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Anais Eletrônicos das Jornadas Internacionais de Histórias em Quadrinhos
     
  Apresentação  
 

AS VÁRIAS CONEXÕES ENTRE OS QUADRINHOS E A LITERATURA

Quadrinhos e Literatura têm uma relação histórica. Basta observar a obra “Max und Moritz”, do alemão Wilhelm Busch. Publicada na Europa na segunda metade do século 19, é tida como um dos primeiros trabalhos em quadrinhos produzidos no mundo. E é também um dos exemplos pioneiros da Literatura Infantil. No Brasil, o livro ganhou versão em língua portuguesa do escritor Olavo Bilac, que rebatizou os dois protagonistas como Juca e Chico.

Essa mesma obra ajuda a explicar alguns nós que envolvem o contato entre os dois campos. Enquanto “Juca e Chico” permanece como um dos cânones da Literatura Infantil e, por isso, aceito comercial e academicamente, sua contraparte em quadrinhos demorou para ser reconhecida, dentro e fora do país. Trata-se do mesmo conteúdo, não custa registrar.

Houve ecos ao longo do tempo de que os quadrinhos não seriam uma literatura dita séria. Seriam, por outro lado, uma subliteratura. No máximo, aceitavam-se versões de romances ou peças teatrais construídas com a linguagem da nona arte. Adolfo Aizen, dono da extinta Ebal (Editora Brasil-América), inclusive, explorou as adaptações nas décadas de 1950 e 60 como forma de reduzir o olhar enviezado que era dado então aos quadrinhos.

As adaptações literárias talvez sejam o ponto de contato mais explícito entre as duas áreas. Foram elas, as versões quadrinizadas de clássicos, que autoridades contemporâneas procuraram levar a bibliotecas escolares brasileiras, na tentativa de estimular a leitura. Iniciativa bem intencionada, mas que gera alguns questionamentos. Dois deles: 1) procuraram-se adaptações para estimular a leitura ou para usar os quadrinhos como ferramenta para que o estudante chegasse aos clássicos?; 2) haveria, de fato, a necessidade de adaptações?; os quadrinhos não seriam válidos como leitura per se.

As respostas não são simples e estão atreladas a diferentes pontos de vista. Quem mexe com quadrinhos, com pesquisa com criação de obras, tende a ter um olhar. Os editores, que têm nessas compras governamentais uma chance de conseguir bons negócios, enxergam a questão de outro modo. O mesmo raciocínio vale para aqueles que selecionam as obras.

Este número temático traz alguns desses olhares, vertidos em discussões científicas. Os artigos aqui presentes são resultado de uma discussão plural, com as vozes de vários desses agentes envolvidos na retomada contemporânea das adaptações literárias em quadrinhos, realizada na I Jornada Temática de Histórias em Quadrinhos – Adaptações Literárias. O congresso ocorreu nos dias 5 e 6 de agosto no campus Guarulhos da Universidade Federal de São Paulo.

As abordagens vistas nos textos deste volume representam um pouco do muito que fora debatido naquele congresso. O fato de parte das discussões ter sido registrada na forma de artigo é uma maneira de compartilhar com mais pessoas o conteúdo do evento. Conteúdo tão relevante e atual e que, como visto, demanda questões tão relevantes e, ao mesmo tempo, tão difíceis de responder. Se este número temático conseguir levar a algumas respostas, já terá cumprido seu papel.