Expediente

Supervisão editorial

Adilson Citelli

Coordenação Editorial

Douglas Calixto

Edição

Adilson Citelli
Ana Luisa Zaniboni Gomes
Douglas Calixto

Design e Editoração

Finalização e Revisão

Adilson Citelli
Ana Luisa Zaniboni Gomes
Douglas Calixto
Edilane Carvalho Teles
Eliana Nagamini
Elisangela Rodrigues da Costa
Gláucia Silva Bierwagen
Helena Corazza
Maria do Carmo Souza de Almeida
Michel Carvalho da Silva
Roberta Takahashi Soledade
Rogério Pelizzari de Andrade
Sandra Pereira Falcão
Suéller Costa
Tatiana Garcia Luz de Carvalho
Wellington Nardes

Relatório (INTER-RELAÇÕES COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO NO CONTEXTO DO ENSINO BÁSICO)

ISBN 978-65-88640-18-0

É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte e autoria, proibindo qualquer uso para fins comerciais.
Catalogação na Publicação
Serviço de Biblioteca e Documentação
Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo
Inter-relações comunicação e educação no contexto do ensino básico [recurso eletrônico]
organização Adilson Citelli. – São Paulo: ECA-USP,  2020.
217 p.

ISBN 978-65-88640-18-0

1. Educomunicação.  2. Comunicação. 3 Educação. 4. Meios decomunicação. 5. Ensino fundamental. 6. Ensino médio. 7. Hábitos de mídia. I.Citelli, Adilson.
CDD 23. ed. – 302.2
Elaborado por: Alessandra Vieira Canholi Maldonado CRB-8/6194

O Grupo de Pesquisa Mediações Educomunicativas (MECOM) publica o relatório digital da pesquisa 'Inter-relações comunicação e educação no contexto do ensino básico'. Trata-se de um documento responsivo e pensado exclusivamente para o formato web. O objetivo, em última instância, é permitir aos leitores e às leitoras um acesso prático, dividido por seções, aos dados e às análises.

No decorrer do relatório é possível encontrar gráficos, dados e análises sobre diversas questões que envolvem mídias, tecnologias e alguns  desdobramentos no contexto escolar. Para conhecer os fundamentos da pesquisa e acessar os conteúdos e as análises, basta descer a tela do computador ou smartphone, ou navegar pelos itens do menu ao lado esquerdo (na versão desktop) ou pelo menu no topo da tela (na versão mobile).

Boa leitura!

São Paulo, SP, Dezembro de 2020

APRESENTAÇÃO

Este relatório resulta do projeto de pesquisa Inter-relações Comunicação e Educação no contexto do ensino básico, realizado entre os anos de 2017 e 2020 e apoiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O trabalho teve como sede o Departamento de Comunicações e Artes, da Escola de Comunicações e Artes-USP, e foi levado a termo no âmbito do Grupo de Pesquisa MECOM (Mediações Educomunicativas), sob coordenação do Prof. Dr. Adilson Odair Citelli. E contou com a colaboração dos seguintes pesquisadores associados: Dra. Ana Luisa Zaniboni Gomes, Ms. Douglas Calixto, Dra. Edilane Carvalho Teles, Dra. Eliana Nagamini, Dra. Elisangela Rodrigues da Costa, Ms. Gláucia Silva Bierwagen, Dra. Helena Corazza, Dra. Maria do Carmo Souza de Almeida, Ms. Michel Carvalho da Silva, Dr. Rogério Pelizzari de Andrade, Dra. Sandra Pereira Falcão, Ms. Suéller Costa, Ms. Wellington Nardes, Mestrandas: Roberta Takahashi Soledade e Tatiana Garcia Luz de Carvalho, Iniciação científica: Rafaela Treib Taborda.

Entre os principais objetivos deste projeto estão os de verificar, junto às escolas do ensino fundamental e médio, se e como os discursos escolares dialogam com os meios de comunicação e as formas contemporâneas de organizar, produzir e distribuir o conhecimento e a informação. A partir deste propósito houve o intento de: a) apreender as maneiras como docentes e discentes se relacionam com os media e as tecnologias da informação e da comunicação; b) verificar se os discursos e as práticas dos discentes e docentes manifestam convergência, divergência, diferenças de concepção, quando emergem os fenômenos ligados aos sistemas e processos comunicacionais; c) considerar como as temáticas concernentes à aceleração social do tempo, estejam elas diretamente associadas aos ditames pedagógicos ou às questões societárias mais amplas implicadas com os dispositivos técnicos – incluindo celulares, internet, tablets, etc. –, afetam o cotidiano escolar.

Os pressupostos teóricos e metodológicos que orientaram o trabalho fincam-se em três grandes referenciais, vindos eles dos campos da comunicação, educação (e as suas interfaces) e da linguagem. Tal visagem sob ótica interdisciplinar assenta-se no fato de o material com o qual trabalhamos, e que opera no âmbito educomunicativo, solicitar o acionamento de fontes. Por isso convocamos a perspectiva comunicativa cultural de Jesús Martín-Barbero, a dialogia educativa freireana, a visão interacionista consignada no pensamento bakhtiniano, o debate sobre o lugar das tecnologias, vindo de Hartmut Rosa e Jonathan Crary. As recorrências teóricas apontadas a título de roteiro transitam por elementos comuns que garantem unidade aos andamentos da nossa pesquisa. Claro está que os inevitáveis encontros e expansões, cujas referências estão, por exemplo, nas sociotécnicas, nos configuradores culturais em circulação nas salas de aula, nos jogos de linguagem a alimentarem os discursos institucionais escolares e não escolares, foram acionados ao longo da pesquisa. Em síntese: as escolhas conceituais indicadas, em suas grandes linhas, possibilitaram que a investigação levada a termo escapasse aos acenos midialógicos e às perspectivas educativas instrumentais, afirmando, por sua vez, um percurso analítico que pensa as interfaces comunicativo-educativas sob a ótica da emancipação e das interações sociais.

Do ponto de vista do método, voltamo-nos a recolher junto aos sujeitos de pesquisa – neste caso, centralmente, professores e alunos de escolas de ensino básico – um conjunto de dados obtidos através de entrevistas, questionários em papel e eletrônicos, visitas às unidades educativas, e que serão acompanhados de tabulações, sistematizações e generalizações teóricas. As nossas questões e estratégias para encaminhá-las desdobraram-se nas seguintes direções: a) saber da existência de vínculos, nas escolas objetos da pesquisa, de relações entre a comunicação e a educação; b) identificar os hábitos midiáticos de professores/as e alunos/as assim como do relacionamento deles e delas com os os meios de comunicação e as novas tecnologias, c) reconhecer se as escolas costumam trabalhar com os meios de comunicação e suas linguagens; d) indagar se a formação inicial dos/das jovens docentes responde aos imperativos de uma escola desafiada a implementar novos modos de aprender e conhecer.

No tangente aos aspectos quantitativos da pesquisa, adotamos o procedimento chamado pelos estudiosos de metodologia científica de “representatividade não-estatística" (LOPES, 2003; THIOLLENT, 2007). Isto é, tratou-se de segmentar grupos de professores/as e alunos/as do ensino básico que compunham certo perfil da amostra e garantiam representatividade às generalizações e construções de categorias explicativas.

Como aproximação ao grupo pesquisado, adotamos modelo que nos acompanha desde pesquisas anteriores, conforme a seguir: a) observação direta – os pesquisadores assistiram aulas, registrando as ocorrências relevantes para o estudo (citações de programas de televisão, rádio, usos de jornal, etc.; debates motivados por noticiários; referências ou usos de computador, internet, celulares; considerações sobre redes sociais, blogs, sites – para ficarmos em alguns indicadores; b) grupos de discussão: foram instituídas em várias situações rodas de conversa para aferir a circulação de temas afeitos às interfaces comunicação/educação; c) aplicação de questionários com perguntas abertas e fechadas – conforme assinalado, o procedimento ocorreu em formulário impresso ou via eletrônica; d) entrevistas individualizadas com docentes e discentes.

A pesquisa envolveu 509 professores/as da educação básica e 3708 estudantes – 57% do ensino fundamental e 40% do médio (incluímos, também 47 alunos/as da Educação de Jovens e Adultos). A distribuição alcançou 23 das 26 unidades da federação e contou com mais representantes na região Sudeste (36%), seguida pelas do Sul (33%), Nordeste (20%), Centro-Oeste (5%) e Norte (1%).

O trabalho de campo iniciou-se no dia 20 de setembro de 2018, com a distribuição dos primeiros formulários impressos, e se estendeu até o fim do período letivo, em 22 de dezembro do mesmo ano. Todos os questionários, inclusive os aplicados em papel, foram inseridos na base virtual por intermédio do Google Forms, com o objetivo de unificar as informações. No caso das respostas coletadas no suporte papel, no suporte papel, os/as pesquisadores/as procederem à digitação, cuidando apenas de destacar os dados obtidos presencialmente. Os últimos impressos foram registrados no sistema informatizado em 1º de março de 2019.

A partir de então, teve início a etapa de organização e análise dos dados. Inicialmente a base foi revisada para a padronização de indicadores comuns, a exemplo do nome das cidades nas quais moravam os respondentes e das disciplinas ministradas pelos professores, das temáticas recorrentes, dos hábitos midiáticos de maior evidência.

Aos professores e professoras foram aplicados surveys presenciais e à distância por meio dos formulários físico e virtual (elaborados no Google Forms) com 55 questões, sendo 19 abertas e 36 fechadas. A mesma estratégia foi adotada com os alunos e alunas, dentre os/as quais fizemos circular, igualmente, questionários em plataforma digital e em papel contendo 41 perguntas (12 abertas e 29 fechadas).

O procedimento definido para capilarizar os questionários também variou. Agendaram-se visitas por telefone, distribuíram-se versões digitais por intermédio de relação de e-mails levantada em páginas de órgãos oficiais de educação – no Portal da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, por exemplo, localizamos a relação de todas as escolas estaduais e encaminhamos correspondência eletrônica a cada uma delas. Houve pesquisadores/as que se dirigiram diretamente às escolas e ainda outros e outras que recorreram a perfis e fanpages do Facebook e, principalmente, grupos de WhatsApp.

Os critérios adotados na execução da pesquisa conheceram relativa flexibilidade, tendo em vista a organização temporal dos/das pesquisadores/as. Apesar de havermos optado pela utilização do referido modelo não-probabilístico, guiou-nos a intenção de alcançar o maior número de indivíduos, sem que eles estivessem concentrados em uma ou algumas unidades de ensino. Neste aspecto, estabeleceu-se que, sobretudo com relação ao corpo discente, o número de formulários distribuídos não poderia ultrapassar 10% do total de matrículas das escolas visitadas.

Cabe esclarecer, ademais, que a participação dos alunos e alunas e dos professores e professoras não era condicionada ao preenchimento de todo o conjunto de perguntas, haja vista a liberdade para responderem quais e quantas quisessem. Por tal circunstância, o número de participantes variou de enunciado para enunciado e durante a tabulação do conteúdo, assim como da elaboração dos gráficos e tabelas (expostos nas figuras que acompanham este relatório), a alternativa “em branco/não respondeu” esteve entre as variáveis destacadas.

Durante as interações in loco, recolhemos informações e dados, posteriormente organizados em arquivo coletivo, com o propósito de preservar os registros e compartilhar as experiências individuais. Destacam-se nestes relatos ocorrências diversas, como dificuldades existentes para o bom funcionamento de certas unidades de ensino, depoimentos dos participantes que transcendem a investigação objetiva, entre outros.

Os instrumentos acionados durante a investigação foram discutidos e formulados em reuniões do MECOM. Tratou-se, portanto, de experiência coletiva, rica em sua própria origem, haja vista congregar pesquisadores sob diferentes estágios acadêmicos, entre pós-doutores, doutores, mestres, doutorandos, mestrandos e iniciação científica, materializando o necessário processo de formação e interformação que deve acompanhar tais grupos. Decorreram desses encontros regulares os ajustes aos questionários estruturados, assim como das demais estratégias atinentes às entrevistas individuais de alunos/as e professores/as, às observações dos espaços escolares a serem visitados pelos/pelas pesquisadores/as.

Para a realização do relatório, os dados tabulados e analisados ganharam distribuição em torno de quatro eixos temáticos: infraestrutura: o que se encontra nas escolas; docentes: dados e análises; discentes: dados e análises; docentes e discentes: uma análise das falas – seção dedicada a refletir de modo mais detido sobre as expressões verbalizadas orais ou escritas.

Ou seja, com a organização dos eixos temáticos tornou-se possível elaborar um conjunto de categorias, muitas vezes dispersas em respostas dadas ao longo dos questionários, das entrevistas presenciais, das observações em sala de aula. Reside, aqui, a razão pela qual não se encontra, necessariamente, correspondência entre o número de uma pergunta feita no questionário docente ou discente e a ordem de sua aparição no relatório. O que procuramos seguir foi, sobretudo, uma lógica de temas e categorias como fatores de atração e agregação das respostas fornecidas pelos sujeitos de pesquisa, através daqueles diferentes instrumentos empregados para mais bem apreender os vínculos dos/das professores/as e alunos/as com as dinâmicas comunicacionais. Resulta que o relatório expressa reflexões organizadas à maneira de pequenos artigos elaborados em torno das perguntas que acompanham os questionários (assim como das entrevistas abertas com discentes e docentes, das observações junto às escolas, às práticas pedagógicas em sala de aula, etc.) e enfeixadas nos citados eixos temáticos e categorias a eles correspondentes. Será possível verificar, em decorrência de tal planeamento expositivo, as remissões entre os núcleos temáticos e suas categorias, e mesmo eventuais explorações de figuras idênticas, conquanto trabalhadas sob viés diferente. Através desta formulação foi possível, ao mesmo tempo, aprofundar determinados pontos da pesquisa e garantir a unidade do relatório. O movimento entre o problema geral enformado no trabalho, concernente às interfaces comunicativo-educativas e o aprofundamento dos dados a partir dos eixos temáticos e suas categorias internas, permite aos leitores e leitoras reconhecer sejam os planos diacrônicos sejam os sincrônicos do material recolhido junto a docentes, discentes e escolas pesquisadas.

Este relatório foi organizado em duas partes: 1. OS DADOS E SUAS ANÁLISES – tópico no qual as informações coletadas pela pesquisa e traduzidas nas figuras e tabelas conhecem reflexão mais detida dos indicadores e 2. AS FALAS E SUAS ANÁLISES – segmento voltado a examinar as falas dos/das entrevistados/as acionando, para tanto, as estratégias da análise discursiva. A se observar que, no andamento deste documento, as duas referidas partes se integram estabelecendo diálogos internos e permitindo intercorrências entre elas.

Boa leitura!

Adilson Citelli

PARTE 1

OS DADOS E SUAS ANÁLISES

TEMA I

INFRAESTRUTURA: O QUE SE ENCONTRA NAS ESCOLAS

Dados e reflexões deste tópico:
leia a análise completa
Esconder Análise

Introdução

Este tópico apresenta e analisa os itens de infraestrutura reconhecidos por docentes e discentes como disponíveis/utilizados/não utilizados para dar suporte às proposições em curso nas atividades escolares cotidianas. Discorre-se sobre equipamentos disponíveis (ou não) nas escolas para o uso didático/pedagógico; presença/ausência/utilização dos computadores e internet (nas salas de aulas, salas de professores/as, secretarias/diretorias, laboratórios/espaços de informática).

Desenvolvimento

A estrutura física das escolas varia significativamente entre os estados, as distintas regiões e também oscila quando se observam escolas públicas (nas esferas municipais, estaduais, federal) e rede privada de ensino. Entretanto, como visto pelas respostas docentes, é quase unânime a afirmação de que estão presentes equipamentos de variadas naturezas, incluindo dispositivos tecnológicos específicos, como os laboratórios de informática e os computadores alocados em diferentes espaços da configuração predial escolar ― conforme descrito por muitos docentes quando solicitados a listar a infraestrutura. A seguir apresentamos o quantitativo dos equipamentos mais presentes na visão dos/as professores/as:

Figura 1 - Equipamentos disponíveis na escola (visão dos professores)

Projetor Multimídia
89%
Televisão
80%
Aparelho de DVD
55%
Rádio
52%
Câmera Fotográfica
44%
Filmadora
26%
Gravador de Áudio
20%
Outros
14%
Fonte: MECOM, 2019.

Figura 2 – Computadores com ou sem internet – presença/ocorrência (respostas docentes)

Computadores na secretaria/diretoria, com ou sem internet
74%
Sala de informática com internet
66%
Computador com internet na sala dos professores
57%
Computador com internet nas salas de aula
19%
Computador sem internet na sala dos professores
5,5%
Computador sem internet na sala dos professores
5,5%
Sala de informática sem internet
5,3%
Não possui computadores
5%
Fonte: MECOM, 2019.

Em uma das escolas públicas visitadas, a professora de Artes observou que aqueles equipamentos estavam, hoje, contidos no celular. Analisando tal prisma, podemos afirmar que a ausência de dispositivos com fins específicos (como alguns dos listados por nós nessa questão) tem deixado de constituir-se em impeditivo para que sejam desenvolvidas atividades educativas envolvendo som e imagens (fixas ou estáticas). Apesar de alguns recursos disponíveis, limites e precariedades são constantemente identificados pelos respondentes da pesquisa. Esses incluíram sinalizações de que os equipamentos não são suficientes para atendimento de todos os sujeitos presentes nos espaços, sendo ainda notória a necessidade de maior compreensão acerca de como utilizar os meios técnicos nas práticas pedagógicas.

Segundo demonstra a figura (equipamento(s) disponível(is) na escola para uso didático e pedagógico), boa parte dos dispositivos não são nelas encontrados. Ou seja, com exceção das duas ocorrências mais citadas (ainda não presentes em todas as escolas), os demais itens listados podem ou não fazer parte da infraestrutura nos diferentes sistemas formativos do ensino básico. Assim, é possível questionar o(s) tipo(s) de delimitação/organização pelo poder público e esferas oficiais (MEC, Secretarias de Educação) quanto às diretrizes e orientações para subsidiar e potencializar as estruturas necessárias ao trabalho pedagógico. Nesse sentido, para a composição dos espaços de formação institucionais e a problemática a eles concernente (incluindo substanciais diferenças entre regiões e entre esferas pública/privada), afloram dados que permitem pensar, inclusive, as políticas de acesso aos meios digitais reservadas, sobretudo, aos jovens da escola pública.

Muitos/as docentes entrevistados/as informaram que as Escolas nas quais concentram a maior parte de suas aulas possuem “computador com internet na sala dos/as professores/as, computador na secretaria/diretoria, com ou sem internet, computador na secretaria/diretoria, com ou sem internet, sala de informática com internet”, com poucas exceções (vide figura subsequente). Isso indica a notoriedade/popularidade do aparato tecnológico, independentemente de região, apesar da limitação numérica (costuma haver menos unidades do que o ideal) e obsolescência observada de muitos dos equipamentos, dispositivos e/ou programas, assim como as já mencionadas dificuldades de acesso.

Figura 3 - Computadores na escola

Computadores na secretaria/diretoria, com ou sem internet
74%
Sala de informática com internet
66%
Computador com internet na sala dos professores
57%
Computador com internet nas salas de aula
19%
Computador sem internet na sala dos professores
5,5%
Computador sem internet na sala dos professores
5,5%
Sala de informática sem internet
5,3%
Não possui computadores
5%
Fonte: MECOM, 2019.

Parece haver predomínio de computadores com internet nos espaços escolares; entretanto, limitados em quantidade, qualidade dos equipamentos, muitas vezes com programas ultrapassados nos laboratórios e frequentemente empregados para atividades-meio (as da secretaria escolar, por exemplo). As respostas docentes e discentes (estas analisadas adiante) indicam que apesar do óbice, o uso é frequente pela maioria. Reconhecidamente, professores/as e funcionários/as os têm utilizado mais que os estudantes, o que denota um uso para o trabalho administrativo e de planejamento e pouca e/ou limitada inclusão nas formações discentes.

O acesso a multirrecursos didáticos constitui importante questão no âmbito da formação. Entretanto, há carência e divergência de entendimentos seja no uso dos dispositivos tecnológicos e midiáticos seja na maneira de se alcançar maior potencialização e difusão coletiva vinculada aos modos como têm sido utilizados. Tais fatores podem estar relacionados à formação inicial e continuada do docente, conquanto também sejam fatores-chave, reitera-se, a precariedade dos recursos ofertados por unidade de ensino e a pouca acessibilidade aos materiais - que, em tese, estariam “disponíveis” para utilização voltada às atividades de ensino-aprendizagem.

A figura abaixo expressa divisão bastante equitativa entre grupos (discentes, docentes, funcionários) quanto à utilização de computadores disponíveis nas escolas. Contrasta, de certo modo, com afirmações de que alguns diretores/as mantêm trancadas as salas de informática, por exemplo, limitando o acesso dos alunos mais do que é aconselhável no limite relacionado à segurança física dos equipamentos.

Figura 4 – Caso a escola tenha computadores, eles são usados:

Por professores(as)
80%
Por funcionários administrativos/diretoria
79%
Por estudante
71%
Fonte: MECOM, 2019.

Considerando os indicativos oficiais, verificamos que segundo o Censo Escola 2019 (BRASIL, 2019)1, 95,1% das escolas de ensino Médio têm acesso à internet. A presença e disponibilidade de laboratórios de informática, internet e banda larga é maior neste segmento que no ensino fundamental. Tais recursos, ainda de acordo com o documento, podem ser encontrados em mais de 60% das escolas nos setores administrativos. Considerando os dados por nós recolhidos, os quais não expressam, naturalmente, o que acontece na totalidade das instituições de ensino nacionais, parece ser um pouco maior o acesso das secretarias aos computadores. Quanto aos laboratórios de informática, nas estruturas municipais e estaduais eles estão presentes em aproximadamente 78% dos estabelecimentos educativos, de acordo com o censo.  O Ensino Fundamental, em conformidade com o que se lê nesta averiguação do poder público, possui o maior número de escolas, entretanto:

a rede municipal é a que menos dispõe de recursos tecnológicos, como lousa digital (8,8%), projetor multimídia (52,9%), computador de mesa (34,3%) ou portátil (20,4%) para os alunos ou mesmo internet disponível para uso dos alunos (21,1%). As escolas da rede estadual estão mais equipadas com recursos tecnológicos e superam a rede privada em cinco dos nove quesitos avaliados.  (BRASIL, p. 69, 2019)

Ainda segundo o documento, existe um “elevado percentual de acesso à internet nas escolas de ensino fundamental”, salientando, entretanto, que algumas regiões “apresentam baixa cobertura. Os estados com menor incidência de acessos à internet são Acre, Amazonas, Maranhão e Pará” (INEP, p. 70, 2019). Tal fato deveria ser indicativo de investimento e não contenção de verbas destinadas ao setor educacional. No Ensino Médio, a situação é descrita como um pouco melhor:

A disponibilidade de recursos tecnológicos [...] é maior do que nas escolas do ensino fundamental. Recursos como projetor multimídia, computadores de mesa para os alunos e internet são encontrados na rede estadual para, respectivamente, 83,1%, 78,7% e 90,2% das escolas e na rede privada para 85,8%, 75,8% e 93,6% das escolas. (INEP, p. 75, 2019)

Independentemente das características peculiares às instituições de ensino alcançadas pela nossa pesquisa, a percepção dos docentes se aproxima dos números apresentados pelo órgão federal. Entretanto, as diversas infraestruturas do Sistema Educacional carecem ser mais ajustadas entre as regiões, principalmente em relação a número, qualidade, disponibilidade e atualidade dos equipamentos passíveis de incrementar o ensino. O problema da obsolescência e da dificuldade de acesso também precisa ser amiúde repensado nas esferas públicas e privadas, uma vez que se trata de atendimento a um direito mais basilar do cidadão, o de uma educação de qualidade, universal.

De todo modo, vale destacar, para continuidade analítica do presente conjunto de dados, a frequência crescente com que os equipamentos tecnológicos e os recursos midiáticos, com sua capacidade comunicativo-informativa, circulam pelo ambiente escolar, integrando-se com a prática docente nas disciplinas curriculares. Inseri-los na rotina pedagógica, sob a perspectiva dos educandos, simboliza um “plus” na aula, ou seja, ela não será totalmente expositiva. Os enunciados a seguir analisam o emprego desses recursos no cotidiano escolar, apontam os itens mais utilizados e a abordagem adequada à sua usabilidade, buscando aferir se realmente ajudam na exposição da matéria, na compreensão do conteúdo e na versatilidade da aula ou se são vistos como meros acessórios (e, assim, em vez de tornarem a ação do professor mais envolvente, perdem reconhecimento por seu uso inapropriado ou ausente).

Figura 5 - Equipamentos tecnológicos usados pelos educadores em sala (visão dos alunos)

Projetor (Datashow/PowerPoint etc.)
69%
Caixa de som
38%
Televisão
25%
Aparelho de DVD
12%
Rádio
7%
Câmara fotográfica
6%
Filmadora
3%
Gravador de áudio
2%
Outros
9%
Há professores que não utilizam tais equipamentos
34%
Fonte: MECOM, 2019.

Segundo a maioria dos estudantes que responderam à pesquisa (69%), na prática pedagógica os/as professores/as utilizam o projetor/Datashow. Os estudantes consideraram também o programa “Power Point” como o mais inserido nas aulas (um dos mais populares softwares criados pela Microsoft, que permite realizar apresentações e faz parte do pacote Microsoft Office). A indicação deste último recurso pode estar relacionada ao fato de o programa vir acoplado ao Pacote Office dos computadores adquiridos pelas escolas. O segundo item, as caixas de som (38%), também compõem uma espécie de “combo” de recursos para uma apresentação de conteúdo com a linguagem audiovisual.

Na sequência, não se pode desconsiderar um número significativo de docentes, segundo os educandos, que ainda não fazem uso de tais equipamentos: 34%, índice que pode refletir vários fatores: desde infraestrutura inadequada, inabilidade ou desconhecimento para incorporação do recurso na prática pedagógica, até mesmo inadequação ao conteúdo proposto. Vale destacar que a televisão aparece com 25% de citações e está sendo considerada pelos mais jovens como um dispositivo comunicacional que, cada vez mais, vem servindo de suporte para apresentações de “Power Point”. Esse uso parece extrapolar o emprego tradicional do recurso (assistir a programas televisivos, filmes, jogos, etc.).

As respostas dos estudantes permitem apurar, além de quais equipamentos os/as professores/as utilizam com maior frequência, também aqueles “preteridos” no dia a dia escolar. Diante desse contexto, provavelmente o estudante se veja perante a incômoda experiência do reconhecimento de certo domínio do professor acerca do conteúdo, e, concomitantemente, às incertezas entre as lógicas (incluídas aí as tecnologias) que produzem estabilidade aos conhecimentos transmitidos e aquelas que mobilizam novos saberes e linguagens circulantes fora da escola. Torna-se crucial não esquecer de que a incorporação de equipamentos tecnológicos em sala vem se tornando uma necessidade cada vez maior, a despeito do tipo de uso que deles se faça (mais ou menos produtivo, mais ou menos instigante no interior do processo ensino-aprendizagem).

Ao serem questionados se a incorporação de recursos tecnológicos e equipamentos auxilia na qualidade das aulas dos/as professores/as, os estudantes, nativos digitais (PRENSKI, 2001), que cresceram cercados por dispositivos tecnológicos, demonstraram que a inserção destes, contribui, na visão deles, para a melhoria e qualificação da aula. O índice de respostas dos estudantes em relação à pergunta “se acham que os recursos melhoram as aulas” demonstra quanto as novas gerações recebem influência da cultura digital e a valorizam. Convém assinalar, o uso de novas tecnologias em sala de aula, passa também, obrigatoriamente, pela inclusão de novas metodologias de trabalho do professor.

Figura 6 - Caso seus professores os utilizem, você acha que o uso desses recursos ajuda a melhorar as aulas?

Muitas vezes
35%
Sempre
31%
Às vezes
28%
Nunca
3%
Não Respondeu
2%
Fonte: MECOM, 2019.

Com relação aos demais recursos de cunho comunicativo e midiático, como jornais, revistas, filmes, documentários, músicas, propagandas, dentre outros, a utilização também é notável, embora a periodicidade ainda seja reduzida. Do mesmo modo que os itens tecnológicos, visualizar e esclarecer os conteúdos explorados. Por meio deles, procura-se ampliar os debates sobre as temáticas envolvidas, inter-relacionar os componentes curriculares com a atualidade, despertar o interesse pelos assuntos, promover o conhecimento e fortalecer o aprendizado.

São estratégias para aproximar os alunos do cotidiano, permitir melhor fundamentação do que está sendo estudado e ampliar as abordagens de forma interdisciplinar - envolvendo diferentes áreas -, para que eles consigam perceber que muitos dos conteúdos discutidos no ambiente educativo são aplicáveis na realidade. Num momento em que o ensino é questionado, pois muitos alunos não reconhecem o sentido da escola, tampouco percebem a relevância do que lhes é transmitido, e muito menos a aplicabilidade daquilo que estudam, estas linguagens contribuem para o despertar de um olhar diferenciado sobre o processo educativo.

As potencialidades dos recursos em questão são reconhecidas pelos educadores que os incluem em suas aulas, conforme apontado na pergunta direcionada a eles: “Você utiliza músicas, videoclipes, novelas, séries, filmes, propagandas, telejornais, jornais, revistas, etc. para ministrar as suas aulas?”. Dos resultados computados, apuramos: dos 509 respondentes, 16% assinalaram que os utilizam; 40%, quase sempre; 35%, raramente; 8%, nunca; e 1% deixou em branco, ou seja, boa parte revela que, em maior ou menor grau, fazem uso das linguagens midiáticas.

No entanto, o contraponto representado pela visão dos discentes indica realidade um pouco diferente. A seguinte questão foi direcionada a eles: “Os seus professores utilizam notícias de jornal, revistas, propagandas, letras de música, filmes para explorar a matéria ou dar exemplos durante a aula?”. A maioria, 69% dos/das alunos/as, afirmou que os educadores acionam esses meios “às vezes”, ou seja, esporadicamente; já 17% alegam utilizarem “bastante”, portanto, com mais frequência; e apenas 5% destacam o uso contínuo, “sempre”. Os demais, 2%, não responderam à questão. As respostas evidenciaram, no geral, uma preocupação com a periodicidade com que esses meios são empregados, e muitas vezes associados às tradicionais aulas expositivas, como os livros didáticos, as apostilas, o quadro negro e giz, enfim, à cultura analógica.

Figura 7 - Com que frequência seus professores empregam esses recursos tecnológicos em sala de aula?

Às Vezes
69%
Muitas vezs
19%
Nunca
6%
Sempre
5%
Não Respondeu
2%
Fonte: MECOM, 2019.

O planejamento das aulas demanda atenção, objetivos, disponibilidade, e, por sua vez, um espaço na carga horária, ou seja, tempo (sobre esta questão ver itens específicos deste relatório dedicados ao tempo do discente e do docente). Quanto mais elaborado o plano de aula, maiores são as horas dispendidas para sua concretização, que não se baseia apenas na descrição dos conteúdos a serem ministrados ao longo da semana. Pelo contrário, exige também pesquisa sobre novas fontes que seriam interessantes para acrescentar aos conteúdos; os recursos apropriados para exemplificar e fortalecer os temas explorados; os meios informativo-midiáticos viáveis para ampliar os debates; aplicativos favoráveis para promover a prática (no caso de professores/as interessados/as em “tecnologias educacionais”), e, ainda, permitir experiências, produções colaborativas, projetos diferenciados. Trata-se de construir e aplicar estratégias atrativas para complementar as aulas expositivas com o compartilhamento de novos saberes — um programa a ser elaborado minuciosamente; portanto, exige disponibilidade temporal, nem sempre compatível com o horário tradicional. Aqueles que se propõem a fazê-lo acabam preparando material no horário fora do expediente, o que comprova os dados quanto à carga horária estendida à preparação das aulas.

Outros fatores envolvidos também remetem às questões temporais e espaciais ancoradas no processo ensino-aprendizagem. Aulas que duram entre 50 e 55 minutos demandam maior controle do tempo, quando acionados os recursos descritos nos gráficos acima. Haja vista a preparação do espaço, que pode exigir um deslocamento, como a ida ao laboratório, por exemplo; distribuição do conteúdo expositivo, dos recursos para enriquecer os temas, da produção estudantil e do compartilhamento dos aprendizados. Ou seja, mais uma vez, o fator “tempo” pode inibir os educadores, dificultando a periodicidade desta prática. Outros motivos complementares para o seu não espraiamento seriam: a) a preocupação com o trabalho extra: nem todos os docentes se dispõem a dedicar mais horas do seu dia à atividade laboral;  b) o desinteresse pela inovação em sala de aula — há muitos educadores que se limitam aos métodos tradicionais; c) o conhecimento teórico, mas não prático, de metodologias ativas, consideradas inovadoras — o que dificultaria sua implementação no cotidiano escolar; e, também, d) do “medo” de não dar conta do conteúdo principal, o exigido pelas redes de ensino, e a preocupação em se perder em meio a tantas obrigações.

Conclusão

O reconhecimento das práticas educativas elaboradas com as tecnologias educacionais, os recursos midiáticos, os dispositivos comunicativos, e, até mesmo, a mesclagem de itens de cunho cultural — como as manifestações artísticas não necessariamente vinculadas à tecnologia —, é visível tanto por parte dos/as professores/as quanto dos/as alunos/as. A incorporação desses recursos no cotidiano da ação pedagógica não isenta os sujeitos do processo educativo de dúvidas, incompreensões sobre o conteúdo e sequer garantem o melhor rendimento dos educandos, mas ajudam a tornar a aula mais atrativa, e, muitas vezes, envolvente, engajando-os e aumentando o interesse pelos tópicos abordados.

No entanto, ainda há muito a ser aperfeiçoado com relação à discussão acima. Há unidades escolares que não possuem estrutura adequada - quantidade de equipamentos suficientes e/ou em condições de uso, ausência de acesso à internet, dentre outros problemas - para que os/as professores/as possam desenvolver suas aulas por meio de recursos tecnológicos e midiáticos.

Embora seja o item de infraestrutura, conforme já consignado, um fator significativo para a interação dos docentes com os novos recursos técnicos, a nossa pesquisa revelou que um dos principais obstáculos está na própria formação dos professores e professoras para enfrentar os desafios colocados na interface comunicativo-educativa, conquanto a inserção das tecnologias e mídias no contexto escolar tenha quase três décadas. O que remete às temáticas da formação permanente dos profissionais da educação em serviço.

É preciso verificar, também, que as tecnologias não podem ser vistas como instrumentais, e sim como mediadoras da aprendizagem, conforme nos aponta Orozco (2006). O uso delas deve ser integrada à ação docente, fazer parte do dia a dia escolar, e não apenas despontar em conteúdos especiais. Os recursos, ao menos os básicos, precisam estar acessíveis a todos os alunos, independentemente da infraestrutura escolar, como apontado. E, para completar, o domínio desses suportes, cujas atualizações são constantes e em ritmo acelerado, exige formação contínua dos educadores para dominá-los e se apropriar deles no intuito de melhorar o desempenho das turmas.

Do ponto de vista dos educandos, eles estão cientes de que a sua imersão na sociedade em rede e no universo globalizado, permeado pelas tecnologias, abre as portas para conhecimentos inumeráveis. No entanto, cabe aos/às professores/as o papel de orientá-los no uso consciente desses meios, que, ao mesmo tempo, podem auxiliá-los, mas também logram, se mal empregados, prejudicá-los no seu processo de formação — isso porque influenciam e até direcionam o repertório cultural dos alunos, a sua formação cognitiva, social, pessoal, dentre outras.

TEMA II

DOCENTES: PERFIS

Dados e reflexões deste tópico:
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Introdução

Os dados que abrem este conjunto temático descrevem o perfil docente alcançado em investigação promovida pelo Grupo de Pesquisa MECOM/ECA-USP. Trata-se de aspectos preliminares relacionados às práticas midiáticas docentes na comunidade escolar e sua influência no ecossistema educacional sob efeitos da aceleração social do tempo (ROSA, 2013, 2016, 2019; CITELLI, 2019) nas experiências pedagógicas.

Desenvolvimento

Tendo em vista os/as 509 professores/as que participaram da pesquisa, foram elaborados dois gráficos preliminares referentes à idade e aos anos de magistério, a serem comentados em conjunto, sempre considerando o enfoque acima descrito.

Figura 8 - Idades dos professores

31 a 40 anos
31%
41 a 50 anos
28%
Acima de 50 anos
23%
20 a30 anos
16%
Não responderam
2%
Fonte: MECOM, 2019.

Figura 9 - Anos de exercício no magistério

11 a 20 anos
30%
21 a 30 anos
23%
6 a 10 anos
19%
Até 5 anos
18%
Mais de 30 anos
7%
Não responderam
2%
Fonte: MECOM, 2019.

Dos educadores participantes do levantamento, 299 (59%) são do estado de São Paulo, que é seguido por Santa Catarina (5,5%), Pernambuco e Paraná (ambos com 4,5%), Bahia (2%), Pará (1,2%) e Minas Gerais (1%). Além disso, foram coletadas contribuições do Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Rio de Janeiro e Espírito Santo, todas com percentual inferior a 1%. Convém esclarecer ainda que quase um quinto da amostra (20%) não informou nem a cidade nem a unidade da federação à qual pertencem.

Figura 10 - Estado no qual leciona

São Paulo
59%
Santa Catarina
5,5%
Pernambuco
4,5%
Paraná
4,5%
Bahia
2%
Pará
1,2%
Minas Gerais
1%
Rio Grande do Sul
0,8%
Mato Grosso do Sul
0,6%
Mato Grosso
0,6%
Rio de Janeiro
0,6%
Espírito Santo
0,2%
Não Respondeu
20%
Fonte: MECOM, 2019.

A maioria (60%) dos/as professores/as respondeu às questões por intermédio da versão digital do formulário. A quase metade dessa amostra, conforme indica a tabulação dos dados, é formada por pessoas entre 20 e 40 anos; menos de um quarto (23%) mencionou ter alcançado a casa dos 50 anos.

Apesar da diversificação etária da população pesquisada, observamos o fato de a maior parte dos respondentes (61%) se dedicar à docência por período superior a uma década ― a se destacar o grupo de professores/as (54%) com experiência entre 11 e 30 anos.

As informações sugerem o seguinte quadro: mesmo sendo relativamente jovens, os docentes contam com histórico razoável de prática pedagógica. Ou seja, expressiva porção dos/as professores/as inicia cedo a carreira no magistério, destacadamente na faixa dos 20 anos.

O nosso estudo constatou serem os participantes submetidos a longos períodos de trabalho. Apenas um terço (33%) disse dedicar-se às suas atividades em meio período. Os demais se distribuíram em integral (50%) e jornada tripla (17%), admitindo permanecerem, muitas vezes, no ambiente escolar desde a abertura dos portões, por volta das 7 horas, até o encerramento das atividades, perto das 23 horas.

Metade dos docentes passam a maior parte dos seus dias letivos em sala de aula (50,1%) e exercem suas funções em mais de uma escola. Além disso, 15,9% declararam ser obrigados, inclusive, a fazer deslocamentos entre cidades para assumir o segundo ou terceiro turno.

Cruzados os gráficos, verificamos que as duas maiores indicações, respectivamente com 31% (idade: nascidos entre 1978 e 1987) e 30% (anos de magistério: interregno de 1998 a 2007) – tendo como referência de chegada 2018, momento da recolha das informações –, dizem respeito a um grupo de profissionais que concluiu a formação superior e ingressou na docência no momento de afluxo dos dispositivos comunicacionais e sua crescente importância social. Destacado tal grupo (Figura 10), nele perfilam-se 37% de professoras e professores entre um e dez anos de magistério. Ou seja, quase um terço dos/as profissionais foram não apenas formados, praticamente, no processo de disseminação comunicacional, mas o fizeram nos quadros da ampla digitalização. O que significa convivência cotidiana com os mobiles, a internet, as linguagens ajustadas às pequenas telas, o poder dos algoritmos. Mesmo aqueles em torno dos 50 anos (Figura 9) e próximos aos 20 de magistério tiveram parte importante do seu mister desafiado pelos dispositivos informático-midiáticos, malgrado raramente as licenciaturas que cursaram se voltassem às realidades desdobradas por tais ambientes sociotécnicos.

