apresentação

A realização dos Encontros Internacionais de Teoria e Análise Musical tem como principal objetivo contribuir para um aprofundamento qualitativo desta prática, essencial à renovação dos processos de criação musical, tanto composicionais como interpretativos.

Tema: Dimensão temporal na análise musical

"A música é arte do tempo" e Quatuor pour la fin du Temps. O que querem nos dizer estas proposições do compositor Olivier Messiaen? O que acontece com o tempo musical na nova música do século XX? Como o tempo musical relaciona-se às novas formas de música propostas? Como o tempo se manifestava e esteve presente nas obras do passado? O que exatamente é o tempo, este cuja arte é a música? E como pôr um fim ao tempo terreno? O tempo musical, como ele se relaciona com os objetos sonoros e musicais, com as estruturas rítmicas, com a continuidade e a descontinuidade do fluxo de eventos?

De fato, estamos sempre imersos no tempo, sabemos uma porção de tempo, mas também sabemos que existe sempre uma parte do tempo que perdemos, que não conseguimos medir. De um lado um tempo estriado, marcado, medido, de outro um tempo liso, sem marcas, sem medidas, como nos lembrou Pierre Boulez. Mas também podemos pensar que se existe uma porção no tempo (en-temps), também existe aquela porção fora do tempo (hors-temps) como lembra outro compositor, o grego Iannis Xenakis.

A questão do tempo na música teve diversos estudos ao longo do século XX, desde a proposta de teóricos e estudiosos da música até aquelas de compositores. Dos estudos de Souvtchinsky, Giselle Brelet, Barbara Barry e Jonathan Kramer às propostas de compositores como Stravinsky, Messiaen, Stockhausen, Boulez, Xenakis, Reich, Grisey e Vaggione. Como lembrou Brelet, talvez falar do tempo musical seja um modo de chegarmos ao tempo, ele mesmo, este tema que também tem seus estudos na linguística, na física, na matemática, na filosofia.

Uma questão aparentemente simples para o intérprete musical, que tem à sua frente a partitura e a determinação do tempo no espaço de papel preenchido, no andamento determinado, no número de notas a serem realizadas em um fração de segundo. Uma questão também aparentemente simples para o ouvinte que diz que o tempo passa mais rápido quando ouve tal ou qual música. Mas uma questão que de fato se desdobra quase que sem-fim e que tem não só um interesse teórico, como uma força poética imprescindível para a criação musical.

Silvio Ferraz

Conferências

O III Encontro Internacional de Teoria e Análise Musical (ETAM3) contou com a participação de três convidados estrangeiros e três convidados brasileiros de expressiva relevância ao campo da análise musical. Nascida em Sliven (Bulgária), Ivanka Stoianova é professora no Departamento de Música da Université Paris 8, em Saint Denis, na França, possui formação emviolino, filosofia, estética, musicologia e linguística, e apresentou a conferência intitulada L'analyse musicaleglobaleissue de latradition musicologique européenne; Carole Gubernikoff é professora titular da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), possui formação em composição, estética musical, teoria e análise musical, e apresentou a conferência Tempo e pensamento musical em obras da primeira metade do século XX; José António Oliveira Martins possui titulações em teoria musical e em performance ao violino, é professor da Eastman Schoolof Music, Universityof Rochester, nos Estados Unidos e no Centro de Investigação em Ciência e Tecnologia das Artes (CITAR), da Universidade Católica Portuguesa, no Porto, em Portugal, e apresentou a conferência The Time of Spatial Analysis: On the Temporal Dimension of some Pitch-Based Analytical Models; Marcos Branda Lacerda é professor Livre-docente, fundador e co-coordenador do Laboratório de Acústica Musical e Informática (LAMI) do Departamento de Música (CMU), da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP), possui formação em composição, musicologia, linguística, etnomusicologia e análise musical, e apresentou a conferência Villa-Lobos, os Choros e o Pestana às avessas; Paulo C. Chagas é pesquisador do Experimental Acoustic Research Studio (EARS) e professor da University of California, em Riverside, Estados Unidos, possui formação em composição, semiótica, filosofia e tecnologia musical, e apresentou a conferência intitulada A compreensão musical: Wittgenstein, ética e estética; nascido na França, Didier Guigue é membro fundador e atual coordenador do Laboratório de Composição (COMPOMUS), diretor do Grupo de Pesquisas Mus3 (Musicologia, Sonologia e Tecnologia) e do Laboratório experimental de Música digital em tempo real (Log3) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), possui formação em composição, teoria, análise e estética musical, sonologia e computação aplicada a música, e apresentou a conferência Tempus Et Machina: considerações sobre o processamento do tempo em análise musical com suporte computacional. Resumos de todas as conferências estão disponíveis no Caderno de Resumos do ETAM3, veiculado em exemplar impresso, e o texto de referência às conferências de Paulo Chagas, Didier Guigue e José António Oliveira Martins estão publicados no corpo desta edição, veiculada em CD-ROM.

