Barracos do Riacho Doce são retirados

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Prazo estipulado pela subprefeitura se encerra e moradias irregulares são desocupadas

Novembro de 2011

Por Marcelo Marchetti

 

A demolição de cerca de 100 barracos de madeira do Riacho Doce, que sofreram com a enchente de 27 de fevereiro deste ano, vem ocorrendo desde o início de outubro. Apesar do prazo para desocupação, dado pela Coordenadoria da Defesa Civil de São Paulo, de uma semana após o recebimento de 1200 reais (referentes a quatro meses de bolsa aluguel), muitas das famílias ainda ocupavam os barracos por não terem encontrado outra moradia.

Até o dia 20 do mês passado, quando a Defesa Civil iniciou a limpeza dos destroços, muitos moradores reclamavam da sujeira do local e do risco de um novo alagamento. “Eles vieram, desmancharam, foram embora e não limparam. O risco de alagamento é sério. Se chover, vai encher tudo”, disse José Alves da Costa, um dos moradores, referindo-se às diversas tábuas de madeira e outros objetos que foram deixados jogados no riacho.

A presença de várias famílias atrasou um pouco a continuação das obras, já que muitos ainda removiam sofás, fogões, geladeiras e outros pertences. “Estou preocupado. Não sei nem em que hora eu vou chegar no trabalho”, lamentou Hélio dos Santos. Apesar disso, não houve nenhum conflito ou desentendimento.

O curto prazo desagradou a diversos moradores, mas o principal problema ainda é a falta de moradias para alugar. Conforme os moradores alertaram após reunião com o subprefeito, os valores de aluguel giram em torno de 400 ou 500 reais, e alguns proprietários não aceitam famílias com crianças. “Vou ficar na casa da minha mãe, até arranjar outro lugar para alugar”, disse Hélio.

Outro morador, Sérgio, tem o mesmo problema e comentou sobre a proposta da subprefeitura: “Estou tirando do meu salário para pagar, como todos estão fazendo. Aqui é difícil conseguir aluguel por 350. Nós fomos praticamente obrigados a aceitar [os 300 reais] porque a gente não tinha outra alternativa”.

Segundo Tércio Molica, supervisor de habitação da subprefeitura, o trabalho de demolição e limpeza não tem data para terminar. As ruas estreitas e a circulação frequente de pessoas dificultam a passagem dos trabalhadores com os objetos retirados: “Não vamos dar prazo. Vamos tirando, é tudo manual”.

 

Moradores seguem incertos quanto ao futuro

Muitas incertezas ainda preocupam os moradores. A subprefeitura garantiu 30 meses de bolsa aluguel, mas não o futuro após esse período. Há dúvidas sobre canalização do Riacho Doce, desapropriação de outras casas e habitações para os desabrigados.

Morador do Riacho Doce, Sérgio teme pelo futuro dos demais: “Meu medo são essas pessoas ficarem na rua. É tão ruim você deitar a cabeça no travesseiro sem saber pra onde vai. Nós queremos nossa chave, um lugar certo pra morar”.

Procurada pela nossa reportagem, a assessoria de comunicação da Secretaria de Habitação de São Paulo se limitou a dizer: “Em outubro, a Secretaria pagou auxílio aluguel emergencial por 4 meses, no valor de R$ 1.200, para 104 famílias, que posteriormente serão encaminhadas para o Programa Parceria Social. A urbanização prevista para a favela São Remo segue cronograma estabelecido no Plano Municipal de Habitação”.

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