Tal assertiva, contudo, nem sempre corresponde à realidade dos vínculos entre professores/as e alunos/as nas salas de aula, naquilo referente aos projetos didático-pedagógicos. As conhecidas carências na formação inicial para a docência, sob espectro que pode ir das fragilidades registradas em muitas licenciaturas, passando por instituições de ensino superior de questionável qualidade, indo aos projetos adstritos à perspectiva propedêutica, chegando aos óbices para se entender o lugar das tecnoculturas, compõem quadro particular que dificulta a identificação, nas faixas mais jovens de professores, de atitudes inovadoras quanto às inúmeras intercorrências suscitadas pela sociedade digital. Em outros termos: o fato de haver um grande contingente de professores habitando universo tecnológico próximo ao dos alunos não significa estejam ocorrendo ajustes capazes de provocar mudanças significativas nas relações de ensino e aprendizagem. Daí ser difícil asseverar que as distâncias etárias e mesmo do tempo de exercício profissional se traduzam em práticas muito diferentes no afeito aos modos de a escola considerar os novos dispositivos e linguagens comunicacionais.

Outra variável que confirma o cotidiano sobrecarregado entre os/as professores/as é a carga horária semanal a eles atribuída. Quase dois terços dos respondentes afirmaram dedicar-se a uma jornada superior às 30 horas. A maior concentração de trabalho dos docentes na escola varia entre 31 e 40 horas (36%); adicionada a segunda incidência (26%), com dedicação de 21 a 30 horas, resulta a soma de 62% dos respondentes. Neste caso, não se estimou o conjunto de atividades demandado pelos professores e professoras na realização da aula propriamente dita.

Figura 11 - Qual é a sua carga horária semanal?

31 h/a a 40 h/a
36%
Mais de 40 h/a
26%
21 h/a a 30 h/a
18%
11 h/a a 20 h/a
14%
Menos de 10 h/a
6%
Não respondeu
1%
Fonte: MECOM, 2019.

A carga horária é majoritariamente (49,7%) integral, dobrada e/ou triplicada (16,5%), perfazendo 66,2% da amostra. Há um universo menor, conquanto representativo, de 33,2% que dedica ao magistério parte do tempo profissional; não chegamos a perguntar diretamente nos questionários aplicados se tal parcela docente possuía outros compromissos laborais. Porém, em rodas de conversa ou mesmo nos diálogos informais, foi possível saber que muitos sujeitos de pesquisa alocados junto aos 33,2% desenvolvem outros afazeres remunerados. A ideia básica é a de complementar renda, até porque, no citado segmento existe importante presença dos professores e professoras eventuais ou substitutos, sem relação trabalhista estável, com carga horária definida, vivendo, consequentemente, a precariedade de uma situação que tanto se traduz em oscilações de salário – per si baixo, mesmo entre docentes efetivos, com carreira definida e amparada nas garantias funcionais – como na insegurança provocada pela incerteza do amanhã, pelo acúmulo de perguntas sem respostas: o/a titular da disciplina faltará?; a prefeitura ou o estado abrirão concurso para efetivação?; haverá aula para substituição na escola no próximo semestre?.

Agregam-se a tais preocupações o acúmulo de responsabilidades e o ritmo exaustivo envolvendo o planejamento e a realização de aulas, a aplicação e correção de provas, de lições e de trabalhos, somadas às atividades burocráticas, como o preenchimento de diários, o lançamento de notas e a participação em reuniões pedagógicas. Tal acúmulo de atividades acaba por comprometer a qualidade de vida e o desempenho profissional dos/as professores/as. Um dos reflexos diretos da pressão diária são os problemas de saúde, que, com frequência, levam ao afastamento das funções, às solicitações de transferência para atividades administrativas e, no limite, à aposentadoria compulsória (FALCÃO, 2017).

Outra consequência inevitável é a restrição do tempo disponível para a preparação das aulas, sobretudo a partir de uma perspectiva mais dialógica e convergente com os interesses dos/as estudantes. Assoberbados com o excesso de turmas frente aos prazos e metas determinados pelo calendário letivo, os educadores têm quase nenhuma – ou nenhuma – margem, sentindo-se pouco confortáveis para propor atividades e conteúdos aderentes à realidade dos/as alunos/as. Dito de maneira mais direta, eles e elas carecem de meios materiais e temporais para adotar práticas inspiradas em um modelo de educação que se constitui “em um ato coletivo, uma troca de experiências, em que cada envolvido discute suas ideias e concepções.” (FREIRE, 1998, p. 96). Breve análise dos padrões de deslocamento docente em exercício da função auxilia-nos a compreender melhor as alocações temporais vinculadas ao professorado:

Figura 12 - Se você optou pelo período integral, você dobra ou triplica na mesma escola ou em unidade diferente?

Na mesma escola
38%
Em escolas diferentes, mas na mesma cidade
24%
Em escolas e cidades diferentes
11%
Não respondeu
27%
Fonte: MECOM, 2019.

Esse gráfico permite maior aproximação entre atividade profissional docente e ocupação do tempo. Dentre aquele grupo que indica trabalhar em período integral nas salas de aula, mais da metade (38%) o faz na mesma escola, entretanto, número muito próximo (35%), atua em unidades diferentes na mesma cidade ou em localidades distintas. Haja vista que boa parte da nossa amostra, da ordem de 299 respondentes (dos 509 alocados em vários estados brasileiros2) foi colhida no município de São Paulo, um problema merece destaque. São demais conhecidas as condições complexas de mobilidade urbana na megalópole, o que torna intrincada a relação do/a professor/a com o tempo (Ver: Tema III - Tempo Docente), considerando interpor-se no interior da jornada integral (dupla ou tripla, repita-se) o deslocamento por mais de uma unidade educativa. Cremos não ser preciso apontar as implicações quando atentamos para a variável das viagens por cidades diversas, mesmo naqueles municípios com problemas de locomoção menos graves do que os registrados em São Paulo. Trata-se, portanto, de significativo adicional de tempo despendido pelos/as docentes para o prosseguimento do seu mister profissional.

Figura 13 - Em quantas escolas leciona?

Uma
58%
Duas
32%
Três
3%
Mais de três
2%
Não respondeu
1%
Fonte: MECOM, 2019.

A despeito de o gráfico apontar que a maioria dos/das docentes, respeitados os diferentes regimes de trabalho, está concentrada em uma escola (58%), é expressivo o número dos alocados em duas ou até três unidades (41%). Aqui prosseguimos apontando como o magistério possui, ao lado de tantos outros fatores intervenientes capazes de comprometer a qualidade do trabalho realizado nas salas de aula, uma variável, aparentemente exógena, concernente ao tempo empregado nos deslocamentos profissionais. Trata-se de assunto pouco lembrado nos debates acerca das condições laborais dos educadores e educadoras, mas cujas resultantes, seja no tangente ao desgaste físico, seja da preparação das aulas, seja da autoformação, impactam no desempenho deles e delas.

Como contraponto a esse encolhimento de tempo vivenciado por boa parcela dos/as professores/as, poderíamos seguir com a corrente segundo a qual o uso das tecnologias faria sobrar tempo livre para todos/as os/as usuários/as - docentes inclusos. O que, se verifica, no entanto, é o componente redutor temporal representado pela disponibilidade vinte e quatro horas, sete dias por semana (CRARY, 2014) à qual inúmeros/as mestres/as têm se subordinado (de modo impositivo ou até mesmo voluntário). A “terceira face” a emergir de tal cenário preenche discussões em torno das novas relações entre ensinantes e aprendentes, para usar os termos cunhados por Ivani Fazenda (1994), permeadas pelos tecnodispositivos eletrônicos.

Como indicam os dados coletados junto aos educandos e educandas, os meios de comunicação e, em especial, as tecnologias digitais são presença marcante na vida dos/as jovens. Com a expansão e barateamento dos dispositivos móveis, os aparelhos celulares foram incorporados ao cotidiano da escola e não apenas passaram a competir com os/as educadores/as pela atenção dos/as alunos/as, como também estabeleceram novas formas de relação, de conhecimento e de pertencimento (SERRES, 2013).

Os/as docentes não estão alheios a tais aparatos e às experiências que deles decorrem. A pesquisa revela que 80% dos mestres e mestras usa o smartphone como meio preferencial para acessar a internet, 89% acessa a rede de computadores para preparar aula e 91% recorre ao computador para realizar atividades didáticas. Além disso, a maioria (93%) entende que a relação entre as mídias e a escola é complementar.

Figura 14 - Disciplinas ministradas

Língua portuguesa
24%
Matemática
18%
Inglês
12%
História
11%
Geografia
10%
Ciências
8%
Física
7%
Biologia
7%
Educação física
6%
Química
5%
Arte
4%
Sociologia
4%
Filosofia
4%
Educação infantil
(inclui polivalentes)
3%
Espanhol
1%
Ensino fundamental (um ou mais disciplinas - não especificadas)
12%
Outras
1%
Não responderam
9%
Fonte: MECOM, 2019.

Os/as professores/as de língua (português, inglês) aparecem com maior participação. Vale observar: as aulas de português também costumam ser em maior número nas grades escolares e, somadas às de inglês, geraram em nossa investigação maior quantidade de respondentes. Destacamos, entretanto, o fato de estarem representados na pesquisa, em grau maior ou menor, professores e professoras das várias áreas de conhecimento (exatas, humanas, biológicas), o que confere ao conjunto de dados a diversidade docente desejável para recorte afeito ao pretendido por nosso grupo de pesquisa.

Figura 15 - Universidade/faculdade/centro universitário em que concluiu a licenciatura

Particular
68%
Pública
26%
Ambas
1%
Não informada
4%
Respostas inconsistentes
1%
Fonte: MECOM, 2019.

Observa-se que a maioria dos/as professores/as em exercício da função (68% da amostra ou 350) formou-se em instituição privada de ensino, enquanto 26% (ou 134) cursou escola pública de ensino superior. Dezoito (18 ou 4%) professores/as preferiram não indicam a origem de sua formação, seis (6 ou 1%) afirmaram ter cursado ambos os tipos de instituição formadora. Sete (7 ou 1%) docentes apresentaram respostas inconsistentes com relação à pergunta feita.

Figura 16 - A escola na qual você concentra a maior carga horária tem, aproximadamente, quantos alunos?

Mais de 1500 alunos
9%
1000 a 1500 alunos
12%
1000 alunos
9%
Entre 501 e 999 alunos
23%
Entre 301 e 500 alunos
18%
Até 300 alunos
17%
Fonte: MECOM, 2019.

Menos de 20% dos/as docentes pesquisados lecionam em escolas com até 300 alunos/as, enquanto 9% deles trabalham em estabelecimentos que recebem diariamente mais de 1500 estudantes. Nas faixas intermediárias, observamos maior presença de docentes exercendo seu mister em escolas que comportam entre 500 e 999 alunos. Prevalece a média de 700 discentes no quesito contato aluno-professor.

Conclusão

A organização dos dados sobre o perfil dos/as docentes alcançados pela pesquisa confirma a percepção de que estes/as profissionais cumprem cargas de trabalho extenuantes. Além das atribuições oficiais de aula, que para mais de 60% dos participantes do levantamento é superior às 30 horas semanais, boa parte dos/as professores/as tem de se deslocar para diferentes unidades de ensino, a maioria delas – quase dois terços - com mais de 500 alunos matriculados.

O baixo salário está entre os elementos que pressionam os/as educadores/as a incorporar as longas jornadas de forma definitiva às suas vidas diárias, naturalmente marcadas pelos inúmeros compromissos e atividades simultâneas. A nova dinâmica social, atravessada pelas tecnologias de comunicação, especialmente dos mobiles, limita o tempo de que estes/as profissionais dispõem para planejar e preparar aulas mais aderentes à realidade e às vivências dos/as alunos/as.

As pressões da contemporaneidade, com expectativas quase sempre dizem respeito ao aqui e agora, não apenas comprometem diretamente a qualidade das aulas. Elas também expõem os/as docentes à multiplicidade de mazelas comuns em nossos dias, como a depressão e outras doenças. As condições inadequadas para a prática docente, não raro, têm como consequência o afastamento das funções, com desdobramentos que transcendem o cotidiano da escola. Somam-se aos problemas imediatos, como a necessidade de reposição do quadro de professores/as, as aulas vagas nem sempre repostas e a descontinuidade de propostas pedagógicas, os transtornos (e sofrimentos) causados ao/à professor/a e às suas famílias, introduzidos ao conjunto de procedimentos burocráticos, com suas etapas, instâncias e formulários dos quais, com muita frequência, jamais conseguirão se livrar completamente.

Notas

2-

Participaram da pesquisa professores/as dos seguintes estados: Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo.
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TEMA III

TEMPO DOCENTE

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Introdução

Neste segmento da pesquisa serão examinados e comentados alguns dados que incidem diretamente sobre a temática temporal envolvendo os/as docentes:  preparação das aulas; maneiras de se relacionar com os/as discentes quase sempre acompanhados de celulares; autoformação; lazer; hábitos de uso dos meios de comunicação, etc. O propósito de pensar a temática temporal sob o ângulo dos/das docentes decorre, também, da rápida introdução das culturas digitais e seus dispositivos – necessariamente postos sob o intensificado ritmo da velocidade – na dinâmica escolar e no próprio cotidiano de todos nós. Em particular no caso em tela, trata-se de indagar acerca das repercussões da aceleração temporal nos andamentos profissionais e mesmo pessoais dos professores e professoras do ensino básico participantes da nossa investigação.

Desenvolvimento

As considerações a seguir decorrem da tabulação dos questionários aplicados durante a pesquisa, mas também das reflexões suscitadas pelas entrevistas presenciais e observações diretas das aulas ministradas.

Figura 17 - Considera o seu tempo disponível para preparar aulas:

Inadequado em relação à sua carga horária em sala
53%
Adequado em relação à sua carga horária em sala
41%
Nunca parou para pensar nisso
5%
Não respondeu
2%
Fonte: MECOM, 2019.

Malgrado haver certa equanimidade entre os que afirmam ser inadequado ou adequado o tempo disponível para a preparação das aulas, o porcentual dos primeiros é de 53%; o dos segundos, 41%. Ou seja, permanecemos no interior de um cenário no qual o fator tempo vai ganhando aclaramento, mostrando dimensões e ângulos de sua presença no cotidiano dos professores e professoras, inclusive com reflexos negativos como os aqui apontados e de impactos imediatos na organização das aulas.

Figura 18 - Semanalmente, você dedica quanto tempo a atividades não ligadas às obrigações profissionais, a exemplo de idas ao cinema, passeios com a família, prática esportiva, etc?

Até uma hora
19%
De uma a cinco horas
45%
De cinco a dez horas
22%
Mais de dez horas
12%
Não respondeu
2%
Fonte: MECOM, 2019.

Aos docentes resta pouco tempo de envolvimento em atividades não estritamente profissionais – aulas em uma ou mais escolas, preparação de material didático, correção de provas e trabalhos dos alunos e alunas, eventuais deslocamentos entre distintas escolas (Ver: figuras 13 e 14), etc. E, conforme enunciado na pergunta, havia um leque de possibilidades incluindo idas ao cinema, práticas esportivas, lazer com a família, abrangendo, portanto, várias instâncias da vida pessoal dos professores e professoras, ensejado na ideia de tempo livre, aquele visto pelo sistema produtivo como expressão, normalmente negativa, cujos pares próximos e dados como redutíveis são o entretenimento e o ócio. Das porcentagens chama atenção o fato de 19% da amostra indicar que possui, ao longo da semana, apenas até uma hora para incumbências não referidas ao mister do magistério, incluindo aquelas de caráter tão pessoal como as relações familiares. Mesmo atentando para a resposta majoritária, correspondente a 45% dos professores, a indicação de uma a cinco horas semanais para a vivência do tempo livre, revela sobrecarga de trabalho cujos limites não estão dados, somente, pelas práticas levadas a termo nas escolas, mas se expandem pelo conjunto de ações postas em torno de cada aula ministrada.

Cabem, aqui, dois adendos. O primeiro alusivo ao fato de nem todos professores e professoras que participaram da pesquisa estarem na escola em tempo integral (Ver figura 13), apesar de terem se manifestado nesta resposta; o segundo concerne ao advérbio semanalmente – posto na abertura da pergunta. Para os efeitos da investigação tratávamos dos cinco dias que compõe, no geral, a jornada dos docentes em sala de aula, porém, várias entrevistas dizem respeito à semana completa, portanto, os sete dias, o que agrava as nossas observações gerais. Em resumo: ao contrário das inúmeras atividades profissionais, cuja jornada de oito horas tem cunho “terminativo”, os professores e professoras vivem continuidades entre as aulas de cinquenta minutos e o que se põe em torno delas. O interregno entre o antes e o depois do período que regula a atividade dentro da escola requisita um tipo particular de envolvimento docente, razão, muitas vezes, para o comprometimento do tempo pessoal, livre, disponível, aquele dedicado aos propósitos não ligados, necessariamente, às demandas de cunho profissional.

Figura 19 - A afirmativa "Existe uma sensação de que o tempo está passando muito rápido” é:

Procedente
86%
Não considerei o assunto
8%
Improcedente
3%
Não respondeu
4%
Fonte: MECOM, 2019.

O gráfico aponta um dos aspectos centrais de nossa reflexão referente à percepção da temporalidade pelos sujeitos contemporâneos, cuja marca é a aceleração. O fenômeno pode ser generalizado, alcançando outros segmentos profissionais, etários, econômicos, etc., mas, no caso específico dos/as professores/as, foi possível mensurar, através da nossa pesquisa, que 86% dos respondentes manifestam a percepção de que a velocidade se instituiu como fator a perpassar o tempo. É neste contexto que as expressões “sensação”, “reconhecimento subjetivo”, “percepção”, devem ser lidas: a perspectiva individual de apreensão do tempo marcado pela aceleração, no caso do segmento docente, converge para um, digamos, “sentimento coletivo” que congrega a maioria dos/as entrevistados/as. Circunstâncias já discutidas nos gráficos anteriores (carga horária, deslocamento por escolas, período de trabalho, tempo livre, etc.), certamente contribuem para explicar as razões de a celeridade ser identificada pelos educadores e educadoras como marcas a reger o dia a dia.

Figura 20 - Caso a sua resposta anterior tenha sido a alternativa “procedente”, você a associa:

Ao ritmo da vida contemporânea
67%
Ao excesso de atividade profissional
42%
Ao uso das tecnologias de comunicação
42%
À impossibilidade de realizar tarefas que digam mais respeito às minhas necessidades pessoais, a exemplo de sair com os amigos, ir ao cinema, ler um livro de meu interesse
32%
Ao fato de usar o tempo livre para navegar pela internet, acessar redes sociais, YouTube, WhatsApp
23%
Fonte: MECOM, 2019.

Buscamos melhor esclarecer junto aos 86% dos/as professores/as qual o motivo para considerarem procedente a sensação de que o tempo está passando com maior rapidez. Os/as entrevistados/as podiam juntar mais de uma resposta. Os motivos apontados englobam quatro grandes elementos, no mais a receberem análises de especialistas dedicados à questão temporal, mesmo fora dos cenários educativos (ROSA, 2016): as vicissitudes do cotidiano; a presença das tecnologias; a sobrecarga de trabalho; a impossibilidade de vivenciar de maneira mais plena o “tempo livre, pessoal”.

Ao tópico referente à presença das tecnologias, cabe vincular o quinto item mais respondido nesta pergunta (23%), que associa a sensação do tempo acelerado ao uso dos dispositivos comunicacionais como Youtube, Facebook, WhatsApp, enfim, estar conectado, no que, aliás docentes e discentes se aproximam (Ver: figuras 48 e 49 dos comentários à pesquisa realizada junto aos alunos e alunas. Ou seja, a despeito de ser factível afirmar a existência de gradações tonalizando os vínculos entre tempo e indivíduo hodierno, é imperativo buscar no universo de um segmento profissional, o dos docentes, os motivos particulares que acionam a dimensão dromológica, para usarmos conceito de Paul Virilio (2015). As resultantes práticas de tal processo envolvendo intenso deslocamento temporal podem ser identificadas, por exemplo, na insatisfação ou irrealização profissional, ou mesmo no plano afetivo, emocional, de que basta verificar entre os docentes o aumento nos casos de depressão, transtornos comportamentais, ansiedade e doença de Burnout3.

Figura 21 – Admitindo que você perceba que o tempo está mais acelerado, isto tem reflexos na sua atividade de professor?

Sim
78%
Não
17%
Não respondeu
6%
Fonte: MECOM, 2019.

De forma majoritária, os educadores estabelecem correlação direta entre a percepção do tempo socialmente acelerado e as práticas profissionais. Várias das considerações feitas às figuras componentes deste segmento reflexivo podem ser aqui reatualizadas e expandidas, pois ajudam a compreender as próprias dinâmicas cotidianas das escolas e dos seus e suas especialistas, envolvidos/as entre inúmeras demandas internas e externas às salas de aula. Para 78% dos/as professores/as e professoras conviver em contexto marcado pela velocidade e pela sensação do “presente encurtado” traz consequências na aula a ser ministrada; no acompanhamento dos alunos – observação dos progressos nas disciplinas, correção de trabalhos, avaliações, gestão dos conflitos, etc. –; na preparação dos materiais didáticos – escolha de textos, uso eventual de dispositivos tecnológicos: powerpoint, filmes ilustrativos dos conteúdos ministrados, elaboração de blogs, etc.; na formação continuada docente.

Ou, nas palavras dos próprios entrevistados4:

“Eu tenho ideias incríveis para aprimorar minhas aulas e conteúdos, advindas do contato com as mídias de comunicação e interação virtual, mas não consigo pô-las em prática devido à falta de tempo hábil”; “Falta tempo para preparar as atividades como gostaria”; “Parece que vivo dentro de uma escola sem ter tempo para nada. A docência é maravilhosa, porém nos desgasta bastante, sinto não ter tempo para me reenergizar”; “Pouco tempo para me dedicar à preparação das aulas, projetos e correções de provas. Chego a ficar sábado e domingo preparando aula, corrigindo atividades e avaliações”; “As aulas parecem acabar mais rápido; não há tempo suficiente para prepará-las adequadamente”; “A correria de uma escola para outra faz com que o tempo seja curto para desenvolver atividades pessoais”; “Estou sempre acelerada para dar conta do currículo e não temos tempo livre para o bate- papo com amigos e alunos. Falta tempo para o ócio produtivo”; “O professor sente-se mais estressado e cansado, consequentemente não consegue fazer um bom trabalho”; “Porque o uso das tecnologias de comunicação acarretou sobrecarga de trabalho do professor: tenho de produzir material “analógico” e também “digital” para alimentar o AVA. Trabalho muito mais horas fora da sala de aula do que antes da internet chegar na escola”5.

Explicita-se, enfim, o sentimento comum entre os e as docentes que o fator temporal possui relevância quando se trata de promover o mister didático-pedagógico. É importante que frente a tal constatação seja incluída na pauta de discussão sobre os futuros projetos voltados à educação básica o reconhecimento do tempo na vida dos sujeitos (docente, discente, equipes técnicas, etc.), dos modos como é apropriado, disposto, utilizado, haja vista as circunstâncias particulares que atravessam a sociedade contemporânea, em suas ativações técnicas, tecnológicas, comunicacionais.

Figura 22 – Você considera que a possível aceleração social do tempo tenha algum reflexo no comportamento e práticas dos alunos em sala de aula?

Sim
70%
Talvez
19%
Não
6%
Não respondeu
5%
Fonte: MECOM, 2019.

Os professores e professoras não apenas afirmam existir linha de continuidade entre aceleração temporal e consequências práticas na atividade profissional que desenvolvem, como asseveram tratar-se de processo mais abrangente, alcançando, inclusive, os/as discentes. Apenas 6% dos/das entrevistados/as não apontaram existir em suas ações nas salas de aula nexos entre aceleração temporal e comportamentos e mesmo práticas didáticas dos/das discentes. Ao contrário, 70% responderam favoravelmente à pergunta, ficando, ainda, 19% em dúvida. Há, portanto, para a maioria docente certo consenso no tangente aos citados vínculos.

Ao serem perguntados acerca dos motivos e consequências da aceleração no cotidiano escolar do aluno, abriram amplo leque de respostas. A seguir agregamos algumas delas:

“As crianças estão tão aceleradas que não conseguem mais se concentrar. Por isso não consigo terminar as atividades no tempo esperado”; “Eles não têm “paciência” para realizar atividades que exigem reflexão, análise, aprofundamento. São imediatistas, leem as headlines e acham que já sabem tudo sobre o assunto porque já leram várias informações “picadas” de, no máximo, 140 caracteres”; “Acredito que a fluidez das informações vai alterando também a fluidez dos sentimentos e emoções. Isso pode resultar  em novas relações sociais. Em laços que fazem e se desfazem a todo momento, sem a sua devida atenção”; “Tudo acontece muito rápido, as pessoas não têm mais tempo de conviver umas com as outras, elas somente vivem virtualmente e isso é muito ruim para as relações humanas; isso reflete na dificuldade que encontramos para acessar nossos alunos”; “A geração que está aí apresenta um perfil acelerado, de ver os resultados, por causa do mundo tecnológico em que ela está inserida”; “Sinto os alunos tendo maior dificuldade de estarem verdadeiramente presentes em sala de aula; estão frequentemente “plugados”; a qualquer hora pode haver uma série de novas mensagens no Facebook, Instagram, Twitter, etc. Também percebo que eles têm apresentado maior dificuldade em lidar com o silêncio, com o tédio, com o tempo lento necessário para alguns aprendizados”; “Alunos ficam mais preocupados em mexer no celular do que em participar da aula”.

Enfim, há uma coleção de assertivas, em boa parte convergentes no ponto principal de nossa análise, a do vínculo entre celeridade e desempenho escolar, espalhadas pelas 509 respostas dadas pelos professores à pesquisa. É pertinente dizer, sinteticamente, que entre as apontadas atitudes, comportamentos e práticas dos/das discentes vinculadas à aceleração, encontram-se: impaciência, hiperatividade, falta de concentração, condutas desatentas, muitas vezes envolvendo desorganização do material didático e mesmo posturas provocativas a outros colegas, gerando problemas atitudinais e de desempenho. Os motivos para tal quadro de dispersão encontram-se, normalmente, associados ao “espírito do tempo”6 e seus motores de desencadeamento: frequência exagerada aos meios digitais, uso excessivo do celular, conexão permanente à internet, caráter fragmentário do que se acessa, rapidez na passagem pelos assuntos, etc.

Conclusão

Em esforço de síntese das observações aos gráficos acima, é possível afirmar que os/as docentes estão no interior de um processo de mudanças sociotécnicas com repercussões importantes no trabalho educador formal. Em boa monta, os professores e professoras possuem idade e tempo de exercício do magistério consentâneos à ampliação dos dispositivos comunicacionais, particularmente em anos recentes ancorados nas tecnologias digitais. Tal esclarecimento promove compreensível aproximação entre docentes e discentes haja vista circularem em universo comum mediado pelos inúmeros dispositivos técnicos, midiáticos, e suas variadas implicações. Isto não significa, entretanto, existir maior ajuste de passo entre os andamentos das aulas em seus modelos atuais e os desafios pedidos a uma educação que tem à sua frente incitamentos promovidos pelo âmbito da comunicação.

É possível acompanhar pelos dados acima e seus comentários uma série de problemas que permeiam a vida profissional dos docentes, em sua faina de ministrar grande número de aulas – associadas a outras tarefas delas decorrentes –, além de questões salariais, de vínculos profissionais, etc. Sob tal contexto, irrompe um problema importante para a nossa pesquisa voltada à temática do tempo. E o que aí se verifica é uma clara tensão entre demandas profissionais e mesmo ordinárias e o desejo para afirmar o “sujeito-para si”, cuja liberdade voltada a explorar o tempo livre fica cada vez mais distante.

Notas

3-

Não atribuímos tal síndrome exclusivamente às questões temporais. Trata-se, aqui, de acentuar aspecto pouco presente quando se intenta apreender as nuances envolvidas no trabalho docente.
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4-

Não atribuímos tal síndrome exclusivamente às questões temporais. Trata-se, aqui, de acentuar aspecto pouco presente quando se intenta apreender as nuances envolvidas no trabalho docente.
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5-

Não atribuímos tal síndrome exclusivamente às questões temporais. Trata-se, aqui, de acentuar aspecto pouco presente quando se intenta apreender as nuances envolvidas no trabalho docente.
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6-

Um/a dos/as professores/as depoentes fez assertiva interessante para dizer que não considerava existir problema específico afeito à aceleração haja vista estarem os discentes integrados em uma realidade nova, ela mesma recortada pela velocidade, pela instantaneidade: “Eles já nasceram e convivem com essa aceleração; para eles se trata de algo normal”. Ainda que não caiba, no momento, refletir sobre a naturalização do processo em tela, seria temerário descartar, liminarmente, a percepção segundo a qual existe um “espírito do tempo” que ancora determinadas perspectivas e comportamentos frente à realidade evidenciada.
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TEMA IV

DOCENTES: HÁBITOS DE MÍDIA

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Introdução

O conceito no qual apoiamo-nos para entender e discutir criticamente os hábitos midiáticos de docentes aqui pesquisados foi inspirado em Costa (2015) a partir dos estudos de Néstor García Canclini sobre consumo enquanto prática cultural.  Ou seja, um conjunto de processos socioculturais em que se realizam a apropriação e o uso de produtos simbólicos como hábitos de ver, ouvir e se informar. (CANCLINI, 1997, p.53-59).

Para buscar respostas aos desafios impostos pelas transformações sociais que ocorrem nos últimos anos, principalmente no campo da midiatização da experiência humana, tentamos demonstrar nesta análise a variedade de dispositivos de informação e comunicação que circulam nos espaços educativos. Eles disputam sentidos e valores tanto na relação direta docente-estudante quanto nas nuances trazidas pela experiência geracional. Sendo assim, o que os estudos da relação comunicação e educação podem nos dizer sobre um espaço de troca e produção de conhecimento tensionado diariamente por repertórios e discursos de alunos/as e professores/as cuja maior característica é a ausência de consenso?

Desenvolvimento

Iniciamos pelos hábitos de leitura. Do total de 509 respondentes em nível nacional, 42% não costuma ler jornais ou o fazem de modo eventual, como mostra o gráfico constante da figura 23.  Os que referem leitura diária são 35%.

Figura 23 - Você lê jornal com que frequência?

Semanal
23%
Diária
35%
Eventual
28%
Não tenho o hábito de ler jornal
14%
Não respondeu
0,4%
Fonte: MECOM, 2019.

Entre os leitores diários e/ou semanais (58% dos pesquisados), mais da metade utiliza suportes digitais e cerca de 12% mantêm o hábito de folhear o jornal impresso.  Entretanto, como aponta a figura 24, ¼ deles referiu utilizar tanto o formato impresso quanto o digital em suas leituras.

Figura 24 - A leitura de jornais ocorre através de veículo:

Digital
53%
Impresso
11%
Ambos
26%
Nenhuma das anteriores
6%
Não respondeu
4%
Fonte: MECOM, 2019.

Os títulos mais referidos pelos que se dizem leitores diários ou semanais de jornais, sejam eles impressos ou digitais, são Folha de S. Paulo (188 citações), O Estado de S. Paulo (78 citações), Portal Globo.com/G1 (69 citações) e UOL (40 citações). Vale destacar que a Folha de S. Paulo, pertencente ao Grupo Folha e com sede na capital paulista, lidera o ranking de circulação de jornais do país: segundo o Instituto Verificador de Comunicação (IVC), a média de circulação mensal durante todo o ano de 2019 foi de 328.438 exemplares diários, impressos e digitais. O Estado de S. Paulo, também conhecido como Estadão, é publicado desde 1875. Ao lado da Folha, de O Globo, Zero Hora, Correio Braziliense e Estado de Minas, forma o grupo dos principais jornais do Brasil. Globo.com é um portal da web criado em 2000 e pertencente ao Grupo Globo, o maior grupo de mídia da América Latina. Possui aproximadamente 500 mil assinantes, além de hospedar quase 700 sites em próprios e filiados. G1 é um portal de notícias mantido pelo mesmo conglomerado sob orientação da Central Globo de Jornalismo desde 2006. UOL - Universo Online é uma empresa brasileira de conteúdo, produtos e serviços de Internet mantido pelo Grupo Folha desde em 1996. Em 2017 foi considerado pela plataforma SimilarWeb o sexto site mais visitado da Internet no Brasil, atrás de nomes como Google e Facebook. Entretanto, ressaltamos as referências feitas pelos pesquisados aos jornais regionais e locais7: juntos, ultrapassam 60 citações, revelando a diversidade de fontes de informação a que têm acesso seja em âmbito global, nacional, regional e também local.

Mais de 60% dos/as professores/as pesquisados não costumam ler revistas ou o fazem de forma eventual, como mostra a figura 25.  Os 36% de leitores habituais - semanal ou mensal – referem-se a títulos como Veja, Superinteressante, Nova Escola e IstoÉ. Há outras citações de periódicos semanais ou mensais voltados a Entretenimento, Esportes, Comportamento, Variedades e também a temas científicos, pedagógicos e/ou da área da Educação, de acordo com a figura 26.

Figura 25 - Você lê revista com que frequência?

Semanal
27%
Mensal
9%
Eventual
38%
Não tenho por hábito ler revistas
26%
Não respondeu
0,8%
Fonte: MECOM, 2019.

Figura 26 - Revistas que os professores costumam ler:

Títulos
Citações
Veja
125
Superinteressante
46
Nova Escola
45
Isto É
44
Carta Capital
29
Época
19
Exame
11
National Geographic
10
Piauí
8
Pesquisa FAPESP
7
Galileu
6
Ciência Hoje
6
Mundo Estranho
6
Fonte: MECOM, 2019.

Do universo de leitores, cerca de 30% utilizam suporte impresso e digital para as leituras; 27% só recorrem ao digital e 23% utilizam apenas suporte impresso, como demonstra a figura 27, abaixo.

Figura 27 - Suporte utilizado para leitura de revistas

Digital
27%
Impresso
23%
Ambos
29%
Não respondeu
20%
Fonte: MECOM, 2019.

Os leitores de jornais e revistas no formato digital recorrem a portais de informação ou blogs como UOL e G1 na grande maioria dos acessos (67% das vezes), assim como Facebook (33%) e WhatsApp (22%). A Figura 28 hierarquiza as citações, sendo que nesta questão foi dada ao respondente a possibilidade de optar por respostas múltiplas.

Figura 28 - No caso de ser digital, a leitura ocorre através de:

Portais de informação
67%
FaceBook
33%
WhatsApp
22%
E-mail
18%
Blog
16%
Twitter
5%
Não respondeu
16%
Outros
6%
Fonte: MECOM, 2019.

Como já analisado no tópico Docentes: perfis, os/as professores/as pesquisados/as recorrem majoritariamente a smartphone, notebook, laptop e desktop para navegação na internet. As finalidades reportadas são múltiplas: desde elaboração de atividades didáticas, relatórios, planilhas quanto pesquisas e apresentações das aulas. A figura 29, abaixo, aponta os dispositivos mais citados, lembrando que foi dada ao respondente a possibilidade de optar por respostas múltiplas.

Figura 29 - Como costuma acessar a internet?

Smartphone
80%
Notebook/Laptop
67%
Computador Desktop
41%
Tablet
16%
Smart TV
14%
Não acesso a internet
0,2%
Fonte: MECOM, 2019.

Conclusão

O docente retratado nesta pesquisa é leitor habitual de jornais - especialmente Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo e O Globo - e leitor eventual de revistas como Veja, Superinteressante e Nova Escola. Essas leituras são feitas no formato digital e, para isso, recorrem a portais de informação ou blogs como UOL e G1 na grande maioria dos acessos (67% das vezes), assim como Facebook (33,4%) e WhatsApp (21,8%). Os/as professores/as costumam navegar na internet para fins didáticos e pedagógicos a partir, principalmente, de smartphone e notebook. A maior parte dos docentes costuma compartilhar com alunos conteúdos como informações sobre a sua disciplina, notícias e vídeos como forma de dinamizar suas aulas e a sua prática didática.

Vimos que 56,2% dos/as professores/as utilizam sempre ou quase sempre como recurso didático-pedagógico algum tipo de conteúdo veiculado pelos meios de comunicação tais como músicas, videoclipes, novelas, séries, filmes, propagandas, telejornais, jornais ou revistas. Isso, por si só, referenda a hipótese desenvolvida em  Gomes, Corazza e Silva (2019) de que os campos educativos formal e informal estão hibridizados pelas práticas docentes que, para estabelecer sintonia com o horizonte cultural dos alunos, leva para a sala de aula o cotidiano informal sob a forma de produções da indústria midiática.

Entretanto, considerando também o momento sócio-histórico atual marcado pela constante e progressiva aceleração técnica e tecnológica, a pesquisa aponta para o fato de que os ambientes escolares ainda privilegiam conteúdos inseridos em um currículo formal, evidenciando aspectos normativos por meio de disciplinas, horários, tarefas a cumprir - e nisso os/as professores/as são os/as seus/suas grandes zeladores/as. Se, como já frisamos anteriormente, hábitos e práticas educativas formais e informais estão hibridizados, ao compararmos o consumo de mídia por parte de professores/as e o universo midiático dos/as estudantes, como explicado mais adiante no tópico Discentes: Hábitos de Mídia, veremos que a cultura ainda fortemente analógica dos centros de ensino é dissonante da sociedade digital contemporânea. Sendo assim, mais que nunca é preciso reinventar o futuro e promover sinergias considerando as singularidades do tempo escolar e as dinâmicas cotidianas que circulam fora dos muros da escola.

Notas

7-

Entre os citados estão:  A GAZETA (SC); A TRIBUNA (Santos, SP); COMÉRCIO DE FRANCA (SP); CORREIO DA BAHIA (BA); CORREIO DO ESTADO (MS); CORREIO LAGEANO (SC); CRUZEIRO DO VALE ( Gaspar, SC); DIÁRIO CATARINENSE (SC); DIÁRIO DE BARUERI (SP); DIÁRIO DE JACAREÍ (SP); DIÁRIO DE MOGI ( Mogi das Cruzes); DIÁRIO DE PERNAMBUCO (PE); DIÁRIO DE SUZANO (SP); DIÁRIO DE UBERLÂNDIA (MG); DIÁRIO DO ALTO TIETÊ (SP); DIÁRIO DO NORDESTE (CE e PE); DIÁRIO DO PARÁ (PA); EXTRA  (RJ); FOLHA DE PERNAMBUCO (PE); GAZETA DE PIRAJUÍ (SP); GAZETA DO POVO (PR); GAZETA REGIONAL (Itaquaquecetuba, SP); JC BAURU (SP); JMAIS (SC); JORNAL DE JUNDIAÍ (SP); JORNAL DO COMMERCIO (PE); MOGI NEWS (Mogi das Cruzes, SP); O COMÉRCIO (PR); O CORREIO DE ITAPETININGA (SP); O LIBERAL (PA); PIONEIRO (Caxias do Sul, RS) e PROGRESSO (MS).
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TEMA V

DOCENTES E RECURSOS MIDIÁTICOS PARA FINS DIDÁTICOS E PEDAGÓGICOS

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Introdução

Os recursos midiáticos e tecnológicos estão presentes no universo educativo, e, independentemente da estrutura das escolas, do acesso aos suportes, da atualização desses novos meios e do preparo profissional para incorporá-los à prática pedagógica, todos os educadores consideram a necessidade de uma formação contínua para se apropriar das tendências educacionais e atuar em consonância com as habilidades e competências exigidas pelo ensino do século XXI8.  Elas agregam um conjunto de conhecimentos, experiências e aprendizagens que preparam os alunos para a vida acadêmica, profissional, pessoal e em comunidade. Comunicação, colaboração, participação, criatividade, pensamento crítico e científico, cidadania digital são alguns dos requisitos trabalhados e que podem ser aperfeiçoados por meio da cultura digital.

