Riacho Doce: problemas ainda não acabaram

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Barracos derrubados, aluguel na mão. Só resta aos moradores conseguirem outro lugar para morar.

Novembro de 2011

Por Rafael Monteiro

Percorrendo os barracões que ainda restam acima do Riacho Doce, nos equilibramos entre entulhos e buracos até nos depararmos com uma mulher sentada num caixote, amamentando seu filho. “Ô, moço, num tem lugar pra alugar lá na USP não?” pergunta ela em tom de brincadeira ao reparar na nossa presença. De frente para partes caídas de barracões que estão sendo demolidos, lixo e pedaços das vidas de quem morava por lá, Marília Lopes nos conta como chegou até ali.

No começo do ano, ela e seu marido Wellington foram obrigados a abandonar sua casa na Zona Leste de São Paulo, onde moravam com os filhos. De lá, conseguiram um barraco na São Remo onde conversamos com ela. Agora que essas construções estão sendo removidas da região do Riacho Doce, eles encontram-se novamente na mesma situação. Buscam um lugar na região para se mudarem, mas os obstáculos são grandes.

“Aqui na comunidade tá muito difícil de encontrar alguma coisa, ainda mais com os trezentos reais que a prefeitura dá. Na única casa que eu encontrei com esse preço, o dono não queria criança. Que é que eu vou fazer? Abandonar meus filhos?”. Wellington pensou em ir para a casa de sua avó, mas disse que ela não aceitaria a sua esposa.

A dificuldade de achar um imóvel acessível por ali sugere que o casal deve deixar a comunidade em busca de outro lugar, mas não há nada certo. A expressão serena no rosto de Marília contrasta com o ar de incerteza que respira. O clima de preocupação que seria de se esperar, também é quebrado por uma garrafa de Pitú compartilhada com os vizinhos (e quase que com os repórteres).

A conversa com esses moradores aconteceu no sábado pela tarde e o barracão deles seria derrubado logo no dia seguinte. A tranquilidade, as risadas e o leve aroma de álcool disfarçavam as dúvidas inquietantes sobre onde estariam naquela segunda-feira.

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