Privatizar é sinônimo de melhorar?

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Após a venda da Eletropaulo, valores das contas subiram e qualidade do atendimento caiu

Novembro de 2011 

Por Rosiane Siqueira 

Privatização, também chamada de desestatização, é a venda de uma empresa que antes pertencia ao poder público, aos estados ou municípios. Por meio de leilões, essas empresas passam a pertencer ao setor privado e, portanto, a funcionar com o dinheiro de empresários. 

Entre as principais intenções de se privatizar essas empresas estão: arrecadar mais recursos com a sua venda, diminuir a dívida do governo e deixar nas mãos do Estado apenas as funções básicas, voltadas para a sociedade, como saúde, educação e segurança. Também se busca aumentar a arrecadação com a cobrança de impostos para modernizar essas instituições com o dinheiro privado e com a tecnologia, aumentando sua eficiência. 

Na prática, alcançar essas metas não tem sido tarefa unânime nas instituições privatizadas. Por isso o debate sobre o assunto gera polêmicas, pois é possível constatar melhorias e falhas em empresas que passaram por esse processo. 

Vários são os outros exemplos de empresas antes pertencentes ao Estado, agora privatizadas: Embraer, fabricante de aviões; CSN, indústria siderúrgica; VALE, empresa mineradora; Light, companhia de energia elétrica do Rio de Janeiro; Eletropaulo, companhia de energia elétrica de São Paulo; Banco do Estado do Ceará e Banespa e o Banco do Estado de São Paulo, são alguns deles. 

 Privatização da Eletropaulo 

Durante a década de 80 e o início dos anos 90, a Eletropaulo Metropolitana era considerada uma das maiores distribuidoras de energia do mundo e uma das maiores estatais do país, chegando a ter 27 mil empregados. Com tudo isso, esperava-se que o leilão fosse um sucesso, mas surpreendentemente, poucos foram os interessados em sua compra. 

A Eletropaulo Metropolitana foi privatizada em 1998/1999 e vendida por 2 bilhões de reais, ainda no governo de Mário Covas. Hoje, existe apenas com o nome de AES Eletropaulo. 

Segundo dados do Procon, desde 2006 a Eletropaulo vem subindo no ranking de reclamações, e não responde a 71% delas . Só esse ano foram três apagões em São Paulo, o que levou o órgão do Procon a pedir a intervenção do Estado na empresa, ou seja, exigir que interfiram na administração para tentar reestabelecer o bom funcionamento dos serviços. 

Dentre as reclamações recebidas, a maior parte está relacionada à falta de energia. Em segundo lugar, aparece a queima de aparelho/produto danificado. Em 2001, as reclamações que mais chegavam ao Procon eram sobre cobranças abusivas ou indevidas nas contas. Segundo uma pesquisa feita pelo IDEC, Instituto de Defesa do Consumidor, desde as privatizações o consumidor sofreu o irreal aumento de 324% nas contas. Isso representa mais de quatro vezes o valor que era pago anteriormente. 

Outras privatizações 

 

Depois da venda da Telebrás, empresa que controlava as prestadoras dos serviços telefônicos no país, a quantidade de telefones no Brasil aumentou quase 10 vezes. Para toda a população, ficou muito mais barato e fácil conseguir uma linha telefônica do que há 12 anos atrás, quando o serviço era estatal.

Porém, as tarifas subiram muito. De 1998 para 2003 o aumento foi de 30% acima da inflação. É uma das tarifas mais caras do mundo junto com a da Turquia. Além disso, a concorrência das empresas não foi estimulada. Em São Paulo, a Telefônica é responsável por mais de 98% dos serviços prestados e sempre foi líder de reclamações no Procon, mesmo antes da privatização.  

 

  

 

 

 

 

A privatização das rodovias levou a um grande aumento dos pedágios, em quantidade e em valores, porém, melhores condições de asfalto, sinalização e segurança também vieram com o processo. Quem paga por essas melhorias é o próprio usuário.

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