Desenvolvimento

As questões a seguir trazem a visão dos educadores com relação aos conteúdos que circulam no meio digital, em especial, nas redes sociais. Ao corpo docente é lançado o desafio de imergir, na medida do possível, na cultura estudantil construída proximamente aos celulares, computadores, internet, etc. E o desafio colocado vai no sentido de ajustar os planos de aula dos docentes aos interesses múltiplos e difusos dos discentes. Sabidamente, plataformas como WhatsApp, Facebook, Instagram e Twitter atuam enquanto distribuidoras de conteúdos, sejam de cunho informativo (atualidades), sejam educativos (aprendizados) sejam de entretenimento (games, memes, gifs, humor, diversão, dentre outros) e acabam ajudando a constituir o próprio ecossistema escolar.

Tal preocupação fica expressa nos conteúdos digitais que os educadores compartilham com os estudantes, manifestados através do acionamento de textos multimodais, que integram áudios, vídeos, materiais impressos e digitais, movimento cuja inflexão visa a contemplar, em última análise, os variados interesses dos discentes. Pelos dados coletados, percebe-se a existência de empenho por parte dos educadores em diversificar o repertório dos alunos, sobretudo, com a inclusão de suportes como jornais e revistas – malgrado sob forma digital. As análises adiante explicitam as percepções acerca deste diálogo entre alunado e professorado, uns em busca de um ensino construtivo, e outros, do aprendizado significativo. Ambos com o mesmo propósito: o de utilizar os recursos tecnológicos e midiáticos com uma intencionalidade educativa.

Figura 30 - Conteúdos digitais compartilhados com os alunos

Informações sobre a disciplina que leciono
49%
Notícias
36%
Vídeos
34%
Textos literários
31%
Fotografias
22%
Músicas
19%
Memes
6%
Gifs
4%
Emojis/Emoticons
4%
Outros
2%
Não costumo compartilhar conteúdos digitais com meus alunos
30%
Fonte: MECOM, 2019.

Em relação ao conteúdo digital que circula entre a dinâmica pedagógica, a maioria dos docentes (49%) afirmou, segundo demonstra a figura, que costuma dividir informações sobre a disciplina que lecionam, colaborando com as discussões propostas em sala de aula, o que é natural. Na escala de preferência dos educadores, observa-se que o item mais citado é o compartilhamento de notícias (36%), reafirmando a força da interface comunicação e educação: “O discurso jornalístico permite estratégias de persuasão e compreensão diversificadas da tradição escolar e possibilita novas leituras, alternativas de escrita e construções discursivas” (CITELLI, 2006, p.41-42).

Na sequência preferencial dos educadores, estão os vídeos (34%), recurso cada vez mais incorporado ao ambiente escolar pelo acesso a plataformas gratuitas, como o YouTube. Apesar disso, há autores que criticam o exagero na forma através da qual, muitas vezes, a escola trata as tecnologias digitais. É o caso de David Buckingham (2010), que, tratando da temática por ele chamada de letramento9 digital e midiático, contesta a forma com que essa questão está sendo incorporada e dimensionada nas instituições de ensino. O autor alerta para o cuidado em não se aceitar o predomínio tecnológico nas práticas pedagógica e nas relações de ensino-aprendizagem.

Na figura em tela, os textos literários são citados por 31% dos professores. Chama a atenção o fato de que, apesar do índice demonstrar grande adesão aos conteúdos digitais, muitos educadores (30%) ainda não compartilham com seus alunos materiais dessa origem, trazendo ao debate uma série de motivos para que o professor assuma tal comportamento, perpassando questões como: carência de infraestrutura, falta de tempo, inabilidade e/ou domínio básico na operação com os equipamentos.

Outro assunto em relação ao ambiente digital envolve a discussão em torno de conteúdos que circulam pelas redes sociais e, consequentemente, o impacto que podem provocar na formação dos estudantes mensurados na próxima figura.

Figura 31 - Para a formação dos estudantes, como você classifica a relevância dos conteúdos que circulam nas redes sociais?

Relevantes
51%
Pouco relevantes
31%
Muito relevantes
14%
Irrelevantes
3%
Não responderam
2%
Fonte: MECOM, 2019.

Na visão docente, a maioria dos pesquisados concorda com a relevância dos conteúdos que transitam pelas redes sociais (51% ou 259 docentes), no entendimento de que contribuem à formação dos estudantes, sem julgamento de valor. Entretanto, 31% (156 docentes) dos educadores afirmaram acreditar serem “pouco relevantes” esses conteúdos, abrindo espaços para diversos questionamentos. Desde uma indicação de desinteresse pela cultura digital motivado, em muitos casos, por uma formação inicial deficiente, em termos de prática pedagógica com as tecnologias da comunicação e informação, por acreditar que esses conteúdos não interferem sobremaneira na ação docente em sala de aula ou como reflexo de uma crise da própria instituição escolar perante os desafios do novo milênio.

Os professores que consideram muito relevantes os conteúdos somam 14% (69 docentes) e é nesse sentido que se observa a necessidade de “aproximação com o discurso e as questões que envolvem o jovem, ou seja, uma aproximação com a linguagem do cotidiano de uma geração que precocemente socializou-se com a cultura midiática” (SETTON, 2004, p.68).

Podemos dizer que a maioria dos/as docentes entrevistados/as (cerca 64%) considera que o fluxo das redes sociais é relevante para a formação dos jovens. Tal dado indica que grande parte dos educadores reconhece a centralidade da internet na construção do conhecimento. Mas também podemos destacar que pelo menos  30% dos docentes registram posição contrária em relação à importância dos conteúdos digitais para a formação discente. Tal dado não é obra do acaso, pois devemos considerar o fato de que, no geral, plataformas como WhatsApp, Instagram e outras são constituídas, em larga escala, pela dimensão do entretenimento. Nas redes sociais, o trivial e as efemeridades — que, em última instância, pouco têm a ver com o currículo básico — encontram alta aderência junto aos estudantes, apesar de reconhecermos a importância que as redes sociais têm na constituição das sociabilidades e na produção de sentidos. No entanto, é imperioso também reconhecer a dificuldade enfrentada pelos sistemas de ensino para lidar com esse universo híbrido que conjuga informações abstratas e fragmentadas com piadas, violências simbólicas, intolerância e banalidades de todos os tipos. As potencialidades educativas estão presentes na internet, mas não de forma isolada. No contexto contemporâneo, os docentes precisam, na prática, lidar com um jogo de linguagens e referências depreciativas e, por vezes, agressivas nas redes sociais.

Com relação à presença do celular no cotidiano da escola, a se ver na próxima figura, os dados indicam que o acionamento deste dispositivo conheceu os seguintes quartis: 76 % dos docentes são do entendimento de que se pode fazer uso do aparelho, a depender da maneira como será utilizado; 6% afirma haver contribuição para a dinâmica das aulas; 17% firmam posição de que atrapalha. Tais números revelam que uma grande parcela dos docentes considera haver espaço para introduzir o celular em sala de aula para fins pedagógicos. É o que expressa metonimicamente a fala de um docente entrevistado: “o celular seria muito útil com uso direcionado e supervisionado para pesquisas, por exemplo”.

Figura 32 - A presença do celular no cotidiano escolar:

Depende da forma como o aparelho é usado em sala de aula
76%
Atrapalha o desenvolvimento das aulas
17%
Ajuda n desenvolvimento das aulas
6%
Não responderam
1%
Fonte: MECOM, 2019.

Vale apontar que a presença do celular no ambiente educativo ainda é um assunto posto sob questionamento em muitas escolas. Há redes de ensino em que o uso é proibido por lei (em muitos casos existem avisos fixados nas paredes das salas de aula), conforme verificado durante a aplicação da nossa pesquisa. Em outros espaços, por sua vez, o equipamento é aceitável, desde que utilizado para fins educativos.

As normas sugeridas ou propostas nas escolas nem sempre são seguidas à risca e quem define, de fato, acerca do uso é o educador, malgrado o fato de a gestão escolar interferir no processo.

Embora se reconheça que o dispositivo oferece inúmeras possibilidades para ampliar a prática pedagógica, nem todos os/as docentes revelam conforto na exploração dos aplicativos, softwares, programas educativos. Equivale dizer,  falamos, em última instância, seja de uma insuficiente preparação para enfrentar as novas realidades tecnossociais seja às intervenientes disciplinares – muitos professores e professoras indicam a preocupação em perderem certo controle sobre a classe, haja vista não poderem atuar no encaminhamento mais profícuo dos acessos na rede.  Conforme relatado em outras questões da pesquisa, infelizmente, muitos alunos ainda não sabem separar a diversão do educativo, e, quando se encontram com o celular em mãos, nem sempre ponderam os limites entre as demandas escolares suscitadas no momento da aula e o espectro mais amplo do entretenimento, das interações indesejadas para aquela situação particular.

Sabe-se que, por exemplo, o smartphone permite uma variedade de ações que podem ser exploradas com o viés educativo, tais como: produção de fotos e vídeos; preparação de textos, apresentações, gráficos no pacote Office; ouvir músicas; gravar áudios; sem contar os inúmeros aplicativos, como os usados para editar programas audiovisuais, imagens, cartazes; e, ainda, aqueles voltados às diferentes disciplinas, que permitem explorar conteúdos trabalhados na grade curricular. As possibilidades de uso para fins pedagógicos são infinitas; no entanto, o uso do celular em sala de aula precisa ser dissociado do seu acionamento cotidiano, imediato, em situações postas à distância dos processos pedagógicos e de ensino-aprendizagem.

Assim, mais que preparação técnica envolvida neste tema, é necessário trabalhar a questão cultural, para que o celular possa, de fato, entrar em sintonia com certas demandas da formação escolar.

Enfim, as figuras analisadas indicam que os/as docentes estão cientes de que, para além da questão tecnológica, as formas e usos de celulares e aplicativos devem estar ligadas a uma perspectiva pedagógica. O amplo reconhecimento, por 76% dos/as entrevistados/as, de que o celular pode ser utilizado em sala de aula, “dependendo da estratégia para o seu acionamento” demonstra que professoras e professores sabem das suas responsabilidades frente a um contexto de reconfigurações sobre os fluxos de informações e sobre como o conhecimento passou a depender, também, da dinâmica promovida pela internet.

Conclusão

Em tempos em que a conectividade favorece o contato com informações dos mais diversos segmentos, os recursos tecnológicos disponibilizam plataformas com acesso a conteúdos postos em circulação através de suportes multimodais. E os discursos midiáticos veiculam mensagens que interferem na construção das subjetividades, motivo, entre outros, pelo qual os processos de ensino e aprendizagem não podem ocorrer ao largo deste ecossistema. Ou, na assertiva de Maria da Graça Setton:

Refletir sobre as mídias a partir do ponto de vista da educação é admiti-las enquanto produtoras de cultura. E também admitir que a cultura das mídias, suas técnicas e conteúdos veiculados pelos programas de TV, pelas músicas que tocam no rádio ou mensagens da internet, nas suas mais variadas formas, ajudam-nos, juntamente com valores produzidos e reconhecidos pela família, pela escola e pelo trabalho, a nos constituir enquanto sujeitos, indivíduos e cidadãos, com personalidade, vontade e subjetividade distintas. (2001, p. 13)

Em conjunto, estão as tecnologias, que, associadas à educação, oferecem a oportunidade de inovar o processo educativo, incorporando estratégias voltadas à cidadania digital, que vai além do uso de recursos, softwares, aplicativos e plataformas voltados ao aprendizado. Envolver tais suportes no ensino exige uma intencionalidade pedagógica, e o conhecimento a ser adquirido se impõe como objetivo principal. Para Orozco (2006), as tecnologias não podem ser vistas como instrumentais, mas como mediadoras no processo educativo formal.

Esses diferentes recursos tecnológicos aliados à informação favorecem a construção de narrativas transmidiáticas, que, com a sua estrutura, recursos, estratégias e discursos encantam novos consumidores. Ou, na perspectiva de Jenkins (2008)10: são seduzidos pelo ritual criado pelas plataformas e pela complexidade interativa por elas permitidas aos receptores.

Tal convergência propõe um novo desafio à educação, em condições de compreender a “influência dos meios de comunicação no mundo contemporâneo, agora, com o aporte dos meios disponibilizados pela informática, pelos sistemas digitais, pelas redes de computadores, que orientam uma revolução nos distintos âmbitos da cultura, da história, dos fluxos econômicos, das sociabilidades” (CITELLI, 2014, p. 71).

A pesquisa do MECOM reflete tal cenário, e as questões analisadas neste segmento temático demonstram como o vetor digital – seus conteúdos e linguagens – vem sendo compartilhado, repercutido, trabalhado e analisado na sala de aula. As diferentes plataformas propagam informações em todos os segmentos, elaborando uma nova cultura, um novo nicho de interesses e um repertório diferenciado, que procuramos auscultar e recolher a partir dos participantes da nossa investigação. Compreender a dinâmica dos recursos, das informações, dos assuntos veiculados para agregá-los ao andamento pedagógico tem sido uma das tarefas dos professores pesquisados e que revelam consciência – conquanto nem sempre possibilidade de promover mudanças no cotidiano das salas de aula – da extensão do desafio em andamento para o mundo da escola. O gráficos apresentam um certo quadro no interior do qual os professores e professoras procuram situar o trabalho que levam a termo considerando as intercorrências representadas pelos dispositivos técnicos e tecnológicos, vários deles de largo uso no dia a dia dos discentes.

Ademais, há, hoje, os incitamentos para que os alunos e alunas trabalhem as chamadas competências essenciais11, tópica orientadora da BNCC (Base Nacional Comum Curricular), dentre as quais estão a compreensão das dinâmicas tecnológicas, dos sentidos da cultura digital, da operação sobre as linguagens midiáticas. Trata-se de um novo processo de aprendizagem (ou compreensão e participação nas dinâmicas da cidadania) que não se pode fazer desconhecendo os mediadores da comunicação presentes nos fazeres educativos formais.

Notas

8-

Segundo publicação da UNESCO Alfabetização midiática e informacional: currículo para formação de professores, em 2013, as chamadas competências do século XXI formam um conjunto de atitudes, habilidades e conhecimentos que preparam não somente o educador, mas também o estudante para a vida acadêmica, profissional, pessoal e em comunidade. Dentre as competências-chave, podemos citar: solução de problemas, pensamento crítico, criatividade, gestão de pessoas, empatia, inteligência emocional, bom senso e flexibilidade.
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9-

Recorremos a MagdaSoares (1999). De acordo com a autora, quanto ao “letramento”, historicamente,foi na segunda metade dos anos 1980 que a palavra chegou ao vocabulário daEducação e das Ciências Linguísticas, e somente nos anos de 1990 é que osespecialistas começaram a incorporá-la no discurso pedagógico. Assim, o termo“letramento” com o sentido que hoje lhe damos. Onde fomos buscá-lo? Trata-se,sem dúvida, da versão para o Português da palavra da língua inglesa literacy. Etimologicamente, a palavra literacy vem do latim littera (letra), com o sufixo – cy, quedenota qualidade, estado, fato de ser [...] No Webster´s Dictionary, literacy tem a condição de ser literate [...] é o estado ou condiçãoque assume aquele que aprende a ler e a escrever. Implícita nesse conceito estáa ideia de que a escrita traz consequências sociais, culturais, políticas,econômicas, cognitivas, linguísticas, quer para o grupo social em que sejaintroduzida, quer para o indivíduo que aprenda a usá-la.
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10-

Ao descrever o conceito da narrativa transmídia, Henry Jenkins discorre sobre a convergência midiática, que impulsiona a disseminação de uma informação por meio de diferentes plataformas. Tal fenômeno ajuda a aumentar a audiência, aproximar o consumidor do receptor, a conciliar os interesses informativos, culturais e sociais, e, por sua vez, promover uma maior interatividade. Segundo o autor, “a convergência não ocorre por meio de aparelhos, por mais sofisticados que venham a ser. A convergência ocorre dentro dos cérebros de consumidores individuais e em suas interações sociais com os outros. Cada um de nós constrói a própria mitologia pessoal, a partir de pedaços e fragmentos de informações extraídos dos fluxos midiáticos e transformados em recursos através dos quais compreendemos nossa vida cotidiana” (2008, p. 30).
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11-

As competências elencadas são as exigências BNCC, que, a partir de 2020, passam ser obrigatórias nas redes de ensino pública e privada. Trata-se de um documento norteador dos conteúdos a serem aplicados na Educação Básica, e que serve de base para a construção dos currículos municipais e estaduais nas diferentes regiões do Brasil. No total, são dez competências, além da acima citada, as demais são: trabalho e projeto de vida; autoconhecimento e cuidado; empatia e cooperação; valorização dos conhecimentos historicamente construídos; desenvolvimento do exercício intelectual (investigação, reflexão, análise crítica, criação de hipóteses e soluções de problemas); argumentação com base em fatos, dados e informações confiáveis; reconhecimento da diversidade e vivências culturais; apreciação e fruição das diversas manifestações artísticas e culturais e utilização de diferentes linguagens - verbal, corporal, visual, sonora e digital (BRASIL, 2017, p. 9).
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TEMA VI

DOCENTES E TECNOLOGIAS

Dados e reflexões deste tópico:
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Introdução

Nesta etapa do relatório, verificamos a interferência da variável tecnológica no processo ensino-aprendizagem a partir das respostas dos docentes. Os dados analisados demonstram evidentes transformações nas formas de recepção e circulação de saberes no ambiente escolar, sobretudo, em razão do crescente uso de ferramentas digitais, tais como WhatsApp, Facebook e Instagram.

No universo das questões direcionadas aos docentes, segmentamos os dados específicos sobre o emprego das tecnologias em sala de aula, analisando-os e apresentando, quando pertinente, estratificações sobre usos e apropriações tecnológicas.

Os resultados a serem apresentados colocam à prova a hipótese de que a ordem perceptiva do contexto escolar possa constituir-se em produto da variável tecnológica contemporânea, altamente influenciada pelas redes sociais e os algoritmos.

Desenvolvimento

Para o entendimento de um cenário convergente entre docência e tecnologia, consideramos relevante descobrir por quais dispositivos os docentes acessam a internet, qual a finalidade do acesso, qual o tipo de conteúdo que costumam compartilhar com os discentes, qual a relevância das informações disponibilizadas nas redes sociais para o aprendizado dos alunos e como avaliam a presença dos celulares em sala de aula.

Observamos o número expressivo de dispositivos móveis individuais como principal fonte de acesso à internet, a exemplo dos smartphones e notebooks. O uso do desktop representa, praticamente, a metade do percentual de uso de smartphones. Tais dados revelam uma evidente migração dos dispositivos fixos e, no caso das escolas, fixos-coletivos, para as vias móveis e individuais. Ao evidenciar que 80% dos acessos docentes são via smartphone em detrimento de outros hardwares, a investigação revela, em última instância, que o acesso docente à internet é feito sem os limites do “espaço/local de trabalho”. Em outras palavras, vivemos em um contexto histórico-social em que o vínculo com a internet via celular acompanha os indivíduos em diversas situações, seja no transporte público, seja no sofá da sala, criando um nexo de permanente conexão, diferentemente de outros períodos, não muito longínquos, em que o acesso às redes era realizado, basicamente, pelo desktop — definindo e delimitando o momento específico para o acesso, e não possibilitando a concomitância com as demais rotinas do dia, como observamos hoje.

Faz-se necessário mencionar que, em primeira análise, as respostas trazidas nessa questão podem soar como óbvias, considerando que a 30ª Pesquisa Anual de Administração e Uso de Tecnologia da Informação nas Empresas12, realizada em 2019 pela Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP) apontou que há, hoje, 230 milhões de celulares ativos no País. Já o número de computadores, notebooks e tablets é de 180 milhões. Houve, portanto, aumento significativo de 10 milhões no número de smartphones ativos em relação a 2018. No entanto, para além da análise quantitativa, esse dado indica que os avanços tecnológicos interferentes nos meios de comunicação alteram a rotina docente: esta adentra no circuito do “tempo real” com as informações, notícias e padrões culturais acionados pelas redes sociais. Desse modo, à medida que os smartphones revolucionam a forma como a sociedade age e se comunica, ocorrem interferências nas rotinas dos professores e professoras, haja vista que a construção do conhecimento sobre a realidade passa a ser norteada, também, pelos imperativos da internet — os quais se manifestam em diversificadas plataformas digitais de comunicação, desde sites até as redes sociais como o Twitter, Instagram, Facebook e WhatsApp.

Em consonância com a questão de acesso à internet, buscamos compreender quais são as plataformas digitais mais utilizadas como fonte de informações jornalísticas. Os números revelam o seguinte cenário: 67% dos/as entrevistados/as declaram buscar informações por meio dos portais online. Essa porcentagem evidencia que, cada vez mais, os fluxos informativos veiculados nas redes digitais impactam as percepções e os sentidos da realidade. Em outras palavras, conforme é possível verificar no tema Docentes e Hábitos de Mídia, o rádio, a TV, os jornais e revistas impressas deixaram de predominar na produção e circulação de saberes - não sendo considerada, aqui, a veracidade ou intencionalidade das notícias. Cruzando esse dado com o alto número de docentes que utiliza o smartphone para acessar à internet, podemos reconhecer que os ambientes digitais são, muito provavelmente, a principal fonte na construção de visões de mundo, representações, linguagens e discursos.

Transferindo-nos para a esfera discente, notamos que os alunos, da mesma forma que os docentes, declaram utilizar predominantemente o celular para acessar a internet: 86% dos/as estudantes entrevistados/as (conforme dados mais bem detalhados nos capítulos de descrição das informações coletadas entre eles). O fato reforça a centralidade desses dispositivos na apreensão da realidade cotidiana, afinal, não ter o celular às mãos parece, em nossos dias, algo inadmissível do ponto de vista das relações sociais. De acordo com os dados do IBGE de 201713, o uso do telefone celular aumentou em todas as regiões do país e alcançou uma média de mais de 90% dos domicílios brasileiros. Os menores percentuais estão nas regiões Norte (88%) e Nordeste (89%); enquanto os maiores encontram-se nas regiões Sudeste (93%), Sul (95%) e Centro-Oeste (96%). Em 2017, 69% dos/as entrevistados/as disseram estar conectados à rede através de um smartphone. O índice é bem superior aos 60% registrados em 2016 e também vai de encontro a uma queda percentual no acesso via desktop que, em 2017, foi de 39% e em 2016, tinha sido de 40%.

A Pesquisa sobre o Uso das Tecnologias de Informação e Comunicação nas Escolas Brasileiras14 (CGI.BR, 2018) mostra que o percentual de professores e professoras que utilizam o celular para desenvolver atividades com os alunos e alunas passou de 39% em 2015 para 56% em 2017. O aumento aconteceu tanto nas escolas públicas, onde o percentual migrou de 36% para 53%, quanto nas particulares, crescendo de 46% para 69%.

Essa mudança histórica no acesso a informações fez a Unesco, em 2014, publicar um documento que estimula a adoção dos dispositivos móveis em sala de aula. Entre outros benefícios, pode “permitir a aprendizagem a qualquer hora, em qualquer lugar”, “minimizar a interrupção educacional em áreas de conflito e desastre” e “criar uma ponte entre a educação formal e a não formal” (UNESCO, 2014).

Apresentamos esses dados mais gerais, apreendidos pelo IBGE, CGI (Comitê Gestor da Internet no Brasil) e UNESCO para demonstrar que a investigação desenvolvida pelo MECOM/ECA-USP está alinhada ao contexto geral do país, em termos de conexão às redes e importância das tecnologias digitais na constituição das sociabilidades. Vale ressaltar, conforme elucida a pesquisa: na variável tecnológica, para além do crescimento do uso de redes sociais e plataformas de streaming, a interferência de smartphones e aplicativos ocupa um papel crucial nas formas de ser e estar no mundo. Vejamos alguns dados entre os docentes que dialogam com essa perspectiva:

Figura 33 - Usando computador, você o faz para:

Elaborar atividades didáticas
91%
Elaborar relatório
60%
Montar apresentação de PowerPoint
58%
Fazer planilhas
49%
Acompanhar/realizar tarefas administrativas
48%
Outros
6%
Fonte: MECOM, 2019.

Figura 34 – Usando a internet, você o faz para:

Pesquisar
95%
Ler notícias
90%
Preparar aula
90%
Trocar e-mail
79%
Acessar redes sociais
76%
Participar de cursos on-line
68%
Jogar
17%
Fonte: MECOM, 2019.

As respostas sobre o uso do computador e da internet indicam a importância desses recursos também na atividade profissional, afinal ‘pesquisas online’ e ‘troca de e-mails’ fazem parte do cotidiano docente. Todavia, há dado a despertar nova perspectiva: 90% dos docentes utilizam as redes digitais para lerem notícias, o que gera implicações consideráveis, pois com os algoritmos e a mediação de plataformas como Instagram e Twitter, a experiência midiática é altamente personalizada, criando nichos de interesse os quais, por vezes, não representam um contexto mais amplo e abrangente da construção simbólica do mundo. Em outros termos, a “edição de realidade” feita pelas notícias na internet pode ser inevitavelmente influenciada pela lógica de mercado que diminui a importância (positiva e negativa) de filtros e marcadores sociais na circulação da informação na sociedade.

Isso significa que, atualmente, a apreensão da realidade está ligada a uma intensa trama de representações que circulam, por exemplo, no WhatsApp, sem depender exclusivamente de hierarquias e filtros editoriais, como costumava ser feito pela “mídia tradicional” nas décadas anteriores. Pensar na formação docente a partir dessa perspectiva implica reconhecer que os principais vetores de um sistema de ensino, os docentes, convivem com uma lógica digital organizadora, passível de alterar/manipular/reordenar os saberes online.

Outro dado relevante refere-se ao número considerável de docentes (44% dos respondentes dos formulários) que compartilha conteúdos com os estudantes nas redes sociais. Isso significa que, não apenas no âmbito pessoal, plataformas como WhatsApp e Facebook também integram um jogo de linguagens e compartilhamento na própria vida cultural da escola.

Podemos intuir com esse dado que memes, fake news e informações fragmentadas – elementos típicos da navegação em rede – circulam nas comunicações entre alunos e professores, não havendo separação entre conteúdos educativos, didáticos e as informações ordinárias transmitidas nas timelines e nos grupos de “Zap”. Evitando generalizações, não pretendemos inferir que, a partir desse dado, docentes compartilham conteúdos não apropriados com os seus alunos, mas é possível prever que as mensagens trocadas estão inseridas num contexto híbrido que conta com fake news, paródias, vídeos e fragmentos de informações disparadas nas redes sociais.

A mudança nos hábitos de consumo da informação reconfigura a lógica, não só das práticas em sala de aula, mas também da comunicação textual em jornais e revistas impressas, anteriormente compostas por textos longos e propagandas, e que estão sendo, velozmente, substituídas por informações digitais em múltiplas linguagens e com hipertextos conectados às múltiplas plataformas digitais15.

Ao propor o conceito de novo sensorium como resultante desse processo, indicamos que a relação docente-discente é elaborada sob a variável tecnológica, não apenas envolvendo “como usar o celular na aula”, mas essa dinâmica de compartilhamentos e de informações trocadas por meio de aplicativos digitais.

Tal informação é relevante a partir da premissa de que a variável tecnológica não é mais paralela aos conteúdos e práticas pedagógicas: lidamos agora com uma cultura híbrida, influenciada pela mediação de algoritmos e aplicativos da internet. Nesse contexto, é válido considerar que “Cada um de nós constrói a própria mitologia pessoal, a partir de pedaços e fragmentos de informações extraídos do fluxo midiático e transformados em recursos através dos quais compreendemos nossa vida cotidiana”. (JENKINS, 2009; p. 30).

Na lógica digital, um texto literário, tradicionalmente presente em publicações impressas — ou mesmo na tradição oral —, agora também pode ser discutido e referenciado, por exemplo, em um post no Facebook ou compartilhado no grupo de WhatsApp. Esse texto será consumido por estudantes ao mesmo tempo que acionam os memes e músicas no celular. As possibilidades são múltiplas nas formas de ser e estar engendradas por essa dinâmica – que consideramos reconfiguradora dos hábitos midiáticos e da própria apreensão da realidade.

Conclusão

Os dados apresentados no tópico dedicado à variável tecnológica indicam que as redes sociais ilustram uma profunda transformação no modo como as informações circulam entre docentes. É possível verificar que plataformas como WhatsApp, Instagram e Netflix se converteram no principal vetor de sociabilidades e de interação entre professoras e professores. Tal constatação realça o fato de, para além das questões da tecnologia na sala de aula, os aplicativos reformularem as maneiras de ser e estar no mundo, tendo consequência direta na maneira como os docentes ministram conteúdos e tecem seus discursos no contexto escolar. Há de frisar-se: no contexto atual, “a informação representa o principal ingrediente de nossa organização social, e os fluxos de mensagens e imagens entre as redes constituem o encadeamento básico de nossa estrutura social”. (CASTELLS, 2006, p.573)

Assim, o smartphone e as suas respectivas aplicações, com menção especial ao Whatsapp, somados à gama de outros recursos tecnológicos disponíveis são ferramentas indispensáveis ao convívio e às práticas sociais. Nesses espaços digitais circulam informações, discursos e representações da própria dinâmica escolar, atravessada diuturnamente pela dinamicidade das ocorrências extraescolares — que a ela se misturam.

Notas

15-

Outrodado revelador acerca da cultura digital são as respostas dos docentes para apergunta: “Que tipo de conteúdo digital costuma compartilhar com seus alunos?”.Acerca desse aspecto, consultar o tópico Docentese recursos midiáticos para fins didáticos e pedagógicos.
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TEMA VII

FORMAÇÃO DOCENTE

Dados e reflexões deste tópico:
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Introdução

Este tópico tem por escopo refletir sobre as respostas docentes apresentadas em documento gerado pelos questionários, quanto às especificidades da formação inicial e continuada com relação a área que envolve os meios de comunicação, as TIC’s (Tecnologias da Informação e Comunicação) e as mídias nos processos, percursos, práticas formativas e pedagógicas. Para tanto, arrola:

(1) os desafios evidenciados através dos dados em números, percentuais e respostas dadas;

(2) breve reflexão envolvendo a diversidade da formação para o exercício profissional;

(3) as proposições apresentadas a partir dos dados da pesquisa acerca da interação docente com os meios comunicacionais, relacionando-os às perspectivas discentes e as condições de infraestrutura nas escolas;

(4) questionamentos sobre o lugar, tempo e espaço na formação dos/das docentes, envolvendo o diálogo entre comunicação e educação.

De início, as descrições e análises se referem a um mapeamento sobre a formação, no afeito às inter-relações com os media e as tecnologias, em processo que alcança da graduação à prática profissional. Nesse sentido, do questionário original (reproduzido no Anexo 1 deste Relatório) foram individualizadas onze questões convergentes ao tópico em análise16. Em seguida, foram observadas as questões recorrentes ao nosso problema reflexivo, cuja alocação se faz presente em temas como recursos midiáticos para fins pedagógicos, infraestrutura na escola, além de respostas oferecidas pelos/pelas discentes. O quadro abaixo sistematiza esse conjunto de questões afinadas à formação docente:

Figura 36 – Comparativo das questões individualizadas

Recursos midiáticos para fins pedagógicos Formulário Docentes
Infraestrutura Formulário Docentes
Recepção dos Estudantes Formulário Discentes
(Questão 31) O que fazem quando utilizam a internet;

(Questão 32) tipos de conteúdos que compartilham com os estudantes;

(Questão 33) como classificam a relevância dos conteúdos que circulam nas redes sociais;

(Questões 34 e 35) O que pensam sobre a presença do celular no cotidiano escolar;

(Questão 36) se consideram diferentes meios de comunicação para ministrar as aulas (músicas, videoclipes, novelas, séries, filmes, propagandas, telejornais, jornais, revistas, etc.)
(Questão 17) Equipamentos disponíveis na escola para uso didático-pedagógico;  

(Questão 18) Os equipamentos / dispositivos que têm nas escolas que concentram a maior partes das aulas;

(Questão 19) Em caso afirmativo à presença de computadores, quem os utiliza (Estudantes, Professores/as, Funcionários/as Administrativos, Direção).
(Questão 11) usos dos professores(as) de ‘recursos diversos’;

(Questão 12) se a utilização das proposições da questão anterior ajuda na aprendizagem;

(Questão 28) a frequência do uso do celular na sala de aula;

(Questão 29) se compartilham conteúdos em sala de aula com os dispositivos móveis;

(Questão 31) atividades / proposições dos/as docentes.
Fonte: MECOM, 2019.

A princípio, os/as professores/as entendem que para existir interação com os meios de comunicação, seria necessário que a escola fosse dotada de boa infraestrutura tecnológica. O que, nem sempre acontece, deixando em suspenso a inclusão e uso de vários equipamentos, a exemplo da internet. Daí, falas de docentes e de discentes a destacarem a precariedade dos dispositivos, com os quais é possível contar no propósito de melhorar a própria qualidade da aula, conforme constatado nas questões 17, 18 e 1917. A primeira com referência aos equipamentos disponíveis na escola para uso pedagógico, a segunda, buscou conhecer a existência de computadores com acesso à internet nas salas de aula, professores/as, secretarias e laboratórios e, a seguinte, individualiza a tecnologia ‘principal’ nos contextos e discursos dos sujeitos, geralmente relacionada ao uso de computadores.

Por fim, recupera as questões 11, 12, 28, 29 e 31 extraídas do questionário discente18 (Íntegra do Formulário no Anexo 2) tendo em vista que a primeira versa acerca do uso pelos professores/professoras de notícias de jornal, revistas, propagandas, letras de música, filmes, entre outros, e visa a explicar as matérias durante as aulas; a segunda, em caso afirmativo, se e quando, ao serem utilizadas, estas possibilidades, aqui definidas como ‘recursos’, ajudariam a compreender melhor a matéria; a terceira, se durante as aulas compartilham conteúdos (fotos, memes, músicas, etc.); a última, quais atividades em proposições mais ‘ativas’, artísticas, literárias, imagéticas, midiáticas e tecnológicas, entre as opções sugeridas, os/as docentes realizam, como: fanzines, poesias, contos/crônicas, histórias em quadrinhos, teatro, rádio, atividades musicais, dança, saraus, jornal escolar, jornal mural, vídeo, etc.

A seguir, as reflexões pautadas nas comparações propostas, com os dados possíveis de serem observados nas respostas tabuladas.

Desenvolvimento

O primeiro e maior desafio à formação inicial e continuada do/da docente para o trabalho com os media e as tecnologias em sala de aula é a sistematização para um possível mapeamento das respostas, as quais, em contextos diversos, possuem similaridades e distanciamentos quanto aos usos; ou melhor, o pouco e mesmo nenhum uso é um dos principais vetores destacados, tanto por docentes como por discentes.

A primeira questão (39) buscou conhecer as experiências e/ou oportunidades formativas. Se durante o curso de formação inicial houve alguma disciplina dirigida à área, a qual não foi definida ou apresentada na pesquisa com um nome específico, apenas nominada nas diversas possibilidades como presença dos media e das TIC’s. Para tanto, foram citados os estudos que inter-relacionam a comunicação/educação, nas variáveis como mídia e educação, informática na escola, leitura crítica da comunicação, televisão e criança, entre outros, deixando ainda claro na pergunta que outros termos poderiam fazer parte.

Comparando as questões referentes à formação (39, 40 e 41), centradas na indagação se durante o curso de graduação/licenciatura houve alguma disciplina voltada aos estudos acima citados, temos que 264 entrevistados/as afirmaram que não, 143 que sim, 91 não lembravam, 11 deixaram em branco (ver os percentuais na figura seguinte). Deste modo, metade dos/das professores/as não tiveram oportunidades formativas na área durante a graduação. Isso acaba se recolocando nas escolas de ensino básico, a registrar significativo afastamento das propostas voltadas ao trabalho nas interfaces comunicação-educação.

Figura 35 - Cursou alguma disciplina voltada ao estudo da comunicação na educação durante sua formação docente (cursos de graduação/licenciatura)?

Sim
28%
Não
52%
Não lembro
18%
Não respondeu
2%
Fonte: MECOM, 2019.

Dos/as docentes que responderam à questão, com variações entre os estados, 28% indicaram haver feito disciplinas, durante a graduação, voltadas à área de Comunicação, TIC’s e/ou media; 52% não tiveram tais aulas e 17%, um número considerável, não lembra. Ou seja, os estudos dirigidos a esse aspecto na formação são, ainda, muito frágeis.

Das respostas gerais, 28% indicaram estudos voltados à área da Comunicação durante a graduação (questão 41) e 45 docentes lembraram que estas proposições estavam dirigidas à aplicação de tecnologias em disciplinas que registravam títulos específicos aos estudos na interface, como: aplicativos, ambientes virtuais de aprendizagem, laboratórios virtuais, wiki, jogos educativos, pacote Office, blogs, redes sociais. Destes, 55 docentes em suas áreas (Biologia, Física, Língua Portuguesa, Geografia, Didática, dentre outras) vislumbram as tecnologias como ‘ferramentas’ de apoio em sala de aula. Apenas 2 docentes relataram o uso de tecnologias na pós-graduação (mestrado com a temática de objetos educacionais e especialização em Designer Instrucional), mas que não se lembravam de disciplinas que tiveram na graduação. Apenas 1 professor respondeu que realizou a licenciatura online. Outros/as 2 professores/as indicaram que fizeram a licenciatura na década de 1980, não tendo disciplinas que tratassem da comunicação na educação.

Nesse sentido, ao que parece, tal aspecto consigna forte incidência nos construtos das experiências no ensino básico. Um dos depoentes assevera: “Não tinha uma disciplina específica; em determinados momentos, alguns professores conversavam sobre leitura crítica da mídia nos meios educacionais”; indicando que havia vagueza na formação, mas, ao mesmo tempo, um entendimento e preocupação com a área nos discursos pedagógicos dos/as docentes formadores/as. Outro docente destacou que as “TICs foram exploradas em todas as disciplinas”, apontando o uso delas para apresentar conteúdos, recursos ou outras possibilidades numa perspectiva de criação, aqui levantadas como hipótese, pois não acrescentou nenhuma outra explicação ou descrição.

No atinente aos nomes das disciplinas (questão 40) citadas pelos/pelas professores/as, com quem desenvolveram estudos da comunicação na educação, foram lembrados os seguintes títulos: Mídia e Educação; Multimídias; Letramento Digital; Tecnologias Educacionais; Tecnologia da Educação; Informática Educativa; Educação e mídias; TIC na Educação; Informática aplicada ao Ensino; Noções de Computação para o Ensino e Tecnologia do Aprendizado; Educação à Distância com Recursos da Informática, Computador e Internet.

Como demonstrado, há várias maneiras de propor e trabalhar a inter-relação dos campos Educação e Comunicação (CITELLI, 2011), cujas definições, conceitos e aportes teórico-metodológicos aparecem em diferentes modos. Assim, como afirma Calvani (1997), ainda existe a (in)definição de um termo/nome para promover a inter-relação, deixando aos espaços e formações uma diversidade que precisa ser compreendida para o próprio fortalecimento das práticas, assim como das respostas às demandas da sociedade que estão implicadas e imbricadas com os aparatos tecnológicos e midiáticos, raramente convergentes aos das escolas. Quanto aos conteúdos estudados (questão 41), o distanciamento aumenta, pois repetem os termos proferidos como nomes das disciplinas para justificar os fragmentos das memórias. Importante referir que não se trata de um problema do/da docente, mas uma problemática que envolve as escolhas para os currículos e as ações efetivadas nas formações, por isso, uma não-memória sistematizada sobre a área que insiste em permanecer em um não-lugar.