Palestras e Mesas Redondas

Durante o III Encontro Internacional de Teoria e Análise Musical foram organizadas quatro mesas redondas, promotoras de debates de intensa significação musical. A primeira mesa foi intitulada Desafios da análise musical de Música Brasileira e contou com a presença de Paulo de Tarso Salles (USP), que se voltou a Abordagens analíticas para a música feita no Brasil; Cristina Capparelli Gerling (UFRGS), que se referiu a Desafios da análise musical de Música Brasileira; Liduino Pitombeira (UFPB), que tratou de assuntos ligados a Modelagem Sistêmica e Adriana Lopes Moreira (USP), que se reportou a Processos interpretativos criativos e perceptivos em análise musical. A segunda mesa foi denominada Dimensão temporal na análise musical e sua inter-relação com composição e performance e dela participaram Silvio Ferraz (UNICAMP), referindo-se a Música do século XX: da suspensão do tempo ao tempo fora dos eixos; Graziela Bortz (UNESP), voltando-se a Familiaridade e memória na organização da dimensão temporal; Flo Menezes (UNESP), reportando-se a O tempo diferido da reflexão e Roberto Victorio (UFMT), referindo-se ao Tempo mítico e a música ritual Bororo. A terceira mesa dedicou-se ao assunto Ensino de teoria através das aulas de piano em grupo e contou com a participação de Silvio Merhy (UNIRIO), que enfocou o tema-título da mesa; Mário Videira (USP), que focou O piano em grupo e o ensino de teoria na universidade; Maria Bernardete Castelan Póvoas (UDESC), que se voltou ao Piano em grupo: uma experiência (interpretativa/criativa) compartilhada e Catarina Domenici (UFRGS), que tratou do tema A integração entre teoria e prática em aulas coletivas de teclado: crenças, desafios e perspectivas. A quarta mesa versou sobre o Panorama das Associações de Teoria, Análise Musical e Musicologia, tendo contado com a participação de Maria Lúcia Pascoal (UNICAMP), que trouxe considerações a respeito de Duas sociedades: SFAM e SBAM (França e Bélgica); Rodolfo Coelho de Souza (USP), que trouxe Uma reflexão sobre a formação de Associações de Teoria e Análise Musical; Ilza Nogueira (UFPB), que se referiu à possibilidade de criação de uma Sociedade Brasileira de Teoria e Análise Musical: expectativas e responsabilidades; José Augusto Mannis (UNICAMP), que se voltou a Tendências identificadas em instituições do exterior abrangendo Análise e Teoria Musical: ampliação de conceitos, domínios de ação e inter-relações com as demais artes sonoras, e Marcos Pupo Nogueira (UNESP), que enfocou o tema-título da mesa. Resumos da quase totalidade das palestras estão disponíveis no Caderno de Resumos do ETAM3, veiculado em exemplar impresso, e o texto de referência às conferências de Graziela Bortz e Rodolfo Coelho de Souza estão publicados no corpo desta edição, veiculada em CD-ROM.

Comunicações

O III Encontro Internacional de Teoria e Análise Musical contou com a apresentação de 38 comunicações. Resumos de todas as comunicações estão disponíveis no Caderno de Resumos do ETAM3, veiculado em exemplar impresso, e os artigos relacionados às comunicações apresentadas estão publicados no corpo desta edição, veiculada em CD-ROM.

Apoios

O presente trabalho foi realizado com o apoio da CAPES, entidade do Governo Brasileiro, voltada para a formação de recursos humanos, e da FAPESP, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. Contou, ainda, com apoio dos Programas de Pós-Graduação em Música da USP, UNESP, UNICAMP e UNIRIO; da Diretoria da ECA-USP; da Comissão de Pesquisa da ECA-USP; da Assistência de Comunicação da ECA-USP.

Agradecimento

A Lia Tomás, professora Livre-Docente em Estética Musical no Departamento de Música da Universidade Estadual Paulista (UNESP), pela criação de nosso logotipo e pelo suporte à organização do evento.