Se algo aprendi na pandemia é sobre a importância de criar ambientes de confiança e acolhimento para que a aprendizagem aconteça de verdade. Temos discutido muito como transformar a educação com os modelos híbridos, a diversificação das estratégias ativas e a utilização de plataformas digitais com mais análises de dados dos estudantes. Tudo isso é importante, mas o essencial na educação continua sendo a qualidade dos relacionamentos entre todos os participantes (no presencial, no digital, nos espaços formais e informais).

Aprendemos melhor em ambientes em que nos sentimos acolhidos, podemos confiar, experimentar, errar e seguir por trilhas diferentes. Educação é fundamentalmente encontro entre pessoas que interagem, se apoiam, compreendem e se ajudam. Quando criamos esse clima de confiança, é muito mais fácil desenhar estratégias metodológicas, sequências didáticas, formas de avaliação. Elas funcionam melhor quando conversamos com os estudantes, explicamos os objetivos e chegamos a consensos. Quando sentimos que somos importantes, que nossa participação conta, nossa atitude se torna muito mais propícia à mudança (sejamos gestores, docentes, alunos ou pais).

Precisamos reinventar as formas de ensinar e de aprender com mais atenção às necessidades de cada estudante, com intensa participação em projetos integradores relevantes, com currículos mais flexíveis, escolas abertas para a comunidade, com ampla utilização de recursos digitais. Mas sem perder o essencial: conhecer os estudantes, acolhê-los, escutá-los ativamente, incentivá-los a participar continuamente, a que se sintam protagonistas, valorizados. Numa organização complexa como a escola há normas, limites e prazos, mas eles não podem ser inflexíveis, rígidos, uniformes ou punitivos.

Os modelos híbridos não se reduzem a misturar o presencial e o digital, mas a realizar todas as formas de integração possíveis: entre pessoas, áreas de conhecimento, metodologias, formas de avaliação nos diversos espaços, tempos e plataformas, mas sempre com afeto, acolhimento real, efetivo e visível de todos e para todos.  

A transformação na educação é profunda, diversificada, complexa, mas depende principalmente da qualidade das interações humanas. Educar não é essencialmente um produto, mas um serviço, um serviço público (mesmo quando feito por escolas privadas) no qual gestores, docentes, famílias e demais organizações se unem para que cada estudante avance no desenvolvimento de todas as dimensões possíveis (intelectuais, socioemocionais, éticas).

Sistemas de ensino, plataformas de conteúdo, bots com inteligência, laboratórios de realidade virtual, aumentada e mista são apoios para que a aprendizagem aconteça, mediada por docentes e gestores inspiradores, competentes e acolhedores. As escolas realmente inovadoras são comunidades vivas, abertas, participativas e onde todos se sentem acolhidos e acolhem. Mesmo recursos tecnológicos deficientes, escolas podem ser profundamente inovadoras, se gestores e docentes são inspiradores através da empatia, do diálogo e da riqueza das interações com os estudantes e as famílias. Devemos lutar, sem dúvida, para ter excelentes prédios, tecnologias, metodologias. Mas o essencial continua sendo a qualidade dos profissionais, das relações e do clima de acolhimento que desenvolvem entre si e com todos.

A educação pelo afeto nos transforma. Ah! Não podemos esquecer que a transformação começa por mim: pelo acolhimento, apoio e afeto incondicionais ao que me tornei até agora (meu passado, fortalezas, fragilidades) e pelo incentivo constante para continuar evoluindo em todas as dimensões, aprendendo sempre com todas as oportunidades que a vida me oferece.