Quando indagados/as se entendem a inter-relação escola e meios de comunicação como complementar ou antagônica (questões 42, 43), 475 respondentes - ou seja, 94% - afirmam que é complementar, 9 (5%) antagônica e 25 (2%) não responderam. Assim, a quase totalidade dos/das pesquisados/as reconhece a importância da interface segundo a figura abaixo:

Figura 36 - Inter-relação escola e meios de comunicação: complementar ou antagônica?

Complementar
94%
Antagônica
2%
Não responderam
5%
Fonte: MECOM, 2019.

Há reconhecimento, portanto, de que as formações deveriam incluir e/ou promover ações mais pontuais e específicas durante os percursos na graduação, pois, de acordo com as respostas, não há registro revelador de reflexões e/ou práticas pedagógicas concernentes aos processos educomunicativos.  Outro ponto diz respeito à diversidade de disciplinas, termos, modos de promover a inter-relação que estamos enfatizando. Se a presença é/ou deveria ser ‘complementar’, como afirmam os/as docentes, as inter-relações mediadoras nas formações precisariam vislumbrar a sistematização e possibilidade de uma área/campo de conhecimento que pudesse melhor esclarecer a trajetória e as ações pedagógicas dos futuros profissionais docentes.

Quanto ao conhecimento de alguma informação sobre um programa oficial (questão 44) voltado à formação continuada do/a professor/a para o trabalho com os meios de comunicação ou as tecnologias, 349 (69%) responderam que não têm informação, 143 (28%) responderam positivamente e 17 (3%) deixaram em branco, conforme abaixo:

Figura 37 - Conhece algum programa oficial voltado à formação continuada do professor para a área dos meios de comunicação ou das novas tecnologias?

Sim
28%
Não
69%
Não responderam
3%
Fonte: MECOM, 2019.

Dos 143 professores/as que responderam afirmativamente, 124 acrescentaram os seguintes cursos, programas e ou projetos variados, em seguida referidos, e com os quais interagem:

Sudeste: Os cursos de formação da escola em que lecionam; pela prefeitura de São Paulo, citando, particularmente, a Escola de Formação e Aperfeiçoamento dos Professores (EFAP) e, nesta, o EDUCOM (Educomunicação); o Proinfo; a Licenciatura em Educomunicação (USP); os cursos de especialização do SENAC, DAT (Diário do Alto Tietê) na sala de aula; cursos na UNESP e Unicamp.

Centro-Oeste: Citou-se o curso ofertado pela DE (Diretoria de ensino), fornecido aos professores através do setor de Tecnologias.

Nordeste: Foi mencionado o curso de formação - pela E-nova no estado da Bahia.

Sul: Houve menção à pós-graduação disponível pela SED SC (Santa Catarina).

Na região Norte não ocorreu citação envolvendo o âmbito do nosso enfoque.

Quanto aos “‘Programas nacionais e recursos tecnológicos de acesso gratuito pela internet”, alguns professores/as, conquanto não se lembrem quando (os programas de introdução da informática na educação existem desde 1973), fazem referência ao fato de secretarias e ministério da educação haverem propiciado cursos de Aprendizagem e de Aperfeiçoamento no uso do computador. Aparecem, também, cursos de EaD, incluindo formação de tutores; uso do GeoGebra (um aplicativo para o ensino da matemática); Programa Futura; cursos da Revista Nova Escola; Letra e Vida, Ler e Escrever, PNAIC (Programa de Alfabetização na idade certa); curso de Novas Tecnologias na Educação (NTE); Instituto Natura; Fundação Lemann; UAB (Universidade Aberta do Brasil) com cursos ministrados por  Universidades Federais; Mídias na educação, E-Proinfo; Educação conectada; cursos oferecidos por sindicatos de professores; TV Escola, Futura e TV Cultura; Google Education; Programa Mídias na Educação; etc. Há, também, entrevistados/as que definem como 'vários' , como cursos ou não lembram e há uma resposta em que uma docente afirma ter sido “capacitadora de professores em um projeto do Estado de São Paulo em que usávamos programas com informações educacionais.”

Com relação ao caso particular do Estado de São Paulo, constatamos que há uma aproximação em relação à realidade nacional (gráfico acima): apenas 94 (31%) dos professores e professoras informaram conhecer programa oficial voltado à formação continuada para a área, enquanto 199 (66%) responderam que desconhecem algo específico para esta formação e 6 (2%) deixaram as respostas em branco.

Tais dados revelam que é grande a diversidade de oportunidades formativas apresentadas pelos/pelas docentes, sendo majoritárias as respostas referentes aos cursos ofertados pelas Secretarias de Educação dos estados citados na pesquisa, assim como em EaD e via mídias, a exemplo da revista Nova Escola e a TV Cultura. Citamos apenas alguns, pois somente metade dos/as que responderam positivamente é que de alguma forma lembraram nomes de programas, projetos, cursos, entre outras oportunidades encontradas. Ao apontá-los, os/as professores/as não justificaram as escolhas para citá-los. Assim, como destaca Citelli (2010, p. 83),

[...] a maioria dos docentes em serviço espera, hoje, programas de formação continuada que os auxiliem a acertar o passo dialógico com as demandas diferenciadas dos alunos, quase sempre vindas das áreas da imagem, da informática ou, genericamente, dos meios de comunicação.

Aponta, portanto, para uma perspectiva continuada de aprendizagem na formação de professores/as, de modo que possam atender às demandas diferenciadas dos/as alunos/as, contextos e realidades. Vale dizer, quase 10 anos após a citação acima, o cenário não parece haver conhecido grandes mudanças.

Outro item investigado foi se os/as docentes tinham realizado algum curso de formação continuada voltado ao trabalho com os meios de comunicação em sala de aula (Questão 46): 158 disseram que sim, 330 não e 21 deixaram em branco. Para os/as que responderam positivamente foi solicitado que dissessem qual curso tinham realizado (Questão 47), entretanto, não houve respostas.

Figura 38 - Realizou algum curso de formação continuada para o trabalho com os meios de comunicação em sala de aula?

Sim
31%
Não
65%
Não responderam
4%
Fonte: MECOM, 2019.

Em caso de resposta positiva, os/as depoentes foram questionados se gostariam de realizar algum curso destinado à formação para o trabalho com os meios de comunicação na sala de aula, conforme gráfico abaixo. Seguiram-se as respostas:

(a) Sim, independentemente do local do curso ou se é virtual/presencial - 251 escolheram esta opção;

(b) Sim - 116 docentes indicaram esta alternativa desde que o curso ocorresse em uma das escolas nas quais lecionam;

(c) Não, no momento eu não gostaria de realizar esse tipo de curso - foi a resposta dada por 63 respondentes; do total, 79 deixaram a alternativa em branco.

Figura 39 - Gostaria de realizar algum curso voltado à formação para os meios de comunicação?

Sim, independente do local do curso ou se é virtual/presencial
49%
Não, no momento eu não gostaria de fazer cursos desse tipo
12%
Sim, desde que o curso fosse ministrado em uma das escolas nas quais leciono
23%
Não responderam
16%
Fonte: MECOM, 2019.

Diante das respostas observa-se que mais de 70% dos/das docentes gostariam de participar de cursos de formação continuada, seja em ambiente virtual/presencial e independentemente do local.

Consideradas as últimas respostas, nota-se que muitos docentes estão interessados em realizar cursos nesta área, demonstrando preocupação com os seus próprios processos formativos continuados. Acerca desta ´educação permanente em serviço´, Gatti e Barreto (2009) argumentam que há falta de clareza acerca do que se trata exatamente. Para as autoras, vem sendo chamada de ‘formação continuada´ um conjunto de modalidades que não contempla, necessariamente, as trocas de saberes teórico-práticas, cabendo neste rol estratégias como: cursos realizados após a graduação; reuniões pedagógicas; participação na gestão escolar; horas de trabalho coletivo na escola; congressos, seminários e cursos de diferentes formatos oferecidos pelas Secretarias da Educação ou outras instituições presenciais ou à distância. Na perspectiva de Freire (1993), a educação é um processo constante, portanto, todos os processos educativos com a família, comunidade, formação inicial, continuada apontam que estamos sempre aprendendo, ou seja, no saber que podemos saber mais (FREIRE, 1993, p. 20). Contudo, o mesmo Freire (2001, p. 71) discordava das práticas de formação de professores/as, que chamava de “pacotes, elaborados" por “meia dúzia de especialistas”, que “transpiram autoritarismo”, cabendo aos/às professores/as o papel somente de aplicar o que aprenderam “docilmente”, para melhorar a qualidade na educação. Neste sentido, aponta para formações que elevem a autonomia e protagonismo do professor, assim como, o caráter não instrumental da ação educativa.

A questão de múltipla escolha, O termo educomunicação: a) já circulou em minhas conversas ou leituras; b) nunca circulou em minhas conversas ou leituras; e c) branco, teve os seguintes percentuais gerais:

Figura 40 - O termo 'educomunicação':

Nunca circulou em minhas conversas ou leituras
58%
Já circulou em minhas conversas ou leituras
39%
Não responderam
4%
Fonte: MECOM, 2019.

Assim, como demonstra a figura acima, 58% nunca ouviram o termo, sendo que o maior contingente dos que conhecem o conceito de ‘Educomunicação’ está localizado entre os/as docentes do Estado de São Paulo.

● A diversidade da/na formação para o exercício profissional

Como se tem podido acompanhar neste bloco temático, e mesmo em outros presentes neste relatório que apontam para questões conexas, os/as docentes não tiveram oportunidades formativas ligadas aos problemas comunicacionais. E nos casos afirmativos poucos nominaram as disciplinas cursadas durante a graduação, sendo ainda diversas quando aparecem, portanto, é como se inexistisse percurso consensual sobre o estudo e a inclusão nas matrizes curriculares. Nesta perspectiva, a presença da educação midiática e tecnológica torna-se aspecto importante no percurso formativo docente, haja vista a existência de um contexto societário que está completamente imbricado com os dispositivos digitais e móveis, cuja velocidade de circulação é pouco compreendida pela escola, constituindo-se, portanto, em desafio a ser considerado no percurso da graduação e ao longo da vida profissional das professoras e professores.

Sobre os entendimentos e construtos nas formações, estes parecem pertencer a temporalidades diversas: uma, fora dos muros da escola – que centraliza o efêmero - outra, dentro dela - que exige escuta e espera, diferente em velocidade, uma vez que não está relacionada à potencialização da tecnologias como mercantilização globalizada, senão enquanto processo (ver os temas III e IX concernentes à discussão temporal).

A diversidade encontrada na pesquisa tanto denota os processos criativos e autônomos que as formações têm promovido, como apresenta um percurso de (in)definição sobre quais aspectos e características envolvem os vínculos educomunicativos. Conforme visto nas denominações das disciplinas, os termos variam muito. Cabe, portanto, perguntar se tal abertura não fragiliza certa conduta mais orgânica nos projetos de formação docente quando entra em cena um quadro histórico recortado pelos elementos comunicacionais e tecnológicos.

● Interação do docente com os meios comunicacionais

O mundo contemporâneo está permeado em suas relações e práticas sociais pelos recursos tecnotecnológicos e midiáticos. Não podemos incorrer em ingenuidade e considerar que os docentes estão alheios a isso. Com relação à viravolta sociotécnica das últimas décadas, refletida na vida dos/das docentes, identifica-se na pesquisa que há consciência deste fato. Por exemplo, a investigação revelou que os/as professores/as usam largamente a internet, em número de 96% para pesquisas de várias naturezas, 90% para ler notícias, 90% para preparar aulas, 79% usam e-mails, 79% acessam redes sociais, 68% realizam ou realizaram algum curso online, 44% compartilham conteúdos com alunos/as, 17% realizam jogos. Nota-se que é bastante relevante no cotidiano do/da professor/a o preparo das aulas, a pesquisa, a preocupação com formação continuada por meio da realização de cursos online. No entanto, quando se trata de utilizar os conteúdos e linguagens digitais e os media (vídeos, músicas, notícias, etc.) nas salas de aula a presença deles é tímida e restrita. A questão (36) Você utiliza videoclipes, novelas, séries, filmes, propagandas, telejornais, jornais, revistas, etc para ministrar aula?  que contempla a indagação ao docente acerca do uso dos media para fins didáticos e ou/pedagógicos revela que 16% sempre o fazem, 40% quase sempre, 33% raramente e 7% nunca. Os resultados mostram que 56% dos/das professores/as utilizam tais recursos em suas aulas. Divergindo das respostas docentes, quando os/as discentes são indagados/as, Se os professores utilizam notícias, revistas, propagandas, vídeos, filmes, etc, para explicar a matéria ou dar exemplos durante a aula (Questão 11) revelam que cerca de 92% dos docentes usam tais recursos, sendo que 68 % os utilizam às vezes, 18% muitas vezes, 5% sempre, 5% nunca e 1% deixou as respostas em branco. Para quase 60% dos/as alunos/as os citados recursos, e outros, auxiliam na compreensão da matéria em ministração, ao passo que para 31% auxilia às vezes e para 3% nunca (Questão 12).

Enfim, há um caminho de razoável distância a ser percorrido quando se confrontam os dados entre os processos formativos docentes e determinados requisitos sociais, a exemplo do acionamento das linguagens e dispositivos midiáticos e tecnotecnológicos a serem ativados nas salas de aula. Se existem fatores de infraestrutura (ver: Tema I: Infraestrutura: o que se encontra na escola) trazendo óbices para ajustar os tempos da escola e o das dinâmicas sociais, igualmente os processos de formação inicial e continuada dos/as docentes consignam dificuldades e pedem urgente revisão no sentido de melhor preparar os/as  professores para o trabalho educativo.

Conclusão

As respostas e análises da pesquisa acerca da formação docente permitem-nos concluir que ocorre necessidade de enfoque mais decisivo nos planos curriculares das licenciaturas quanto à educação midiática e tecnológica. O assunto deve estar presente, seja na formação inicial, em programas mais coerentes e orgânicos, seja durante os anos de exercício do magistério - em cursos e propostas preferencialmente desenvolvidos no próprio ambiente de trabalho, próximos das salas de aula, local apropriado para promover as retroalimentações entre teoria e prática, com os seus consequentes desdobramentos nas ações didático-pedagógicas implementadas junto ao corpo discente. Simultaneamente, é importante intensificar as pesquisas concernentes à formação, haja vista as já apontadas singularidades da nossa quadra histórica, toda ela em sincronismo com as linguagens e dispositivos tecnológicos e comunicacionais.

As formações, como revelam os dados, não possuem o mesmo percurso, apresentando interpretações e vivências diversas, deixando, a priori, o entendimento de que se trata de área ainda pouco madura e/ou estruturada para a qualificação e a prática profissional do docente nas circunstâncias particulares por nós referidas: o desenho e o desdobramento de uma nova realidade tecnocomunicacional que aponta para a computação quântica, o poder dos algoritmos, a vasta rede de controle patrocinada pelas grandes bases de dados.

Notas

16-

Q 39 -  Em seu curso de graduação/licenciatura houve alguma disciplina voltada ao estudo da comunicação na educação (mídia e educação; informática na escola; leitura crítica da comunicação; televisão e criança, etc.)?
Q 40 - Em caso positivo, lembra o nome da/s disciplina/s (cite-a/s)?
Q 41. De forma resumida, você se recorda do conteúdo tratado na(s) disciplina(s)?
Q 42 - Você considera a inter-relação escola e meios de comunicação: Complementar / Antagônica.
Q 43 - Comente a resposta anterior.
Q 44 - Você tem informação acerca de algum programa oficial voltado à formação permanente do professor para a área dos meios de comunicação ou das novas tecnologias?
Q 45 - Em caso positivo, qual?
Q 46 - Você já realizou algum curso de formação voltado ao trabalho com os meios de comunicação em sala de aula?
Q 47 - Em caso positivo, qual?
Q 48 - Em caso negativo, gostaria de realizar algum curso destinado à formação para o trabalho com os meios de comunicação na sala de aula? A) Sim, independentemente do local do curso ou se é virtual/presencial. B) Sim, desde que o curso fosse ministrado em uma das escolas nas quais leciono. C) Não, no momento eu não gostaria de fazer curso desse tipo.
Q 49 - O termo ‘educomunicação’: A) Já circulou em minhas conversas ou leituras / B) Nunca circulou em minhas conversas ou leituras.
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17-

Q 17 -  Indique o(s) equipamento(s) disponível(is) nessa escola para uso didático/pedagógico. Televisão / rádio / gravador de áudio / câmera fotográfica / aparelho de DVD / filmadora / projetor multimídia (power point, etc) / outros.
Q 18 - A escola na qual você concentra a maior parte de suas aulas tem: (Pode assinalar mais de uma alternativa). Computador sem internet nas salas de aula / computador com internet nas salas de aula /computador sem internet na sala dos professores / computador com internet na sala dos professores / sala de informática com internet / sala de informática sem internet / computador na secretaria/diretoria, com ou sem internet / não possui computadores.
Q 19 - Caso a escola tenha computadores, eles são utilizados: Por estudantes / por professores(as) / por funcionários administrativos/diretoria. Se necessário, assinale mais de uma alternativa. Caso a escola não possua computadores, deixe em branco.
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18-

Q11 - Os seus professores e professoras utilizam notícias de jornal, revistas, propagandas, letras de música, filmes para explicar a matéria ou dar exemplos durante a aula? Nunca / às vezes / muitas vezes / sempre.
Q12 - Caso utilizem tais recursos, eles ajudam a compreender a matéria dada? Nunca / às vezes / muitas vezes / sempre.
Q28 - Com que frequência você acessa seu smartphone em sala de aula?
Q29 - Você compartilha conteúdos (fotos, memes, músicas, etc) com seus amigos durante a aula?
Q31 - Quais das atividades abaixo você realiza em sua escolar? Pode assinalar mais de uma alternativa. fanzines / poesias /  contos / crônicas / história em quadrinhos / teatro / radio / atividades musicais / dança / saraus / jornal escolar / jornal mural / vídeo / outro.
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TEMA VIII

DISCENTES: PERFIS

Dados e reflexões deste tópico:
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Introdução

A pesquisa teve distribuição mais diversificada entre os/as estudantes, alcançando amostragem variada do ponto de vista da localização geográfica, da idade e do nível de educação cursado. Nos blocos a seguir, detalhamos tais aspectos, cruzando-os com observações acerca das escolhas metodológicas empregadas na captação dos dados e seus desdobramentos, bem como tratamos de prisma relativo aos conteúdos acessados pelos discentes na internet.

Desenvolvimento

A maioria dos/as participantes (90%) registra idade entre 11 e 17 anos, com os picos constatados entre os/as adolescentes de 14 (18%) e 15 (17%) anos. Em relação às séries de maior presença, destacaram-se, na ordem, o 9º (19%) e o 8º ciclo (17%) do fundamental II, seguidos do 1º (15%) do ensino médio.

Figura 41 - Idade dos alunos

10 anos
2%
11 anos
6%
12 anos
8%
13 anos
12%
14 anos
18%
15 anos
17%
16 anos
14%
17 anos
11%
18 anos
4%
19 anos
1%
20 anos
1%
Acima de 20 anos
2%
Não responderam
4%
Fonte: MECOM, 2019.

A única exceção - entre as variáveis coligadas ao perfil do alunado - a indicar expressiva concentração, diz respeito à natureza da rede de ensino à qual estão vinculados/as os/as discentes. Apenas 5% das matrículas relacionam-se a uma escola particular, enquanto 50% são estaduais e outras 41% municipais, o que revela a majoritária participação de educandos alocados em unidades públicas.

Figura 42 - A sua escola é:

Estadual
50%
Municipal
41%
Particular
5%
Federal
2%
Outros
0,4%
Não responderam
2%
Fonte: MECOM, 2019.

A pesquisa alcançou, ao todo, crianças, adolescentes e jovens adultos/as matriculados em escolas localizadas em 22 dos 26 estados da federação. Assim como observado entre os professores e professoras, São Paulo teve a maior participação, com 1173 respondentes (32%). Completam o conjunto das localidades onde foi aplicada a maior quantidade de questionários, em sequência, Santa Catarina (28%), Pernambuco (17%), Paraná (8%), Mato Grosso do Sul (5%) e Bahia (5%). Os 20 demais alcançaram percentual menor que 1%.

Parece oportuno destacar o detalhe de que um número muito menor de estudantes, comparado ao número de professores, não preencheu esta pergunta. Enquanto entre os educandos e educandas apenas 2% não responderam, no grupo dos/as docentes este valor é dez vezes maior, alcançando 20% dos respondentes.

Figura 43 - Estado no qual o aluno estuda

São Paulo
32%
Santa Catarina
28%
Pernambuco
17%
Paraná
8%
Mato Grosso do Sul
5%
Bahia
4%
Pará
1%
Rio de Janeiro
0,5%
Rio Grande do Sul
0,3%
Minas Gerais
0,24%
Goiás
0,08%
Amazonas
0,19%
Tocantins
0,05%
Roraima
0,05%
Paraíba
0,05%
Acre
0,05%
Rondônia
0,03%
Rio Grande do Norte
0,03%
Mato Grosso
0,03%
Ceará
0,03%
Amapá
0,03%
Alagoas
0,03%
Não informado
4%
Fonte: MECOM, 2019.

Refletir sobre a estratégia utilizada no levantamento de dados da região Sul do país nos oferece pistas no tangente à familiaridade dos alunos e alunas com as novas tecnologias digitais e à maneira como são impactados pela aceleração social do tempo. Como mencionado no tópico inicial deste relatório, dedicado às questões metodológicas, houve diversificação nos procedimentos adotados na aplicação da pesquisa. Um dos nossos pesquisadores optou pelo contato com estudantes por intermédio de redes sociais e a aproximação inicial era feita através de mensagens encaminhadas às páginas do Facebook de grupos ligados às escolas – ele escrevia a respeito da pesquisa e sua importância e pedia autorização para socializar o formulário digital entre os/as participantes.

A receptividade à pesquisa foi, no geral, positiva, e, muitas vezes, os pesquisadores eram inseridos em comunidades do WhatsApp de salas de aula ou de estudantes de determinadas instituições educativas para divulgar o estudo e solicitar o preenchimento do questionário.

O sucesso do método se traduziu no volume de dados obtidos e em um prazo curto. Entre as 17h42min do dia 31 de outubro e 19h34min de 8 de novembro de 2018 – portanto, pouco mais de oito dias –, 1329 jovens (ou 35,8% do total da amostra), de 127 cidades, sobretudo dos estados do Paraná e Santa Catarina, acessaram e responderam ao formulário por nós encaminhado.

Chama a atenção o fato de, nas primeiras oito horas, 737 (19,8% do total da amostra) novas participações terem sido registradas no banco virtual. Além disso, entre 18 e 20 horas daquele primeiro dia reuniram-se mais dados de estudantes (593 questionários) do que aqueles captados entre os professores e professoras (509) ao longo de todo o período de aplicação da pesquisa. Outro ponto requer menção: 56 destas participações foram computadas entre 23 e 7 horas da manhã, ou seja, muitas delas durante a madrugada.

Os resultados gerais reforçam a percepção de que existe uma estreita e contínua relação entre os/as estudantes e as mídias digitais. O smartphone (86%) foi citado por eles/as como o meio mais utilizado para acessar a internet. Aliás, tal dispositivo é quase exclusivo: a segunda opção com o maior número de citações, o notebook/laptop, não alcança sequer um terço da amostra (32%) e os desktops, que, diga-se de passagem, estão presentes nas salas de informática de boa parte das unidades de ensino, foram mencionados por menos de um quarto dos participantes (23%), conforme discutido no Tema VI.

Podemos fazer ao menos duas observações a partir da análise desses dados: a) os professores e professoras utilizam de forma mais usual outras plataformas para realizar suas conexões (o dobro do percentual de docentes afirmou que utilizam notebook/laptop (66,8%) e proporção quase equivalente em relação ao desktop (41,3%)); b) há uma tendência em ambas as amostras no sentido de privilegiar as tecnologias móveis de comunicação.

Dentre os prováveis motivos para a consolidação destas características evidencia-se o barateamento dos celulares em relação a outros aparatos e sua versatilidade, pois reúne uma multiplicidade de recursos nos quais se incluem aplicativos, ligações telefônicas, mensagens via SMS e, é claro, a possibilidade de carregá-los para qualquer lugar.

As informações estratificadas da pesquisa apontam que um dos reflexos diretos do custo reduzido e da flexibilidade oferecida pelos smartphones constitui-se o fato de apenas 5% dos educandos e educandas afirmarem não ter acesso a este recurso (entre alunos e alunas do ensino médio, o percentual é ainda menor: 2%. Por idade, inicia com 22% aos 10 anos, caindo para 7% aos 13, 3% aos 16 e zero aos 19). Além disso, 58% admitem acessá-lo ao menos de vez em quando durante as aulas (alcança 75% dos/as educandos/as com 17 anos e 72% de todos/as os/as matriculados/as no ensino médio), 59% permanecem conectados por mais de cinco horas por dia e quase dois terços dos alunos e alunas (62%) admitiram ter deixado de fazer tarefa escolar por terem ficado muito tempo conectados à internet – conforme dados analisados nos Temas X e XI deste relatório.

Observamos que a oferta de uma miríade de recursos visuais e sonoros, assim como a possibilidade de entrar em contato com outras pessoas e de não apenas consumir, mas também de produzir conteúdo, em qualquer lugar e a qualquer hora, acabam por reduzir o espaço e o tempo da educação formal. A concorrência de produtos considerados mais atraentes, em geral voltados ao entretenimento, relega a segundo plano as atividades associadas às relações ensino-aprendizagem nas salas de aula – é preciso considerar que o estudo das matérias, a preparação para as provas, a realização dos trabalhos e deveres escolares são atravessados e, no limite, preteridos por experiências recortadas pelos media. Do mesmo modo, ganha relevância a discussão acerca de quanto o entretenimento faz parte da educação e de como a molda de maneira mais afeita à dinamicidade atual dos mais jovens (HAN, 2019).

A prevalência dos dispositivos móveis em relação a outros meios é percebida também nos números obtidos na questão que trata das plataformas apontadas como preferidas pelos/as jovens para assistir aos programas. A televisão aberta, até algumas décadas atrás praticamente a única opção disponível, hoje é apenas a quarta (30%), um pouco à frente do serviço de TV por assinatura convencional (29%). O índice representa menos da metade do desempenho obtido pelo Youtube (76%) e está bem abaixo de outras alternativas como Netflix (57%) e os aplicativos para celular (42%).

Convidados a indicar o que mais procuravam enquanto navegavam na internet, os/as alunos/as escolheram principalmente vídeos (81%), redes sociais (76%), música (69%), sites de busca (56%) e jogos (52%), esclarecendo a extensão e profundidade dos recursos audiovisuais e da iconicidade na cultura contemporânea.

Ao analisarmos os resultados por idade, constatamos entre os mais jovens a propensão maior para se interessarem por entretenimento e menor por interações nas comunidades virtuais. Entre os/as mais velhos/as, a relação é exatamente oposta. Quando comparamos os/as estudantes de 10 e 19 anos, reconhecemos que os/as primeiros/as elegeram jogos (71%) como a opção favorita, enquanto as redes sociais não são tão prestigiadas (37%). Entre os/as últimos/as, a situação se inverte: Facebook, Instagram e Twitter são mais buscados (88%) e os games (40%) figuram na sexta posição, atrás, inclusive, do e-mail (43%).

Diante das informações e comentários a orientar as nossas discussões em torno dos hábitos midiáticos dos/as estudantes, podemos afirmar que eles/as estão permanentemente conectados, de maneira que esta relação joga forte influência no cenário da educação formal.

Julgamos oportuno lembrar, por fim, a perspectiva segundo a qual as novas experiências relacionadas aos meios de comunicação são influenciadas por vetores como os algoritmos, que tendem a configurar o perfil de certos públicos, orientando-os na direção de bens, serviços, produtos, gostos, interesses, preferências (um dos pesquisadores do MECOM, Douglas Calixto, desenvolve pesquisa que aborda o tema dos algoritmos a partir da perspectiva educomunicativa. Ver: CALIXTO, 2018).

O cenário acima descrito pode colaborar para que sejam forjadas relações menos interativas, afetivas e abrangentes entre educadores/as e educandos/as, conquanto simultaneamente transpareça afabilidade crescente entre sujeitos e máquinas, entre indivíduos e seus avatares, bem como acirramento da dependência dos primeiros em relação aos últimos. Nesse jogo de afetos, o distanciamento estabelecido pela falta de conhecimento a respeito dos valores, das formas de pertencimento, dos elementos de constituição de sentido do outro arriscam favorecer a ausência de diversificação e o esgarçamento nos fios das tramas envolvidas no processo de ensino-aprendizagem. Como nos lembra Serres, “antes de ensinar o que quer que seja a alguém, é preciso, no mínimo, conhecer esse alguém.” (2013, p.12) — isso vale para o exercício da docência de maneira geral e, igualmente, norteia nossos caminhos específicos de pesquisa.

O que se pode verificar, na composição geral do perfil dos/as estudantes alcançados pela nossa pesquisa, é o declínio de interesse pela televisão aberta e também pela TV por assinatura em relação a outras possibilidades. Conquanto a TV possa também ser acessada através das tecnologias móveis, os/as alunos/as preferem conectar-se a conteúdos mais personalizados, como os do Youtube, ou assistir a séries e filmes de sua preferência. Frise-se que embora canais pagos de televisão estejam em declínio na preferência dos/as mais jovens, canais de streaming pagos, como Netflix e Amazon Prime, seguem em ascensão. Aplicativos de celular (entre os quais igualmente figuram os referidos canais de streaming) também alcançam maior preferência em relação à TV (estão em terceiro lugar na lista de opções dos/as estudantes). Há que se pensar, aqui, na migração econômica dos interesses comerciais em um mundo “corrido” — se antes a propaganda da TV e sobre a TV atingia massivamente grandes contingentes populacionais, hoje ocorre um movimento avassalador no sentido de veicular propagandas que estimulem o uso das mídias locativas, para os mais variados fins. Mais do que isso, temos observado em certos textos digitais uma espécie de “prolongamento algorítmico” de modo a tornar sempre maior o texto e a quantidade de pop-ups publicitários aí inseridos. Temos, pois, dois movimentos a analisar neste contexto específico: de um lado, a recusa de grande parcela dos internautas à leitura de textos longos; de outro, a superexploração da paciência e certo dolo impingido àqueles que se dedicam a lê-los, considerando-se o procedimento recorrente de alguns sites: estender ao máximo seus textos, às vezes até formulando novos parágrafos algoritmicamente, como forma de obrigar o leitor e a leitura a ver mais anúncios a cada enunciado. Cabe lembrar, também, quão disputado tem sido o mercado de streaming — a aparição da Amazon na pesquisa é uma amostra do esforço de gigantes do mercado para abocanhar seu quinhão face aos novos hábitos de consumo de media.

A comunicação mais centrada em produtos audiovisuais destaca-se entre os alunos e alunas. Observa-se que apenas um terço das opções assinaladas inclui acessar e-mails, demonstrando ser esta uma forma de comunicação neste segmento, conquanto menos usual. Dada a instantaneidade onipresente noutras alternativas de comunicação, infere-se que o delay temporal um pouco maior associado ao e-mail e à atividade de “abri-lo” para consultas o relega a planos de menor destaque em relação à década passada, por exemplo. A opção relativa a buscar conteúdos especificamente para realizar leituras alcança menos de um terço das citações. Os alunos e alunas, aparentemente, não se dedicam com muito vigor à busca de conteúdos para ler nem se preocupam demais em “procurar” conteúdos com o fim específico de distribuí-los para outros e outras colegas - conquanto compartilhem largamente nas redes diferentes tipos de materiais audiovisuais e mesmo comentários rápidos sobre situações cotidianas. Quanto ao que consideram “conteúdos de pesquisa”, item bastante assinalado, não podemos afirmar ao certo se os estudantes pensaram em pesquisa escolar, acadêmica, científica, ou, simplesmente, em pesquisas para satisfazer outras necessidades/curiosidades do dia a dia. Este aspecto exigiria aprofundamento posterior.

Conclusão

Os critérios estabelecidos para o levantamento e análise dos dados, como descrito na seção correspondente, não permitem a formulação de inferências estatísticas, nem a generalização dos resultados. Contudo, a abrangência das informações coletadas, estendendo-se à quase totalidade dos estados brasileiros e a distribuição da amostra - que entre os 12 e os 17 anos, variaram entre 8% e 17% dos questionários obtidos - ao menos oferecem condições de apontarmos algumas tendências: (i) mais de 90% dos/as discentes estavam matriculados/as em escolas públicas; (ii) acessam a internet por intermédio de seus smartphones (86,4%) em detrimento de outros dispositivos que oferecem menos mobilidade ou nenhuma, como o notebook/laptop (32,4%) ou o desktop (23,2%); e (iii) preferem as plataformas digitais (Youtube, por exemplo) às mídias tradicionais (TV).

TEMA IX

TEMPO DISCENTE

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Introdução

Assim como feito com o tópico Tempo Docente, aqui buscaremos verificar, a partir das tabelas, comentários e análises subsequentes, como os/as estudantes manifestaram-se acerca das diversas facetas da temporalidade que os afetam: na aula, nas relações com os meios de comunicação, na sociabilidade, etc. O ambiente sociotécnico que ensejou as ponderações sobre os professores e professoras pode ser, aqui, recuperado, haja vista tratar-se de um mesmo ecossistema no qual vicejam toda sorte de dispositivos e marcadores da subcultura digital. Feitos os devidos ajustes de natureza econômica, social, cultural e etária, discentes e docentes encontram-se imersos naquilo por nós chamado na Introdução deste relatório de “grande transição” - a mudança de certos paradigmas da sociedade analógica para os modelos organizadores da 4ª revolução industrial.

Desenvolvimento

A seguir exporemos os dados da investigação realizada junto ao corpo discente, considerando-os nos cruzamentos entre questionários, entrevistas, observações em aula e outros espaços escolares, sempre mirando a questão do tempo. Os comentários e análises intentam constituir visão mais ampla do fenômeno em tela quando remetido à educação formal.

Uma das perguntas enunciadas visava a saber se os alunos estabeleciam padrões comparativos acerca da aceleração temporal, considerando, de um lado, o ambiente físico da sala de aula, e, de outro, os dispositivos técnicos de comunicação.

Havia a possibilidade de o/a entrevistado/a indicar mais de uma alternativa. Para fins de procedimento analítico foram destacadas as três com maior recorrência. A faixa dominante da amostra, 50%, respondeu que ao operar com a internet e o celular, o tempo corre mais rápido do que no espaço restrito da sala de aula. O direto oposto deste grupo responde por 13%, ficando um número significativo, 31%, em posição de neutralidade, entendendo inexistir diferenças perceptíveis no tangente à passagem do tempo, quando se está em aula ou diante das trocas e acessos a mensagens via dispositivos de comunicação. No gráfico a seguir busca-se entender um pouco melhor a relação tempo-aula.

Figura 44 - O tempo da aula:

Nem demora nem é rápido
48%
Demora muito para passar
22%
Passa rápido
20%
Depende da aula
3%
Depende do dia
0,7%
É o tempo certo
0,2%
Outros
1%
Não responderam
4%
Fonte: MECOM, 2019.

A maioria dos/as entrevistados/as, 48%, quando perguntada diretamente acerca do tempo da aula, no geral de 50/55 minutos, considera estar ajustado. Os dois outros grupos são quase idênticos entre os que entendem existir lentidão (22%) e rapidez (20%). Ou seja, neste segmento não se apresenta o tipo de manifestação expressa no gráfico anterior, que atribuiu a sensação de maior apressamento do tempo quando são acionados os dispositivos digitais de comunicação. No caso presente, formulamos pergunta aberta complementar, a ser respondida por escrito19. E as manifestações, consideradas as três variáveis acima, ora diziam respeito a professores (estado de ânimo, tom de voz, ritmo expositivo, capacidade de motivar, etc.) ora a estudantes (disposição, interesse pela matéria, identificação com disciplinas e docentes, etc.). Seguem alguns pronunciamentos:

“Quando a aula tá legal passa rápido e quanto tá chata passa devagar”; “Às vezes eu não entendo a matéria, aí demora a passar as horas”; “Sinceramente depende dos dias e aulas, uma certa aula às vezes faz parecer com que o tempo passe mais rápido, como por exemplo a Educação Física”; “Às vezes me estresso mais nas explicações e quando não acho muito interessante a aula fica demorada”; “Passa rápido porque eu tenho amigos para conversar, atividades para realizar. Eu não vou pra escola pra ficar parada e sim aprender”; “Quando você se interessa pelo conteúdo da aula e presta atenção no professor nem vê as horas passarem”; “O tempo é relativo a cada pessoa, ou seja, para mim pode passar rápido, mas para outra pessoa pode passar devagar”; “Quando nós estamos em casa parece que o tempo é tão rápido, quando estamos na escola parece que o tempo fica mais devagar”; “Quando a aula é sempre a mesma coisa, cansa demais. Mas quando entra um professor que usa um material diferente, uma conversa divertida, chama mais a atenção, fazendo passar mais rápido do que as aulas que são cansativas”.

Como se pode verificar, o problema envolvendo o ritmo temporal durante a aula tem base em fatores objetivos passíveis de tradução em alguns itens: postura do professor, disciplina, conteúdo ministrado, tipo de materiais usados na aula; circunstâncias envolvendo a própria vida do aluno, em amplitude que vai dos interesses particulares por áreas do conhecimento, passando por maior ou menor capacidade de concentração, níveis de ansiedade, indo, dentre outros fatores, como tempo de sono, cansaço pelo deslocamento à unidade escolar. Há também vetores subjetivos e reconhecimento do caráter relativo do tempo: interesse e vínculo com determinados assuntos em debate na aula; empatia com docentes. Em síntese, é possível afirmar que para o aluno do ensino básico alcançado pela nossa pesquisa, o tempo da aula tende a ser percebido ou sentido conforme as relações estabelecidas entre os vários elementos postos em cena, quer como decorrência de fatores mais perceptíveis, e de fácil identificação, quer como expressão de manifestações afetivas, emocionais, até outros afeitos a planos imateriais, emocionais, a expressarem o “estado de espírito”. Desde que respeitemos o fato de a pergunta em questão dizer respeito a uma situação concreta, a sala de aula, evidenciando, portanto, determinada realidade cronotópica, no interior da qual os sujeitos vivem suas dinâmicas temporais, viceja a ideia de que os cruzamentos entre planos objetivos e subjetivos marcam o princípio geral da apreensão e vivência relativa do tempo podendo ser ela expandida para outras circunstâncias sociais, formações institucionais, unidades de trabalho.

Buscamos no gráfico subsequente ampliar a pergunta a fim de saber como o discente percebe a passagem do tempo na escola. Aqui é necessário ter em vista o conjunto de atividades envolvendo desde as aulas, avançando pelas relações mais abrangentes – nas quais se inscrevem as vivências nos intervalos, os encontros no pátio, as conversas variadas pelos corredores – até as iniciativas, em particular quando dizendo respeito às unidades educativas possuidoras do turno expandido, com a montagem de peças teatrais, realização dos jornais ou rádios escolares, as disputas esportivas e políticas pela direção dos grêmios estudantis, etc.

Figura 45 - Você acha que passa muito ou pouco tempo na escola?

Nem muito, nem pouco - É o tempo certo
56%
Muito
26%
Pouco
15%
Não responderam
3%
Fonte: MECOM, 2019.

