A Universidade deve ser aberta a todos

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Professora da USP defende as cotas raciais como necessárias para promover inclusão

Novembro de 2011

Por Mateus Netzel

Eunice Prudente é professora da Faculdade de Direito da USP e presidente da Comissão Permanente de Políticas Públicas para a Inclusão Social, criada para discutir e propor alternativas de ampliação desse tema na Universidade de São Paulo.

 NJSR- Quais carências justificam a inclusão de cotas raciais nas universidades públicas?

 Eu, pessoalmente, sou a favor das cotas raciais. Não posso falar em nome da Comissão, nem como professora da USP. Sou plenamente a favor das cotas raciais por tudo que uma universidade pública representa para a sociedade, sobretudo para quem tem um histórico como o do Brasil.

 NJSR- O que é uma universidade e o que ela significa?

Universidade é um espaço de conhecimento, ela é importante e insubstituível para o homem e uma universidade pública toma todas as providências utilizando dinheiro público e está aberta em princípio para todo o povo. O conhecimento exigido nos vestibulares é muito respeitável, mas ele atende às especificidades do Brasil? Ele está incluindo afrodescendentes nas universidades do país?

 NJSR- A adesão de cotas raciais ao Inclusp traria resultados mais justos para os afrodescendentes?

A minha visão sobre a questão é que, da mesma forma como nas universidades federais as cotas vêm tendo resultados muito positivos. A Comissão precisa buscar esse mesmo caminho, porque a inclusão através de políticas de cotas raciais já é bem sucedida. Vamos fazer um estudo comparativo e propor essas soluções.

 NJSR- O ENEM é um sistema mais justo de inclusão?

Eu confio no ENEM. Embora ele vá avaliar alunos, ele mostra também a qualidade do ensino que temos em nível fundamental e médio. O que acho muito importante e penso que seja responsabilidade do MEC, que existe para isso. O ensino é um serviço público por excelência, o próprio MEC autoriza que outras instituições exerçam essa função. Mas precisa controlar, precisa fiscalizar.

 NJSR- O Prouni é uma boa opção, com o governo financiando universidades privadas em vez de investir nas públicas?

Vejo o Prouni como vejo o Bolsa Família. Se alguém está morrendo de fome, de alguma forma essa pessoa precisa se manter viva. Eu vejo o Prouni e outros programas do governo como algo que pode ser necessário em um determinado momento da vida das pessoas para aprender, apreender e se profissionalizar. O governo federal vai em socorro, mas ele não pode ser tudo. Eu vejo como um processo emergencial, quem tem que assumir a responsabilidade é o Governo Federal.

 NJSR- Uma proposta seria criar programas de inclusão social também na educação de base?

Eu, sinceramente, acho que o governo precisaria assumir essa educação de base e ser um pouco mais firme, porque é impressionante o capital é ameaçado pelo ensino privado. Aí depois poderia se pensar em como trabalhar isso em nível universitário.

 NJSR- Quanto a políticas de apoio aos afrodescendente depois do ingresso na universidade?

Aí é preciso avaliar universidades que já possuem essas práticas, para observar como elas vêm ocorrendo, porque provavelmente esse aluno estará entre os carentes e necessitará de bolsas-permanência, alimentação, moradia. O jovem está numa fase muito importante da vida e a universidade precisa colaborar com sua formação acadêmica.

 

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