproximadamente 5 mil mulheres morrem a cada ano vítimas de câncer de colo de útero. Esse problema pode ser agravado pelo vírus HPV, pois sua presença está muitas vezes associada ao surgimento dos tumores. O HPV, assim como outras doenças, é transmitido por homens e mulheres através do ato sexual e requer bastante atenção, especialmente das mulheres.

Uma das grandes diferenças entre como o HPV atinge os sexos de maneiras distintas é o fato de que os sintomas da doença não costumam aparecer nos homens. Muitos deles passam, inclusive, a vida inteira sem saber que são portadores do vírus. Já nas mulheres, o que frequentemente acontece é que o câncer só é detectado em estágio avançado, quando as consequências podem ser mais graves.

A são remana Jennifer Paula é técnica em enfermagem e conta que já houve o caso de uma paciente que chegou a perder seu útero por causa de um câncer causado pelo HPV. “O companheiro dela, que era portador do vírus, nunca mostrou nenhum sinal de que poderia carregá-lo”, diz ela.

Saúde do homem

O fato de algumas doenças serem silenciosas nos homens não é o único motivo para eles não irem ao médico. A menor presença masculina nos consultórios faz parte da cultura do brasileiro. O que ocorre é um preconceito por parte deles, em especial na coleta dos materiais para exame, que muitos consideram constrangedora.

Nesse momento, surge a participação das mulheres, incentivando seus companheiros a visitarem os médicos mais vezes. Um exemplo disso é uma são remana que preferiu não se identificar. “Tenho dois filhos em casa e me preocupo com a saúde deles, especialmente a sexual. Tenho que ficar no pé”, conta a moradora.

Ana Sílvia Damaso, médica do Centro de Saúde Escola Samuel Pessoa, defende que a questão da saúde do homem é um trabalho duplo, ou seja, dele e da família. Segundo ela, hoje o homem está se cuidando bem mais do que antes. Por isso mesmo, a médica enfatiza que reconhecer essa preocupação é importante.

Cuidado e prevenção

Além do HPV, outras doenças graves e que não têm cura, como a Aids, também podem fazer mais vítimas, tanto homens quanto mulheres. Na comunidade, muitas moradoras têm consciência da gravidade dos problemas. A são remana J. diz que hoje o sexo está à vontade, e é preciso tomar cuidado com gravidez e com as DSTs.

Ana Sílvia faz uma menção especial à hepatite B, cuja contaminação também é possível através do sexo. As vacinas contra essa doença são aplicadas gratuitamente nos postos de saúde para a população de até 29 anos. É importante lembrar, porém, que a vacina não previne contra outras contaminações.

Dessa forma, o uso do preservativo durante as relações sexuais surge como o método mais eficaz de proteção contra as DSTs e ainda contra a gravidez indesejada. Ana Sílvia também enfatiza a importância de se conversar com o parceiro na escolha do método de proteção. “O diálogo entre o homem e a mulher é essencial para a preservação da saúde do casal”, diz a médica.

Atenção especial

As mulheres devem ter cuidados redobrados. Além da prevenção básica, é preciso fazer visitas regulares ao ginecologista. Um dos exames importantes é o papanicolau, que deve ser feito pelo menos uma vez por ano nas mulheres que têm vida sexual ativa. O teste é capaz de verificar possíveis alterações causadas pelo vírus HPV e outras anormalidades.

Fazer o procedimento regularmente aumenta as chances de se detectar o câncer de colo de útero em seu estágio inicial. Assim, cresce a eficácia do tratamento e a possibilidade de cura.

Dúvidas e informações

Em caso de necessidade de consulta, esclarecimento ou acompanhamento, Ana Sílvia recomenda visitar o Serviço de Atendimento Especializado do bairro ou conversar com os agentes comunitários da São Remo. No SAE, são feitos os exames de DSTs e, após os resultados, todos recebem um aconselhamento individual.

Todo processo é feito de forma gratuita e sigilosa. A médica ainda ressalta que os resultados são sobre o passado, mas não são capazes de mostrar o futuro. “A prevenção deve ser feita constantemente”, lembra Ana Sílvia.

Por Camila Berto

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