Aqui, a tendência verificada na tabela anterior, de certo ajuste temporal do aluno à aula se repete no tocante ao período passado na escola.  Neste caso, 56% responderam cumprir jornada adequada dentro da unidade educativa; para 26%, o lapso é demais longo, enquanto 15% consideram-no exíguo. Sem desconhecer as implicações trazidas pelo fato de quase 1/3 dos discentes estar desconfortável com o que chamaremos de “tempo escolar”, constata-se que não há, aqui, conflito de maiores dimensões. Ou seja, quando se examina apenas a relação do aluno diretamente com a aula ou com a escola, os indicadores não ficam tão díspares, e o problema da aceleração temporal, ainda que presente, ganha menor evidência.

Entre algumas manifestações dos/das discentes é possível ler avaliações positivas ou negativas concernentes ao tempo integral passado na escola. Como já referido, todas as citações, além de outras do mesmo teor, podem ser encontradas no tema reservado às Falas de Docentes e Discentes:

“Como estudo em tempo integral, parece que a hora não passa nunca”; “Como estudo 3 dias o dia todo e como gosto de estudar, na maioria das vezes o tempo passa rápido”; “Eu estudo em tempo integral, mas gosto de estudar então para mim não demora e nem passa rápido”; “Na escola, tem aulas que passam rápido porque, inclusive, são as melhores, aquelas que a gente se interessa demais. Acho que além das aulas tradicionais pela manhã, a tarde tínhamos que ter aulas mais leves, como esportes variados, como karatê, judô, artes”. Da coleção de respostas, apenas uma fazia restrições ao tempo decorrido na unidade, mesmo em regime parcial: “As cinco horas na escola é muito tempo”.

Por não se incluir nas perguntas referências aos meios de comunicação e aos recursos tecnodigitais, fica o/a aluno/a, ao menos aparentemente, menos pressionado/a a promover comparações entre as temporalidades, digamos, próprias dos requisitos didático-pedagógicos e as demais, aquelas ancoradas no smartphone, na internet, nos apelos de certos mecanismos produtivos orientados pelo just in time. Entretanto, quando ampliamos o espectro da pergunta remetendo a questão da temporalidade vivida pelo/a discente ao universo que fusiona tópicos distintos e de ordens nem sempre recorrentes, como os das redes sociais, dos estudos formais escolares, dos sites de relacionamento, verificamos certa mudança de cenário, segundo aparece abaixo. Essa indagação permitia fossem cruzadas várias respostas.

Figura 46 - Você dedica mais tempo para:

Entrar nas redes sociais, falar com pessoas pelo celular
61%
Estudar, realizar as tarefas escolares
49%
Conversar pessoalmente com amigos
36%
Ler livros (papel ou digital)
23%
Fonte: MECOM, 2019.

A alternativa com maior contingente de respostas (61%) diz respeito ao acesso às redes sociais; as outras concernem a procedimentos que não mostram, diretamente, os dispositivos digitais, excluído o item ler livros em papel ou suporte digital (23%). A segunda maior indicação diz respeito à realização das tarefas escolares (48%), seguida de bate-papo presencial com amigos (35%). De todo modo, chama atenção a ocorrência de alguma equidade entre os/as entrevistados/as, no afeito aos mecanismos de maior ou menor aceleração social do tempo. Tal assertiva, entretanto, apenas reflete situação localizada, na qual  fica explícito algo evidente: o destaque visando ao acionamento de suportes conectados à tecnosfera, ao lado de atividades, digamos, mais tradicionais, como a conversa presencial com amigos. A se perguntar como ocorre o ritmo temporal nos encontros face a face, das conversas descontraídas entre discentes, da realização de tarefas escolares, algo, em tese, de natureza mais individual. Ou ainda, permanecem as marcas da fragmentação, das descontinuidades, dos mecanismos minimalistas do Twitter, dos emojis? Enfim, subsistem os “sintomas do apressamento”, aquelas atitudes, condutas, posturas associadas à velocidade, mesmo nas circunstâncias para as quais os mediadores técnicos deixam de ser convocados. Para efeito de resposta a esta pergunta, agregamos alternativas incidentes sobre o uso das tecnologias digitais. Vejamos algumas delas.

Figura 47 - Quantas horas por dia você utiliza internet?

Mais de cinco horas por dia
59%
De três a quatro horas
20%
De uma a duas horas
12%
Menos de uma hora
5%
Não utilizo
1%
Não responderam
2%
Fonte: MECOM, 2019.

Verifica-se, em quantidades de horas diferentes, que 96% da amostra mobiliza diariamente a internet, dispositivo comunicacional apoiado de maneira decisiva na aceleração do tempo. Para 59% dos/das entrevistados/as, o período de acesso à rede digital excede as 5 horas por dia, enquanto 20% o faz por períodos de 3 a 4 horas; ou seja, 79% passa um longo período do dia navegando pela WEB.

Em seguida, procuramos saber acerca da relação entre tempo dispendido para acessar a internet e a atividade realizada; como a pergunta permitia mais de uma resposta, foi fixada uma ordem de maiores para menores indicações.

Figura 48 - Você já deixou de fazer alguma tarefa escolar pois ficou muito tempo conectado à internet?

Às vezes
43%
Nunca
31%
Muitas vezes
14%
Sempre
5%
Não responderam
7%
Fonte: MECOM, 2019.

Ainda que a resposta nunca (31%) seja expressiva, – malgrado não significa esteja tal grupo ausente da internet noutros momentos, como aponta a pergunta acima, “você dedica mais tempo para” – a soma das indicações às vezes (43%), muitas vezes (14%) e sempre (5%) representam 62% da amostra. Noutros termos, expressiva maioria dos/das entrevistados/as, em algum momento, comprometeu a realização de tarefas escolares haja vista permanecer por período mais longo conectado à WEB. Trazendo a questão para o problema de fundo sobre o qual nos debruçamos: é preciso que o sistema educativo formal dispense olhar mais atento à temática temporal envolvendo seja o espaço restrito da sala de aula seja o implicado com os dispositivos comunicacionais. Como se trata, agora, de considerar a existência de áreas de cruzamentos entre aqueles dois tempos, haja vista as fertilizações e contaminações entre eles, sobretudo quando nos posicionamos para olhar a questão a partir dos mobiles, da internet, dos “intensificadores de velocidade”, já não se pode pensar o planejamento escolar abstraindo-os como se já não estivessem presentes na vida cotidiana dos discentes.

Partindo da premissa de Rosa (2019) de que a modernização é uma experiência de aceleração, constatamos que a ocupação do tempo majoritariamente feita nas redes sociais revela que os estudantes estão vivendo no miolo dos ativadores de velocidade. Relações mais sólidas, estruturadas e duradouras perdem espaço frente às fragmentações, aos vídeos curtos e aos prazeres imediatos. Diversos depoimentos colhidos junto aos 3708 estudantes em perguntas abertas apontam para sinais de impaciência e reclamações em relação a um tempo que passa devagar quando se está “fora” da internet.

Conclusão

Em resumo das tabelas acima é possível deduzir a existência de um quadro no qual se revela a convivência entre os tempos institucionalmente escolares e aqueles atravessados pelos intensificadores de velocidade, ancorados, sobretudo, nos dispositivos digitais, à maneira dos smartphones. O exame mais próximo do funcionamento da sala de aula e dos comportamentos dos seus/suas estudantes fornece elementos para se ampliar o debate acerca de futuras políticas e projetos a serem encetados pelos discursos didático-pedagógicos no sentido de incrementar mecanismos que pari passu preservem as singularidades do tempo escolar e tenham no horizonte as dinâmicas dromológicas em curso, conforme nomenclatura de Paul Virilio (2015).

E servem como exemplos capturados pela nossa pesquisa e dispersos nos comentários aos gráficos, o fato de existir amplo uso do celular e da internet, e de aplicativos como o WhatsApp, Facebook, YouTube, etc. Do mesmo modo, detecta-se a fragilização no acesso às chamadas mídias tradicionais: a televisão aberta ou por assinatura, por exemplo, deixa de ser meio de comunicação hegemônico entre os/as jovens; as plataformas de vídeos e filmes recebem mais do que o dobro de menções em relação às programações televisivas. Em termos gerais, o tempo dispendido pelos discentes junto às redes sociais ultrapassa em cerca de 10% aquele dedicado aos estudos formais, na razão de 60% para o primeiro caso contra 50% para o segundo. Igualmente, é maior o tempo dedicado aos relacionamentos virtuais do que aos presenciais – malgrado os alunos e alunas se encontrem quase todos os dias na escola, são poucos os laços de sociabilidade construídos entre eles.

O que resta, nesta síntese, é a possibilidade de generalizar alguns dados cujo caminho aponta para uma espécie de internalização sociotécnica a provocar mudanças nas formas como o tempo é percebido e mesmo operado pelos/pelas discentes no interior das salas de aula e demais espaços escolares.

Notas

19-

As solicitações abertas foram preenchidas por grande número dos 3708 discentes participantes. Muitas respostas estavam incompletas ou reiteravam aspectos comuns e mesmo desviavam do que se estava perguntando. Entretanto, foi possível trabalhar com uma amostragem extremamente significativa, de que serão apresentados alguns exemplos neste e em outros gráficos.
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TEMA X

DISCENTES: HÁBITOS DE MÍDIA

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Introdução

Dedicamo-nos neste segmento a entender os hábitos de media de estudantes. Assim como feito ao se analisar o correspondente tema concernente aos docentes, nosso apoio conceitual para discutir criticamente os dados foi dado por Néstor Garcia Canclini (1997), referindo-se ao hábito enquanto consumo – ou seja, circunscrito a um conjunto de processos socioculturais em que se realizam a apropriação e o uso de produtos simbólicos no andamento da própria vida cotidiana.

Desenvolvimento

Quando ativamos a reflexão a partir dos elementos fornecidos para a análise dos dados informados pelos estudantes, deparamo-nos com um cenário bastante diverso, o que é natural e esperado por conta da regionalidade, variações na faixa etária e experiência geracional.

Dos pontos comuns, podemos destacar que a grande maioria dos jovens (73%) recorre ao Youtube para assistir a seus programas favoritos. Cerca de 60% utiliza plataformas on-demand como a Netflix para acessar filmes, séries e documentários. Mais de 40% recorrem a aplicativos no celular para ouvir músicas e/ou acessar vídeos, como aponta a próxima figura. Importa notar, também, a frequência tanto à televisão por assinatura (29,3%) quanto à TV aberta (30%). Nesta questão foi dada ao respondente a possibilidade de optar por respostas múltiplas.

Figura 49 - Qual(is) meios de comunicação você utiliza para ver seus programas favoritos?

YouTube
76%
Netflix
58%
Aplicativos de celular
42%
Televisão aberta
30%
Televisão por assinatura
29%
Amazon
1%
Outros
3%
Fonte: MECOM, 2019.

Se, por um lado, a televisão convencional, aberta ou por assinatura, não integra o universo juvenil de quase 60% dos pesquisados, por outro, tampouco o rádio é um atrativo desta geração. Mais de 60% dos jovens afirma não ter costume de ouvir rádio, como aponta a figura 50. Dos 37% ouvintes, menos de ¼ utiliza aparelho convencional e mais de 1/3 o acessa via smartphones. Também aqui foi dada ao respondente a possibilidade de optar por respostas múltiplas. Chama a atenção que quase 40% deixou de responder a pergunta, conforme se verifica na figura 51.

Figura 50 - Você ouve rádio?

Não tenho hábito de ouvir rádio
60%
Menos de duas horas por dia
26%
Mais de duas horas por dia
11%
Não responderam
2%
Fonte: MECOM, 2019.

Figura 51 - Em que suporte ouve rádio?

Smartphone
31%
Aparelho de rádio convencional
26%
Computador
8%
Tablet
3%
Outros (rádio do carro, celular sem internet, etc)
8%
Não responderam
40%
Fonte: MECOM, 2019.

Mesmo com pouco hábito de ouvir rádio, mais da metade dos ouvintes refere-se à música como o tipo de programa radiofônico preferido, sendo que muitos assinalaram mais de uma preferência, como programas humorísticos, jornalísticos e esportivos. Isso mostra que, para a juventude, o áudio migrou do rádio para novos suportes, como as plataformas de streaming, e podcasts - o que reafirma a mudança na experiência com as mídias sonoras.

Figura 52 - Ouvindo rádio, qual o tipo de programa de sua preferência? (Indique até três)

Musical
52%
Humorístico
19%
Jornalístico
18%
Esportivo
17%
Religioso
6%
Político
1%
Variedades
1%
Fonte: MECOM, 2019.

Como verificável, nem o rádio e nem a televisão convencional integram o universo juvenil de quase 60% dos pesquisados, tampouco o jornal impresso: 78% dos jovens respondentes não costumam ler jornais e 67% sequer revistas impressas. Pelo aspecto positivo, os dados demonstram que cerca de 12% leem jornais eventualmente e quase 18% o fazem eventualmente com relação às revistas. As duas figuras na sequência detalham tal comportamento.

Figura 53 - Com que frequência lê jornais impressos?

Não tenho o hábito de ler jornais impressos
78%
Eventual
12%
Semanal
5%
Diária
3%
Não responderam
3%
Fonte: MECOM, 2019.

Figura 54 - Com que frequência você lê revistas impressas?

Não tenho o hábito de ler revistas impressas
67%
Eventual
18%
Semanal
6%
Mensal
5%
Diária
0%
Não responderam
4%
Fonte: MECOM, 2019.

Se os veículos de comunicação convencionais são praticamente desconsiderados e descartados pela grande maioria dos jovens, segundo demonstram os dados levantados em nossa pesquisa, quais seriam os suportes pelos quais se informam? E como os acessam?  A síntese das respostas está na figura abaixo: a grande maioria informa que recorre ao WhatsApp (69%) e Facebook (65%). Os portais de notícia são outra fonte bastante citada (43%). Nesta questão foi dada ao respondente a possibilidade de optar por respostas múltiplas.

Figura 55 - Você obtém notícias/informações através de:

WhatsApp
69%
FaceBook
65%
Portais de informação
43%
E-mail
21%
Twitter
16%
Blog
14%
Jornal impresso
10%
Revista impressa
6%
Não tenho o hábito de buscar notícias/informação
4%
Outros
13%
Não responderam
2%
Fonte: MECOM, 2019.

Uma consideração que pode aqui ser feita é sobre o que está alimentando o universo cultural do alunado. Um indicativo de mudança de plataforma são os portais de informação, que normalmente trabalham o jornalismo e outras temáticas de maneira mais consistente. Entretanto, a julgar pelo volume expressivo de informação recebida pelos aplicativos citados, cabe outra indagação: que tipo de informação é ali recebida e acessada? A busca de possíveis respostas abre um grande canal para novas e necessárias investigações: no que tais dispositivos estão contribuindo para adensar o universo cultural dos jovens?

Quanto à leitura de história em quadrinhos, gênero bastante popular especialmente no meio juvenil, percebe-se que cerca de 2/3 dos pesquisados cultivam o hábito de ler gibis e/ou mangás. Os que relatam leituras com frequência constituem 18% da amostra. Referem-se a leituras esporádicas (às vezes) 47% dos/das entrevistados/as, como aparece a seguir.

Figura 56 - Com que frequência você lê histórias em quadrinhos?

Às vezes
47%
Nunca
33%
Muitas vezes
12%
Sempre
6%
Não responderam
3%
Fonte: MECOM, 2019.

A grande maioria dos títulos mais populares citados pelos 65% de leitores de quadrinhos são os editados pela Maurício de Sousa Produções, especialmente Turma da Mônica e Turma da Mônica Jovem. Em seguida, como apontado na Figura subsequente, aparecem os mangás – histórias em quadrinhos feita no estilo japonês, ou seja, seus conteúdos são geralmente produzidos em preto e branco e lidos da direita para a esquerda. Desses, os mais presentes são Naruto, Dragon Ball, One Piece e Tokio Ghoul. Da linha Marvel, os “campeões de audiência” são Ex-Man, Vingadores, Homem Aranha e Capitão América. Outros super-heróis como Batman, Superman e Liga da Justiça, produzidos pela DC Comics, também são bastante populares, seguidos das personagens Disney, especialmente Tio Patinhas, Mickey Mouse e Pato Donald20.

Figura 57 - Quadrinhos mais lidos pelos alunos

Panini Comics/Maurício de Sousa
53%
Mangás
13%
Marvel
8%
DE Comics
7%
Disney
6%
Outros Títulos
13%
Fonte: MECOM, 2019.

Mesmo com o total de 65% de alunos leitores de quadrinhos, podemos inferir que aqui se revela uma mudança de hábito de consumo lúdico significativo. Apesar do espaço crescente em bancas e livrarias, o conteúdo em HQ está migrando para outro suporte como o online - tendência já apontada por autores, editores e estudiosos do assunto desde o início dos anos 2000, o que possibilita aos leitores “escolher os temas que mais lhes agradem, como permite que os artistas ganhem maior visibilidade e acabem publicando seu material de forma impressa posteriormente, seja através de uma editora, de um edital ou através de sites colaborativos”. (MARINO, 2017).

Para ficar no exemplo apontado pela nossa pesquisa, desde 2019 os aficcionados pela Turma da Mônica dispõem do aplicativo “Banca da Mônica” para acessar todas as edições das revistinhas desde a sua primeira edição, em 1950. O app foi desenvolvido pela equipe da Mauricio de Sousa em parceria com a editora Panini Comics. No aplicativo há quatro tipos de assinatura: o pacote digital padrão, com gibis atuais de Mônica, Cascão, Chico Bento, Magali e Cebolinha; o pacote ‘Turma da Mônica Acervo’ com edições clássicas de 1950 a 2016, e o ‘Turma da Mônica Jovem’, que oferece a linha infanto-juvenil. Há também a Turma da Mônica Internacional com versões em inglês e espanhol dos gibis atuais. Os assinantes também podem adquirir edições avulsas da linha de graphic novels como Laços (recentemente adaptado para o cinema) pelo preço de capa.

Possivelmente, o fato de a Turma da Mônica estar presente nas vitrines das bancas de revistas e livrarias, mas também disponível digitalmente sob a forma de aplicativo, memes, emojis e conteúdos em redes sociais (como as famosas tirinhas no Instagram) ou mesmo no cinema, explique parte da popularidade dos personagens de Mauricio de Sousa junto ao público escolar estudado nesta pesquisa. Tamanha exposição, além de facilitar o acesso aos produtos culturais da marca, estimula a conquista de leitores das várias faixas etárias, especialmente crianças e adolescentes. Outro fator que não pode ser descartado é o apelo afetivo que essas personagens causam no imaginário dos brasileiros por conta de franquia de uso de imagens da turma por empresas de produtos alimentícios e de higiene, empresas de entretenimento e diversão (parque temático) e campanhas de caráter governamental com ênfase em políticas de inclusão e diversidade, saúde, meio ambiente, por exemplo.

Jogar games também é sinônimo de mundo jovem. A questão levou isso em conta, mas mais de metade dos estudantes pesquisados não têm hábito de jogar videogame (53%). Dos que costumam jogar, cerca de 18% o fazem uma hora por dia e 16% afirmam jogar de uma a cinco horas diárias, como aparece abaixo.

Figura 58 - Durante quantas horas por dia você joga videogame?

Não costumo jogar videogame
53%
Até uma hora
18%
De uma a cinco horas
16%
De cinco a dez horas
6%
Mais de dez horas
5%
Não responderam
3%
Fonte: MECOM, 2019.

Coerente ao que informam sobre hábitos de acesso aos meios digitais anteriormente elencados, os estudantes usam a internet para, especialmente, assistir vídeos nas plataformas Youtube, Netflix e Vimeo (81%) e navegar em redes sociais como Facebook, Instagram e Twitter, por exemplo (76%). Ouvir música é referido por cerca de 70% da amostra.  A próxima figura detalha os conteúdos mais comumente acessados, sendo que nesta questão foi dada ao respondente a possibilidade de optar por respostas múltiplas.

Os resultados apontam o crescimento da cultura visual e auditiva em detrimento da escrita. De fato, a linguagem audiovisual desperta atitudes perceptivas, atinge a imaginação e investe na afetividade, na expressão dos sentidos para a percepção do mundo, enquanto a linguagem escrita tem mais em conta o rigor, a abstração, o espírito de análise. Para a cultura da escrita, a mensagem designa o conteúdo intelectual e está nas palavras, na coerência lógica que privilegia a consciência intelectual clara. Ao contrário do homem de Gutenberg, treinado para a distância afetiva e para a desconfiança para com a imaginação, o homem da civilização audiovisual eletrônica liga intimamente a sensação à compreensão, à colaboração imaginária, ao conceito, como define Babin (1989, p. 107).  Daí a necessidade de que os docentes compreendam esta mudança cultural e se apropriem das novas linguagens constituidoras de uma janela de aprendizagem para os discentes.

Figura 59 - O que você acessa na internet?

Vídeos (YouTube, Netflix, Vimeo e outros)
81%
Redes sociais
76%
Música
69%
Conteúdo de pesquisas(Google, Bling, etc)
67%
Jogos
52%
E-mails
28%
Ler (E-book, sites com livros e notícias)
24%
Conteúdo para compartilhar
20%
Outros
3%
Fonte: MECOM, 2019.

Aqui nosso interesse foi entender se os alunos, ao utilizarem os seus celulares durante as aulas, costumam compartilhar fotos, memes ou música com colegas. Como já vimos, o uso do celular em sala de aula ainda não é prática comum, especialmente em escolas públicas – daí o fato de 58% dos respondentes afirmarem que nunca reencaminham conteúdos, sejam eles quais forem, em sala de aula. Vale aqui ponderar que o compartilhamento pressupõe o uso de pacote de dados e nem sempre faz parte do serviço “não pago”. Mesmo assim, 13% deles consignam que sempre ou muitas vezes compartilham dados e 26% às vezes. Os dados podem ser verificados abaixo.

Figura 60 - Você compartilha conteúdos (fotos, memes, música etc) com seus amigos durante a aula?

Nunca
58%
Às vezes
26%
Muitas vezes
7%
Sempre
6%
Não responderam
3%
Fonte: MECOM, 2019.

O compartilhar dados durante as aulas já esclarece uma espécie de desatenção quanto aos temas em exposição pelo docente ou nos diálogos com e entre os discentes. Os que compartilham às vezes, muitas vezes e sempre computam quase 40% dos alunos visivelmente desatentos ou “fazendo outra coisa”. Tal atitude pode ser um alerta ao professor sobre a metodologia empregada e uma reflexão sobre como está sendo trabalhada a interatividade para estimular a busca e a partilha do conhecimento.

Conclusão

Este segmento da pesquisa com os discentes retrata um jovem hábil com as mídias digitais, que utiliza o smartphone para acessar a internet e segue conectado por mais de cinco horas por dia entre vídeos, redes sociais, música, sites de busca ou jogos em suas plataformas preferidas – Youtube, Netflix e aplicativos para celular. Raramente acessa e-mails, demonstrando ser esta uma forma de comunicação em declínio, sobretudo no meio dos mais jovens. Estes também não se interessam pela televisão aberta e pela TV por assinatura: mesmo sendo possível acessar a TV por tecnologias móveis, eles optam por conectar-se a conteúdos mais personalizados, à moda do Youtube, ou assistir a séries e filmes de sua preferência geracional.

Frente a esse quadro, Citelli (2019) apontou que, se por um lado, a internet, as redes sociais e os professores disputam diariamente a atenção dos alunos em sala de aula, por outro, as mídias tradicionais são pouco relevantes na vida escolar. A concorrência de produtos mais atraentes, em geral voltados ao entretenimento e relacionados à mídia digital, relegam a segundo plano as atividades típicas do ensino escolar, assim como o tempo dispendido pelos discentes junto às redes sociais ultrapassa aquele dedicado aos estudos formais. Portanto, ganha aqui relevância a discussão acerca de quanto o entretenimento faz parte da educação e de como a molda de maneira mais afeita à dinamicidade do atual cenário educativo.

Notas

20-

Vale destacar que, com exceção dos títulos da Disney, todas as demais publicações aqui arroladas estão sob controle editorial da Panini Comics - grupo italiano de produção de história em quadrinhos licenciados de outras editoras, com atuação centrada no mercado europeu e com filiais no Brasil, França, Reino Unido, Alemanha, Espanha, Argentina e Hungria. Começou a sua participação no mercado brasileiro com a publicação de livros ilustrados e imagens autocolantes (figurinhas), e desde de 2002 publica quadrinhos da Marvel e DC Comics, cujas edições são feitas pela Mythos Editora. Responde desde 2007 pela publicação dos quadrinhos da Turma da Mônica, da Maurício de Sousa Editora. Desde 2017, a Panini Brasil tem seu sistema de distribuição próprio, contratando distribuidoras regionais para dar vazão aos mais de 2 mil títulos de seu catálogo.
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TEMA XI

DISCENTES E TECNOLOGIAS

Dados e reflexões deste tópico:
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Esconder Análise

Introdução

Entender os hábitos de media dos/as alunos/as possibilita desvendar caminhos nos quais as práticas pedagógicas possam apropriar-se de recursos digitais e constituírem, em conjunto, novas formas de gerar aproximação ao contexto escolar mediado por uma sociedade em rede e repleta de novos significados. Sabemos que não se trata simplesmente de transpor o conteúdo do livro para as plataformas digitais, ou criar formas “divertidas/lúdicas” de narrar o discurso tradicional das escolas - por meio de vídeos, jogos e animações. A análise pretendida nesta parte da pesquisa visa a entender como os dispositivos digitais alteram a lógica social e educativa dos alunos, e como podem interferir na forma de apreensão de novos saberes.

Desenvolvimento

As questões selecionadas para a análise dos vínculos entre discentes e tecnologias indagam sobre: a) o hardware utilizado cotidianamente; b) qual a frequência de acesso ao smartphone durante as aulas; c) se na escola existem regras para uso do celular (principalmente em sala de aula); d) qual meio de comunicação o/a aluno/a utiliza para ver seus programas favoritos; e) como se liga à internet; f) quanto tempo permanece ligado; g) qual o impacto desses hábitos na sua rotina escolar; h) quais os recursos tecnológicos com os quais tem contato em sala de aula e; i) quais os meios empregados para acessar os programas favoritos. O olhar investigativo sobre as respostas inclui a prospecção acerca da possibilidade segundo a qual o cenário de imersão tecnológica em que os/as alunos/as se encontram refaz a lógica da comunicação tradicional do processo de ensino-aprendizagem.

O ponto de partida para esta análise foi verificar por qual hardware os/as alunos/as acessam a internet:

Figura 61 - Como costuma acessar a internet?

Smartphone
86%
Notebook
32%
Smart TV
25%
Desktop
23%
Tablet
12%
Não tem acesso à internet
1%
Fonte: MECOM, 2019.

Seguindo a mesma lógica docente, os dispositivos móveis individuais são os mais utilizados pelos/as alunos/as na conexão à internet, totalizando 86%, mais que o dobro que o segundo lugar, no qual o acesso é efetivado por meio do notebook, com 32% de menções. Esse dado nos revela que os/as alunos/as, assim como os/as docentes, estão frequentando a internet com mais independência/mobilidade, não dependendo exclusivamente dos equipamentos escolares para entrar no circuito da rede digital. Tal fato reforça a seguinte percepção: a busca às informações, de maneira geral, está mais presente ao longo do dia por meio dos dispositivos individuais móveis.

Essa constatação enseja aspectos importantes a serem considerados na interface do ambiente escolar com as tecnologias, como a falta de controle da escola em relação ao uso do celular em sala de aula. A possível ausência de diretrizes claras por parte do estabelecimento de ensino dos/as professores/as poderá resultar em distrações vinculadas à alternância de atenção entre o que está acontecendo no espaço físico e o que ocorre no espaço virtual, conforme a seguir:

Figura 62 - Com que frequência você acessa o seu smartphone em sala de aula?

Não uso smartphone em sala de aula
42%
Às vezes
34%
Muitas vezes
11%
Sempre
5%
Não tenho smartphone
5%
Não responderam
3%
Fonte: MECOM, 2019.

Em análise inicial, os 42% que representam a maior porcentagem no balanço das respostas revelam “não usar o smartphone em sala de aula”. No entanto, percebemos que ao somar os números das respostas “sempre”, com 5%, mais o “muitas vezes”, com 11% e o “às vezes”, com 34%, perfazemos um total de 49%. Cerca de 50% dos estudantes, portanto, usam o celular em sala de aula, embora a maioria não o utilize em todos os momentos.

No próximo gráfico, os alunos indicam a existência (ou não) de regras de utilização estabelecidas pelas escolas, considerando cenário de crescente aquisição de smartphones:

Figura 63 - Na sua escola, existem regras para o uso do celular?

Sim
72%
Na minha escola não é permitido o uso de celular
15%
Não
12%
Não responderam
2%
Fonte: MECOM, 2019.

Quando a maioria dos/das entrevistados/as, 72%, afirma que a escola especifica quais são as regras para uso de celular, temos evidências claras da preocupação pedagógica em relação à construção do processo de ensino-aprendizagem em um ambiente desejoso por conexão permanente com a internet. Uma vez crescente o número de alunos/as com dispositivos móveis, é preciso estabelecer critérios para que a sala de aula não se torne um local de entretenimento digital, com toda a atenção centralizada na tela do smartphone. Importa a proposição de caminhos para que a lógica da convergência massiva ao emprego desses equipamentos abra entre os jovens uma nova perspectiva em termos de sociabilidades e padrões culturais, para além da lógica exclusiva do entretenimento descompromissado. Diante da pergunta seguinte, as respostas21 indicam novos marcadores culturais dentro da variável tecnológica:

Figura 64 – Meios de comunicação utilizados pelos alunos para ver seus programas favoritos

YouTube
76%
Netflix
58%
Aplicativo de celular
42%
TV aberta
30%
TV por assinatura
29%
Amazon
1%
Outros
3%
Fonte: MECOM, 2019.

Apenas 30% dos/as estudantes declaram ver os programas favoritos na televisão aberta. Na prática, isso demonstra que, para conhecer o universo cultural dos/as estudantes, é necessário um mergulho nos conteúdos e nas representações em circulação nas plataformas de streaming. Em outros momentos, sobretudo nas décadas anteriores, os padrões culturais eram mais identificáveis a partir de marcadores televisivos, radiofônicos e mesmo de publicações impressas, como jornais e revistas. Havia novelas em horários predeterminados, programas infantis, filmes em horários matutinos, entre outros, convergindo igualmente para toda uma população consumidora de TV aberta. Desse modo, os hábitos de consumo eram mais facilmente mapeados — diferentemente do contexto atual, em que as plataformas streamings possibilitam o acesso a uma enorme variedade de filmes, desenhos animados e séries, sem um horário definido, o que rompe com a lógica de hábitos coletivos padronizados. Vale observar, entretanto, a capacidade dos algoritmos de big data quanto ao processamento dos grandes blocos de preferências individuais que acabam por delinear predileções coletivas.

A lógica algorítmica, quando programada para atuar como moderadora, estabelece uma ponte entre as infinitas informações em rede e os/as usuários/as, buscando personalizar, cada vez mais, a experiência individual, seja em séries e filmes no Netflix, no Youtube, no Spotify, nos conteúdos que circulam em aplicativos de celular, entre outros. Desse modo, os padrões culturais são radicalmente fragmentados em opções feitas “sob medida” para cada indivíduo. Na prática do ambiente escolar, a resultante desse processo é que dificilmente docentes e discentes compartilharão em larga medida um marcador cultural comum, como ocorria, por exemplo, até os finais dos anos 1990 e inícios dos 2000. Um certo limite na apresentação de filmes e mesmo a forte presença das telenovelas, além da centralização das fontes noticiosas, ajudavam a criar aqueles redutores.

A leitura através das multitelas, com diversas ofertas e aplicações digitais gera um tipo de interesse junto aos estudantes — justificando o fato de 59% dos jovens declararem utilizar a internet durante mais de cinco horas por dia – cria novas práticas e estratégias cognitivas nem sempre apreendidas pela educação escolar. O Facebook (65%) e o Whatsapp (69%) aparecem como opções mais escolhidas para a pergunta “você obtém notícias/informações através de”.  Nas imersões em sala de aula, presenciamos momentos de descontração nos quais estudantes e professores conversavam animadamente sobre séries, jogos, questões sociopolíticas. As discussões eram uma espécie de conversa entre pares, ‘de igual para igual’, demonstrando repertório cultural coincidente entre ambos os grupos. Então, conquanto cada grupamento de alunos/as tenha suas próprias referências, aquelas ‘de seu tempo’, aquelas mais customizadas, talvez menos conhecidas pelos/as professores/as, e conquanto o inverso também seja real, existe um campo de intersecção no qual se entendem perfeitamente. O ‘tamanho’ desse campo pode ser objeto de pesquisa mais detalhada, como aquela realizada por Rogério Pelizzari de Andrade (2019) abordando as referências musicais de alunos/as e em que medida tais preferências eram conhecidas por seus/suas docentes — e mais, integradas (ou não) ao processo pedagógico.

Para a pergunta “o que você acessa na internet” temos clara a dimensão de crescimento das plataformas de vídeos (streaming) entre os/as estudantes. Ademais, o sucesso de Youtubers e de séries no Youtube e Netflix não é obra do acaso: há uma infinidade de conteúdos e programas para todos os gostos, sem depender de uma “grade de programação” fixa. Nesse cenário de liberdade de acesso ao entretenimento, os jovens, com poucos cliques, alcançam os conteúdos de acordo as suas preferências e/ou sugestões indicadas por algoritmos. Diferentemente de outros momentos históricos, em que a programação dos veículos de comunicação incidia de forma crucial na apreensão da realidade, podemos dizer que os padrões culturais estão altamente fragmentados em razão da multiplicidade – quase inesgotável – de opções abertas pelo Youtube, Netflix, Facebook e tantas outras plataformas.

Mesmo que sejam proibidos na sala de aula ou ainda que nenhum dos conteúdos em circulação nessas plataformas sejam utilizados pelos docentes, os diálogos, as interações e as discussões dos/as alunos/as — isto é, a cultura entre os jovens — são referenciadas, também, por aquilo que acontece nos vídeos e programas da internet (da mesma forma como ocorria quando a televisão aberta era a opção mais completa para obter informações rápidas e atuais).

Essa perspectiva se torna ainda mais relevante ao reconhecer que grande maioria dos/as estudantes declara (1) não ter o hábito de ler jornais e revistas impressas, (2) não reconhecer na TV aberta os seus programas favoritos e, por fim, (3) ficar mais de cinco horas diariamente em contato com a internet.

O conjunto geral de dados coletados indica a crescente importância das redes digitais para a apreensão de uma suposta realidade, para o consumo midiático e, sobretudo, para o desenvolvimento das sociabilidades entre os/as estudantes. Embora tenha se tornado lugar comum afirmar que “as novas mídias” reconfiguram o contexto escolar e que elas inserem os “nativos digitais” na dinâmica da contemporaneidade, a pesquisa elaborada pelo MECOM aponta que alguns aplicativos como WhatsApp, Facebook e Youtube são as principais fontes de informação destes jovens.

Os/as alunos/as estão imersos numa lógica em rede, que, em sua essência, obedece a fluxos de aceleração social do tempo. A timeline das mídias sociais na internet atende a uma demanda comunicativa por fluidez, velocidade e conteúdos personalizados, que, em última instância, não exigem grandes reflexões, maturação e paciência para leitura — práticas, no entanto, fundamentais no interior do processo ensino-aprendizagem. Logo, as principais atividades desenvolvidas na internet retêm certa efemeridade e mesmo alguma superficialidade. Não é obra do acaso que formatos fragmentados, como speed learning, tenham ganhado proeminência nos últimos tempos: há pouca paciência dos estudantes quando têm de lidar com leituras mais densas, reflexivas e que não atendem expectativas por rapidez e customização.

Em contraponto, a realidade da sala de aula mantém uma infraestrutura tecnológica tradicional – muitas vezes baseadas nas anotações dos professores feitas no quadro negro, em dispositivos eletrônicos como projetores, caixas de som e aparelhos de TV. A conectividade e o uso dos recursos disponíveis na internet como uma fonte de ensino-aprendizado continuam relativamente distantes da rotina na sala de aula.

Destarte, conquanto as escolas não estejam de todo imersas em um ambiente que explore “oficialmente” o potencial da internet in loco como fonte de interatividade e pesquisa, os alunos tratam de promover essa imersão por vezes proibida, certamente no período pré-pandemia no qual foi feita esta pesquisa. Em nossas observações, não foi incomum verificar que discentes operavam o celular “às escondidas”, acionando WhatsApp, acessando Facebook ou YouTube. Vale dizer, estamos frente a práticas que se desenvolvem nos ambientes educativos formais, com ou sem anuência legal, ancoradas em dispositivos técnicos conectados aos ritmos temporais de intensa velocidade. Existem escolas e mesmo municípios e estados que ou proíbem ou colocam normas para o uso do celular em sala de aula, por exemplo, franqueando o acesso apenas quanto a certos tópicos das matérias ministradas ou segundo atividades e mesmo projetos propostos por docentes e que incluam consultas a informações através dos meios locativos. A questão do regramento, no tangente ao uso, difere significativamente conforme o estabelecimento escolar.

Uma das perguntas do nosso questionário visava a saber de tais limites: “Na sua escola, existem regras para o uso do celular?”. As duas respostas com maior incidência foram: sim (62%) e “na minha escola não é permitido usar celular” (30%). De todo modo, se juntarmos as alternativas às vezes (34%) e muitas vezes (11%), resulta que 46% da amostra faz uso do celular durante as aulas, o que não significa atendimento às normativas e regramentos interpostos pela escola. Também não quer dizer que os alunos desprezem recursos tecnológicos mais antigos, tanto eletrônicos quanto analógicos: eles enxergam valor, por exemplo, nos dispositivos como projetores e caixas de som, segundo inferimos das respostas às questões abertas. Além disso, não há como olvidar a massiva presença digital no dia a dia dos estudantes pesquisados. Paralelamente a esse apreço por mídias menos atuais, os jovens estudantes reiteram (com raras exceções) a intensa presença do digital em seu dia a dia. Um percentual significativo (59%) admitiu que utiliza a internet por mais de cinco horas por dia, indicando que o contato com os mecanismos de aceleração, como o ágil deslizar do dedo polegar para trocar de um conteúdo para o outro (SERRES, 2016), está intensamente presente no contexto infanto-juvenil. Alunos e alunas acessam a internet majoritariamente por meio de smartphones22 (86%). O desempenho obtido é bastante superior ao notebook, com 32% de menções, e à SmartTV, com 25% de citações. A falta de mobilidade e as limitações impostas pela navegação via desktop23 tornam este recurso desinteressante e obsoleto para as audiências adolescentes, uma vez que o microcomputador convencional não faz frente às possibilidades transitórias dos dispositivos móveis, que podem estar em todos os lugares – na sala de aula ou no transporte, no sofá de casa –, nem atende aos anseios pelo desejado vínculo permanente com o online.

Conclusão

Na prática, a mudança nos hábitos de consumo tecnológico reconfigura a lógica não só das práticas em sala de aula, mas também dos expedientes de comunicação textual em modo físico. Agora, a preferência é crescente pelas informações digitais velozes, encontradas em formatos múltiplos, em geral, agregadas aos hipertextos. Tal cenário potencializa a experiência de ausência de horários fixos para consumir informações, tornando o celular uma espécie de fonte primária de conhecimento. Vídeos curtos, memes, GIFs e outras expressões narrativas da internet, compostas por mensagens diretas e instantâneas, contrapõem-se aos “textos longos” e são amplamente utilizados pelos estudantes. Tal fato revela que o encurtamento do presente não ocorre só na leitura, mas também na própria constituição da linguagem. Nesse contexto,

(...) as condições de existência desse tempo, e de sua particular situação na vida, vêm se transformando radicalmente não só porque agora a escola tem que conviver com saberes-sem-lugar-próprio, mas porque inclusive os saberes que nela se ensinam encontram-se atravessados por saberes do ambiente tecnocomunicativo regidos por outras modalidades e ritmos de aprendizagem que os distanciam do modelo de comunicação escolar (MARTÍN-BARBERO, 2014, P.83).

