José Moran

Por que tantas crianças e jovens não aprendem de verdade o que se espera deles? Por que ainda existem tantas escolas e faculdades medíocres, pouco atraentes, depois de tantos anos? Entendo que existam escolas mais inovadoras ou tradicionais, mas todas deveriam ser excelentes ou, ao menos, conseguir bons resultados. Temos parâmetros científicos e avaliatórios para saber o que os estudantes precisam aprender em cada fase da vida, tanto na educação básica como na superior. Por isso não podemos aceitar que crianças não consigam ler e escrever com fluência depois de anos de escolarização ou que jovens não saibam interpretar textos complexos ao terminar o Ensino Médio.

Todas as escolas podem e precisam ser interessantes. Escolas interessantes atraem os estudantes, eles gostam de ir. Sabem que vão encontrar ambientes que estimularam a investigação, o diálogo, a solução de problemas, o jogo, a aprendizagem com diversão e ao mesmo tempo com desafios reais. Há questões estruturais que dependem de políticas públicas continuadas, formação e valorização de docentes e gestores, boa infraestrutura física e digital, entre tantos fatores. Mas vemos escolas interessantes da mesma rede, ao lado de outras pouco atraentes. O que elas têm de diferente?

Escolas interessantes começam com gestores acolhedores, que lideram pelo exemplo, que apoiam docentes, estudantes e famílias. As escolas estão limpas, com ambientes atraentes e principalmente pessoas competentes e humanas. Os professores estão motivados, se ajudam, desenham estratégias diversificadas para que os estudantes se engajem, participem, criem, compartilhem. Escolas são vivas e atraentes quando há comunicação, respeito, incentivo. Isso é o básico. Não estamos falando que todas as escolas precisam ter as melhores tecnologias (é ótimo, se for possível), mas o principal é ter um grupo de profissionais que fazem de tudo para encantar crianças e jovens. Sem encantamento não há aprendizagem profunda. Quando os estudantes se encontram em ambientes autoritários, controladores, em que eles só executam tarefas, a aprendizagem é mais superficial e pouco estimulante. Tornar uma escola interessante não depende principalmente de ter uma infraestrutura sofisticada, mas de ter profissionais competentes, abertos, criativos e que se ajudam. Pessoas interessantes e humanas atraem, conquistam, entusiasmam.  Pessoas interessantes gostam de aprender, quando ensinam; são flexíveis para adaptar-se a cada situação, pessoa, turma.

Temos escolas com propostas pedagógicas diferentes, umas mais com mais ênfase em projetos e a maioria em conteúdo, mas todas deveriam saber motivar, atrair, engajar os estudantes, utilizando toda a expertise acumulada em gestão, docência, avaliação.  Hoje todos nós, os educadores, somos desafiados a incorporar metodologias ativas, competências digitais, trabalhar com a personalização e a aprendizagem em grupos de forma mais integrada, flexível, compartilhada. Precisamos equilibrar informação com experimentação, teoria e prática, materiais analógicos e digitais, espaços físicos e virtuais. Mas o essencial continua igual: educação é o encontro entre pessoas que se ajudam a evoluir em todas as dimensões vitais: ampliar o conhecimento, as competências socioemocionais, o desenvolvimento de valores humanizadores.

Alguns caminhos contribuem para tornar a aprendizagem mais atraente: abrir a escola para que os estudantes e pais participem das decisões importantes; abrir a escola para a comunidade; convidar pais e pessoas da comunidade a compartilhar sua experiência profissional com palestras, oficinas ou a “adotar” alguns estudantes que precisem de maior apoio pedagógico ou socioemocional.

Outro caminho importante é a formação docente em metodologias ativas, com apoio de tecnologias digitais para que os alunos aprendam por descoberta, investigação e resolução de problemas com a orientação de docentes criativos, combinando os itinerários pessoais e a aprendizagem por projetos, jogos e narrativas.

O desenho curricular também pode ser mais flexível. Uma parte do percurso é feita pelo estudante, dentro do seu ritmo e circunstâncias e através de escolhas diferentes. Outra parte é realizada em grupo, de forma mais colaborativa, experiencial e reflexiva com a supervisão e mediação dos docentes nos espaços presenciais e digitais, de forma síncrona ou assíncrona. O percurso se amplia com atividades de tutoria e mentoria para o desenvolvimento dos projetos pessoais e de vida de cada estudante. As escolas mais inovadoras são comunidades vivas, com gestores e docentes criativos, humanos e empreendedores, que estão redesenhando os espaços, currículos, metodologias, tecnologias e avaliação de uma forma flexível, contínua e sistêmica.  

José Moran  é professor da USP, pesquisador e designer de ecossistemas inovadores na Educação, escreve pro blog Educação Transformadora    e colabora voluntariamente com o Instituto GRPCOM no Blog Educação e Mídia.

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