O reflexo dessa mudança na forma de ser e estar em um mundo mediado pelas tecnologias conflita diretamente com as estratégias consuetudinárias do ensino-aprendizagem baseado na tradição discursiva escolar — que permanece vigente na maioria das salas de aula, indicando desajustes em meio às novas formas de acessar, interagir, apreender e produzir informações. O repertório do aluno de hoje, pelo menos no quesito de acesso à informação, é praticamente ilimitado. Sobre a sociedade digital e seus reflexos na área da educação e comunicação, Martín-Barbero (2014) sinaliza: face à crescente presença das tecnologias digitais, o universo da educação formal precisaria se reconfigurar para ajustar-se às “deslocalizações” e “destemporalizações”.

Notas

21-

Nesta questão foi dada ao respondente a possibilidade de optar por respostas múltiplas.
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22-

Os participantes podiam assinalar quantas alternativas quisessem.
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23-

Selecionado por 23% dos participantes.
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PARTE 2

AS FALAS E SUAS ANÁLISES

Dados e reflexões desta Parte:

Introdução

Para este segmento do relatório, destacamos as respostas discursivas[1] a fim de compreender o perfil de formação dos/das docentes, a relação desses profissionais com as tecnologias e os meios de comunicação mediados pela percepção temporal do cotidiano, e a análise das questões discursivas dos/as discentes para entender de que modo eles/as se relacionam com as linguagens midiáticas e de que maneira a percepção do tempo interfere no cotidiano dos alunos.

Consideramos a Análise de Conteúdo, de acordo com a perspectiva de Bardin (2016), como método principal de análise das questões discursivas respondidas pelos/as professores/as e alunos/as. Bardin (2016) contempla três etapas: a pré-análise, a exploração do material e o tratamento dos resultados – a inferência e a interpretação. A pré-análise foi realizada em conjunto pelos membros do MECOM durante todo o período de organização da pesquisa e da coleta de dados por meio dos questionários digitais e impressos respondidos pelos/as professores/as e alunos/as participantes.

Em função dos objetivos propostos, foi feita uma primeira exploração do material para conhecimento do que lá havia.  Em seguida, foi realizado o tratamento dos dados brutos com a finalidade de instituir inferências e interpretações expressivas a partir deles. Essa fase de transformação de dados brutos em “unidades de significação” é denominada “codificação”. Desse modo, partimos da “unidade de significação codificada e correspondente ao segmento de conteúdo considerado unidade base, visando a categorização e a contagem frequencial” (BARDIN, 2016, p.134), para perscrutamos o tema. Ou seja, procedemos a uma análise temática, a fim de encontrar “núcleos de sentido” recorrentes nas respostas dadas aos questionários em função dos objetivos propostos. É importante mencionar que priorizamos uma abordagem mais qualitativa de análise, sem, no entanto, prescindir dos dados quantitativos.

Conforme afirma Bardin (2016), categorizar não é uma etapa obrigatória na análise de conteúdo, entretanto, a organização dos dados requer algum modo de categorização. Assim, a partir dos temas presentes nas respostas dos/as docentes e dos/as discentes, estabelecemos categorias ou “unidades de registro”.

Descrevemos e analisamos os dados considerando ainda a afirmação de Lopes (2005, p.149) de que “a descrição constitui a primeira etapa da análise dos dados na pesquisa” e a interpretação é a segunda etapa. E as duas etapas podem se apresentar entrelaçadas. Vale destacar que temos plena consciência de que as explicações e os recortes que fazemos dos dados os reconfiguram.

Ressaltamos que, embora o recorte considere as respostas de docentes e discentes de São Paulo, as categorias apresentadas também se aplicam às demais respostas de participantes de outros estados.

Cabe salientar que limitamos o número de exemplos de falas dos/das professores/as, por serem recorrentes. Procuramos manter, de modo geral, a grafia original, fazendo apenas pequenas adequações na linguagem. O conjunto completo das respostas discursivas encontram-se registradas na pesquisa realizada pelo grupo já mencionado.

TEMA I

Formação Docente

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A projeção do perfil de profissional que se almeja formar é um fator determinante para a inserção de meios de comunicação e das tecnologias na prática docente, não apenas para a questão operacional dos recursos multimídias e ferramentas virtuais, mas também para a reflexão sobre o impacto desses meios no ambiente educacional (ver também Tema I - Formação docente, em Dados e suas análises). E, desse modo, a compreensão das transformações constantes no cenário contemporâneo das tecnologias incentiva ou determina um movimento dinâmico nas propostas pedagógicas. Podemos dizer que os cursos de licenciatura ou de capacitação contribuem para a construção de um “ethos docente” mais distante ou próximo desse panorama.

Questionados sobre disciplinas com temática relacionada aos meios de comunicação e às novas tecnologias cursadas na graduação24, somente 26% dos/das professores/as de São Paulo, por exemplo, afirmam ter cursado na graduação alguma disciplina diretamente relacionada à comunicação. Pode-se dizer que ainda há pouco direcionamento para estudos sobre a relação Comunicação e Educação, tendo em vista que 52% não cursaram disciplinas com esse tema. Somando-se aqueles/as que responderam não lembrar (19%), temos 72% de professores/as que não tiveram, em sua formação, uma relação mais efetiva com os meios de comunicação para propor atividades em sala de aula, com bases teóricas.

Nas respostas afirmativas (26%), encontramos três linhas de cursos realizados pelos/as professores/as: Tecnologia, Informática, Mídia. Esses cursos integravam disciplinas de programas de licenciaturas específicas (física, biologia, geografia, etc.); outras relacionadas à Pedagogia (didática, metodologia, práticas pedagógicas); e mais especificamente: Mídia e Educação, Letramento Digital, Mídia e Sociedade, Mídias na Educação, Mídias Sociais na Educação, Comunicação, Educação e Tecnologias. O conteúdo trabalhado nessas disciplinas pode ser classificado por temas gerais: ambientes virtuais de aprendizagem, softwares (Excel, Office), metodologias (usos dos media, de ferramentas, da internet com pesquisas e elaboração de blogs), meios de comunicação tradicionais (revistas, jornais), reflexões (mídia e sociedade, mídia e educação).

Embora existam poucas ofertas de disciplinas específicas com abordagem na interface Comunicação e Educação nas grades curriculares dos cursos de licenciatura, é preciso destacar que há iniciativas que tentam preencher essa lacuna, porém a divulgação está longe de ser o ideal. Observa-se uma deficiência na divulgação dos programas, visto que 66% dos/as respondentes não têm informações acerca de algum programa oficial voltado à formação permanente do professor com esse tema. Somente 31%, no caso de São Paulo, responderam afirmativamente e indicaram cursos em programas oficiais, tais como: Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, Secretaria Estadual de Educação de São Paulo (Delegacias de Ensino, Escola de Formação de Professores do Estado de São Paulo “Paulo Renato Costa Souza”, Rede do Saber, TV Escola),  Centro Paula Souza, USP, UNESP, UNICAMP, UAB, Instituto Ayrton Senna, Instituto Natura, Fundação Lemann, Formação Continuada do Sistema Anglo de Ensino, Google Educator, cursos sobre Educomunicação, Mídia e Educação, Tecnologias Aplicadas ao Ensino, Ensino Híbrido, EaD. Desse modo, observamos que há iniciativas em programas oficiais, tanto nas redes públicas estaduais e municipais, quanto na rede particular. O que os percentuais revelam é a necessidade de maior divulgação e oferta desses cursos, pois alguns dependem da formação de turmas.

Notas

24-

Referimo-nos aqui às questões 39, 40 e 41 do Formulário Docentes:
Q39 - Em seu curso de graduação/licenciatura houve alguma disciplina voltada ao estudo da comunicação na educação (mídia e educação; informática na escola; leitura crítica da comunicação; televisão e criança, etc.)?
Q40 - Em caso positivo, lembra o nome da/s disciplina/s (cite-as)?
Q41 - De forma resumida, você se recorda do conteúdo tratado na(s) disciplina(s)?
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TEMA II

Professores/as e os Meios de Comunicação

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O contexto formativo resulta na relação efetiva do professor com o cenário contemporâneo. Podemos observar que a visão do docente sobre os meios de comunicação25, ao considerar um conteúdo complementar ou antagônico, também se reflete na inserção ou não dos meios de comunicação na sala de aula. Nesse aspecto, em relação a tal questionamento, 2% responderam antagônica; 95% complementar e 3% deixaram em branco (ver também Tema VII - Formação docente em Dados e suas análises e Tema I - Formação docente em As falas e suas análises: docentes e discentes).

Percebemos, portanto, que os/as professores/as reconhecem a relação intrínseca entre a comunicação e a educação, a relevância de a escola estar conectada e de dialogar com os meios de comunicação e a presença constante dos aparatos tecnológicos na vida dos jovens atualmente, conforme atestam em seus depoimentos:

“No atual cenário, desconsiderar a tecnologia seria ir contra o ritmo mundial; é intensificar o abismo escola-aluno.”

“A escola tem o papel de promover a reflexão e a leitura crítica do mundo, como já diria Paulo Freire. Portanto, o mundo digital é um desdobramento de nossa realidade e precisa ser refletido enquanto tal.”

“É importante que o professor saiba lidar com os novos meios de comunicação para que possa se manter atualizado e também atualizar sua prática e didática na sala de aula.”

“A inter-relação escola e meios de comunicação pode potencializar a relação de ensino e aprendizagem entre educadores e estudantes, estabelecendo diálogo sobre o que acontece dentro e fora de escola, fazendo relações sobre o que se ensina e se aprende dentro da escola.”

Encontramos marcadores discursivos que atestam o reconhecimento da importância da presença dos meios de comunicação na sala de aula: “desdobramento da nossa realidade”, “manter atualizado”, “pode potencializar” apresentam uma postura reflexiva e crítica diante das transformações contemporâneas e por isso não se deve “desconsiderar a tecnologia.”

Desse modo, observamos que, de modo geral, as respostas dos/das entrevistados/das revelam a percepção de que a relação comunicação e educação vai além de uma perspectiva meramente instrumental, ou seja, é “um novo modo de relação entre os processos simbólicos – que constituem o cultural”, tal como defende Martín-Barbero (2014, p.79).

Outro aspecto destacado pelos/as docentes participantes da pesquisa é a contribuição das ferramentas tecnológicas para a interação dos/as alunos/as com os conteúdos escolares, pois, para os/as professores/as, elas podem fornecer informações relevantes, facilitar o acesso a exemplos do cotidiano, auxiliar os estudantes fora do ambiente escolar, ampliar conhecimentos e colaborar para desenvolver o senso crítico, como revela a fala de um professor:

“Possibilita maior interação dos alunos com o conteúdo e ajuda no desenvolvimento pedagógico”.

Além disso, os educadores salientam a utilização dos meios em sala de aula como fator positivo para o processo educativo:

“Indubitavelmente, os meios de comunicação, principalmente hoje em dia, são essenciais à motivação das Práticas Ensino Aprendizagem”.

As respostas dos/das entrevistados/das evidenciam ainda a responsabilidade do espaço educativo e dos/das professores/as em oferecerem uma educação que prepare os/as discentes para lidar com os meios e com as informações fornecidas por eles. Na voz do docente:

“A escola deve oferecer aos alunos mecanismos de interpretação crítica das informações veiculadas nos meios de comunicação, para que não sejam facilmente manipulados”.

Os/as poucos docentes, em um total de 2%, os quais julgaram a relação entre os meios antagônica ressaltaram que os aparatos tecnológicos desviam o interesse pela aprendizagem, que se torna superficial, já que a escola não está preparada para usar as tecnologias e, além disso, os media, no Brasil, estão sob domínio de empresas particulares, o que dificulta a apresentação de uma visão crítica da sociedade (ver Tema VII - Formação docente em Dados e suas análises e Tema I - Formação docente em As falas e suas análises: docentes e discentes).

Notas

25-

Expressas nas questões 42 a 45:
Q 42 -  Você considera a inter-relação escola e meios de comunicação complementar ou antagônica?
Q 43 - Comente a resposta anterior.
Q 44 - Você tem informação acerca de algum programa oficial voltado à formação permanente do professor para a área dos meios de comunicação ou das novas tecnologias?
Q 45 - Em caso positivo, qual?
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TEMA III

Celular: Aproximações e Distanciamentos

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Um dos indicadores sobre a relação dos/das professores/as entrevistados/das com novas tecnologias diz respeito ao celular (ver também “Docentes e recursos midiáticos para fins didáticos e pedagógicos”). Objeto polêmico, ora com institucionalização de sua proibição ora como integrante do processo de comunicação e interação entre os jovens. A questão levantada tinha como objetivo compreendermos de que modo o/a professor/a encarava a presença do aparelho móvel26. O índice majoritário – depende com 72% - revela que o/a professor/a relativiza o uso desse dispositivo. Mostra uma transição entre a negação (18%) e a aceitação (8%). Podemos considerar que os/as professores/as não excluem a possibilidade de uso pedagógico do celular, mas ainda existe resistência significativa.

Classificamos três categorias de justificativa para o conceito negativo relacionado à presença do aparelho em sala de aula:

Figura 65 - Conceito negativo para o uso de celular

Categoria discursiva
Fala dos/das professores/as
Uso inadequado
“Na maioria das vezes o uso é inadequado e não pertinente ao conteúdo”;

“Os alunos usam celular sem limites. Não sabem usar para pesquisas”.
Falta de acesso
“Enquanto não universalizar a internet no ambiente escolar e tendo alunos sem celular, não há condições de desenvolver esse recurso de modo relevante”;

“Se não é uma tecnologia disponibilizada para todos alunos igualmente, acaba por excluir”.
Desvio da atenção
“O aluno fica focado em ver o celular (mensagens) e esquece da tarefa do Professor”;

“O celular atrapalha porque causa distração, falta de concentração, falta de memória”;

“Usam apenas para ouvir música ou para jogar”.
Fonte: MECOM, 2019.

O uso inadequado indica a presença do aparelho fora do contexto escolar, isto é, na visão de parte do/das docentes, os/as discentes não veem o aparelho como uma forma de estudar, objeto para auxiliar no processo de ensino aprendizagem, senão enquanto mecanismo de dispersão dos conteúdos tratados em sala de aula. Não é um objeto integrado ao processo pedagógico, é instrumento de fuga para atividades de interação (WhatsApp, redes sociais) ou lúdicas (ouvir música, ver filmes, jogos). Os/as professores/as registram a percepção de que o celular acaba gerando um confronto entre as cobranças pedagógicas e as atividades lúdicas. Ademais, a posse ou não do dispositivo móvel expressa, também, a existência de uma fronteira de caráter social entre quem pode ou não ter acesso à internet.

Entretanto, se de um lado há rejeição à presença do celular em sala de aula para fins pedagógicos; de outro, 8% dos/das entrevistados/das acreditam que o celular possa contribuir nas dinâmicas educativas formais, apontando quatro linhas diretivas na inserção do aparelho como ferramenta didática.

Figura 66 - Estratégias diretivas para uso do celular

Categoria discursiva
Fala dos/das professores/as
Finalidade
“A informação, ou sanar dúvidas e consultar dados na palma das mãos”;

“Utilizo para compartilhar textos com os alunos”;

“A aula fica mais dinâmica”;

“O celular facilita pesquisas imediatas, sem o deslocamento do aluno à biblioteca”.
Diversidade de aplicativos
“Há aplicativos como o Google Earth que dá pra ser usado”;

“Fazendo pesquisas e enviando atividades por via whatsapp”.
Estratégias
“Ajuda quando usado com responsabilidade”;

“Desde que seja orientada e tendo um objetivo comum e planejado!”.
Resultados
“Para deixar o ambiente menos estressante para os alunos”;

“Para interação dos alunos com a tecnologia. Inclusão”.
Fonte: MECOM, 2019.

O uso do celular para pesquisa, sem dúvida, é a finalidade mais referenciada pelos/as educadores/as. Inclusive não descartam a utilização do aplicativo WhatsApp para interação acerca de assuntos que envolvem o conteúdo da disciplina, além dos sites de buscas. Porém, o uso não deve ser aleatório, pois depende de planejamento e de mudanças no comportamento dos jovens em relação ao aparelho, ou seja, precisa integrar o contexto pedagógico com responsabilidade (como usar/para quê/quando). E, de forma positiva, permitiria que o/a aluno/a desenvolvesse maior autonomia de pesquisa, além de sair da zona das interdições. Ademais, 72% responderam que depende do trabalho docente, ou seja, abre-se uma tendência à incorporação do celular no processo pedagógico.

Figura 67 - Alcance pedagógico do aparelho celular

Categoria discursiva
Fala dos/das professores/as
Condição/restrição
“Se usado como instrumento de pesquisa é muito  importante”;

“Desde que seja para fins didáticos”;

“Apenas para fins didáticos”;

“Somente pedagogicamente”.
Momento pedagógico
“Quando o uso é direcionado pelo professor”;

“Quando é para pesquisar ou calcular”.
Prática pedagógica
“Os estudantes precisam de orientação para o uso do aparelho em sala”.
Fonte: MECOM, 2019.

Para eliminar a visão negativa, há condições/restrições para o trabalho pedagógico que estão ligadas diretamente à percepção do/a docente: entender/reconhecer o momento pedagógico (quando não foi planejado, mas pode auxiliar em alguma atividade) e a prática pedagógica (atividade constante no planejamento).

O indicador de condição está expresso nos conectores argumentativos: “se”, “desde que” para apontar que o uso do celular na sala de aula não deve ser aleatório, pois está condicionado a um fim, que é a pesquisa. A restrição pode ser observada com a presença dos advérbios “somente” e “apenas”, modalizando a ação pedagógica desenvolvida com o celular. Ou seja, as condições ou restrições estão relacionadas à maneira como esse dispositivo pode integrar o processo escolar, tais como, pesquisar, acessar conteúdos sobre a aula, cujos temas tratados fiquem restritos ao contexto pedagógico. Respeitadas essas condições, cabe ao/à professor/a a orientação e a percepção do momento mais adequado, expresso pelo marcador argumentativo “quando”; o/a professor/a seria, nesse âmbito, o/a mediador/a no processo de pesquisa e interação do/a aluno/a com o mobile.

A inserção do celular como instância “benéfica” depende da abordagem no planejamento, como ferramenta integrante do processo didático, caso contrário será considerado “distração” e distanciamento do que ocorre na sala de aula. Esse é um desafio para o/a professor/a: compreender o alcance pedagógico do aparelho celular. Outro desafio é o acesso dos/das alunos/as ao aparelho e à internet, o que deixa de ser responsabilidade da escola, integrando-se num problema mais amplo de natureza socioeconômica que marca o país.

Notas

26-

Q 34 - A presença do celular no cotidiano escolar atrapalha o desenvolvimento das aulas, ajuda no desenvolvimento das aulas ou depende da forma como o aparelho é usado na sala de aula?
Q 35 - Comente sua resposta à pergunta anterior:
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TEMA IV

Mídias na Sala de Aula

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Foi questionado também junto aos/às docentes se eles/as utilizavam musicais, videoclipes, novelas, séries, filmes, propagandas, telejornais, jornais, revistas, etc. (considerando os diferentes tipos de mensagens veiculadas pelos meios de comunicação) para ministrar aulas. Em caso afirmativo, perguntou-se quais e com que finalidades (ver também Tema V - Docentes e recursos midiáticos para fins didáticos e pedagógicos).  Das respostas, 16% assinalaram que sim; 39%, quase sempre; 34%, raramente; 8%, nunca; e 1% deixou em branco.27

No tocante aos diferentes tipos de mensagens veiculadas pelos meios de comunicação que os/as professores/as mais utilizam, destacam-se os filmes como os mais citados, dentre eles, especificamente, os documentários; em seguida os vídeos e as revistas; depois, as propagandas, os jornais, os telejornais e as músicas em uma ordem decrescente. De modo geral, as finalidades apontadas referem-se, principalmente, às necessidades de introduzir, contextualizar, elucidar, aprofundar, enriquecer, debater, pesquisar, complementar ou facilitar os conteúdos trabalhados em sala de aula:

“Enriquecer e desenvolver as aulas para que se tornem mais agradáveis”;

“Complementar o conteúdo trabalhado”;

“Explorar o conteúdo trabalhado”.

Os/as educadores/as sinalizam, especificamente, alguns usos dessas mensagens. Quanto aos filmes, por exemplo, são empregados para possibilitar aos alunos e alunas entender melhor os conteúdos e contextos culturais diversos, facilitar a aprendizagem, refletir e debater acerca dos assuntos abordados em sala, promover discussões, ilustrar momentos históricos:

“Como base histórica, para dar exemplos ou trabalhar valores”;

“Trazer um novo contexto ou problematizar algum tema já trabalhado”;

“Contextualizar assuntos de forma diferenciada”.

Também foram recorrentes as respostas que demonstram o desejo que os/as professores/as têm de utilizar recursos diferentes dos tradicionais materiais didáticos:

“Trazer novas perspectivas que fujam do material apostilado”;

“Diversificar a forma de práticas de aulas”;

“Com a finalidade de apresentar aos alunos outros meios e linguagens para refletir sobre os temas e conteúdos”.

Notas

27-

Referimo-nos às questões 36 a 39.
Q 36 - Você utiliza músicas, videoclipes, novelas, séries, filmes, propagandas, telejornais, jornais, revistas para ministrar aulas e com que frequência?
Q 37 - Em caso positivo, qual(is)? Cite quantos desejar, em especial aqueles que tenha utilizado mais recentemente.
Q 38 - Com qual (quais) finalidade(s)?
Q 39. Em seu curso de graduação/licenciatura houve alguma disciplina voltada ao estudo da comunicação na educação (mídia e educação; informática na escola; leitura crítica da comunicação; televisão e criança, etc.)?
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TEMA V

Temporalidades no Cotidiano Docente

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Em relação à pergunta sobre possível aceleração social do tempo ter algum reflexo no comportamento e práticas dos alunos e alunas em sala de aula28, 69% afirmam que sim; 5% não; 20% talvez; e 4% deixaram em branco (ver também Tema III - Tempo docente em Dados e suas análises).

As principais recorrências encontradas nos comentários dos/as entrevistados/as acerca dessa questão indicam que a possível aceleração social reflete-se em comportamentos mais subjetivos dos/as estudantes, ou seja, em suas emoções; e isso pode ser reconhecido na observação das práticas pedagógicas no cotidiano da sala de aula.

Em relação às emoções, não é o nosso intuito entrar em considerações de natureza comportamental. Entretanto, cumpre discorrer sucintamente o que pesquisadores da área têm a nos ensinar. Moreira e Medeiros (2019) afirmam que nascemos preparados para determinadas respostas emocionais a certos estímulos do ambiente e que “na maioria dos casos, não sentimos medo, alegria ou raiva na ausência de eventos desencadeadores; sentimos essas emoções apenas quando algo acontece”, isto é, nosso organismo reage em função de algum estímulo (MOREIRA; MEDEIROS, 2019, p.14). Parte daquilo que chamamos de emoções, envolve, de fato, respostas reflexas a estímulos ambientais.

Outro ponto importante mencionado pelos estudiosos é o fato de que nossas respostas emocionais diferenciadas aos mesmos estímulos estão diretamente relacionadas, principalmente – mas não só – às nossas histórias de vida, ou “histórias e condicionamento” de cada um:

Todos nós passamos por diferentes emparelhamentos de estímulos em nossa vida. Esses diferentes emparelhamentos contribuem para o nosso “jeito” característico de nos comportarmos emocionalmente hoje (MOREIRA; MEDEIROS, 2019, p.27).

Se acolhermos o exposto no parágrafo anterior, à luz do conceito de Rosa (2019, p. 128-129), a respeito da “aceleração social do tempo”, ou seja, “a escassez dos recursos temporais e a urgência por tempo”, podemos refletir acerca de algumas respostas dos professores e das professoras participantes da pesquisa. Uma primeira recorrência que chama a atenção são relatos de comportamentos emocionais dos/das alunos/as relacionados às “dificuldades de concentração, de observação, atenção e reflexão”. São eles a ansiedade, o imediatismo, o desinteresse, a agitação, a impaciência, como nos revelam algumas respostas:

“Os alunos não conseguem concentrar-se por muito tempo em uma mesma atividade”.

Em consequência, tais comportamentos emocionais incidem nas práticas pedagógicas observadas por docentes: dificuldades que os/as estudantes têm de finalizar as tarefas iniciadas e de controlar o tempo para o término delas; de ambientação deles no espaço escolar; e da necessidade de os/as professores/as usarem recursos diferenciados e práticas dinâmicas para atrair a atenção dos/das alunos/as. Houve, ainda, recorrências com menos intensidade em relação aos comportamentos dos/das discentes: menor participação nas aulas, busca constante por novidade, dificuldade de lidar com o ócio, com o excesso de informações e tarefas.

Outro questionamento relacionado ao tempo foi: Admitindo que você perceba que o tempo está mais acelerado, isto tem reflexos na sua atividade de professor? Por quê? A maioria, 77%, considera que sim; 16% apontaram não; e 5% deixaram em branco. Os que declararam “sim” destacam vários reflexos dessa percepção acelerada do tempo em suas atividades profissionais. São alguns deles: falta de tempo para planejamento e preparo das aulas, cumprimento da agenda escolar, atualização profissional, cuidados com projetos pessoais e acompanhamento do que acontece no Brasil e no mundo:

“Porque me falta tempo para preparar melhor minhas aulas”.

Os/as entrevistados/as evidenciam ainda que persiste uma sensação de que os conteúdos selecionados tornam-se obsoletos com rapidez, de que não há tempo para finalizar as atividades e os conteúdos programados, de estar sempre atrasados, de não conseguirem dar conta das demandas exigidas pela profissão, de ter muito a fazer, de que há muita informação para trabalhar, e de que o dinamismo da aprendizagem exige cada vez mais do/a professor/a. Salientam ainda a sobrecarga de trabalho, a exaustão e o pouco tempo para atividades de lazer e descanso:

“Me sinto sempre exausta e isso reflete na qualidade das minhas aulas”;

“Tudo está passando muito rápido e temos pouco tempo para realizar tantas atividades”;

“Estou sempre acelerada para dar conta do currículo e não temos tempo livre para o bate-papo com amigos e alunos”.

Notas

28-

Q 54 - Você considera que a possível aceleração social do tempo tenha algum reflexo no comportamento e práticas dos alunos em sala de aula?  Q 55 - Comente sua resposta anterior.
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TEMA VI

Recursos Utilizados por Docentes

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De acordo com os/as estudantes entrevistados/as, equipamentos estão sendo usados com certa frequência por docentes29 e os mais indicados foram: projetor, caixa de som e televisão; mas boa parte das respostas relativiza o uso deles, visto que, segundo os/as respondentes, nem sempre tais equipamentos favorecem à compreensão da matéria (ver Tema I - Infraestrutura: o que se encontra nas escolas).

As justificativas para a resposta às vezes, sempre e muitas vezes apresentam recorrências que podem ser marcadas pelo viés da positividade e outro da negatividade, isto é, recursos que colaboram ou não para o aprendizado.

Figura 68 – Recursos que colaboram para o aprendizado

Categoria discursiva
Fala dos Discentes
Facilita o entendimento
“Porque conseguimos aprender melhor com essas tecnologias. Fica mais fácil”;

“Porque ajuda na explicação”;

“Porque ajuda a gente aprender melhor”;

“Ajuda para fazer tarefa trabalhos”;

“Fica mais fácil para entender”;

“Facilita o entendimento da matéria usando outros recursos, e o recurso tecnológico é o melhor”;

“Economiza tempo e fica mais fácil a compreensão”.
Aprende-se melhor vendo/assistindo
“É mais fácil entender visualizando o conteúdo”;

“Sim, com filmes educativos e mais diversão”;

“Porque ajuda muito os alunos a assistir videoaula”;

“Ajuda o professor a explicar, com vídeos, fotos e etc”;

“Porque o professor(a) explica melhor com imagens e vídeos”;

“Com imagens o professor explica melhor”;

“Porque imagens e vídeos ajudam no aprendizado”;

“Porque, se estiver um vídeo, a gente entende mais as explicações”;

“Mostram com mais clareza algumas coisas”;

“Porque a recepção visual auxilia na compreensão do conteúdo”;

“Melhora pra entender assistindo ou ouvindo”;

“Não aprendemos apenas escrevendo e decorando, mas visualizando também”.
Ajuda aula a ser mais dinâmica, rápida, divertida.
“Porque as aulas ficam mais interessantes”;

“Pois deixa mais rápida e dinâmica”;

“Porque estimula o estudo do aluno”;

“Trazem muitas coisas diferentes e divertidas que ensinam”;

“Porque a aula é mais divertida”;

“Porque a aprendizagem fica mais acelerada com o uso da tecnologia”;

“Faz a aula ser mais interessante”;

“A aula é mais divertida e passa mais rápido”;

“O professor tem mais tempo para explicar”;

“Porque a aula fica dinâmica, assim o tédio de ter sempre de escrever não impera”;

“Porque, com a utilização dos equipamentos, nós temos mais tempo para fazer outras atividades”;

“Porque deixa as aulas mais dinâmicas, interativas e sem falar que nos ajudam muito”.
Proporciona uma aula diferente
“Porque é uma maneira de sair da mesmice, e aprender de maneira diferente”;

“Por mostrar o conteúdo de modo diferenciado”;

“Porque às vezes os professores querem ensinar uma coisa diferente”;

“São aulas preparadas, com explicações visuais e saem da rotina entediante”;

“Porque ajuda a ter uma aula legal e diferenciada, além de aumentar o interesse do aluno”;

“Ajuda a sair um pouco da rotina e fica menos cansativo”;

“Sim, porque deixa a aula interativa”;

“Porque eles quebram a rotina chata de apenas copiar”.
Tecnologia faz parte da vida atual
“Porque a tecnologia está em nossa vida toda, e em tudo que fazemos a tecnologia está envolvida”;

“Hoje em dia é tudo com tecnologia”;

“Pois com tanta tecnologia, hoje em dia, por que não usar a favor dos estudos?”;

“Porque a gente é muito tecnológico e eu acho que isso ajuda”;

“Porque a tecnologia hoje é muito importante para o mundo”;

“Porque combina com o cotidiano”;

“Porque a tecnologia cada vez está aumentando mais”;

“Porque nos dias de hoje os jovens estão muito ligados à tecnologia, e o uso de aparelhos como projetor incentivam os alunos a se interessar mais pela aula”;

“Porque a tecnologia está presente em tudo em nossas vidas, e isso facilita para todos, em várias maneiras”.
Porque facilita para o professor.
“Facilita na explicação do professor, para que não seja preciso escrever no quadro”;

“Porque é melhor para os professores que têm várias turmas, ao invés de ficar escrevendo no quadro, é só digitar”;

“Facilita a explicação”;

“Com mais tecnologias, os professores podem trazer mais conhecimentos para suas aulas por meio de imagens, vídeos etc”;

“Porque os professores podem fornecer um conhecimento mais amplo!”;“Ajuda na explicação e na exemplificação”;

“Ajuda a professora nas atividades”.
Fonte: MECOM, 2019.

Em relação às respostas que contemplam as categorias positivas, destacam-se alguns adjetivos, tais como: divertido, estimulante, agradável, fácil e interessante. Isso nos incita a ponderar que, de um lado, o lúdico, o divertido, o agradável são bem-vindos à escola, embora ainda seja corrente a concepção de que a escola tem de ser séria, silenciosa, tediosa, etc. Por outro lado, é preciso discutir sobre a “obrigação” de tudo ser “divertido” no espaço educativo ou  sobre o próprio processo de aprendizagem e a imagem que se tem do uso de equipamentos só para “diversão”.

Figura 69 - Recursos que não colaboram para o aprendizado

Categoria discursiva
Fala dos/das Discentes
Nem sempre colabora, pode atrapalhar.
“Pois muitas vezes não é algo produtivo”;

“Às vezes, a lousa digital trava, aí prejudica a aula. Mas, quando funciona, a aula é bem legal”;

“Porque, muitas vezes, dá sono”;

“De vez em quando é bom, mas não sempre, porque tem vezes que atrapalha”;

“Às vezes, acho que causa devaneios nos alunos”;

“Porque, às vezes, atrapalha, e às vezes, ajuda”;

“Acho que o uso tecnológico pode atrapalhar a comunicação”;

“Porque às vezes ajuda a gente entender o conteúdo”; “Mas não é sempre, acho que pode atrapalhar também”;

“Nem sempre nos ajuda a entender melhor, depende da matéria”;

“É importante, mas não é sempre que ajuda nas aulas”;

“Não acho esses recursos muito confiáveis, prefiro os livros”;

“Não aprendo com slides!”;

‘Atrapalha nossa mente, por isso prefiro escrito”;

“Porque nem sempre os alunos conseguem entender”;

“Muitas vezes, atrapalha por causa do tempo de aula, atrasando”.
Professor não domina a tecnologia adequadamente.
“Nem todo professor sabe administrar tais equipamentos com eficiência “.
Equipamentos não funcionam.
“Porque tem vezes que a internet não pega”;

“Por exemplo, quando vão utilizar televisão, rádio ou caixa de som, às vezes demoram muito pra funcionar e isso é tempo jogado fora, pois não está sendo passado o conteúdo que devia em sala de aula!!”.
Fonte: MECOM, 2019.

Nas respostas registradas acima, percebemos a recorrência de expressões modalizadoras ― às vezes, muitas das vezes, pode atrapalhar ― que indicam dúvidas dos/das entrevistados/das em relação à efetividade do uso de dispositivos técnicos nas aulas. Constatamos, também, que a incidência de articuladores de contrajunção, tais como a conjunção mas, enfatizam, pela voz dos/das discentes, que o uso de equipamentos informático-midiáticos na sala de aula não deve ser entendido como apropriado sempre, em qualquer circunstância.

Notas

29-

Do Formulário Discentes, referimo-nos às questões 8, 9 e 10:  
Q8 - Dos equipamentos abaixo, quais os seus professores costumam utilizar em aula? Pode assinalar mais de uma alternativa: televisão / rádio / gravador de áudio / caixa de som / câmera fotográfica / aparelho de DVD / filmadora /  projetor (PowerPoint, datashow, etc) /  outros / há professores que não utilizam tais equipamentos.
Q9 - Caso utilizem, você acha que o uso desses recursos tecnológicos ajuda a melhorar as aulas? Nunca / às vezes / muitas vezes / sempre.
Q10 - Por quê?
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TEMA VII

Uso da Mídia para Explicar ou dar Exemplos sobre a Matéria

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1. Notícias de jornal, revistas, propagandas, letras de música, vídeos, filmes como estratégia pedagógica

O objetivo das questões sobre o uso de equipamentos na sala de aula30 é saber se os/as professores/as utilizam conteúdos midiáticos nas aulas (ver Tema I - Infraestrutura: o que se encontra nas escolas). Para categorizar, há quatro possíveis respostas: SEMPRE, NUNCA, ÀS VEZES e MUITAS VEZES.

Interessante notar que uma pequena parcela do universo pesquisado afirma que os/as professores/as fazem sempre uso dos conteúdos midiáticos. A maioria se dividiu em duas respostas: uma parte afirma que às vezes os/as docentes apresentam esses conteúdos; e outra parte afirma que muitas vezes tais conteúdos estão presentes nas aulas. São dados surpreendentes e relevantes, pois nos demonstram que a presença constante tanto dos recursos tecnológicos como, por conseguinte, dos conteúdos midiáticos ainda é muito tímida no corpus de análise, como já foi discutido no Tema I - Infraestrutura: o que se encontra nas escolas, deste relatório.

2. Finalidade dos recursos tecnológicos

O propósito da pergunta sobre os recursos tecnológicos é saber se os estudantes percebem diferença nas aulas quando os/as docentes fazem uso de conteúdos midiáticos. Conforme questões anteriores, para categorizar, há quatro possíveis respostas: SEMPRE, NUNCA, ÀS VEZES e MUITAS VEZES.

Assim como nas respostas sobre a utilização de recursos tecnológicos em sala de aula pelos/as professores/as, a maioria dos/as entrevistados/as considera positiva a presença, na aula, de conteúdos midiáticos.  Todavia, aqui também é alto o número dos/as que acreditam que os conteúdos só “ajudam a melhorar às vezes” (ver Tema I - Infraestrutura: o que se encontra nas escolas).

3. Justificativas para a presença dos conteúdos midiáticos na sala de aula

O móvel da questão 12 (Caso utilizem tais recursos, eles ajudam a compreender a matéria dada?) é conhecer a justificativa dos/as estudantes em relação ao que responderam acerca da contribuição dos conteúdos midiáticos nas aulas.

Só foram consideradas as respostas que complementaram as duas questões anteriores31. Ou seja, desconsideramos as respostas dos/das alunos/as que não responderam as DUAS questões anteriores conforme as opções (às vezes, muitas vezes e sempre).

3.1. Às vezes há contribuição dos conteúdos midiáticos nas aulas

A maior parte dos/das entrevistados/das percebe que ajuda a melhorar a aula, porque facilita a aprendizagem; no entanto, há também uma parcela daqueles/as que não acreditam na colaboração dos conteúdos midiáticos, em virtude de ser difícil entender os propósitos do/a professor/a em relação ao que apresentam. Aqui também dividimos as recorrências em mais positivas e mais negativas. Nas respostas cujas recorrências são mais positivas, evidencia-se o adjetivo fácil acompanhado dos verbos entender, aprender, compreender, visualizar, exemplificar. Em outras respostas, destacam-se a colaboração dos conteúdos midiáticos para o não esquecimento do que foi aprendido; a ajuda no entendimento do que acontece “fora da escola”, na “realidade”; e a possibilidade de ampliação da matéria. Há ainda um grupo de respostas que pontua a contribuição dos conteúdos para divertir e diversificar.

Figura 70 - Conteúdos midiáticos que colaboram para o aprendizado

Categoria discursiva
Fala dos/das Discentes
Facilita a aprendizagem
“Porque torna a aula mais fácil de entender”;

“Porque fica mais fácil de compreender”;

“Porque fica mais fácil para fazer atividade”;

“Porque é uma forma mais clara e prática para aprender”.
Colabora para o não esquecimento da matéria
“Porque a gente não esquece do que aprende”;

“Eu não esqueço o que aprendo”;

“Tudo o que aprendo não esqueço mais”.
Contribui para percepção do que acontece fora da escola
“Por ser coisas reais das sociedades são um bom exemplo”;

“Porque a tecnologia está em nosso dia a dia”;

“Porque indica que está no nosso cotidiano”;

“Porque muitas das vezes relatam a realidade vivida e nos faz refletir sobre os fatos”;

“Porque a matéria se torna algo mais real e presente quando se utiliza coisas que vemos no nosso dia a dia”.
Estimula, diverte, diversifica
“Porque deixa a aula mais diversificada”;

“É um jeito divertido de aprender”;

“Esses recursos nos auxiliam e ajudam a tornar a aula interessante”.
Fonte: MECOM, 2019.

Figura 71 – Recursos midiáticos que não colaboram para o aprendizado

Categoria discursiva
Fala dos Discentes
Não colabora para o entendimento
“Tem vídeo que não dá para entender”;

“Às vezes não dá muito a entender”;

“Não é muito eficaz”;

“Porque, além de ter poucas vezes, não é bem absorvido pelos alunos”;

“Às vezes, não entendemos onde os professores querem chegar com esses recursos”;

“De vez em quando não dá para entender”;

“Não, porque a notícia ou alguma matéria não fica bem explicada”.
Distrai (no sentido de atrapalhar)
“Faz a gente não prestar tanta atenção”.
Falta qualidade no material
“Pois muitas vezes não é um material de qualidade”.
Fonte: MECOM, 2019.

De acordo com a fala dos/as discentes, não basta apenas exibir um vídeo, pois apenas ver/assistir não garante a compreensão do conteúdo apresentado. Por isso, é importante salientar que a inserção dos media na escola necessita de bases teóricas, tanto relacionadas aos suportes midiáticos e suas linguagens quanto de sua efetiva integração na construção do conhecimento; nesse sentido, a formação do/a professor/a é um aspecto relevante para propor atividades pedagógicas adequadas.

3.2. Muitas vezes conteúdos midiáticos colaboram nas aulas

Neste caso, algumas recorrências se repetem em relação à resposta anterior (às vezes). Destacamos as seguintes: facilita o entendimento; diverte; relaciona o conteúdo a questões atuais; é menos abstrato e colabora para com a atenção do/a aluno/a e a memorização do conteúdo, aprofundamento das matérias e exemplificação da matéria. Destaca-se, ainda, a afirmativa de que a visualidade ajuda na compreensão; os filmes são recursos mais citados.

Figura 72 – Conteúdos midiáticos que colaboram para o aprendizado

Categoria discursiva
Fala dos/das Discentes
Facilita a aprendizagem
“Nos ajuda a entender melhor a matéria usando coisas do cotidiano”;

“Porque dá para entender o conteúdo e a aula fica mais interessante”;

“Compreendo melhor o que é explicado”;

“É uma forma visual de estudo para entendermos mais fácil”.
Estimula, diverte, diversifica
“Porque filmes e vídeos tornam as aulas mais divertidas e deixam o conteúdo mais claro para os alunos”.
Contribui para percepção do que acontece fora da escola
“Porque mostra que o que aprendemos é prático, ajuda a fixar o conteúdo”;

“Porque em jornais, revistas, etc. tem mais informações”;

“Pelo motivo de ser o que acontece no mundo”;

“Porque é informação concreta, que complementa a aula”;

“Porque a gente compreende melhor com a notícia real”.
Porque ajuda a “memorizar”
“Quando usadas letras de música na aula fica mais fácil de compreender porque fica na mente”;

“Porque a memorização do assunto é mais fácil”;

“Porque não esquecemos do que aprendemos, lá no futuro, sempre nos lembraremos dessa aula”.
Fonte: MECOM, 2019.

A partir das respostas, salientamos alguns aspectos para ampliar considerações. O primeiro é a polarização entre o que é ensinado na escola e os “fatos reais”; um ponto a explorar. O segundo é a crença de que escola, ou o que está nos livros, parece não fazer parte do mundo real. Nesse sentido, podemos explorar a questão do ethos discursivo – a imagem que eles/as têm dos livros e da escola. Um terceiro aspecto a discutir relaciona-se à ênfase dada à “memorização” de conteúdos escolares. Por último, embora não sejam recorrentes, interessa salientar os posicionamentos que consideram a importância do uso de conteúdos midiáticos, todavia, pontuam que “depende dos recursos”, dos métodos e da explicação do professor.

3.3. Os conteúdos midiáticos sempre colaboram nas aulas

As recorrências marcam o que foi explicitado quando os/as respondentes assinalaram “às vezes”. Os conteúdos midiáticos facilitam o entendimento; são divertidos, dinâmicos e interessantes; deixam a escola mais próxima do que acontece fora dela; são menos abstratos; aprofundam a matéria; ficam na memória. Novamente os filmes são os recursos mais citados, e pontuam que a imagem/visualidade ajuda no entendimento da matéria.

Figura 73 – Conteúdos midiáticos que colaboram para o aprendizado

Categoria discursiva
Fala dos/das Discentes
Facilita a aprendizagem
“Porque passando a matéria em algum recurso tecnológico fica muito melhor de entender”;

“Ajuda a compreender a matéria”;

“Sempre que nos é mostrado um exemplo extraclasse, é mais fácil de acreditarmos e, assim, levarmos mais a sério a informação, além de ser bem mais divertido e cultural em algumas ocasiões”.
Estimula, diverte, diversifica
“Pois é uma forma mais dinâmica de estudo”;

“Pois causa maior interesse”;

“Deixa as aulas mais divertidas e fáceis”;

“Porque chama mais atenção por conta de imagens”.
Contribui para percepção do que acontece fora da escola
“Porque serve de exemplo e acabamos nos atualizando com as notícias do mundo”;

“Porque aprendemos com vivências e fatos reais”;

“Porque nos informa e nos deixa atualizados”.
Auxilia com exemplos concretos
“Porque com o uso de exemplos, o ensino da matéria fica menos abstrato”.
Porque ajuda a “memorizar”
“Sim, pois melhora a imaginação e a guardar melhor na mente a matéria dada”.
Fonte: MECOM, 2019.

4. Percepção do tempo de aula

Nas questões sobre o tempo de aula32, os/as alunos/as poderiam expressar a percepção do tempo em 4 aspectos: a) demora muito pra passar; b) depende; c) nem demora, nem é rápido; d) passa rápido. Para cada um desses aspectos, destacamos um conjunto de categorias, de acordo com as recorrências nas respostas (ver também Tema IX – Tempo discente, em Dados e suas análises).

Figura 74 – O tempo de aula a) demora muito para passar

Categoria discursiva
Fala dos/as Discentes
Percepção direta do tempo: dentro e fora da escola
“Não sei explicar só sei que demora”;

“Pois muitas vezes parece que o tempo está mais devagar”;

“Porque eu acho demorado mesmo”;

“A carga horária é exaustiva e parece demorar muito tempo”;

“Porque a gente fica na escola durante seis horas. Para mim, parece uma eternidade”.
Percepção do tempo relacionada às atividades pedagógicas
“Pois as lições às vezes são chatas”;

“Os professores fazem constatações redundantes ao longo da aula”;

“Porque tem aula que não possui muita dinâmica, e isto faz a aula ser cansativa”;

“Pois os professores passam o tempo que tem para explicar as lições e parece que não passa”;

“Porque a gente copia”;

“Porque você só fica sentado olhando e prestando atenção nos professores”;

“Em aulas não legais, passa lento e em aulas legais passa rápido”.
Percepção do tempo relacionada ao conteúdo
“Em certos conteúdos, o tempo parece passar mais devagar, geralmente, ocorre com as matérias mais chatas, que não despertam a atenção do aluno”; “Pessoalmente, sinto isso nas aulas de Português”;

“Quando fazemos algo que não gostamos, o tempo parece demorar mais para passar”;

“Porque temos dificuldades em algumas das aulas, e são nessas que, aparentemente, levamos mais tempo”;

“Quando você gosta da atividade realizada, o tempo passa rápido, quando é contrário, não gosta do tema, a hora demora para passar”.
Fonte: MECOM, 2019.

Consideramos a subjetividade do conceito de “percepção”, isto é, o ato ou efeito de perceber. Segundo Houaiss, diz respeito à “faculdade complexa de apreender a realidade exterior pela organização de dados sensoriais”, o que implica subjetividade, por isso a relação dos/as jovens com a temporalidade está sujeita ao momento de vida dos/as alunos/as entrevistados/as − pré-adolescência e adolescência (e ao grupo do EJA)− e suas experiências cotidianas, que projetam a visão de mundo.

De um lado, algumas respostas apontam que o/a aluno/a considera a carga horária escolar excessiva, ou seja, entende que fica demasiado tempo na escola.  De outro lado, a percepção do tempo está relacionada às atividades pedagógicas, isto é, o tempo demora para passar quando a prática é “chata”, “cansativa”, “entediante”. Esses são adjetivos utilizados pelos/as alunos/as para caracterizar a atividade como algo maçante, enfadonho, que causa tédio. Ou pela negação, o que a aula não é: “não é lúdica”, “não se diverte”, “não é tão dinâmica”. Ou pela presença constante da fala do/a professor/a (“o professor fala”, “os professores passam o tempo que tem para explicar as lições”, “o professor fala demais”) e o aluno figura apenas como receptor (“a gente copia”, “só fica sentado olhando”, “olhamos no relógio o tempo todo”), por isso há também problemas de interação (“falta interação e dinamismo). A relação física também é um fator que estende a percepção do tempo, haja vista os/as discentes dizerem que experimentam uma sensação de imobilidade. Parece residir, aqui, uma contradição, pois estamos nos referindo a uma faixa etária dotada de muita energia física, e as 4 ou 5 horas dentro de uma sala de aula são percebidas como limitadoras; daí a indicação do espaço da quadra para a vivência do “tempo livre”, conforme podemos ler no item 7.7.

O que se esclarece, do ponto de vista de inúmeros entrevistados/as, é o pedido de aulas que permitissem algum tipo de movimento físico ou maior participação das turmas em atividades que cruzassem os tópicos disciplinares a proposições lúdicas. Na forma-aula atual, é compreensível que haja reclamações segundo as quais o tempo passa lentamente no percurso das aulas.

A percepção do tempo também está relacionada à empatia com o conteúdo, que pode tornar as atividades mais fáceis ou mais difíceis. É preciso atentar para o fato de que existe um fator de identificação com o conteúdo que talvez esteja relacionado ao desenvolvimento cognitivo e  às estratégias de estudo/construção do conhecimento, isto é, cada área – exatas, humanas, biológicas – exige metodologias diferentes, como cálculos matemáticos e leitura de textos diversos.

Quando o/a aluno/a não tem essa identificação, isto é, não gosta da matéria (“matérias mais chatas”), o tempo demora para passar, gerando dificuldades na compreensão do conteúdo e, consequentemente, falta de interesse. O que as respostas não revelam é o que determina o gosto pelas matérias seria a metodologia ou poderíamos dizer que há outros fatores que determinam as preferências dos alunos e alunas?

Figura 75 - O tempo de aula b) depende

Categoria discursiva
Fala dos/das Discentes
Percepção do tempo relacionada às atividades pedagógicas e à prática docente
“O tempo é relativo. Em aulas que mais gosto, em que fazemos atividades em grupo ou quando estou fazendo prova, o tempo passa muito rápido, pois estou focada e me divertindo. Já em aulas que não gosto ou quando não me interesso pela matéria, parece que demora uma eternidade para passar”;

“Quando a aula é boa e o professor tem uma boa didática não, o tempo da aula passada rapidamente. Porém quando o assunto é maçante e o professor não tem didática, a aula se torna exaustiva”.
Percepção do tempo relacionada ao conteúdo
“Porque normalmente nas matérias que não gostamos não prestamos muita atenção na aula, fazendo com que o tempo demore, mas em matérias que gostamos prestamos atenção, fazendo com que o tempo passe rápido”;

“Quando tenho aula das matérias favoritas, o tempo passa rápido, caso contrário o tempo demora”;

“Tem aulas que são mais dinâmicas e por afinidade o tempo passa sem perceber”;

“Eu gosto mais de matérias de exatas, consequentemente, essas aulas passam rapidamente. Já as aulas de Português, Geografia e outros de humanas, para mim, demoram muito para acabar”;

“Nas aulas de Matemática, demora muito para o tempo passar porque eu tenho muita dificuldade, mas em relação a outra matéria, que seja de Humanas, sinto que passa muito mais rápido”.
Fonte: MECOM, 2019.

“O tempo é relativo”, esta é a expressão que marca as respostas. A percepção do tempo é relativa porque depende da dinâmica da aula, se é agregadora, se tem atividades em grupo, isto é, se há alguma movimentação ou interação entre os/as alunos/as ou deles com os/as professores/as. A socialização, neste caso, é muito importante para tornar a percepção do tempo mais rápida. O tempo é lento quando não há dinamismo.

O/a aluno/a tem a percepção da diferença entre o tempo cronológico e o tempo psicológico da aula. Quando ele/ela gosta da matéria, o tempo passa rápido e quando não gosta demora para passar, mas “todas têm o mesmo tempo de duração”. Essa percepção está relacionada com grau de afinidade com o conteúdo da disciplina (“Nas aulas de Matemática, demora muito para o tempo passar porque eu tenho muita dificuldade, mas em relação a outra matéria que seja de Humanas, sinto que passa muito mais rápido.”)

Figura 76 - O tempo de aula c) nem demora nem é rápido

Categoria discursiva
Fala dos/das Discentes
Percepção do tempo ajustado às tarefas na escola
“O tempo é adequado ao esperado”;

“Acho o tempo suficiente para fazer as tarefas e para as explicações sobre o conteúdo”;

“Pra mim o tempo passa normal tipo sem muito rápido nem devagar”;

“Na maior parte das salas e em quase todas as aulas é o tempo suficiente para uma aula que cumpra o que é planejado sem ficar desgastante”;

“O tempo não demora é um tempo bom para estudar”;

“As aulas têm o tempo exato para cada conteúdo”;

“Acho que a minha noção de tempo é normal”.
Fonte: MECOM, 2019.

Alguns alunos e alunas indicam que não há preocupação direta com o tempo cronológico, por isso não é rápido nem demora, sem causar estranhamentos quanto ao tempo destinado para os estudos. Ou seja, o contexto temporal da escola não é um fator negativo, pois é percebido como tempo necessário para o estudo: “o tempo é suficiente” para estudar.

Figura 77 - O tempo de aula d) passa rápido

Categoria discursiva
Fala dos/das Discentes
Percepção relacionada ao período do dia
“O tempo passa rápido de manhã”;

“Porque é noite. Eu acho que passa rápido”;

“Passa rápido, pois estudo à noite e tenho uma aula a menos do que os outros horários, só estudo 4 horas por dia na escola, por isso é pouco tempo”.
Percepção relacionada à prática docente
“O tempo passa rápido quando você faz um trabalho que o professor passou; logo ele já está recolhendo”;

“Passa rápido para mim, pois quando se está passando rápido, eu acho que é porque a gente está gostando da aula ou do projeto elaborado”;

“Quando os professores trazem algo diferente para a escola passa rápido, quando é sempre igual demora mais”;

“O tempo que temos não é o suficiente para explicar as dúvidas”.
Percepção relacionada ao conteúdo
“Eu acho que o tempo na escola passa mais rápido porque quando nós estamos estudamos o tempo passa muito rápido”;

“Eu gosto das aulas, às vezes, quando a aula está muito legal, o tempo todo passa bem rápido. Quando não está tão legal, demora pra passar o tempo”;

“Para mim passa rápido porque gosto de estudar e quero muito aprender precisava de mais tempo para tirar dúvidas”;

“A vida na escola pra mim passa rápido, mas adoro as aulas não só pra pegar histórico, mas sim aprender um pouco mais”;

“Passa rápido pelo fato de ser aulas produtivas”;

“Acho que passa rápido, apesar da bagunça em sala de aula, principalmente nas aulas que gosto e entendo como: filosofia, português, matemática”.
Percepção relacionada à socialização na escola
“O convívio é muito bom, então isto faz o tempo passar rápido”;

“Passa rápido porque eu gosto da escola e de conversar com os meus amigos”;

“Eu acho que o tempo passa normalmente, porque a gente se distrai estudando, conversando com os amigos”;

“Geralmente passa rápido, muito por conta que tenho amigos dentro da escola, então conversar entre as aulas e distrações, fazem o tempo passar”.
Fonte: MECOM, 2019.

Há uma percepção sobre o período do dia – manhã ou noite -, conforme as atividades que precisam realizar. Vale destacar que o período noturno possui carga horária menor que o matutino e o vespertino.

O tempo passa rápido quando o/a aluno/a gosta da tarefa ou quando ele percebe que tem muitos afazeres, ou seja, a noção de tempo é mensurada de acordo com a   quantidade de tarefas a serem feitas. Ou quando ele gosta do conteúdo ou simplesmente gosta de estudar. O que os dados não revelam é o que gerou o gosto pelo estudo; qual a trajetória desses/as alunos/as? Teria influências/incentivo da família, de docentes ou de escolas que frequentou ao longo da vida escolar?

Outra percepção do tempo rápido é a socialização. A escola como espaço para o convívio e para as relações sociais atribui uma dinâmica para o tempo.

5. Relação dos/as alunos/as com o celular

Observamos as reações dos/as alunos/as diante das restrições do uso do celular na sala de aula33 e organizamos as respostas em 3 categorias, conforme abaixo.

Figura 78 – Restrição ao uso do celular

Categoria discursiva
Fala dos/das Discentes
Aceita
- aceita e obedece:
“Normal”;

“Não sinto nada’;

“Não reajo, pois sei dividir cada tempo, e presto mais atenção!”;

“Depende da aula, quando a aula é interessante, nem percebo que fiquei sem celular”;

“Eu convivo bem com essa regra”;“Não sinto nenhuma diferença”;

“Guardo celular”;

“Não uso”;

“Tranquilo, não sou dependente do celular”;

“Nem ligo pois não sou viciado em celular”.

- aceita e compreende:
“Justo, porque senão as pessoas não iriam prestar atenção na aula”;

“Eu concordo porque se vc não usa o celular na sala de aula, vc presta mais atenção nos professores e na explicação que eles falam”;

“Bem, pois assim tem como prestar atenção nas aulas”;

“Eu fico normal porque tipo, celular tem que ser utilizado em casa, não na escola”;

“Acho corretíssimo. A maioria de nós simplesmente ainda não tem a maturidade e seriedade necessária para a utilização do celular para fins extraescolares (usamos apenas quando solicitado pela professora e raramente, pois dispomos de tablets nas atividades em geral)”;“Não crítico pois às vezes atrapalha e às vezes não”;

“Eu acho super correto, pois acaba distraindo e desfocando”;

“Acho certo; desnecessário ficar mexendo, temos que aprender e não mexer no celular, aprendemos mais com os livros”;

“Normal, porque na escola temos que estudar, tem o tempo todo para mexer no celular, então na escola temos que deixar de lado”.

- aceita, mas não concorda:
“Eu entendo que em alguns momentos, precisamos desligar o celular para focar em outras coisas, e a matéria dada em sala de aula é uma delas”;

“Acho certa a atitude, mas há casos que temos que usar. Casos esses como avisar os pais sobre algo ou para auxiliar no processo escolar (pesquisas, fotos)”;

“Fico mais tranquila pois não corro risco de perder ou roubarem, porém às vezes preciso dele para tirar fotos de atividades”;

“Às vezes me irrito, de certo que se o uso do celular for permitido muitos irão entrar em redes sociais, jogar, tirar fotos, até eu vou, mas também poderia ser usado para pesquisa”;

“Aceito, mas não gosto, pois a aula às vezes é muito chata”;

“Às vezes precisamos do celular para realizar contas difíceis, ver se a palavra está certa, e se possível fazer uma pesquisa e tirar alguma dúvida que tenha ficado”.
Não aceita
“Eu uso do mesmo jeito”;

“Normal, mas utilizo já que não falam nada”;

“Eu mexo da mesma forma”;

“Eu utilizo”;

“Eu o utilizo às vezes”;

“Eu utilizo celular na aula, então...”;

“Eu uso sempre que termino a lição”;

“Eu faço o uso do celular na sala”;

“Não é permitido, mas eu ainda assim utilizo, com a autorização dos professores que não se importam”;

“Nada acontece, eles não ligam, pedem para parar, porém não fazem nada a respeito”;

“Às vezes eu mexo as vezes, para ver as horas ou em conteúdo da aula, as vezes entro em rede social só dou uma olhada. Não "Respeito";

“Simplesmente desligo, está na lei e usar em sala é errado, mas não evito o fato de infringi-la”;

“Para mim, tudo bem. Mas eu uso o celular quando preciso, para ver a hora, por exemplo. Quando termino as lições, eu volto a mexer para fazer outras coisas”;

“Fico um pouco impaciente, mas respeito, e, quando termino a lição, eu uso”;

“Eu desobedeço às normas”;

“Eu uso, pois, apesar de estar no regulamento, muitos professores não reclamam do uso, mas deve ser usado para fins educacionais”.
Não se aplica
“Não tenho celular”;

“Não levo o celular”;

“A minha escola não tem regra de uso de celular, então não é um problema”;

“A normal pois não utilizo celular na sala porque não tenho internet”;

“Normal porque nunca gostei de sair com celular e nem de levar para o colégio”;

“Não ligo, não tem wi-fi e eu não gosto de gastar crédito”;

“Acho nada, não tenho celular”;

“Fico de boa minha mãe não deixa eu trazer”;

“Eu não vejo a hora de chegar em casa”;

“Como não tenho celular, não sinto falta”.
Fonte: MECOM, 2019.

Aceitar significa consentir, porém, consideramos, de acordo com as respostas, os desdobramentos que definem melhor a postura desses/as alunos/as em relação ao uso do celular em sala de aula, por isso foram criadas subcategorias.  “Aceitar e obedecer” revela que seguem as regras sem contestação e nesta subcategoria há um número considerável de respostas como “normal”, sem contextualização, por isso entendemos que há apenas aceitação genérica, sem muita reflexão, como uma ação/reação integrante do cotidiano, quase uma indiferença à restrição. “Aceitar e compreender” indica o reconhecimento da importância da restrição, ou seja, há concordância de que o celular pode, de fato, atrapalhar a aula. “Aceitar e não concordar” mostra o entendimento da existência de regras para convívio social, pois o/a aluno/a se nega a copiar as atividades da lousa – exercício motor e de fixação − por considerar “chata” e “cansativa”, preferindo usar o celular para fotografar a atividade.

A categoria “não aceita” é indicativo de reação contrária e predisposição para atitudes rebeldes ao quebrar a regra, porque não concorda por reconhecer a utilidade positiva do celular.

Já a categoria “não se aplica” foi criada porque alguns alunos e alunas não possuem celular ou os pais fazem uso exclusivo, deixando de emprestá-lo aos filhos/as-alunos/as. Destaque-se que é preciso discutir não somente a presença da tecnologia na sala de aula, como apoio pedagógico, mas também de que maneira as tentativas de ampliar a relação entre tecnologia e escola trazem implicações no consumo para impulsionar a produção. Trata-se de mais um nicho mercadológico, assim como o mercado de tablets, por exemplo, com a inclusão de materiais digitais.

6. Relação tempo/tarefas no cotidiano dos alunos e alunas.

Os/as discentes foram questionados sobre a percepção do tempo. Se eles/as sentiam falta de tempo para realizar as tarefas do cotidiano, indicando uma das 3 opções: “às vezes”, “não”, “sim”.

Observamos que os/as entrevistados/as sentem falta de tempo, “às vezes”, em determinados períodos, quando existe aumento nas tarefas escolares, como provas e trabalhos. Trata-se de um período de tensão em que não é possível realizar outras atividades mais relaxantes e lúdicas. A escola é o lugar das obrigações, deveres, cobranças e desafios.

Figura 79 – Relação tempo/tarefas no cotidiano dos/as alunos/as: às vezes falta tempo

Categoria discursiva
Fala dos/das Discentes
Falta tempo pelo excesso de obrigações
“Às vezes sinto, sim, principalmente em semanas mais cheias quanto a provas, trabalhos, etc. Mas sei que se não estou tendo tempo agora é porque o manejo dele não foi equilibrado em algum outro momento. Provavelmente deixei tudo para fazer em cima da hora”;

“Às vezes, realmente, não me sobra tempo”;

“Às vezes, sim, por conta dos trabalhos e lições da escola”;

“Dependendo do dia, eu não tenho tempo por conta das atividades extraescolares devido às aulas de Inglês”.
Falta tempo para atividades lúdicas
“Assistir minhas séries e animes e ler meus livros”;

“Brincar e ler”;

“Em alguns dias da minha semana, quando tenho muitas atividades, sinto falta de ficar com meus amigos ou fazer atividades. Mas isso não me incomoda muito. Tenho os finais de semana para me divertir”;

“Eu não consigo jogar meu videogame”;

“Jogar, escutar músicas, ficar no Youtube e Netflix”.
Fonte: MECOM, 2019.

O tempo está diretamente relacionado à organização das tarefas. As respostas negativas dos/as alunos/as indicam que há clareza da necessidade de um roteiro na semana, mesmo que tenham diversas atividades. Vale dizer, alguns jovens ainda não ingressaram no mercado de trabalho e possuem um tempo livre para distribuir as tarefas ao longo do dia ou da semana. Não há uma percepção de falta de tempo, o que ocorre é algum questionamento sobre a organização das tarefas.

Figura 80 – Relação tempo/tarefas no cotidiano dos alunos: não falta tempo porque há uma organização das tarefas

Categoria discursiva
Fala dos/das Discentes
Sabe organizar o tempo
“Não, consigo aproveitar esse tempo”;

“Não, consigo organizar tudo bem”;

“Não sinto falta, os momentos de lazer são principalmente programados”;

“Não, eu me organizo para conseguir fazer o que eu preciso”;

“Não, meu tempo é dividido adequadamente para atender a minha demanda e finalidade”;

“Não, pois a escola já é uma rotina mensal para mim”;

"Não, sinto que distribuo o horário bem na semana e consigo fazer o que desejo”.
Existe tempo livre
“Não, pois estudo à noite e o meu tempo é livre durante a amanhã e a tarde”;

“Não, pois tenho muito tempo vago”;

“Não sinto falta, pois divido bem o meu tempo e consigo viabilizar minhas atividades”;

“Não, acabo não perdendo minha tarde, e posso fazer o que eu quiser, porque sempre dá tempo”;

“Não, acho perfeito o tempo para sair da escola chegar em casa e dormir”;

“Não, acho que estou aproveitando bem o tempo livre fora da escola”.
Fonte: MECOM, 2019.

Há duas categorias de atividades apontadas pelos/as alunos/as, que são impedidas pela falta de tempo:

1) esportivas e de lazer (passear, viajar);

2) estudar/ler (dedicar mais tempo às matérias).

A falta de tempo se deve ao fato de que há sobrecarga de outras tarefas, como trabalho, afazeres domésticos e, principalmente com o tempo dedicado à escola e à quantidade de tarefas escolares.

Figura 81 – Relação tempo/tarefas no cotidiano dos/as alunos/as: falta tempo para realizar tarefas – relação tempo/tarefas no cotidiano do/a aluno/a - sim

Categoria discursiva
Falta tempo para diversão para si mesmo
“Sim com certeza tempo pra curtir, passear, fazer algo, por exemplo passear no shopping etc.”;

“Sim, gostaria de ter mais tempo com minha família para termos com quem estarmos junto no final de semana, passear e viajar”;

“Sim, muito! Pois passamos 9 horas por dia na escola e sempre estamos atribulados de trabalhos e provas todas as semanas. Não temos tempo para nós mesmos”;

“Sim, na semana fico muito tempo no trabalho, e passo pouco tempo com a minha família, queria mais tempo com eles, levar meu filho mais vezes para jogar futebol”;

“Sim, pois, além do tempo normal da aula, temos as tarefas de casa, e as aulas da tarde tomam muito o nosso tempo e impedem que eu faça atividades esportivas e de lazer”;

“Sinto falta de sair com meus amigos, de ter tempo livre para mim mesmo”.
Falta tempo para estudar
“Totalmente. Por fazer atividades de segunda a sexta-feira até às 21 horas, com apenas um ou dois intervalos de 50 minutos (fora o tempo de 1 hora de almoço), acabo me prejudicando muito em questões de qualidade de sono e tempo para me dedicar mais às matérias que eu gosto na escola”;

“Sim e não. Quando estou na escola dá um soninho, mas quando chego em casa eu quero estudar, mas estou fazendo faxina”;

“Sim, mas me falta tempo por trabalhar longe, estudar e ter ainda que cuidar de afazeres domésticos, etc...”;“Sim muito. Passo a maior parte do tempo querendo ler, mas não passo porque estudo pro vestibular. Assim como queria um computador melhor para escrever e publicar online”;

“Sim, tenho muitas atividades vespertinas e extra curricular mais pelo o horário”;

“Sim, além da escola faço curso de inglês e crisma, o tempo que sobre é relativamente pequeno’;

“Muita falta! Sinto que dedico um excesso de tempo à escola e muito pouco ao que eu gostaria de estar fazendo. Dedico muito tempo a obrigações e quase nenhum a coisas que me agradam”;*

“Muita! A maior parte do meu tempo é gasto na escola e o tempo de trajeto da minha cidade até Mogi, onde estudo. Quando não estou casa, eu me sinto muito cansada para fazer o que gosto’;*

“Muita falta. Desde que entrei no ensino médio, não consigo fazer muitas coisas de que eu gosto por falta de tempo, além do cansaço excessivo junto ao estresse”.*

* Essas respostas constam no item “às vezes”, porém, pelo teor do conteúdo, foram deslocadas para o item “sim”.
Fonte: MECOM, 2019.

7. Perspectivas dos/as alunos/as para a escola

Para esta questão, selecionamos as respostas dos/as alunos/as em 10 categorias: organização da escola, prática pedagógica, professor, material didático, conteúdo, merenda, estrutura física, comportamento, tempo, tecnologia.

7.1. O que os/as discentes pensam sobre a organização da escola

O/a aluno/a observa que a organização da escola é um dos fatores que determinam o bom funcionamento da instituição, assim como é essencial para a construção do processo pedagógico, no desenvolvimento do conteúdo e nas relações dentro da sala de aula.

As sugestões dizem respeito ao papel da Direção. Reconhecem a importância desse cargo para manter a disciplina, a organização e, principalmente, o controle do quadro de professores/as e funcionários/as.

Figura 82 – Organização da escola

“Mudar o diretor, mudar os professores (alguns), não mudar as tias da limpeza e da comida”;

“Ter mais professores e que o ensino fosse o mesmo para todos da escola”;

“Tempo livre para mexer no celular”;

“Ir pra sala de vídeo quando quiser”;

“Melhorar a comunicação entre a direção e os alunos, incentivar os estudantes para não haver excesso de pressão por parte dos professores”;

“Organização; menos aulas vagas, professores melhores (alguns)”;

“Que cobrassem e exigissem menos dos alunos; que houvesse mais comunicação entre a gestão da escola e os alunos; menos burocracia da parte da escola para os alunos conseguirem realizar atividades; que a direção da escola realize melhor sua função e que os funcionários sejam melhor reconhecidos”;

“Eleições para diretor mais justas; melhor organização da escola; intervalo no período da tarde; melhor comunicação entre gestores e os alunos; mais eventos interativos entre as classes”;

“Gostaria que houvesse acompanhamento de um psicólogo com os alunos, pois existe muita pressão em cima da gente. Mais comunicação da gestão com os alunos. Que houvesse mais eventos interativos e voltados para as artes em geral. Uma direção que cumpra direito o seu papel. Aula de libras e uma melhor didática aos professores (alguns)”;

“Segurança ao redor da escola (Ronda Escolar), mais funcionários, e, de preferência, bem humorados”;

“Dizer para os professores mantendo o interesse em ensinar, mesmo que um aluno não queira aprender, pois os outros querem. E dizer para os diretores e coordenadores tratarem os alunos com respeito, pois somos pessoas civilizadas, mesmo que alguns não pareçam”;

“Mais funcionários”.
Fonte: MECOM, 2019.

7.2. O que os/as discentes esperam da prática pedagógica

A prática pedagógica não estimula as alunas e alunos a estudarem. Na visão deles, seria necessário mudar a metodologia de ensino para atividades mais dinâmicas, com propostas diferenciadas do modelo tradicional de aulas expositivas, e que permitissem maior participação e abertura de espaços, tanto para ideias — com debates e pesquisas — como físico, com atividades fora da escola.

Há, nesse sentido, uma distância entre as expectativas do/a aluno/a em relação às aulas e os modelos propostos pelos/as professores/as.

Figura 83 – Comentários sobre a prática pedagógica (visão dos/as alunos/as)

“Melhorar o modo de ensinar, adaptar para a nossa geração seria mais fácil para compreender e ajudaria a todos”;

“Mudar o sistema é método de ensino, plantões de todas as matérias, ter um tempo entre uma aula e outra para descansar”;

“A escola deveria realizar mais excursões, aulas fora da sala, atividades extras e colocar as aulas de inglês para o período da manhã”;

“Dar um pequeno intervalo entre as aulas e deixar os alunos mexerem no celular, mas apenas quando for necessário ou quiserem ler um e-book depois de provas ou atividade”;

“Ter mais atividades interativas, ficamos muito tempo na sala de aula”;

“Melhorar a didática dos professores, pois como passamos o maior tempo aqui, tem hora que não aguentamos mais. A escola deveria ter uma psicóloga, oferecer mais esportes, aulas de línguas, libras e atividades culturais”;

“Atividades mais diferenciadas, mais eventos com finalidade de descontrair os alunos, pois nossa rotina é muito estressante e a carga horária é pesada”;

“Aulas menos entediantes; mandar atividades diferentes para aprendizado no mínimo uma vez por mês’;

“Utilizar mais slides em aula com imagens que ajudam a entender a matéria”;

“Verbas, qualidades no ensino, reformas na estrutura da escola e maiores diversidades de aula, fugindo um pouco dessa rotina de sempre”;

“Melhorar o método dos professores, para deixar mais dinâmico as aulas e melhorar a infraestrutura”;

“Aulas mais dinâmicas, ter materiais didáticos adequados, reformar o pátio, melhorar a merenda e oferecer um bom espaço para os estudantes”;

“Gostaria que as aulas deixassem de serem expositivas e se transformassem em encontros de debates. Os alunos deveriam aprender o conteúdo em casa e ir para a escola para aprofundamento. Isto obrigaria o aluno a estudar todos os dias, preparando-o para o futuro”.
Fonte: MECOM, 2019.

7.3. De que maneira os/as discentes reconhecem a relação aluno-professor

A percepção de muitos/as discentes acerca dos seus professores e professoras é a de profissionais cansados, desanimados, que possuem pouca disposição para ouvi-los, além de revelarem deficiências de formação, seja no tangente aos conteúdos seja à didática. A falta de controle sobre os alunos e alunas para manter a disciplina também é um aspecto que tenciona a visão do aluno em relação ao professor, pois esse profissional deveria, assim como a direção, exercer sua autoridade para manter alguma ordem na sala de aula.

Como a indisciplina é um dos fatores que prejudica o processo pedagógico, a expectativa dos/as alunos/as recai sobre a formação, competência e autoridade do/a professor/a.

Figura 84 - Expectativas dos alunos quanto aos professores e professoras

“Professores com mais ânimo de dar aula”;

“Professores que escutam os alunos”;

“Professores mais descontraídos, presença da direção ou da composição de professores no auxílio aos alunos, regras rigorosas em relação a mais dinamismo em atividades educativas”;

“Mais professores e que ensinasse melhor e mais materiais para os professores utilizarem na sala de aula”;

“Melhores professores mais capacitados, respeito em sala de aula”;

“É que os professores tivessem mais controle entre os alunos que bagunça”;

“Professores mais animados, com melhores didáticas e maneiras de ensinar, além de alunos mais respeitosos”;

“Os professores faltam demais”;

“Ter professores fixos, que se importam, de verdade, com o nosso ensino”;

“Professores mais frequentes, alunos mais educados, trabalhos em grupo, material para aula”;

“Acho que seria muito interessante se os professores tivessem paciência para explicar a matéria aplicada”;

“Colocarem professores mais competentes, expulsarem pessoas que vem para a escola para não fazer nada”;

“Ter um quadro de professores ativos o ano letivo inteiro, mais passeios com finalidade acadêmica, mais instrumentos que os educadores possam usar nas suas aulas, alimentos saudáveis e degustativos, maior intensidade nos estudos e aulas”;

“Os professores faltam muito e todo dia temos aula vaga e isso afeta muito os alunos. Queria que isso mudasse”;

“Primeiro seria alguns professores, porque tem alguns que não dão as aulas direito. E isso nos prejudica bastante”.
Fonte: MECOM, 2019.

7.4. Usos de materiais didáticos na sala de aula

Não há muitas referências em relação ao material didático, mas existem alunos e alunas que sugerem a mudança para um material didático interativo. A pouca recorrência desse dado é um indicativo de que o material didático não determina o processo de aprendizagem, pois a questão é o que fazer com o material e como fazer, ou seja, são os reflexos das atividades pedagógicas propostas pelos professores e professoras.

Figura 85 - Expectativa do/a aluno/a em relação ao material didático disponibilizado na escola

“Material mais interativo”;

“Fornecer materiais para estudo, melhorar as salas de aula, colocar rampas na escola”;

“Ter um laboratório de ciências, que tenham aulas com uso de tecnologia”;

“Mais aulas práticas de química e biologia. Saraus, workshops, mais palestras e ajudar em matemática que alunos tem dificuldade”;

“Ter mais atividades interativas, ficamos muito tempo na sala de aula”;

“Implantar mais equipamentos didáticos na escola em geral, colocar tecnologia na sala de aula e melhorar a estrutura”.
Fonte: MECOM, 2019.

7.5. Empatia em relação ao conteúdo

Observamos que os/as alunos/as preferem atividades que favoreçam a movimentação física e estimulem a curiosidade, o experimento, priorizando tarefas centradas no fazer e com tecnologia, ou seja, mais distantes do modelo tradicional e do material da escola, sem a necessidade de seguir uma cartilha.

Para alunos e alunas, há uma sobrecarga de conteúdo e a ausência de aulas práticas gera grandes dificuldades no processo de ensino-aprendizagem.

Figura 86 - Conteúdos que os/as alunos/as sugeriram para as aulas

“Uma maior e mais expressiva aplicação de atividades artísticas, mais eventos, mais experiência científica e mais debates a respeito de temas políticos e sociais”;

“Ter mais coisas tecnológicas nos estudos”;

“Mais aulas práticas de química e biologia. Saraus, workshops, mais palestras e ajudar em matemática que alunos têm dificuldade”;

“[..]Apenas as matérias necessárias, ou explicar e estudar apenas os conteúdos necessários, não apenas passar porque é mandada, ou está no seu cronograma escolar, e que as aulas fossem mais dinâmicas, pois tem muita matéria e conteúdo que são difíceis ou enjoativo, que se fosse feito algo diferente e mais dinâmico iria ser MT mais produtivo”;

“Uma aula cristã seria um Bom progresso para ajudar a nova geração a conhecer a jesus cristo e não se afundar nos prazeres do mundo como anda acontecendo nos dias de hoje”;

“Ar-condicionado nas salas, excursões, mais aulas de humanas, para expandirmos sobre a sociedade, como Sociologia, Filosofia, Política etc. Melhores aulas de educação física, mais lugares para acomodar os alunos, como bancos confortáveis. A biblioteca e o laboratório deveriam ficar abertos”;

“Incentivo à leitura nas bibliotecas, estudos de filmes históricos e importantes, e uma preparação mais adequada para vestibulares’;

“Aumentar o número de aulas de filosofia, sociologia e história. Essas são matérias que fazem os alunos terem mais consciência sobre política e assuntos semelhantes”;

“Mais grupos de ajuda para pessoas com depressão e que sofrem bullying”;“Psicólogos para auxílio, atividades recreativas, esportes como atividade extracurricular”;

“Investir mais em arte e cultura”;

“Diminuir a sobrecarga sobre os alunos, entendendo que nós não somos apenas números e vestibulares, mas que somos pessoas, e normalmente muito inseguros quanto ao nosso futuro”;

“Estabelecer lixeiras para materiais recicláveis, valorizar mais os projetos que serem como descontração, em especial, os direcionados às artes. Trocar o método de ensino, para que seja mais incentivador, e assim, diminuir a pressão, principalmente, com os alunos do 3º ano. Incentivar os esportes, outros diferentes, além do vôlei e futebol”;

“Melhor distribuição dos conteúdos no Ensino Médio (ensinar toda a matéria nos primeiros dois anos, para que o terceiro seja uma revisão e treino para o vestibular); reavaliar o trabalho de cada professor em sala de aula; ouvir mais a visão dos alunos sobre cada aula e professor; para as matérias exatas e biológicas, apresentar alguma aula prática”.
Fonte: MECOM, 2019.

7.6. Condições da merenda e da cantina

Algumas escolas funcionam em período integral, por isso o item merenda é muito importante e é também uma das funções da direção gerenciá-la (licitação, cardápio, etc.)

Figura 87 - Comentários dos alunos sobre a merenda

“A comida”;

“Melhorar as refeições, avançar nas matérias, aulas melhores, professores mais qualificados e que estejam realmente com vontade de nos ensinar”;

“Lanches melhores”;

“Aumentar a quantidade de merenda”;

“PS: a comida da cantina é muito cara”.
Fonte: MECOM, 2019.

7.7. Relação dos/as discentes com o espaço escolar

Como a pesquisa realizou-se durante o verão, um dos itens mais indicados foi a instalação de ar-condicionado. Mas, além disso, observa-se que as condições estruturais da escola, de um modo geral, estão bem precárias, de acordo com as observações dos/das discentes.

A escola não apresenta um ambiente físico agradável para os alunos e alunas durante as aulas nem nos intervalos, como se observa nas indicações de reforma para banheiros, salas de aula, bancos no pátio.

Destaque-se, ademais, que nem todas as unidades possuem laboratórios de ciências ou de informática (ver Tema I – Infraestrutura: o que se encontra nas escolas), aspecto que não favorece mudanças na prática pedagógica.

Figura 88 - Comentários dos alunos sobre a estrutura física da escola

“Fornecer materiais para estudo, melhorar as salas de aula, colocar rampas na escola”;

“Reformar a escola”;

“Ar-condicionado nas salas, mais excursões, mais aulas de humanas e biologia, melhores aulas de educação física. Na área externa, bancos melhores e mais confortáveis”;

“Melhorar os banheiros, reformar todas as salas de aula”;

“Melhorar as salas, colocar ar-condicionado, melhorar a sala de tecnologia e melhorar a situação das salas de aula, dos recursos dos professores para que eles tenham um ambiente legal para trabalhar”;

“Cada professor ter sua própria sala para dar sua aula”;

“Melhorar as salas, as mesas, as cadeiras, TV nas salas, que a escola seja mais organizada”;

“Reformar quadra, estudar conteúdos mais a fundo”;

“Uma reforma na escola em geral porque em dias de chuvas aparecem goteiras em algumas salas de aula”;

“Ar-condicionado nas salas de aula, mais brincadeiras e sair um pouco da sala”;

“Ter um laboratório de ciências, que nas aulas tenham aulas com uso de tecnologia”;

“Arrumar os banheiros, pintar as paredes e arrumar as portas”;

“Ter piscina e melhorar a pintura”;

“Arrumar as telhas da escola”;

“A escola precisa de uma reforma geral. Arrumar os banheiros, trocar as carteiras, colocar trinco nas portas, construir um laboratório de informática, melhorar a segurança e contratar uma diretora (a nossa foi embora)”;“Destruir e fazer outra, pois sairia mais caro ficar reformando pouco a pouco e mudar a direção”;

“Ter tecnologia avançada”;

“Por uma biblioteca, sala de experimentos científicos e etc”;

“Espelho nos banheiros, papel higiênico, compreensão da direção quando o aluno atrasa por causa do ônibus, sabonete, café da manhã, carteiras, cadeiras melhores, mais passeio pedagógico”;

“Espelho no banheiro, a entrada mais tarde, papel higiênico, compreensão, sabonete, superar alguns atrasos, café da manhã, carteiras e mesas melhores, mais passeios pedagógicos”;“O refeitório, as janelas e lousas”;

“Melhorar o banheiro, porque ele não tem tampa na privada e nem papel higiênico; plantar mais árvores, pintar o muro da escola”;

“Mais livros na biblioteca”;

“Mais aparelhos eletrônicos”;

“Deixarem os alunos usarem celulares etc”;

“Colocar armário individual para cada aluno”;

‘Câmeras nos corredores para monitorar e para não ser roubado, menos pichação e muros mais altos e recursos ao ar livre”;

“Wi-fi na escola, pratos de vidro, talheres de metal. Melhorar a merenda”;

“Ter lugar para sentar no recreio, ter uma aula de arte de verdade, aulas de teatro, escrever (produção de texto), mais debates, mais aulas no laboratório e passeios escolares (não tivemos nenhum)”.
Fonte: MECOM, 2019.

7.8. Questões disciplinares na visão dos alunos e alunas

Os/as discentes reconhecem que a indisciplina é um agravante para os estudos e que direção e professores/as deveriam ter maior controle sobre o comportamento das turmas, inclusive com regras e punições mais rígidas. Entendem ser necessário reavaliar a convivência no espaço escolar, baixando o barulho durante as aulas, tendo atitude mais firme diante do uso e comercialização de droga, etc.

Figura 89- Comentários dos alunos e alunas acerca do comportamento

“Ter regras mais rígidas e melhorar a limpeza”;

“Direitos iguais a todos tanto professor quanto alunos”;

“Não deixar os alunos gritarem na sala, nem passear. Cada aluno ter sua própria chave do armário”;

“Não fazer barulho na sala”;

“Melhorar a punição dos alunos”;

“Com certeza mais tecnologia, provas mais fortes e menos alunos repetentes, regras rígidas e obrigações a zelar”;

“Uma melhor organização das atividades e do controle da escola num todo. Precisamos de mais ordem, para se tornar uma escola exemplar, com punições para quem não seguir as regras. Assim, alunos deixariam de fazer tudo o que querem”;

“Que o aluno tivesse a liberdade de ter as aulas de acordo com suas prioridades onde a escola seria reduzida, o aluno tivesse mais autoridade, liberdade para ser responsável”;

“Para mim tá tudo certo. Tirando os usuários de drogas”;

“Reduzir o tempo de aula, aumentar a educação física e legalizar a maconha”;

“Colocaria muitas regras, esse negócio de entra e sai da sala não é legal, não escutar música na escola, nem fumar na escola. Acho isso errado”;

“Punições severas para os alunos;”

“A escola tinha que ter mais autoridade e ter um momento em que os alunos poderiam usar celular e ter mais aulas com tecnologias”;

“Mudaria os alunos”;

“Melhor educação dos alunos com o professor, melhor rede de ensino, consertos básicos na escola e mais professores para que se algum faltar tenha um substituto”;

“Retirar aqueles que não tem vontade de aprender e só quer zoar e atrapalha quem realmente quer”;

“Separar os alunos que focam nas aulas e os que não fazem nada e ainda atrapalham os que são interessados. Isso seria minha única sugestão”;

“Mais educação”;

“E voltar na época da militar [aluno/a escreveu a palavra 'ditadura' antes da palavra 'militar', depois riscou]”.
Fonte: MECOM, 2019.

7.9. O uso do tempo pelos alunos e alunas: tarefas escolares e cotidianas

O tempo livre, com a recorrência de aulas vagas, cria a necessidade de ocupar outros espaços na escola, além da sala de aula; por isso a quadra, por exemplo, consta das sugestões para melhor uso e maior integração da própria unidade educativa; do mesmo modo, a sala de informática é lembrada como lugar que poderia dinamizar o trabalho didático e pedagógico.

Mudanças no tempo escolar também aparecem nas respostas dos alunos e alunas: a exemplo de se repensar o período do intervalo - momento de maior descontração e socialização das turmas. Há indicações, também, para se flexibilizar o tempo da aula, da entrada e saída na escola, afora maior liberdade para gerenciar as atividades solicitadas. A despeito desta, digamos, soltura de amarras do tempo escolar, permanece o reconhecimento de que regras disciplinares na sala de aula precisam ser mais assertivas, conforme depoimentos sobre a organização na escola (ver Tema IX – Tempo discente)

Figura 90 - Comentários dos estudantes sobre fator ‘tempo’

“Liberarem a quadra para os alunos durante as aulas vagas”;

“Reformar o pátio onde serve a merenda”;

“Tirar as matérias de Espanhol, Filosofia, Sociologia e alguns professores, além de mudar a direção. Aumentar as férias, pois é horrível ter aula até 17 de dezembro, mesmo sem estar de recuperação”;

“Que aulas vagas fossem adiantadas para a próxima e os alunos pudessem ser liberados, a limpeza da escola fosse melhor e mais rigidez com as regras da escola”;

“Organização; menos aulas vagas, professores melhores (alguns)”;“Ter mais jogos para poder jogar no intervalo, poder usar a sala de informática para pesquisas”;

“Gostaria que as aulas fossem assim; só que deveríamos ficar menos tempo”;

“Mais tempo de intervalo, e permitir mais comidas”;

“Liberar o uso do celular a sala de aula, diminuir o tempo e aula, ter 3 refeições por dia e aumentar o tempo do intervalo”;

“Aumentar o intervalo de 15 minutos para 20 minutos e expulsar alguns alunos inúteis”;

“Menos tempo na escola, no máximo, umas três aulas”;

“Ar-condicionado nas salas, mais tempo de intervalo, excursões e aulas de Filosofia, Sociologia, Política etc. Melhora nas aulas de Educação Física, nos bancos(confortáveis). Biblioteca e laboratório de informática abertos a todos, além da diminuição das aulas de Matemática”;

“Acho que diminuiria um pouco a carga horária e sugeriria que os professores e orientadores ajudassem mais os alunos a lidar com o estresse e a ansiedade durante as provas”;

“Reduzir o tempo de aula das escolas, acabar com o ensino integral”;

“Flexibilidade nos horários de saída, sair mais cedo pelo menos um dia da semana”;

“Que o tempo das aulas fosse menor”.
Fonte: MECOM, 2019.

7.10. Acesso à tecnologia para realização de tarefas na sala de aula

Os/as alunos/as expressam interesse pelas tecnologias, não apenas para a comunicação/socialização nas redes sociais digitais, mas também como canal para pesquisas, realização de exercícios, consultas a enciclopédias digitais, etc. A presença de dispositivos midiáticos na escola seria uma forma de tornar as aulas mais dinâmicas e atraentes, conforme as expectativas dos alunos, entretanto isso não ocorre, ao menos de maneira a merecer destaque. E isto independentemente de a unidade educativa possuir equipamentos digitais, conforme se viu no Tema I – Infraestrutura: o que se encontra nas escolas.

Há, porém, uma questão técnica apontada por discentes que impede, por exemplo, o uso mais acentuado de celulares e computadores, haja vista a ausência de tomadas para carregamento dos dispositivos e mesmo a inexistência (ou precariedade) da internet.

Figura 91 - Comentários dos estudantes sobre o fator 'tecnologia'

“Alguns projetos e ter acesso à internet liberado”;

“Adicionar tomadas para o carregamento dos eletrônicos, melhorar a qualidade da merenda oferecida, promover atividades culturais e esportivas semanalmente”;

“Botar uma Net na escola pra nós usarmos”;

“Colocar Wifi grátis, mesas digitais, ar-condicionado, tablets”;

“Distribuir tablets aos alunos em vez de livros, colocar maquetes no pátio da merenda, arrumar os banheiros, ter catraca na escola para garantir a segurança, colocar cerca elétrica, demolir as casas ao lado para construir um estacionamento, ter todas as matérias todos os dias”;

“Permitir o uso do celular, que os professores utilizassem outros utensílios em sala de aula e que eu estudasse de manhã”;

“Tablet ao invés de cadernos”;

“Internet mais rápida”;

“Implantar mais equipamentos didáticos na escola, em geral; colocar tecnologia na sala de aula e melhorar a estrutura”;

“Wifi grátis, pizzas nas escolas, tomadas pra carregar o celular, ar condicionado e tudo de bom”;

“Wifi, carregadores, ar condicionado computadores adequados para o tanto de alunos e menos alunos chatos”;

“Liberar o celular depois de terminar as lições, mais passeios, deixar entrar com todo modelo de calça”;

“Eu faria um projeto para reutilizar a água da chuva, usar a tecnologia durante a aula”.
Fonte: MECOM, 2019.

Conclusão

A partir das falas de docentes e discentes, podemos estabelecer, de modo geral, pontos de convergência em relação à presença dos meios de comunicação na sala de aula, a exemplo dos celulares.

Figura 92 - Perspectivas de docentes e discentes

Presença na sala de aula
Docentes
Discentes
Meios de comunicação
Visão crítica e reflexiva sobre a inserção das tecnologias como recurso complementar e não antagônico, desde que integre o planejamento pedagógico.
Aprovam a presença dos recursos tecnológicos para tornar as aulas mais dinâmicas, embora acreditem nem sempre seja eficaz no desenvolvimento do conteúdo.
Celular
Aproximações e distanciamentos: pode ser um aliado no desenvolvimento do conteúdo, quando o uso for orientado pelo professor ou atrapalhar se não for integrado à proposta pedagógica.
Aceitam as restrições de uso, concordando ou não, embora reconheçam o potencial do aparelho para fazer pesquisa e estudar; não aceitam, não concordam, usam livremente.
Fonte: MECOM, 2019.

A existência dos meios de comunicação pode ser uma forma de tornar as aulas mais dinâmicas, respondendo a expectativas dos alunos e alunas e mesmo atendendo a reclamos dos/as educadores/as, muitos deles interessados em introduzir os media nos processos formativos. Entretanto, cabe ressaltar que apenas a presença dos recursos na sala de aula não é garantia para a melhoria nos fazeres pedagógicos. Para isso, é essencial o/a docente deter conhecimentos sobre o funcionamento dos suportes tecnológicos, bem como as especificidades das linguagens que eles desenvolvem, à maneira do jornal, da revista, do filme, da música, etc. Além disso, o professor precisa registrar algum domínio das abordagens pedagógicas que permitam um uso planejado desses recursos.

Considere-se que a inserção das tecnologias na sala de aula impõe ritmo acelerado tanto em relação às práticas pedagógicas, como em relação aos processos de formação continuada dos professores e professoras. É notória a preocupação desses profissionais em estar atualizados e conectados, porém nem sempre é possível acompanhar o avanço das tecnologias midiáticas que permitem não somente construir caminhos para a informação e para o conhecimento, mas também determinar processos comunicacionais de interação e socialização.

Outro dado relevante, que impacta na sala de aula, é a percepção do tempo. Docentes e discentes não divergem neste ponto, pois revelam realizar um excesso de atividades escolares e/ou cotidianas segundo parâmetros de um tempo cada vez “mais curto”.

Figura 93 – Percepção do tempo na vida cotidiana

Docentes
Discentes
Ritmo acelerado; sem tempo para lazer, atividades lúdicas ou para conviver com a família; tarefas escolares ocupam o tempo fora da escola.
Não há tempo para realizar todas as atividades lúdicas; indicam que há sobrecarga de tarefas escolares.
Fonte: MECOM, 2019.

Figura 94 – Percepção do tempo na escola

Docentes
Discentes
Tempo insuficiente para realizar o trabalho docente; sobrecarga de tarefas.
As aulas são lentas quando não geram interesse; são rápidas quando são motivadoras, interativas e dinâmicas.
Fonte: MECOM, 2019.

O levantamento das respostas discursivas permite-nos apontar que existe, segundo a perspectiva docente, o reconhecimento acerca da importância de se atentar para os vínculos comunicativo-educativos, assim como da necessidade em se promover maior diálogo entre a sala de aula e os dispositivos midiáticos.

A percepção de encurtamento do tempo, no contexto contemporâneo, é indicativo de que a quantidade de tarefas a serem realizadas tornou-se mais intensa e a sala de aula exige estratégias cada vez mais dinâmicas. Para alunas e alunos, o ritmo que rege a “velocidade” do tempo fica na dependência dos níveis de maior ou menor empatia com a escola, com os professores e professoras e, sobretudo, com os conteúdos em desenvolvimento. As atividades consideradas “chatas”, “cansativas” distanciam o jovem da escola e, nesse caso, o tempo corre de maneira “lenta”. Tal percepção muda quando a aula é ágil, quando o “fazer” permite maior mobilidade e liberdade; o tempo, então, ganha aceleração, ou seja, tarefas que acionam ações físicas e desafios lúdico-cognitivos despertam mais interesse. O problema colocado à escola que temos é como ajustar o “tempo lento”, compasso necessário para o aprofundamento da reflexão, do elemento analítico-crítico, aos desígnios de uma quadra histórica voltada a valorizar a rapidez e a velocidade.

Notas

30-

Questões 11 a 13:
Q11 - Os seus professores e professoras utilizam notícias de jornal, revistas, propagandas, letras de música, filmes para explicar a matéria ou dar exemplos durante a aula? Nunca / às vezes / muitas vezes / sempre.
Q12 - Caso utilizem tais recursos, eles ajudam a compreender a matéria dada? Nunca / às vezes / muitas vezes / sempre.
Q13 - Por quê?
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31-

Ou seja, Questões 11 e 12:
Q11 - Os seus professores e professoras utilizam notícias de jornal, revistas, propagandas, letras de música, filmes para explicar a matéria ou dar exemplos durante a aula? Nunca / às vezes / muitas vezes / sempre.
Q12 - Caso utilizem tais recursos, eles ajudam a compreender a matéria dada? Nunca / às vezes / muitas vezes / sempre.
Voltar para nota no texto

32-

Questões:
Q34 – O tempo da aula: demora muito para passa/  passa rápido / nem demora nem é rápido / outro.
Q35 - Explique, por favor, a resposta anterior.
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33-

Questão 37: Como você reage por não poder utilizar o celular na sala de aula?
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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este relatório, conforme exposição, análise e comentários dos dados recolhidos junto a docentes e discentes do ensino básico, permite acompanhar várias dinâmicas que marcam certo grupo de escolas brasileiras. Em particular, buscou-se reconhecer e discutir os vínculos comunicação/educação (educomunicação), perscrutando-se acerca dos hábitos de mídia, maneiras de encarar o fluxo temporal, presença dos dispositivos técnicos seja no andamento didático-pedagógico seja na vida cotidiana daqueles dois públicos, além de inúmeras outras questões suscitadas durante o exame do material recolhido pela pesquisa. Para sistematizar as informações obtidas, o relatório foi dividido em dois grandes tópicos, por sua vez, distribuídos em conjuntos temáticos: os dados e suas análises (esclarecidos em 11 temas) e as falas e suas análises: docentes e discentes (articulados em torno de 7 temas). Tal divisão consignou o propósito de permitir ao leitor melhor compreensão acerca dos indicadores coletados, motivo pelo qual optou-se por uma forma expositiva próxima à dos artigos e ensaios. A despeito desse procedimento, o relatório não perdeu a perspectiva da totalidade que o enseja, resultando em interconexões, citações internas e remissões entre os tópicos e temas.

Procuramos ao final de cada tema incluir conclusões, facilitando ao leitor apreender, em resumo, as ideias centrais presentes em cada uma das 93 figuras e tabelas componentes da explanação, que, por sua vez, explicitam as informações advindas das perguntas formuladas nos questionários ou dos encontros presenciais, conversas livres em pátios e observações de aulas. No intuito de recuperar e sistematizar algumas das principais constatações presentes no relatório, arrolamos os quatro eixos abaixo.

1. No Brasil existe um sistema escolar, mesmo na área pública, marcado pela desigualdade. Há unidades educativas mais bem equipadas estando outras em estágio de carência – faltam computadores, conexão à internet, os espaços estão deteriorados.  Do mesmo modo, fatores econômicos e culturais esclarecem fundas diferenças entre docentes e, guardadas as particularidades, entre discentes. No primeiro grupo há variações consoantes à formação inicial e permanente, seja pelo percurso em graduações nem sempre envolvidas com a qualidade seja pelo descaso das políticas públicas em responder às necessidades objetivas do quadro docente, marcado por salários aviltados, infraestrutura de trabalho precária, desgaste profissional, etc. Os/as educadores/as cumprem extenuante jornada em sala de aula (afora as atribuições burocráticas e funcionais reservadas aos seus cargos), que para mais de 60% dos participantes da nossa pesquisa, é superior às 30 horas semanais; além do fato de que boa parte deles e delas completarem a carga horária em mais de uma unidade de ensino, incluindo cidades diferentes.

Os alunos e alunas, por sua vez, também vivem, em situações diversas, consequência das desiguais condições de existência. Registram-se origens sociais variadas, experiências culturais múltiplas, condições econômicas distintas. Tal desequilíbrio é encontrado, igualmente, quando observadas as diferentes regiões do país, sendo as escolas das áreas mais ricas aquinhoadas com melhor infraestrutura e melhor desempenho médio dos alunos – aqui não estamos particularizando os projetos educativos bem sucedidos, conquanto em unidades carentes da federação, a exemplo do sempre citado caso de Sobral, no Ceará. E, apenas, para reforçar este ponto, basta ver os resultados da pesquisa IBGE (Pnad Covid-19) feita entre os dias 16 e 22 de agosto de 2020, portanto, num dos momentos agudos da pandemia do Sars-Cov-2, e voltada a mostrar o número de estudantes que estavam sem qualquer atividade didática-pedagógica naquele período: Norte (35,7%), Nordeste (22,1%), Centro-Oeste (10,7%), Sudeste 10,1% e Sul 6.5%.

De toda sorte, o alunado revela a presença de jovens hábeis em operarem as mídias digitais, malgrado nem sempre com acesso integral à internet ou aparelhos móveis como os smartphones. As pressões contemporâneas, a pedirem repostas no aqui e agora – ritmo que parece ditado pelo estar permanentemente online – tanto podem comprometer a qualidade das aulas e os ritmos do aprendizado como acabam expondo discentes e docentes a múltiplos problemas no plano psicológico, de que servem os exemplos da síndrome de Burnout, as ansiedades e depressões, a hiperatividade.

2. A entrada das tecnologias na escola é uma realidade. Entenda-se: mesmo que a unidade educativa não possua determinados equipamentos para fins didáticos, a presença do celular, dos computadores, da internet é algo objetivo na vida de professores e professoras, alunos e alunas. Isto requisita da cultura, digamos, tradicional da escola, uma nova forma de relacionamento com as técnicas e estratégias de incorporá-las aos andamentos didático-pedagógicas. Este reconhecimento, extraído dos dados da nossa pesquisa, remete a outra reflexão: não cabe pensar as tecnologias de modo instrumental e sim como mediadoras da aprendizagem. Vistos sob tal perspectiva, os recursos, ao menos os básicos (internet, computadores), precisam estar disponíveis nas escolas, o que nem sempre acontece, segundo é possível acompanhar em nosso trabalho. Entretanto, ainda há muito a ser aperfeiçoado com relação ao debate sobre a circulação das tecnologias, das mídias, ou das suas linguagens, nos ambientes da educação formal. Do ponto de vista docente existe plena consciência desta nova circunstância no interior da qual o ensino formal está ocorrendo, e que, de algum modo, cabe aos professores e professoras o papel importante de orientação no uso de tais meios. Ou, nos nossos termos, de implementar uma proposta educomunicativa capaz de contemplar os desafios requisitados pela educação midiática.

3. A pesquisa realizada reflete, de vários modos, a complexidade da vida em curso e de como ela se manifesta no ensino formal, no cotidiano de docentes e discentes. As inúmeras plataformas difundem informações em todos os segmentos, elaborando uma outra circunstância cultural, uma nova gama de interesses e um repertório diferenciado. Tal assertiva está materializada nos números e suas análises postas no relatório, onde é possível ler como ocorre a busca de entretenimento, conhecimento, as formas de interação, as trocas mensageiras, etc., advindos quer do universo docente quer do discente. O grande desafio, revelado em muitas falas daqueles dois segmentos, é como transitar todo este material (e as suas implicações sociais e culturais) para a escola – ainda amparada em concepções propedêuticas e limitações regimentais que incidem no controle do tempo, nos mecanismos de distribuição dos conteúdos curriculares e nas estratégias de exposição dos tópicos disciplinares.

4. É preciso atentar para o fato de que existem incitamentos para que sejam postas em movimento as chamadas competências essenciais, segundo propositura da BNCC (Base Nacional Comum Curricular); e dentre elas estão o entendimento das dinâmicas tecnológicas, dos sentidos da cultura digital, da operação sobre as linguagens midiáticas. Trata-se de um novo processo de aprendizagem (ou de participação cidadã) que não se pode fazer desconhecendo os mediadores comunicacionais. Efetivamente, a mudança nos hábitos de consumo das tecnologias reconfigura a lógica não só das práticas em sala de aula, mas também dos expedientes de comunicação textual em modo físico. Na presente quadra histórica, a preferência é crescente pelas informações digitais velozes, encontradas nas multiplataformas, geralmente agregadas às possibilidades hipertextuais. Vídeos curtos, memes, GIFs e outras expressões narrativas da internet, compostas por mensagens diretas e instantâneas são amplamente utilizados entre os/as estudantes. Tal fato revela que o encurtamento do presente não ocorre somente na leitura, mas também na própria estratégia de construção da linguagem – a se lembrar que a tradição discursiva escolar é a do texto longo, com regras argumentativas, sequências de exposição, para ficarmos em poucos aspectos.

Enfim, as formas de ser e existir numa realidade recortada pelas mídias locativas, pela imaterialidade, pelas reconfigurações cronotópicas, estão pressionando a adoção de estratégias de ensino-aprendizagem que forçam a redefinir o lugar e o papel da escola. Algumas das várias circunstâncias que atravessam a complexidade do nosso tempo e refletidas no ambiente das salas de aula podem ser reconhecidas ao longo da nossa pesquisa. E esperamos que, com este relatório, possamos contribuir para repensar a educação formal a partir dos desafios e possibilidades oferecidos pelos processos comunicacionais.

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SOBRE AS/OS AUTORES/AS

Adilson Odair Citelli

Possui graduação em Letras pela Universidade de São Paulo (1973). Na mesma instituição realizou o mestrado (1982) e o doutorado (1990), ambos na área de Literatura Brasileira. Em 1995 tornou-se livre docência na ECA/USP, com tese na inter-relação Comunicação e Educação. Desde 2007 ocupa do cargo de professor Titular junto ao Departamento de Comunicações e Artes, da ECA/USP. É docente, sob regime RDIDP, dos programas de graduação e pós-graduação da ECA/USP, onde ministra cursos e orienta dissertações e teses nas áreas de comunicação/educação, educomunicação, comunicação/linguagem. Foi chefe do Departamento de Comunicações e Artes-ECA-USP e coordenador do PPGCOM-USP, membro do comitê de avaliação da CAPES e do comitê assessor de Comunicação do CNPq. Coordena o Grupo de Pesquisa Mediações Educomunicativas (MECOM), da ECA-USP-CNPq. Pesquisador 1B do CNPq. É autor de inúmeros artigos e livros, dentre estes: Linguagem e persuasão; Comunicação e educação: a linguagem em movimento; Palavras, meios de comunicação e educação; Educomunicação. Construindo uma nova área de conhecimento (Org.com Cristina Costa); Imagens do professor na mídia (Org.); Comunicação e educação: o problema da aceleração social do tempo (Org.).

Ana Luisa Zaniboni Gomes

Jornalista profissional diplomada em Comunicação Social / Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1986).  Possui Mestrado, Doutorado e Pós Doutorado em Ciências da Comunicação pela ECA/USP (2006, 2014 e 2019, respectivamente). Integra a equipe da OBORÉ Projetos Especiais com atividades focadas na área da Comunicação em diálogo com políticas públicas como Educação, Cultura, Saúde e Direitos Humanos. Pesquisadora do Grupo de Pesquisa Mediações Educomunicativas (MECOM) da ECA-USP/CNPq e atual vice-coordenadora do Grupo de Pesquisa "Comunicação e Educação", da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom, gestão 2020-2022).

Douglas Calixto

Jornalista formado pela UNESP, é mestre e doutorando em Ciências da Comunicação pela ECA-USP. O trabalho "Memes na internet: entrelaçamentos entre Educomunicação, cibercultura e a zoeira de estudantes nas redes sociais" rendeu-lhe a indicação como melhor mestrado de Comunicação da USP em 2017 e o prêmio "Francisco Morel" de melhor mestrado do Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação 2018 (Intercom). Desenvolve pesquisa nas áreas de Comunicação, Educação e cibercultura. Cocriador do projeto Aula Pública, programa de divulgação científica. Integra o grupo de pesquisa "Mediações Educomunicativas", coordenado pelo prof. Adilson Citelli da ECA-USP. Ex-atleta universitário do Lassen College (EUA), é supervisor de comunicação do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCRIM).

Edilane Carvalho Teles

Docente do curso de Pedagogia da Universidade do Estado da Bahia, UNEB/Campus III, Juazeiro/BA. Pedagoga pela Universidade do Estado da Bahia (1999), Especialização em Metodologia de pesquisa, ensino e extensão em Educação (UNEB, 2001), Especialização em Educação e Novas Tecnologia da Comunicação e Informação (UNEB, 2002), Master em Tecnologias e Comunicação Multimídia (Universidade de Turim/Itália, 2004) e mestrado em Educação e Contemporaneidade pela Universidade do Estado da Bahia (2010). Doutora em Ciências da Comunicação pelo Programa de Pós-graduação da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (PPGCOM/ECA/USP). Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Tecnologias e Educação, atuando principalmente nos seguintes temas: infância, educação, formação, tecnologias e educação, educação e comunicação. Coordenadora e pesquisadora do Grupo Polifonia, Observatório de Educação e Comunicação (EDUCOM / DCHIII/UNEB) e do Projeto de Educação Midiática e Tecnológica na formação docente (DCH III/UNEB).

Eliana Nagamini

Pós-doutoranda em Ciências da Comunicação (ECA/USP), na interface Comunicação e Educação; Doutora em Ciências da Comunicação (ECA/USP); Mestre em Teoria Literária e Literatura Comparada (FFLCH/USP); Especialista em Educação em Ambientes Virtuais de Aprendizagem (UNICSUL); Bacharel em Letras (FFLCH/USP); Licenciada em Língua Portuguesa e Literaturas (FE/USP). Atua nas áreas de Educação, Comunicação e Letras, desenvolvendo pesquisas com enfoque nas linguagens verbais e não verbais. Docente de Língua Portuguesa na Fatec São Paulo, do Centro Paula Souza (CEETEPS). Mediadora online do Curso de Formação Pedagógica para Educação Profissional, do Centro Paula Souza, no Programa Brasil Profissionalizado CPS - SETEC/MEC.

Elisangela Rodrigues da Costa

Doutora e mestre em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Integrante dos grupos de pesquisa CNPq MECOM (Mediações Educomunicativas) da ECA/USP e Interface Comunicação e Educação UFMS (Universidade Federal do Mato Grosso do Sul). Integrante do Conselho Consultivo da Associação Brasileira de Pesquisadores e Profissionais em Educomunicação (ABPEducom). Docente da Graduação em Pedagogia, Jornalismo e Publicidade da Universidade Estácio de Sá - Campo Grande, MS. Jornalista profissional (MTB: 29.712) graduação em Comunicação Social pela UNIMEP (Universidade Metodista de Piracicaba), Licenciatura em Pedagogia e especialização em Globalização e Cultura pela FSPSP (Fundação de Sociologia e Política de São Paulo). Uma das autoras dos livros: “Imagens do professor na Mídia” (Editora Paulinas); “Os desafios da aceleração social do tempo”, (Editora Paulinas); “Questões teóricas e formação profissional em Comunicação e Educação”, Volume 1 (Editora UESC). Experiência profissional no jornalismo em redações de impressos (interior e grande São Paulo); na Educação, como docente e coordenadora pedagógica dos ensinos Fundamental e Médio, atuando durante 14 anos na Secretaria Municipal de Educação de Barueri (grande São Paulo); no Ensino Superior em cursos em EaD e presencial na graduação e pós-graduação. A partir de agosto de 2018, é consultora e assessora em pesquisa de Comunicação e Educomunicação, em Campo Grande, Mato Grosso do Sul.

Gláucia Silva Bierwagen

Doutoranda em Comunicação pela Escola de Comunicação e Artes (USP). Mestre na área de Ensino de Ciências e Matemática da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. Especialização em Design Instrucional para Educação a Distância pela Universidade Federal de Itajubá (2009). Possui graduação em Tecnologia em Informática pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2006) e graduação em Pedagogia pela Universidade de São Paulo (2003). Tem experiência em Educação Infantil, nas séries iniciais do Ensino Fundamental, Educação de Jovens e Adultos, Educação a distância (tutoria e elaboração de cursos no ambiente moodle), Informática Educativa e Orientação de estagiários de licenciaturas. Atualmente é membro do Grupo de Pesquisa Mediações Educomunicativas - certificado pelo CNPq, sediado na ECA-USP.

Helena Corazza

Possui graduação em Comunicação Social pela Faculdade de Comunicação e Turismo Helio Alonso (1990), licenciatura em Letras pela Universidade Paulistana (1978), mestrado em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo (1999) e doutorado na Escola de Comunicação e Artes (ECA/USP) (2015). Atualmente é diretora e coordenadora de cursos do SEPAC (Serviço à Pastoral da Comunicação) e coordenadora de projetos. Docente com a disciplina "Educação para a Comunicação" no Instituto Teológico São Paulo (ITESP). Pesquisadora na área de Comunicação e Educação, Rádio e Relações de Gênero, Mídias Sociais, atuando na docência e na formação de lideranças comunitárias, na área da Pastoral da comunicação, comunicação nas pastorais e Educomunicação.

Maria do Carmo Souza de Almeida

Doutora em Ciências da Comunicação, Área de concentração: Interfaces Sociais da Comunicação, pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (2014). Mestra em Linguística Aplicada pela Universidade de Taubaté (UNITAU- 2002). Especialista em Língua Portuguesa pela Universidade de Taubaté (1991). Licenciada em Letras pela Universidade de Taubaté (1989). De 1987 a 1995, atuei como professora na Educação Infantil, nos Ensinos Fundamental I e II e no Ensino Médio. Em 1993, ingressei como professora auxiliar na Unitau e atualmente sou professora Assistente III. De 2014 a 2018, fui coordenadora do PIBID/Letras na Unitau. Em 2019, iniciei o Projeto de Extensão Letramento e Multiletramentos no Ensino Fundamental I. Uma parceria da Unitau com a Prefeitura de Taubaté. Desde 2014, também faço parte do corpo docente do Mestrado em Linguística Aplicada da Unitau. Tenho experiência no ensino de línguas e pesquiso principalmente os seguintes temas: educação, comunicação, educomunicação, formação do professor, ensino de leitura e produção escrita (letramentos e multiletramentos) e, recentemente, metodologias ativas. Em 2019, comecei uma Especialização em Metodologias Ativas para a Educação na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.

Michel Carvalho da Silva

Doutorando em Ciências Humanas e Sociais pela Universidade Federal do ABC (UFABC). Mestre em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo (USP). Especialista em Comunicação Pública e Bacharel em Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo. É Chefe da Assessoria de Imprensa e Comunicação Social da Câmara Municipal de Cubatão (SP). Também é integrante do Grupo de Pesquisa Mediações Educomunicativas (MECOM), vinculado à ECA/USP. Desenvolve pesquisas nas linhas comunicação e educação; linguagens da comunicação; comunicação pública e desinformação. É colunista do jornal A Tribuna, onde escreve semanalmente sobre comunicação, educação e cidadania.

Roberta Takahashi Soledade

Mestranda em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP).  Possui graduação em Letras pela Universidade de São Paulo (2009), MBA em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas (2010) e especialização em Educação a Distância pelo Centro Universitário SENAC (2011). Atualmente é educadora e conteudista na área de educação corporativa em uma consultoria especializada em cooperativismo de crédito. Tem experiência na área de Educação com ênfase em treinamento e desenvolvimento com uso de tecnologias aplicadas à educação. Também integra o grupo de pesquisa MECOM (Mediações Educomunicativas).

Rogério Pelizzari de Andrade

Doutor e mestre em Ciência da Comunicação pela ECA/USP; especialista em Gestão de Processos Comunicacionais pela ECA/USP; e bacharel em jornalismo e em publicidade e propaganda pela USJT. Docente desde 2010, atuou em instituições de ensino superior como Centro Universitário FIAM-FAAM e FATEC-SP. Também possui experiência em ensino a distância, tendo exercido a função de professor online para a Anhembi-Morumbi, FMU e IBMR. Ainda na modalidade EAD, desenvolveu atividades como leitor crítico e produziu conteúdo para empresas como Kroton Educacional e VG Educacional. Com 20 anos de experiência na área de comunicação, atualmente faz parte do grupo de pesquisa “Mediações Educomunicativas”, é coordenador das redes digitais da Prefeitura de São Paulo, revisor das publicações acadêmicas do IBCCRIM e formador de professores de educação básica pelo programa “Nas Ondas do Rádio” da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo.

Sandra Pereira Falcão

Doutora em Ciências da Comunicação pelo PPGCOM da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, com apoio do CNPq; Mestre em Ciências da Comunicação pela mesma instituição; Especialista em Educação Profissional Integrada à Educação Básica, na modalidade PROEJA (Educação de Jovens e Adultos), pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo. Bacharel em Letras pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo; licenciada em Letras pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. Tem experiência na área de Educação/Educomunicação socioambiental. É voluntária em ações socioambientais na cidade de São Paulo, com foco em participação coletiva, arborização nas ilhas de calor urbanas e educação para o consumo. Foi conselheira do CADES-MG (Conselho Regional de Meio Ambiente, Desenvolvimento Sustentável e Cultura de Paz - subprefeitura Vila Maria-Guilherme). Atualmente é membro do Grupo de Pesquisa Mediações Educomunicativas.

Suéller Costa

Jornalista, educadora e educomunicadora. Mestre em Ciências da Comunicação, na Área de Concentração Interfaces Sociais da Comunicação, na Linha de Pesquisa Educação e Comunicação, pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Escola de Comunicações e Artes (ECA), da Universidade de São Paulo (USP). Formação em Jornalismo e Letras (Português e Inglês) pela Universidade São Marcos (USM), graduada em Pedagogia pela Universidade Braz Cubas (UBC). Especialista em Estudos da Linguagem pela Universidade de Mogi das Cruzes (UMC); em Educomunicação - Educação, Comunicação e Mídias pela ECA/USP; em Tecnologias na Aprendizagem pelo SENAC-SP e Letramento e Alfabetização Digital pela Faculdade Interativa de São Paulo(FAISP). Experiência como revisora, repórter, editora em jornais regionais, com passagem em todas as editorias, mas, nos últimos anos, especializou-se e tornou-se responsável pelos cadernos de Educação, Cultura, Cidadania, Comportamento e publicações infantojuvenis. Paralelamente, atua como professora no ensino básico e coordenadora de projetos voltados à Educomunicação desenvolvidos em cidades localizadas no Alto Tietê. Suas pesquisas são voltadas à educação e produção midiática nos espaços educativos, cidadania digital, tecnologias educacionais, cultura maker por meio dos diferentes dispositivos comunicacionais. Membro do grupo de pesquisa Mediações Educomunicativas (Mecom), da ECA/USP, e integrante da Associação Brasileira de Pesquisadores e Profissionais em Educomunicação (ABPEducom).

Tatiana Garcia Luz de Carvalho

Licenciada em Educomunicação pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo e jornalista graduada pela Faculdade Cásper Líbero, é mestranda em Ciências da Comunicação pela ECA-USP. Integra o grupo de pesquisa MECOM - "Mediações Educomunicativas", coordenado pelo prof. Adilson Citelli. Atualmente, atua como educadora no Núcleo de Educação Digital do Colégio Santa Cruz, SP.

Wellington Nardes

Mestre em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Foi bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). É especialista em Gestão de Políticas, Projetos e Programas Sociais (2018) pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC/PR). É especialista em Educomunicação: Educação, Mídias e Comunicação (2014) pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). É graduado em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo (2011) pela Universidade do Vale do Itajaí (Univali). É educomunicador e membro da Associação Brasileira de Pesquisadores e Profissionais em Educomunicação (ABPEducom): participa regularmente de projetos/oficinas de Comunicação/Educação e, eventualmente, palestra sobre a interface para distintos públicos. É membro do Grupo de Pesquisa "Mediações Educomunicativas (MECOM)" vinculado à Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). É pesquisador voluntário da Associação de Pesquisa e Extensão em Educação de Joinville (APEEJ) cujo grupo de especialistas desenvolve pesquisas sobre a política e a práxis educacional. É membro do Grupo de Pesquisa "Direitos e Desigualdades", vinculado à Associação Catarinense de Ensino (ACE). É professor das disciplinas de Metodologia Científica e de Comunicação, Criatividade e Inovação Organizacional da Faculdade Ibrate, instituição que possui sedes e parcerias em nove cidades do Brasil. É coordenador geral da Apoio Centro Educacional, instituição com matriz em Curitiba e filiais em aproximadamente 40 cidades no Brasil.